Capítulo 20 Os Sete Braços
- Os Sete ou Os Sete braços esquerdos de Lúcifer, O que você aprendeu sobre eles? – Silas perguntou com as mãos no bolso da calça fitando-me com serenidade.
- Aprendi a ordem, aprendi sobre seus propósitos – Respondi receosa.
- Deixe me te dizer algo que possa complementar as suas informações – Ele levou uma das mãos ao queixo e olhou para o chão – Sabe que cada um deles representa um pecado capital do cristianismo?
- Não – Respondi.
- Ótimo – Ele bateu uma palma com um sorriso nos lábios – Escola dominical dos Demônios – uma poltrona em veludo vermelha com detalhes em madeira mogno apareceu ao lado dele – Senta que lá vem história – sentou-se dizendo as palavras e no mesmo instante todo o cenário mudou para uma sala amplamente decorada como época vitoriana, quadros de pintura a óleo, lareira rustica de tijolos e marfim perfeitamente esculpido em forma de pequenos anjos de cabelos encaracolados, harpas e tecidos esvoaçantes.
Olhei o tapete enorme carmim sob meus pés, as luminárias fornecendo a meia luz do ambiente, as paredes pareciam grandes painéis de madeira cerejeira na parte de baixo. Tinha um grande sofá vermelho aveludado com uma mesa de centro de madeira e vidro com um taça vazia sobre a mesma.
- Sente-se – Ele indicou educadamente de sua poltrona com as pernas cruzadas.
Sentei-me ainda com receio da situação, imagino que você que esteja lendo essas páginas nem faça ideia de quem estava diante de mim então eu peço que continue a ler porque o próprio ira lhe contar. Daí poderá entender o porquê estou tensa, calada e obediente.
- Sabe quem é o mais forte? – Assenti me recordando do estudo com o nome Lilith em mente – Pois bem, O mais poderoso seria logicamente a esposa do chefe, Lilith ou Lilium como ela mesmo prefere ela é a Possessão representada pelo Lírio do campo que cresce um qualquer solo, nota alguma semelhança? – Ironizou com um sorriso divertido em seus lábios finos – ela é personificação da Gula.
- Gula? – Arregalei os olhos surpresa, crente que parecia obvio a luxuria e não a gula me recordando do nosso encontro anterior.
- Todo mundo fica surpreso e a julgar pelo seu tom ela já lhe fez cortesia de uma visita – ele falou reconhecendo minha surpresa na pergunta – Gula não se trata apenas de comida, Gula nada mais é que a Ganancia simplificada. A ânsia humana pelo exagerado, falta de necessidade entre outras coisas.
- Faz um certo sentindo – Conclui.
- Ômega – Me tencionei – ou Silas o segundo mais forte pois se trata da Morte – Ele ficou sério – Eu sou a morte mas também o ceifeiro número um – O orgulho jorrava de seus olhos – Sabia que ceifeiros não ceifam apenas as vidas?
- De acordo com os livros essa é sua única função – Tentei justificar a falha em meu conhecimento.
- Livros – Seu tom era de desagrado – escrito por humanos que nem sabem que são um ponto menor que um grão de areia no universo, Ceifeiros cortam qualquer coisa, vida, laços, sentimentos e etc.
- Se o senhor é a morte como pode ser um demônio? – Questionei.
- Sabe que quando Lúcifer caiu – Fez aspas com a mão – levou consigo uma terça parte dos anjos e eu era um Belo anjinho de asas brancas que tinha como função levar as almas para o céu, mas também não era qualquer um eu era o líder da guarnição responsável, com o tempo as histórias originais são perdidas ou simplesmente alteradas.
- Então você é um caído? – Questionei me recordando de que existem anjos caído mas eles não são necessariamente demônios.
- Sou também, o que você precisa entender é que nem tudo é preto e branco – Ele descruzou as pernas e começou a gesticular com as mãos – Na terra – Fez aspas novamente – não existe apenas almas boa e almas ruins, entre vocês existem vampiros, lobisomens, ninfas, demônios, anjos, e até deuses adormecidos. A terra nada mais é que um plano de existência como qualquer um dos outros milhões que existem a diferença são as regras de cada plano.
- Tá ainda não entendi onde quer chegar – Cocei a cabeça confusa.
- Vou colocar de uma forma bem simples, Deus não condena ninguém ao inferno almas vão para lá porque acham que é o que merecem, você mesmo se condena, entende?
- Se for assim tudo deve ser uma bagunça e o inferno está vazio do tanto de pessoas que se acham certas – Falei um pouco irritada com a revelação.
- Se engana muito minha cara, a morte é um fim e nesse fim você mergulha em si mesmo para encontrar seu lugar de descanso revê seu passado com olhos do tempo.
- Não faz o menor sentido para mim.
- As coisas são moventes e você nunca é o mesmo toda a sua vida, sempre vai existir algo que você faria diferente se pudesse e nisso se encontra muitos erros que os leva para o andar de baixo – Apontou para o chão com o dedo indicador e um sorriso de canto - Sem contar os contratos, digo quantas vezes alguém disse que daria tudo por algo e consegue sem saber? As palavras tem poder e alguém pode estar escutando – Ele gargalhou e eu sorri de nervoso pensando na multidão de pessoas que dizem essas coisas - Voltando então sendo a Morte representado pela letra grega Ômega que nada mais é que o fim, Eu sou a inveja nem preciso justificar?
- Acho que não – Dei um sorriso amarelo.
- Terceiro é Abadon os vícios – Reconheci de imediato o mais famoso de todos – Nem preciso dizer muitos sobre os vícios não é? – Ele cruzou novamente as pernas e recostou na poltrona que mais parecia lhe abraçar – Tudo que provoca vícios e todos os vícios são ele e também para a surpresa de todos o pecado dele é a avareza.
- Alguém que tem vícios não será avarento – Constatei.
- Quem tem vícios não esbanja dinheiro para os outros apenas para si mesmo em função de sustentar sua própria necessidade maior que é ganhar mais e manter aquele ciclo infinito de prazer.
- Aparentemente as coisas são bem mais complexas do que simples, como você mesmo disse nem tudo é preto e branco – Conclui percebendo que estava ganhando muito conhecimento naquela simples conversa sobre algo que aparentemente eu deveria saber.
- Sim, sim os milênios de existência proporcionam muitas perspectivas diferentes sobre coisas que são recorrentes – Ele disse simples – O quarto ou a quarta é Ucaly a criminalidade acredito que saiba que o símbolo dela é a mão direita vermelha, representando as ações criminosas? Mas criminalidade não se resume a furto mas qualquer ato desonesto desde de um falso testemunho a um assassinato – Ele desencostou da poltrona – ela sim é a Luxuria, pois todos os crimes provem da Luxuria pessoal – o Desdém era nítido – Quinto é Sigma muito conhecido também a traição em pessoa, que provem da soberba a ilusão da certeza de ser melhor ou superior que outro.
- Talvez fosse mais adequado a inveja não? – Questionei a afirmação dele.
- De certo modo, mas pense comigo quando você tem inveja é porque sabe que quer aquilo para si e não obtém, já a soberba é a certeza de que não importa o outro porque já é melhor ou tem o melhor que aquele e pode simplesmente afirmar isso conseguindo as custas de outro sua afirmação – Ele tinha um brilho nos olhos – sexto – Ele alinhou as mangas do terno e ajeitou-se na poltrona – Delta à música.
- Devo dizer que esse me intriga – Confessei diante de meu pouco conhecimento sobre o mesmo.
- Delta é simplesmente a música, não digo as letras satânicas de hoje em dia nem de antes, mas a melodia expressa o que não é dito em palavras. Sabe os musicais?
- Sei – Disse curiosa pelo que poderia vir a seguir.
- Quando um personagem de musical canta é porque ele está sentindo algo que não consegue colocar em simples palavras, precisa da harmonia do som para completar as palavras e transmitir a sensação interna.
- Isso nunca me ocorreu – Disse analisando profundamente as vezes que cantamos ou quando dizemos que a música fala conosco, não é um simples letra e sim o conjunto completo.
- O som desperta sensações e sentimentos minha cara – Ele sorriu satisfeito com minha cara que naquele momento deveria ser de contemplação e descoberta – Preguiça e você pode se questionar do que a preguiça pode ter a ver com a música... A música te prende no comodismo do momento onde você está; seja principalmente em sentimentos ficando cada vez mais incapaz de pensar no momento adiante, não tem vontade de ir adiante resumindo tem preguiça, Sétimo e último que é?
- Kappa – Fitei-o esperando ansiosa pelo que poderia descobrir.
- Exatamente, a Controvérsia ou Contradição a causadora de todas as discussões e guerras advinha o pecado?
- Sobrou apenas a Ira – Respondi.
- Ira não é raiva, Ira é explosão irracional de fúria no momento de ira você não tem uma linha clara de pensamento e acaba se contradizendo na atitudes e palavras.
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Lucas tinha fechado a porta atrás de si e as duas se entre olharam receosas uma com outra, Lira colocou a bacia sobre a escrivaninha de madeira branca.
- O que iremos fazer? – Questionou Fernanda tentando quebrar o silencio e desconforto.
- Venha até aqui – Ordenou e Fernanda obedeceu indo parar ao seu lado – O anel é um totem, a chave é um caminho de volta e crucifixo a proteção, tudo isso precisa estar em um cordão próximo de seu peito, eu preciso que você tenha esses itens também.
- Acho que não tenho um crucifixo – olhou para o quarto onde não havia nenhum objeto religioso assim como a casa em si – Porque eu terei um agora?
- Porque você é única que pode talvez encontra-la – Olhou para Rafaela na cama – E isso vai garantir o seu retorno.
- Lira - ela abaixou os olhos – Eu não entendo, Alameth não quis me explicar e você me diz isso pela segunda vez – A garota parecia sem jeito e confusa – Por que eu? – Apontou para o próprio peito – Por que não pode ser o Lucas ou Gabriel que estão ligados a ela?
Lira soltou um longo suspiro e fitou a parede como se lembrasse algo, era difícil para ela contar o que todos e incluindo ela queriam esconder. A verdade era que Lira não fazia inteiramente por egoísmo, inveja ou ciúmes como a própria Brigith sempre afirmara.
- O elo que os une é fabricado – Ela olhou a garota com receio de dizer as próximas palavras – O elo que une você a ela é...
- Espera – Fernanda levantou a mão em sinal de pare interrompendo Lira – Está me dizendo o que estou pensando? Que – olhou para Rafaela e novamente pra Lira – somos tipo ligadas desde o nascimento como almas gêmeas?
Lira olhou para a garota pensando em uma forma de explicar a ela que as coisas poderiam sim ser explicada dessa forma rustica e incompleta, mas havia outras coisas envolvidas. As almas gêmeas sempre eram da mesma categoria de criaturas, os humanos tinham sua outra parte humana, os elfos também e até mesmo os deuses tinha sua cara metade em outros deuses. A recorrência daquela situação fora explicada uma única vez a própria Fernanda por Gaia e agora nessa carne e existência ela não lembrara algo que fora dito somente a ela.
- Fernanda eu sei que pensa nesse tipo de coisas, mas devo desaponta-la – Lira optou por não revelar isso ainda embora soubesse que Rafaela já estava na beirada de descobrir, graças a visita de Lilith na noite anterior – Essa ligação pré-existente pode ser porque vocês são irmãs – A garota pareceu desconfiar e Lira precisava convence-la rápido - Digo vocês duas provem da mesma energia compreende?
- Mais ou menos – Garota falou desconfiada – todo mundo veio de um único ponto, Deus não é?
- Nem todos, Lucas provem de Miguel o arcanjo – Lira pensou rápido no garoto como exemplo próximo – E nem todos aqui podem ser criaturas de Javé.
- Outros Deuses? – Fernanda cruzou os braços pensativa na possibilidade de outras infinidades de criaturas e coisas que poderiam existir.
- Sim, acha que só existe ele? – Lira retirou os objetos da agua aliviada por ter dado algo com que a garota pudesse pensar além da relação que poderia se desdobrar a diante – Preciso fazer o seu.
- AH – Fernanda estava perdida nas possibilidades e maravilhada com as portas que se abriam na sua mente sobre aquilo – Será que existe ninfas? – Questionou maravilhada com a ideia.
Lira parou tudo e olhou pra ela surpresa pela primeira ideia de criatura que ela pensara em perguntar fosse a da própria existência a muito tempo atrás, era como Alameth falava: “Não importa quantas vidas se passem ou que algo nos mude a essência permanece em nos; enterrada buscando um jeito de aparecer” e isso valia para os sentimentos também.
- Sim elas existem – Um sorriso largo desabrochou na garota com felicidade pura ao ouvir a confirmação.
- E elas podem estar aqui na Terra? – questionou empolgada.
- Talvez - Dei de ombros fingindo não dar importância.
- Eu quero ver um dia – Falou ansiosa e contente.
- Fernanda os objetos por favor – Cortou a conversa para focar na tarefa seguinte.
- Como eu disse não sei se tenho um crucifixo – A garota saiu para abrir o guarda-roupa branco procurando em uma pequena caixa dentro do mesmo.
- Me de qualquer pingente que você não use, mas que seja de metal – Lira teria que pedir para Alameth fazer uma transmutação no objeto.
- Tenho esse – A garota voltou com um pingente de sol dourado na mão e o entregou – Serve?
- Sim – O pegou e fechou na mão em concha – Eu já voltou – Os olhos viraram e Fernanda deu um passo para trás era a primeira vez que ela via isso acontecendo; os olhos voltaram e expressão mais dura e severa aparecera – Olá Fernanda – Ela reconheceu de imediato Alameth, a própria fechou os olhos se concentrando em algo e logo abriu e entregou para a garota o pequeno crucifixo dourado – Tome cuidado – Os olhos viraram novamente e olhar debochado retornou Lira.
- Isso foi incrível – Fernanda estava impressionada com a mudança em Bella e no objeto em suas mãos.
Continua...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Faby_AngeL
Em: 05/04/2018
Não defendo a Lira, só gosto dela e acho ela mal comprendida rsrsrs
Resposta do autor:
Ai mds ela deve ficar feliz com isso.
Ela adora uma atenção.
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