Zelena estava muito bem, jogada em seu sofá enquanto lia alguns resumos de seus alunos sobre um dos clássicos de Jane Austen. Estava dando aula sobre literatura clássica e sabia que não poderia deixar aquela autora passar batida.

Entre uma linha e outra se desconcentrava, ora por alguma bobagem que um aluno havia escrito, ora porque ainda tinha em sua cabeça que sua irmã simplesmente havia desistido de ir passar um tempo na casa dela.

Sabia que ali tinha algo bastante errado, e sua mente não a deixava em paz por não ter ido atrás da Regina antes. A ruiva jogou uma resma de papel no chão ao seu lado, e foi imediatamente ligar para o celular da sua irmã. Procurou-o em cima da mesa, do balcão da cozinha, e finalmente o encontrou em cima de sua cama. Ao terminar de digitar o número de sua irmã, a campainha de seu apartamento tocou.

- Ué, não estou esperando visitas... - Manteve o celular na orelha, e seguiu em direção a porta. O número da mais nova chamava e ninguém atendia; Zelena sentiu uma pontada forte de preocupação no peito, sabia que tinha algo bastante errado, só não sabia dizer o que naquele momento.

- Mamãe? - A mulher abriu a porta e se deparou com sua mãe, uma mulher que já estava na casa dos 60 anos, com cabelos ruivos, aquele ar de soberba e vestes que chamavam a atenção de todos por serem elegantes em demasia. Cora não sabia passar despercebida, gostava da atenção que conseguia para si.

- Oh, olá meu amor, sua irmã não avisou que eu estava vindo passar um tempo aqui? - A senhora ergueu uma sobrancelha sem compreender porque sua filha nem sabia da sua visita, e por ainda não ter recebido espaço para entrar.

- Ah, entre por favor, ignore a bagunça, essa semana foi uma loucura na faculdade, os alunos parece que a cada ano pioram... - Zelena tentou brincar para distrair a mãe do fato que ela não sabia que a outra estava a caminho do local.

- A Regis me avisou que você vinha sabe... Mas não falou exatamente o porquê. - A jovem jogou aquela tática para cima da mãe; ela sabia que

Cora não ia engolir aquele papo já que a mulher era literalmente uma raposa velha, mas ela seguiu.

- Ah, ela não lhe falou a melhor parte então. Lembra daquele jovem, filho da maior construtora daqui da Flórida? - Zelena piscou duas vezes olhando sem se recordar de quem a mãe estava falando. Não lembrava do filho de ninguém naquela altura do campeonato, realmente devia ser história muito antiga.

- Nossa, minha filha, assim você dificulta... Me dê licença, sim? - Cora passou pelo lado de sua filha com uma mala de mão indo em direção ao sofá. Sentou-se primeiro confortavelmente, depois retomou a explicação.

- O Robin, jovenzinho bonito, deve ter por volta de sua idade, a minha ideia era que ele casasse com você, sabe... Mas sua vida um tanto, como devo dizer, peculiar, não facilitaram as coisas para mim. - Zelena praticamente bateu a porta em desespero, seus olhos azuis estavam quase saltando das órbitas enquanto fitava o chão. Robin, isso, ela se lembrava, tinha dado um fora nele quando ainda era adolescente, sabia inclusive quais palavras ela havia usado: "Sem bucet*, sem relacionamento". O rosto da mulher tomou um vermelho escarlate.

- M... Mas o que ele tem a ver com sua visita? - Ela tentou conter o nervosismo, a primeira coisa que lhe veio em mente foi que só faltava sua mãe querer lhe arranjar um casamento forçado com ele.

- Ah, meu amor, sua irmã não lhe falou mesmo sobre o casamento dela? - Nesse momento, o mundo de Zelena despencou: como assim o casamento da irmã? Ela não estava apaixonada por uma aluna a ponto de ter precisado se afastar um tempo? O que tinha acontecido naquele mês que ela tinha perdido e agora parecia que o mundo caia em sua cabeça?

- Ha... Haha, é brincadeira não é mesmo mãe? A Regina não quer saber de relacionamentos, ela é focada demais na carreira dela para pensar em quem quer que seja. - A jovem voltou a olhar para a mãe, já disfarçando o pânico que estava estampado em seu rosto momentos atrás.

- Claro que não, você sabe que eu não brinco, Zelena. - Cora confirmou

num tom quase zombeteiro para a filha.

- Além do quê, ela estava visivelmente perturbada quando chegou em minha casa. Não esperava a visita dela, para ser realista, porém, não foi de mal gosto, e o rapaz estava no lugar certo e na hora certa, digamos assim. - A mulher ajeitava a barra de seu vestido, onde vira um leve amassão que não devia estar ali.

- Não ia deixar que sua irmã perdesse essa chance, não concorda? - Zel controlou-se para não explodir em uma risada; ainda parecia uma grande piada, tudo parecia bem errado. O celular que estava em sua mão já havia parado de chamar, e nem sabia se queria insistir para conversar com sua irmã naquele momento. Precisava extrair o máximo possível de Cora.

- Ah não, mamãe, você está certíssima. Quer um café? - A ruiva se dirigiu à ilha de sua cozinha estilo americana pra organizar as xícaras. Sabia que sua mãe não negaria.

- Certamente. Mas então, continuando. Regina chegou visivelmente abalada, os olhos dela não tinham o mesmo brilho que eu via quando vocês ainda moravam comigo. Por um acaso, eu sabia que o Robin tinha ido à cidade visitar o pai, e claro que o chamei para tomar um café. - Zelena ouvia a história em silencio, levou a xicara de café para sua mãe e sentou-se no lado oposto a ela do sofá, dando um espaço para que pudessem ficar uma de frente para a outra.

- Bem, não foi da maneira que eu gostaria, Regina não recuperou o brilho dos olhos dela, mas conseguiu um noivo em um mês, não é maravilhoso? Eu estava preocupada que ela fosse ficar igual a você, ou uma solteirona que só pensa que o trabalho é a única coisa que existe na vida. Por favor, não leve para o lado pessoal, querida. - Cora levou o café aos lábios, se deliciando primeiro com o aroma maravilhoso e depois com seu sabor.

- De forma alguma levarei, mamãe. - Confirmou a jovem, não era a primeira nem última vez que sua mãe faria aquele tipo de comentário ácido, nem sentia mais tanto como sentia em sua adolescência.

- Mas, e como está a Regis com relação a isso, não esperava que ela fosse arrumar um noivo em um mês de folga do trabalho. - Zelena

olhava sua xicara de café querendo aparentar distração para a mãe.

- Ah, eu não acredito que ela esteja totalmente satisfeita, mas ela aceitou, eu aceitei, nós achamos maravilhoso, e agora só falta marcarmos as datas e tudo será confirmado. - A jovem ergueu as sobrancelhas quando a mãe falou daquela forma. Parecia algo tão banal dizer que Regina não estava satisfeita com a situação! Precisaria conversar com sua irmã, o mais rápido possível.

Ѽ

Já estava anoitecendo, Zelena ainda não tinha conseguido contato com sua irmã, e Cora, desde que havia terminado seu café, a única coisa que fazia era ligar para seus contatos contratando uma festa.

- Mamãe, a senhora não acha que está colocando a carroça na frente dos bois não? - A ruiva tentava se concentrar nos papéis de seus alunos, mas estava inquieta desde a notícia que recebera logo cedo; era demais para processar.

- De forma alguma, minha filha, já consegui marcar a festa de noivado, e ela vai acontecer em aproximadamente 15 dias. - Cora olhava orgulhosa para todas anotações que ela estava fazendo em seu bloquinho.

- E você não sabe a melhor parte, a diretora da escola que Regina ensina cedeu o espaço para a festa, ela só pediu para que deixassem à vontade os alunos que quisessem comparecer. - Mais uma vez a expressão de Zelena foi de sobressalto; e porque estava tão impossível falar com Regina ?!

- Eu estava pensando em um baile temático, algo como um baile de máscaras do século 18 sabe? Iria combinar completamente com o ambiente, e dificultaria a entrada de qualquer aluno que não tivesse trajes para a situação. - Cora abriu um sorriso meio zombeteiro, enquanto buscava os olhos de sua filha, que aparentemente tinha saído do local, deixando-a falando sozinha.

Ѽ

A ruiva mal havia trocado de roupas, trajava um vestido verde simples, e já estava dentro de seu carro dirigindo em direção a escola de ballet.

- Meu Zeus, me dá uma luz para eu conseguir tirar minha irmã dessa... - Já havia se passado do horário do rush em nova York, e isso fez com que Zelena chegasse mais rápido do que imaginara no local em que provavelmente sua irmã estaria.

Estacionou da melhor forma possível que a pressa lhe permitia, e saltou do carro entrando parecendo um furacão na recepção do ballet. Tudo estava calmo. Ela viu uma placa com uma seta, indicando uma suposta apresentação.

A mulher entrou silenciosamente no espaço do teatro do local: ainda estavam acontecendo apresentações. Mais uma vez puxou o celular tentando entrar em contato com Regina, e mais uma vez, sem sucesso.

Respirou fundo, e resolveu procurar pelas cadeiras mesmo, o que mais tinha a perder, já que já estava ali? Pousou a mão em uma parede do teatro e começou a descer as escadarias que pareciam sem fim; como era grande para um teatro de dentro de um instituto!

Procurou, mas não teve sucesso em encontrá-la, até que viu na primeira fileira o homem que ela tinha lembranças de sua juventude: certamente era ao Robin, ele não mudara nada. Aquela cara de paisagem dele não mudou mesmo. Um nó embrulhou seu estômago, não acreditava que sua irmã estava mesmo noiva daquela criatura que ela tinha feito questão de mandar pastar no passado.

Assim que os pensamentos saíram de sua mente, ela reparou que tinha um local vago ao lado dele; certamente devia ser o de Regina. Ela só estaria em dois locais, ou nos bastidores falando com suas alunas, ou no banheiro, que também deveria ser o dos bastidores. Zelena tomou o caminho por trás do teatro para procurar a mulher.

O primeiro local que ela buscou foi no banheiro. Via muitas alunas correndo de um lado para o outro, algumas ainda se arrumando, outras trocando de roupa: era quase um prato cheio apenas para ficar admirando. Deu um pequeno tapa na testa.

- Foco, Zelena. - Sua irmã não estava ali, não ficaria perdendo tempo, precisava tirar a história a limpo. Seguiu para trás do palco onde algumas alunas se aglomeravam em uma porta, esperando para não acumular nas coxias.

Começou a passar pelas garotas pedindo licença para as mesmas, uma ou outra erguendo as sobrancelhas sem entender do que se tratava aquilo. Ela não era uma conhecida ali, mas nenhuma das meninas parou para interrogá-la.

- Regis? - Zel falou baixinho, não podia gritar por ali... Iria atrapalhar as apresentações.Foi quase que se esgueirando procurando por sua irmã. Estava tudo muito escuro, o que dificultava encontrar quem quer que fosse.

Parou quando ouviu um farfalhar vindo das coxias seguido de uma voz que conhecia muito bem: sua irmã falava algo baixinho ali.

-Emma...

Emma? Era isso mesmo que ela havia ouvido? Sua irmã falava o nome da aluna loira que fora o motivo dela ter se afastado da escola? O rosto de Zelena ruboresceu um pouco, queria parar sua irmã naquele momento. Não podia fazer isso, o que faria? Robin estava logo ali perto, Regina tinha perdido a noção da vida? Ela realmente não podia estar em si porque aquilo estava muito errado.

Zelena só imaginava que Cora havia feito uma lavagem cerebral em sua irmã e por isso ela não sabia como reagir na situação em que ela estava inserida. Não queria imaginar estar na pele da mais jovem, amando uma porém noiva de outro. Suspirou pesadamente. A ruiva começou a se retirar do local, e viu um burburinho entre as jovens que ocupavam o espaço da porta de saída dali: Robin estava entrando!

- Ai meus Zeus, preciso me esconder... - Olhou para um lado, palco, para o outro, coxias. Se jogou entre as coxias próximas a parede da melhor maneira possível. Ele não podia vê-la ali, não agora pelo menos. Tentou escutar alguma coisa, mas a única coisa que ela conseguiu ouvir foi, assim que a música ficara mais baixa, sua irmã falar.

- Emma, esse é meu noivo, Robin. - A ruiva quase sofrera um ataque de nervos naquele momento, certamente não queria estar na pele da loira. Pobre criança.

Fim do capítulo