Regina não conseguia um minuto em paz na sua vida. A diretora da instituição havia lhe liberado para terminar os detalhes de sua festa de noivado, faltava pouco tempo para tanta loucura.

Cora já havia deixado tudo praticamente pronto, só precisavam, próximo da data, visitar para degustar e confirmar o buffet, e provar o vestido acompanhado da máscara feito sob medida para a morena.

Estava se sentindo cansada, parecia que precisava tirar força de vontade de onde não existia. Era mais difícil do que imaginava deixar seguir algo que era tão errado, e que ela mesma nem queria. Aprendera da pior forma possível que correr e se afastar tinha feito um efeito pior nela do que ter tentado conversar com Emma como adultas desde o início daquela situação.

Se sentia deprimida; desde a apresentação não vira novamente a Emma, e também não teve chances de conversar com o Robin. Se ele a havia compreendido quando estavam como amigos, certamente seria compreensível quando fosse conversar com ele naquela noite.

- Mãe, estou indo ver o Robin. - A morena trajava um vestido lápis vermelho, com um decote um tanto avantajado. Cora fizera questão que ela o usasse, e a mesma fez questão de usar um terninho preto feminino por cima para disfarçar um pouco mais o decote. Ela se sentia bonita, mas não era para Robin que ela queria mostrar como estava. Aquele pensamento a fez suspirar um tanto desgostosa. Ela havia cortado seus cabelos, deixando-o num corte bagunçado acima dos ombros, que a deixava mais jovial.

- Uau, que gatinha. - Zelena passou por trás da irmã dando um tapa na bunda da mesma, que automaticamente corou, mesmo com o costume de anos.

- Menos, Zel.- Reclamou a mais nova indo em direção à porta. Regina havia perdido aquele costume de morar com a irmã, já que havia dormitórios para os professores que os preferissem nas instalações da escola de dança. Ela resolveu que chamaria um taxi para poder beber ao menos uma taça de vinho: precisaria daquele estimulo extra pra poder conversar com seu noivo sobre como se sentia.

- Não esqueça do que você precisa fazer, sis. - A ruiva falou baixinho no ouvido de sua irmã. Elas haviam combinado que Regina iria desfazer aquele noivado, e seria o mais sucinta o possível com ele. Mesmo o homem não sendo bem quisto pelas irmãs, principalmente pela Zelena, ele não merecia estar em um relacionamento sem sentimentos (mesmo que houvesse inicialmente a esperança de começar a existir algum...).

- Tenho tudo sob controle, Zel, até mais tarde. - Regina deu um beijo na bochecha de sua irmã, deixando uma leve marca de batom vermelho, que logo a morena tratou de apagar com o polegar.

Ѽ

O trajeto no táxi fora tranquilo e rápido; o transito em Nova York às vezes parecia ser livre. Regina pagou ao homem e desceu observando a frente do restaurante francês que Robin escolhera no upper east side. Claro que ele escolheria um local parecido com aquele, era a primeira vez que ele a levaria para sair oficialmente desde que haviam noivado.

A mulher checou seu relógio de pulso, marcava 20:15, certamente ela estava ali na hora certa. O restaurante chamava-se Daniel, e tinha a entrada muito agradável. Suas luzes eram delicadas e praticamente lhe convidavam a entrar no local. Um tapete vermelho ficava esticado na frente do local, dando um ar chique e sofisticado com os detalhes em dourado. Resolveu então que deveria entrar e sentar-se enquanto esperava pela chegada do seu noivo. O maître, que recebeu a mulher, rapidamente confirmou a reserva no nome de Robin e a levou para uma mesa no canto do salão. Um pianista tocava uma música em ritmo de bossa nova que a mulher tinha certeza já ter ouvido. Regina estava admirando o local: havia lustres que tomavam seu espaço grandiosamente no teto, nas mesas candelabros delicados com detalhes em alto relevo de flores e folhas.

Um sorriso surgiu no canto de seus lábios, realmente, parecia um local perfeito para um encontro oficial, mesmo que aquela ideia lhe desse um arrepio um tanto desconfortável. O sommelier veio a mesa trajando um smoking preto e gravata borboleta da mesma cor, e nas mãos tinha a carta de vinhos. Regina mal abrira a carta quando foi interrompida com uma voz familiar.

- Desculpe o atraso meu amor. - Robin chegou dando um beijo na testa da mulher e tomando a cadeira que ficava em frente à dela. Ele tinha um sorriso satisfeito nos lábios e segurou a mão da mulher acariciando as costas da mesma.

- Você está linda essa noite.

Ela sorriu sentindo o rosto corar, ficando sem jeito. Como poderia dispensar um homem como aquele por causa da uma garota que era mais de 10 anos mais nova que ela? Sentiu-se mal com aquele pensamento, fazendo seus olhos procurarem algum ponto fixo para que ela pudesse se concentrar e voltar a si. Mesmo sabendo que Emma era um tiro no escuro, e que tanta coisa podia dar errado, ela, pela primeira vez em muito tempo, sabia o que queria. E não era ele.

- Está tudo bem? Você está agindo estranho desde o dia do show de talentos. - Ele estava visivelmente preocupado com sua noiva. Seus olhos mostravam marcas de idade, que tinham um contraste adorável com seus olhos castanho-claro.

- Só ando meio distraída, sabe, com essa história da festa... - Regina desconversou - Minha mãe organizou tudo, mas parece que ainda tem tanto a se resolver, sabe? - Ele acenou a cabeça afirmando.

- Mas não se preocupe, meu amor, logo estaremos felizes e casados. Você vai poder deixar para trás qualquer coisa que te aflija. E sabe que vou estar aqui por você, certo? - O homem apertou carinhosamente a mão da morena, querendo passar confiança para a mesma. Ele ergueu a outra mão para que um garçom fosse ao encontro deles e para que pudessem fazer seus pedidos.

Ela não queria aquilo... Mesmo com todos os problemas que Emma lhe causava, e toda a confusão mental que ela estava metida naquele momento, ela não conseguia imaginar sua vida sem aquela loira de olhos esmeralda. O coração de Regina falhou uma batida, ela sabia que estava perdida ali. Não tinha mais como agir com razão, seu coração havia tomado conta da situação.

- Olha Robin, não é bem assim... - Ela falou mais para si mesma do que para ele, mesmo que soubesse onde seu coração estava, ela não tinha coragem, e nem sabia como pôr em palavras sua situação. Não amava aquele homem, mas também não tinha porque destruí-lo daquela forma. Sabia que no mesmo período em que ela estava de luto por ter decidido se afastar da garota de cabelos dourados, ele também havia tido sua parcela de sofrimento com a mulher que, de acordo com ele, era o amor de sua vida.

- O quê, Regina? - Ele a olhou curioso, estava um tanto tenso: a mulher estava visivelmente desconfortável, e ele não tinha a habilidade de ler o que ela sentia nas entrelinhas; ainda não era próximo o suficiente para isso.

- Sabe, Robin, ainda fico martelando na cabeça aquilo que você falou sobre sua ex. - O homem, que terminava de fazer os pedidos ao garçom, voltou totalmente sua atenção para a mulher a sua frente com um ar apavorado.

- A Marian? - Ele falou incomodado... Aquela mulher ainda morava em sua mente, e não tinha como negar.

- Porque você não vai atrás dela? Você sabe que mesmo que tenhamos uma boa amizade, acredito que nada vai ser igual ao que você me falou que sente por ela.

O homem quase revirou os olhos, seria cômico para ele se não fosse apenas trágico.

- Regina, não posso fazer isso, eu decidi respeitar o espaço que ela me pediu, e aí você aconteceu. Você foi algo muito bom que me aconteceu. E acredito que eu também fui algo muito bom para você. - Ele segurou com as duas mãos a mão de Regina, fitando-a.

- Talvez, você ainda esteja com seus sentimentos à flor da pele, e não consiga ver isso agora. Mas chegará o momento certo.

Ele falava com uma convicção tão grande, que Regina não tinha como não acreditar. Ela teria mesmo como tirar Emma de seu coração? Mais uma vez sentiu aquela batida diferente, deixando-a atordoada. Respirou fundo quando sentiu que lágrimas queriam tomar seus olhos.

- É, porque não... - Uma lágrima escapou dos olhos da morena, a qual Robin logo passou o polegar para enxugar, deixando sua mão por ali acariciando a bochecha de sua noiva.

Ela sorriu com o gesto dele, rapidamente se afastando da mão do mesmo, pois o garçom já encostava ao lado deles com seus respectivos pratos e outro homem com um bigode engraçado trazia uma garrafa de vinho rosé para acompanhar o peixe que Robin havia pedido.

- Obrigada. - Regina tentou ser apenas agradável naquele momento, devia estar lhe faltando maturidade para simplesmente ser sincera com aquele homem e com seus sentimentos.

Ele apenas lhe devolveu o sorriso, e tornou sua atenção à taça de vinho que haviam disposto a mesa, tomando uma e erguendo-a para propor um brinde.

- Que nossa felicidade chegue, plena, e nos transborde. - Regina lhe acompanhou, erguendo também sua taça, em seguida tomando um gole do seu conteúdo, sentindo que aquilo teria ainda um grande significado.

Ѽ

- Emma, como assim você está pensando em ir na festa de noivado de Regina? – Ruby só faltava fuzilar a amiga, que parecia ter acabado de perder todo o juízo que ela já sabia que mal tinha.

- Que mal faz, Ruby? Eu vou estar de máscara, ela nem vai saber que sou eu mesma. Ao menos posso comer e beber às custas deles. - A loira estava distraída mexendo em suas mensagens do celular. Tentava conversar com os amigos de sua cidade, contando a cada um deles que havia ganho uma bolsa de estudo temporário em outra escola.

- Patinha, de onde eu venho isso se chama masoquismo.

- Deixe disso, eu disse que não vou mais ceder a ela, não disse? - O rosto de Emma estava impassível. Ruby não acreditava na amiga. Para quem falava de um grande amor se portar daquela forma, sabia que a loira ia sofrer mais uma vez se visse Regina.

- Mas, Emma... - Ruby forçava para ver se aquela cabeça dura racionalizava com ela. - Lembre que seu voo é na madrugada seguinte... Você praticamente sairia feito a Cinderela da festa dela, deixe de besteira!

- Deixa eu te dizer: nada o que falar, lobinha, vai mudar meu pensamento. Ok? Ok. - Ela queria pôr um ponto naquilo. Não queria abrir o jogo para Ruby, sabia que ia sofrer, sabia que era um tanto masoquista, mas não ia conseguir viajar sem vê-la novamente.

- Emma, para um pato você tem a cabeça muito dura, sabia? - Ruby revirou os olhos enquanto gesticulava jogando as mãos para cima num sinal de desistência. Seria difícil convencer a loira de simplesmente esquecer a professora.

- Que tal então eu ir com você à festa? Fico de escudeira, e você não perde seu horário do voo, que se eu sei bem como és, tens capacidade de fazer isso.

A loira nem quis olhar pra amiga... Sabia que tinha um fator alarmante ali: Ruby já a havia impedido de beijar uma pessoa na balada, Regina já havia visto elas se beijando, e sempre parecia que a garota tinha alguma segunda intenção com os acontecimentos, e não sabia até que ponto se sentir confortável e deixar a amizade levar.

- Eu acho que preciso resolver isso sozinha, Rubs, sério mesmo, mas eu não posso impedir você de ir para a festa, já que ela está aberta aos alunos. - Apenas deu de ombros, levantando-se de sua cama. Iria dar uma olhadinha no seu guarda-roupas; tinha quase certeza que havia trazido de Storybrook seu vestido em tons de bege e branco que combinariam totalmente com a situação. Como não era o casamento em si, não teria problema com aquelas cores.

- Mas, Ems, não esqueça o quanto ela te magoou. Você não precisa, mais uma vez, ficar feito idiota atrás dela. - A garota cruzou os braços meio emburrada. Não acreditava que, mais uma vez, sua amiga ficaria de trouxa na situação.

- Mas não é isso que vai acontecer, Rubs. - Emma pegou do fundo do armário a máscara preta que havia usado na festa que foram no Unicorn Attack. Levou ao rosto e virou-se para a amiga, reafirmando.

- Não vai mesmo.

Fim do capítulo