Capítulo 34: LIÇÃO 29 – Escolha a hora certa de tirar sua máscara
O olhar de Marcela para mim antecipava uma decepção, eu precisava agir, eu tinha que mergulhar, o momento era esse.
-- Luiza, é noite de sexta, libere sua orientanda, que exploração! – Clarisse brincou.
-- Clarisse, essa é Marcela. Marcela, essa é Clarisse, uma amiga, e professora do curso de fisioterapia.
-- Oi, acho que já nos conhecemos antes. – Marcela respondeu tímida.
-- É, você é do GRUFARMA não é? - Clarisse perguntou.
Marcela acenou em acordo, alcançando a mochila no intuito de ir embora.
-- Espera, Marcela, não vá embora ainda. – Segurei sua mão.
-- Eu preciso ir.
Marcela disse de olhos baixos. Eu apertei sua mão, e entrelacei meus dedos nos dela.
-- Clarisse, a Marcela não é só do meu grupo de pesquisa. Nós estamos juntas.
Aquele silêncio incômodo tomou de conta da sala, depois da expressão de surpresa de Clarisse e Marcela.
-- Luiza você realmente sabe me surpreender.
-- Eu queria ter te contado antes, mas, não achei um momento certo...
-- E esse foi o momento certo... – Clarisse parecia atordoada.
-- Eu acho que vou indo, a gente se fala mais tarde, Malu.
Marcela se despediu me beijando rapidamente, me deixando a sós com minha amiga.
-- Tudo bem Clarisse, agora que são elas... Descarrega o que você quer dizer.
Falei desabando na poltrona do sofá. Clarisse jogou a bolsa em cima da mesa e disparou:
-- O que você tem na cabeça?
-- Nesse momento? Marcela.
-- Luiza, eu nem sei por onde começar... Essa menina tem quantos anos? Dezoito?
-- Clarisse, eu não preciso que você concorde, só preciso que você respeite e me dê a chance de mostrar o quanto é real o que temos, não é fugaz, estamos nos apaixonando há quase um ano, foi praticamente à primeira vista...
-- Meu Deus... É muito pior do que eu pensava.
-- Não é pior, é melhor do que você pensa. Estou feliz e Marcela é a razão dessa felicidade.
-- Ok, tirando o fato que você está possuída por um “erê”, como o Ed descreveria, deixa eu te lembrar de algumas questões importantes.
-- Possuída?
-- É, por um espírito moleque, só pode! Luiza, a gente pode fazer uma lista de colegas que se deram muito mal por se envolver com alunos, nem estou focada em diferença de idade...
-- E qual o problema? Eu já enfrentei carniceiros da imprensa, acha que não saberia enfrentar uns cochichos pelos corredores?
-- Luiza não minimize esses cochichos, estou falando de sua reputação, a reputação do seu grupo de pesquisa, um chefe de departamento louco perseguindo você, ameaçando com processo administrativo, alunas que reprovam em sua disciplina te acusando de ter sido assediada por você...
-- Credo, Clarisse! Você conseguiu imaginar tudo isso agora? Em menos de dez minutos?
-- Não! Isso foi o que aconteceu com outros colegas professores que se envolveram com alunos aqui mesmo nessa universidade.
-- A diferença é que as acusações procediam, né?
-- Sério? Acha que vão te dar o crédito? A Beatriz vai te defender?
-- Você está fazendo alarde. Marcela nem é mais minha aluna, ela só faz do meu grupo de pesquisa, e posso perfeitamente separar as coisas.
-- Ótimo, a Marcela também pode? Os outros alunos poderão?
-- Isso não será problema, sério, Clarisse.
-- E você está pensando em assumir esse relacionamento?
-- Sim, amanhã mesmo no aniversário da Cris.
-- Presente surpresa na festa...
-- Na verdade não será uma grande surpresa, a Cris e o Ed meio que já sabem.
-- Eu sumi um ano da sua vida? Sou a última a saber?
-- Clarisse, eu sabia que você ia reagir assim!
-- Luiza, responde uma coisa: você lembra da sua época de estudante?
-- Como assim? Estou bem das minhas faculdades mentais, claro que lembro.
-- Eu também me lembro da minha época. A gente costuma dizer que foi nossa melhor fase, de festas, descobertas, e a Marcela está nessa fase, você está em outra época de vida, nos divertimos de outra forma, nossos planos são bem diferentes, você já parou para pensar que pode privar essa menina de viver plenamente uma fase de vida dela?
-- Clarisse, você pode parar para pensar que existem coisas mais importantes do que festas ou fases? Estou falando de amor, como não vale a pena viver um amor?
-- Você sabe disso por que você já viveu o suficiente para reconhecer a importância de um amor, mas, você teve todas as experiências de aprontar merd*, errar, e estava tudo bem ser inconsequente por que era típico da sua idade. Doze ou treze anos de diferença pode não ser muito em números, mas é uma era, Luiza.
-- Clarisse, você não está nem considerando que essa história seja diferente. Você nem se interessou pelos detalhes de como nos apaixonamos, só destilou seu racionalismo, está a ponto de me aconselhar a desistir da pessoa que está me fazendo feliz como nunca!
-- Luiza... Você está apaixonada, mas também está vindo de um relacionamento escroto, com uma filha da mãe que te explorou, detonou sua autoestima, te traiu, te manipulou, e aí uma menina linda, surge apaixonada por você, é lógico que isso pode te confundir...
-- Espera, você está supondo que não exista nada de real entre mim e Marcela? Que tudo faz parte do meu sofrimento por Beatriz? Meu Deus, Clarisse...
-- Só acho que você pode estar superdimensionando as coisas, e essa menina também, afinal você é uma mulher bem realizada, ficou famosa por namorar a Cléo Pires, mexe com a fantasia...
-- Chega, chega Clarisse! Você não sabe nada da minha história com Marcela, nem a conhece. Não vou deixar que banalize assim. Se não pode respeitar minha relação, acho que é melhor que não participe dela.
-- Como assim? Vai se afastar de mim?
-- Vou afastar você no meu relacionamento com Marcela, não quero que ela enfrente sua hostilidade, já temos problemas demais, uma amiga que confio tanto, não pode ser um problema.
Saí do meu gabinete amargando mais do que raiva de Clarisse, sentia mágoa. Não tive da minha sequer o benefício da dúvida, ou o mínimo de apoio para os dias que se seguiriam. Meu primeiro impulso foi de mandar mensagem para Marcela, mas, ainda de dentro do carro, a vi no bar com seus amigos de turma, ela estava gargalhando entre os amigos, uma cena normal entre meus alunos em uma noite de sexta-feira. Lembrei-me imediatamente das palavras de Clarisse, e reduzi meu texto a um simples aviso:
-- Estou indo para casa, meu bem, beijo.
-- Estou no bar com o pessoal, mas não demoro, beijos meu bem.
O discurso de Clarisse e a discursão de mais cedo sobre a agenda de final de semana com Marcela tiraram a minha paz, tudo ecoava e se misturava na minha cabeça me deixando insegura. Enquanto meus pensamentos hipotetizavam os piores e melhores cenários, a noite avançava, fui interrompida pelo barulho de batidas na porta. Estranhei, afinal, não esperava ninguém.
-- Eu tinha que vir aqui pessoalmente te fazer uma pergunta.
Marcela estava diante de mim falando com lentidão, os olhos vermelhos e as mãos encostadas na porta entregavam o quanto bebera aquela noite:
-- Perguntar o que?
-- Quando você falou para sua amiga que estávamos juntas, quer dizer que estamos namorando?
Sorri, não sei se por estar nervosa, ou por que não sabia responder. Antes que eu tentasse uma resposta vaga, Marcela foi direta:
-- Estou querendo esclarecer uma coisa: eu quero que você seja minha namorada, Luiza.
Dessa vez, eu sorri de felicidade. Marcela entrou e falou tão de perto que quase fiquei bêbada com seu hálito:
-- Eu te perguntei como você me apresentaria na festa da sua amiga, eu só queria que você me apresentasse como sua namorada. Você é tão inteligente para umas coisas, e tão tapada para outras, doutora...
Antes que Marcela me xingasse no seu ataque de sinceridade alcoólica, beije-a e sussurrei no seu ouvido:
-- Sim, eu te apresentaria como minha namorada, sim, estamos namorando sua bobona.
Fizemos amor no sofá até que Marcela apagou ali mesmo, repetindo:
-- Te amo, Malu.
Depois da noite de trégua, ânimos mais calmos, conversamos durante o café sobre o nosso sábado. Concordamos que cada uma seguiria sua própria programação, tentaríamos não fazer disso um problema, pelo menos por enquanto.
************
A turma animada de amigos da Cris não foi suficiente para me fazer sorrir de maneira sincera na comemoração do aniversário da minha amiga. Muitos eram meus amigos também, disfarcei bem para a maioria, mas, Ed me conhecia bem:
-- Não conseguiu convencer a bonitinha de vir?
Balancei a cabeça negativamente demonstrando minha frustração.
-- Lu, já que você está aqui, tenta se divertir um pouco.
-- Ed, se eu disser, que não tem graça sem a Marcela, eu vou estar sendo muito piegas?
-- Vai!
Fiz careta para Ed que me abraçou ternamente.
-- Minha amiga fofis, eu sei que você quer curtir seu banzo em casa, fazendo culto ao celular esperando mensagem da bonitinha, mas, você melhor do que ninguém, sabe que a bofinho ali não ia te perdoar se você fosse embora, né?
-- Sei, só por isso, estou aqui.
-- Eu te dou cobertura, espera uma horinha que a Cris fica bêbada, e eu digo amanhã que ficamos até o final cuidando dela.
Ed piscou o olho para mim e me deu um selinho, eu apenas acenei em acordo, enquanto isso, Cris veio em nossa direção:
-- Vocês dois vão ficar aí de cu doce afastados da galera?
-- Para, racha! Vim só emprestar meu lencinho umedecido para meu bebê desconsolado... – Ed brincou.
-- A novinha perdeu pontos comigo, Lu! Meu aniversário é praticamente um dia santo para o calendário sapatão.
-- Acho que ela não sabia desse culto sagrado regional, Cris. Paciência. – Respondi abraçando-a.
-- Eu sou magnânima e a perdoo. Perdoei até a chata da Clarisse, que não se deu nem ao trabalho de aparecer com aquela cara enjoada dela esse ano, mandou um presente, como se eu fizesse questão de presente.
-- Ah e você faz questão da presença da Clarisse desde quando? – Ed se sacudiu para perguntar.
-- Quis dizer que foi falta de educação não vir, bem a cara dela mandar um presente caro, mostrando a arrogância dela.
-- Cris, pega leve. A Clarisse, vem todo ano, por nossa amizade, deixa de ser ingrata. Ela não veio esse ano por minha causa. – Justifiquei.
-- Por sua causa? Como assim? – Ed arregalou os olhos.
-- A gente discutiu feio ontem. Eu contei sobre meu relacionamento com Marcela, e claro, ela veio com toda a moralidade pra cima de mim, me censurando, com todo discurso quadrado, e eu disse que manteria meu namoro longe dela já que ela não podia me apoiar.
-- Cara, eu odeio fazer o pape de advogada da diaba, especialmente a diaba Clarisse... Mas Lu, se fosse o contrário, você agiria exatamente como ela. Se fosse a Clarisse a se apaixonar por uma aluna e querer viver esse amor, você ia falar exatamente tudo que ela falou.
-- Cris! Não acredito que está falando isso! – Exortei com indignação.
-- Qualé Luiza! Você tinha o mesmo discurso que a Clarisse... Cansei de ouvir vocês duas falando sobre professores que namoravam alunas, sobre o quanto era antiético e blá blá blá... Esperava mesmo que a Clarisse agir diferente por que era você?
-- Claro! Por que sou eu! Não feri ética, não me aproveitei da minha condição de professora para ter alguma vantagem sobre Marcela...
-- Tá, eu sei – Cris me interrompeu – Você pode achar isso, mas só o fato de você ter uma função de liderança sobre Marcela, pode ser entendido como um poder sobre ela sim, acho até que é sexy...
-- Você está ouvindo isso, Ed? – Cutuquei-o, irritada e para minha insatisfação ele olhou para o outro lado – Ed! Você concorda com ela?
-- Lu! Eu morria de tesão pelo meu professor de química, e eu odeio química até hoje! Dei muito mole... Quer dizer, dei duro pra ele – Ed gargalhou com Cris – E foi delicioso, ui! Parte do meu fetiche sempre foi, ele segurando aquele pincel, me ensinando coisas... – Gargalhou de novo.
-- Conhecimento é poder, Luiza. Não estou dizendo que você seduziu a novinha, mas, o fato de você ser professora, mais velha, ser exemplo e talz... Acho que tem um lance de poder sim.
Eu não acreditava no que estava ouvindo, pior, é que fazia sentido. Nem ao menos conseguia argumentar, só conseguia pensar que o poder todo estava nas mãos de Marcela, que me tinha em pensamento, em sentimentos, em desejo, em sonhos e fantasias. Se eu tinha algum poder, queria usá-lo para trazê-la para perto de mim naquele momento, coincidência ou não, Ed anunciou a concretização da minha força:
-- Ding dong, olha elaaa.
Marcela entrou pela sala linda como sempre, com seu sorriso encantador, fazendo meus olhos lacrimejarem. Caminhei ao seu encontro, como se não houvesse mais ninguém naquela sala a recebi com um beijo apaixonado.
*************
As semanas transcorreram de maneira leve, como se não houvesse preocupações em nos escondermos. Meus almoços no RU se tornaram cada vez mais frequentes, assim como minha presença nos bares onde a turma de Marcela se reunia, seja qual fosse o motivo. Era cada vez mais comum a presença de Marcela nos programas com a Cris e com o Ed, e ela já parecia bem mais a vontade com eles, o que me deixava imensamente feliz, apesar de sentir a falta de Clarisse, que se mantinha afastada.
O avançar dos dias também culminou com o final do semestre, e o recesso das férias. Marcela precisava visitar os pais, e eu, já sofria de saudade por antecipação. O semestre que se seguia, nos aguardava com alguns desafios maiores, que eu nem supunha suas consequências.
Fim do capítulo
Olá meninas
Estou sofrendo para colocar no papel o que já está traçado para essas duas, mas estamos caminhando!
Obrigada pela paciência.
Estou adiantando o conto novo, passem lá, conto com a empolgante audiência de vocês para dar continuidade a idéia.
Beijos a todas e boa semana
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NovaAqui
Em: 08/04/2018
Espero que o que esteja traçado seja elas ficarem juntinhas. Espero que sua imaginação so consigo fazer você escrever final feliz das duas hahaha
Marcela ganhou ponto com Lu e seus amigos. Sobola dentro nesse capítulo! Uhuuuuuu
Abraços fraternos procês aí!
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