Ainda restava aquela esperança. Aquela que nos invade sem qualquer motivo aparente e evidencia os requintes da loucura. A esperança marcada nas dobras do lençol, feitas pelos corpos como uma tela perfeita, no aroma dos fluidos trocados e derramados no amor feito por horas a fio; na ardência dos arranhões feitos no ápice do gozo, e a reverberação dos gritos que acompanharam os atos, como uma trilha sonora dos sonhos. Havia a esperança torpe dos embriagados de prazer e seus votos perenes que se desfaziam na fumaça de cigarro consumido no fim. E, só havia esperança, se essa, fosse a última que realmente morresse, sem nem mesmo ter nascido, pois estava intrinsecamente relacionada com a vida.

E ela vem naquele primeiro contato por telefone, na entrega da voz ousada, que move mundos, enlevada pelo desejo de tocar a pele; no flerte mal disfarçado que promete o que nunca vai cumprir. Ah, esperança, menina levada! Teu nome vem do absurdo que corrompe o mal amado que, a tua vontade, mendiga um prato que nunca aprendeu a comer.

Esperança que entrelaça as pernas, que pede com autoridade o coito e manda com delicadeza o carinho; que se infiltra nos bilhetes mal escritos agradecendo o gozo e dispensando novo encontro; que revela a redundância óbvia nas notas mal cheirosas, mas bem vindas que repousam solenes no criado “surdo”.

É neste quarto, com vista para o dia que nasce e a noite que chega, que recebo as doses homeopáticas de ti, princesa sem coroa, aguardando o que um dia prometeste: a fugacidade mortal de um amor.

Fim do capítulo