Chassé
Emma não sabia o que seu corpo estava fazendo, apenas sentia seu rosto ficar banhado em lágrimas, e ela não conseguia controla-las de forma alguma. Seus pés lhe levaram de volta para a escola... O sol ainda estava aparecendo por cima dos prédios da cidade, mas estava um frio que incomodava a loira, que sentia como se houvesse quebrado uma parte de si.
- Emma! – A loira congelou, era tudo que ela não precisava naquele momento. Fechou os olhos e passou a gola da camisa no rosto, enxugando o máximo possível do rastro de lágrimas, mesmo que não tivesse como disfarçar a vermelhidão em seus olhos. Ruby e Killian vinham abraçados e cambaleando na calçada. Aparentemente ambos ainda estavam bem bêbados, e um estava usando o outro para se manter em pé e chegarem na escola.
- Mas olha só, Killian, quem se deu bem hoje? – Ruby apontava para a amiga, que só teve como reação erguer uma mão, no entanto foi mais uma vez tomada pelas lágrimas. Seu corpo praticamente desabou no chão, o que fez os dois terem um momento de sobriedade e correrem até a amiga para apará-la.
- Emma, o que houve? – O rapaz foi o primeiro a se preocupar sinceramente, pois ela parecia que havia sido destruída. Ele não tinha noção do paradeiro dela desde que haviam dançado em cima do palco, mas esses detalhes não são óbvios quando se está bêbado. Ruby não conseguiu se pronunciar, só parecia que ali existia uma preocupação misturada com algo mais... Parecia amargura?... A amiga da loira a abraçou apertado; parecia que sabia o que podia ter acontecido, e ela não precisava de perguntas naquele momento frágil.
- Vamos voltar para escola, certo? Te desenrolo um chocolate quente contrabandeado do café da manhã, patinha. – Ruby levantou-se, com um olhar curioso de Killian. Ele parecia ser o único que não entendera o que estava acontecendo ali e não ficou muito satisfeito com sua posição, mas deixaria que as garotas se entendessem. Ele foi para o lado oposto ao que a morena havia ido, e ambos seguraram a loira, levando-a de volta para a escola.
- Qualquer coisa, me avise. – O rapaz olhou por cima da loira e apenas balbuciou as palavras para que sua amiga visse o que ele estava dizendo. Não existia nada entre ele e a novata, mas sentia uma ligação e preocupação para com ela.
Levaram a loira para seu quarto, e rapidamente Killian saiu daquela área. Não era permitido homens na área de quartos femininos, e seria bem estranho que ele fosse encontrado ali, com uma menina aos prantos e outra levemente embriagada.
Emma sentou-se em sua cama e abraçou as suas pernas, olhando fixamente um ponto a sua frente. Sua amiga não quis ficar tão perto assim dela; sempre preferiu que lhe dessem espaço quando ela estivesse desmoronando.
- Patinha, você sabe que pode falar qualquer coisa para mim, não sabe? – A garota respirou fundo, controlando-se para não se aproximar. Estava aliviada que a loira já estava mais controlada: só aparentava estar em choque, mas era melhor do que estar se acabando de chorar. A única reação de Emma foi voltar seus olhos para a amiga, que tinha uma feição preocupada. Swan respirou uma, duas, três vezes, e decidiu que mesmo devastada, era melhor colocar aquilo para fora: ela teria que ver Regina- mais cedo do que esperava, não tinha para onde correr- e sua amiga talvez pudesse lhe ajudar.
- Rubs... Aconteceu algo com a Regina, e, sinceramente não sei o que fazer. – Emma soltou de uma vez, esperando que talvez a experiência maior com pessoas que sua amiga tinha lhe ajudasse com qualquer coisa que fosse. Ruby ergueu uma sobrancelha, sem esconder que não estava surpresa.
- Sério, Emma? Sua namoradinha te deu um fora? Achei que tinham se resolvido com aquela conversa e tal... – A morena falou com um tanto de desdém; não acreditava que a amiga realmente tinha ido de cabeça naquela ilusão que se chamava Regina Mills. Emma, que havia recuperado alguma cor, voltou a ficar pálida com aquele comentário da outra: fora quase uma facada. No seu âmago, ela sabia que querer qualquer coisa com um professor era algo sério, mas sentia algo tão forte entre elas que nem conseguia imaginar estar sentindo aquilo sozinha.
- Nossa, obrigada pelas palavras de conforto, Ruby. O que te faz pensar em minha “namoradinha”? Nem eu sabia que tinha uma. – O nariz de Emma ainda estava bem vermelho, como as maçãs de seu rosto.
- Ah, Ems, até parece que você não está arriada os quatro pneus e o estepe pela Regina, você não consegue ser menos óbvia. Você esperava o quê dela como professora? Se apaixonar perdidamente de volta por você? – A amiga da loira suspirou e continuou: – Olhe, Emma, você já tem 18 anos, não seja tão infantil assim. Bola para frente, todos já levaram um fora e você não vai ser a primeira nem a última que Regina vai dizer um não. Fui clara? – Terminou, convicta daquilo que havia acabado de dizer. Emma não teve reação, apenas ficou chocada com aquilo que acabara de ser jogado na sua cara. Sabia que não estava sendo muito madura; ou pelo menos, não o suficiente. Fitou os seus pés que ainda estavam com meias, não havia tirado do corpo ainda a roupa que passara a noite. Não se sentia confortável para abandonar qualquer coisa que lhe lembrasse bons momentos, mesmo que também estivessem ligados a algo péssimo.
- Clara como o vidro, Rubs, mas poderia ter sido um pouco mais delicada. – Suspirou vencida, ainda sentia lágrimas querendo transbordar dos olhos. – Sabe o pior disso tudo? Hoje ainda tenho aula dela! – Finalmente olhou para a morena, que estava mais uma vez com aparência tranquila em sua cama.
- Sabe, patinho, essa é a hora que você vai ter que ser mais forte, já disse: o Killian é um cara legal, vocês podem se dar super-bem, só precisa de um pouco de esforço de sua parte. – Emma balançou a cabeça em afirmativa, apesar daquela não ser a vontade da jovem. Depois de ser negada, tentativas não lhe fariam qualquer mal.
- Agora vamos dormir, não aguento mais um minuto nessa tensão sem descansar.
Ruby levantou-se de sua cama, fechou a única entrada de luz que havia no quarto, apagou as luzes, e foi deitar-se na cama da amiga, para garantir que ela ao menos tentaria descansar.
- Sério, loba ? Não é como se essas camas fossem imensas. – Emma tentou brincar e levou um leve empurrão da amiga que retrucou.
– Apenas cale a boca e durma um pouco, se não ficar quieta vou fazer você aguentar meu mau humor da ressaca. – E abraçou por trás a cintura da amiga, encostando a cabeça nas costas dela. A loira sentiu o corpo relaxar um pouco, fazendo com que lágrimas novamente escapassem seus olhos sem que ela controlasse... Mas aquilo passaria, ela tinha certeza. Assim, seu corpo desistiu de manter-se desperto, e dormiu.
Ѽ
Emma ficou ali, sentada em um banquinho que havia na frente de sua sala... Como ela faria para escapar? Não queria olhar a cara de Regina no mesmo dia que foi expulsa da casa da mesma. Não tinha maturidade suficiente para encarar aquilo, era ciente de sua situação. Suspirou uma, duas, três vezes, vendo as garotas entrando na sala. Tinha de conversar com a sua professora, até porque lembrava que havia ficado sem sua variação, e a apresentação seria em pouco mais de quinze dias. Seria totalmente prejudicada se deixasse se levar por imaturidade.
- Vamos Emma, você pode fazer isso. – Mal terminou de falar, Regina dobrou saindo da área de quartos, e seu olhar cruzou com o dela instantaneamente. A loira corou, e viu a mais velha corar e mudar a direção do olhar. Suspirou novamente: era melhor do que isso. Deixou que a professora entrasse e entrou logo após ela. Pegou um local no canto da barra, quase encostada onde Regina ficava para ministrar a aula, e fez sua melhor cara de paisagem.
A aula foi dada normalmente: Emma percebeu que a sua professora apenas fingia que ela não existia... A loira estava com o orgulho ferido, mas não o suficiente para deixar aquela situação passar. Na pausa entre uma música e outra, a jovem ergueu o braço.
- Professora, tenho uma dúvida. – Falou o com sua voz o mais normal possível, mas não conseguiu disfarçar o leve espasmo que veio no final da frase, quando Regina finalmente olhou para ela naquela aula.
- Qual, Emma? – A mulher não esboçou qualquer reação, fazendo Emma corar veementemente: aquilo era o que ela chamava de autocontrole, já o próprio havia ido para o espaço.
Emma respirou algumas vezes, se controlando. Parecia que o ar não conseguia entrar e oxigenar seu cérebro da forma que deveria para que ela pudesse raciocinar.
- Eu ainda estou sem uma variação para a apresentação do mês que vem. – Ela abriu um sorriso de lado quase infantil; não estava mentindo, realmente houvera ficado sem sua variação. Apesar de que não se preocupava com o fato de ter ficado sem ela: já havia conseguido uma coisa especialmente melhor no mesmo dia. Mas agora que havia sido inclusive expulsa da casa da outra, tinha que manter-se em seu foco inicial.
Uma reação de espanto foi vista no rosto de Regina, fazendo com que as outras alunas que estavam na sala começassem a murmurar entre si. Ninguém havia esquecido que a professora havia pedido para a loira ficar depois da aula no dia da separação das variações.
- Ah, perdão, realmente meu desleixo. Eu estava mais preocupada com sua perna esquerda que não tem força... Você acha mesmo que consegue seguir nesse ramo se não for fantástica? – A professora tentou disfarçar seu erro e desfazer qualquer comentário suspeito que pudesse surgir entre as suas alunas. Jovens eram muito criativos para se deixar algo no ar sem dar uma devida explicação.
- A aula já acabou, garotas, podem sair. Vou ver o que posso fazer pela senhorita Swan. – As outras começaram a pegar suas coisas e saíram tão compassadamente que parecia ensaiado.
Emma permaneceu encostada na barra, vendo as outras saírem. A apreensão começava a tomar conta dela, não sabia o que esperar. Ela tinha consciência que coisa boa não seria, o pior que poderia acontecer seria ela apenas receber sua variação como qualquer outra aluna, e sair dali como se nada houvesse acontecido entre ela e sua professora na noite anterior.
Sentia ainda a cabeça pesar um pouco graças à quantidade de bebida que havia ingerido. A respiração parou assim que a última aluna saiu da sala e fechou a porta atrás de si. A jovem não tinha coragem de encarar a mulher que estava em sua frente. Não sabia mais se queria tanto assim saber qual seria sua variação, e sua vontade naquele momento era fugir, não apenas da sala, mas simplesmente sair daquela escola. Aquele sentimento era tão errado, mas tão certo... Ela sabia, dentro de si, que não podia ser errado aquele tipo de sentimento, mesmo que os nutrisse por uma professora.
- Certo, Swan, como eu sou ciente da sua dificuldade ainda com o levantamento de sua perna esquerda, eu vou deixar que você dance La Bayadere, a variação de Gamzatti. Não deve ser muito complexo para a senhorita. Desejo boa sorte. – Regina foi direto ao ponto, mal dando tempo de sua aluna fixar os olhos nos seus. A mais velha já ia lhe dando as costas para se retirar da sala, mas Emma segurou seu braço. Regina respirou fundo; não esperava que a jovem fosse ser petulante àquele ponto.
- Alguma dúvida, senhorita Swan? – Ergueu uma sobrancelha enquanto se desvencilhava da mão da outra.
- Como assim, boa sorte? Você fala como se não fosse estar aqui para me passar a coreografia. – O rosto da professora se manteve sem muitas expressões.
- Porque de fato não estarei, quem lhe passará a coreografia será outra professora; hoje mesmo pedi uma licença da escola.
Fim do capítulo
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