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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 7463
Acessos: 4315   |  Postado em: 01/04/2018

Capítulo 39 Lírios Brancos

“Mon Amour!” Aquela expressão ficava ecoando na mente de Cosima repedidas vezes como se estivesse à beira de um abismo e o eco lhe trouxesse aquelas palavras cada vez mais forte. Sabia e sentia o amor que Delphine sentia por ela, mas tê-lo daquela maneira sendo externado de forma tão natural e despretensiosa a surpreendeu demais. Contudo, havia uma outra sensação a incomodando e que, achou melhor, guardar para conversar com ela em uma outra hora menos constrangedora, pois não estava sozinha a beira do abismo. Muito pelo contrário, havia muito mais gente ali, quase tão atordoados quanto ela.

- Cosima? – Delphine lhe chamou a atenção e só então a morena teve a coragem de olhá-la. A loura estava tranquila e serena, como se nada estivesse acontecendo e aquilo só aumentava uma fúria que vinha crescendo dentro dela.

“Você perdeu o juízo?” A questionou, mas não foi respondida com palavras ou pensamentos. Apenas recebeu em troca um sorriso maroto e uma piscadela de olho.

- Eu... Eu... Eh... – Perdeu a fala e quase perdeu a compostura ao se desvencilhar do braço de Delphine com certa intensidade. Olhou para o livro em mãos e com uma desconfortável demora, ergueu seus olhos e encontrou o olhar questionador de seus amigos e temeu encontrar algo mais ali. – Bom... – pigarreou e tentou fingir algum tipo de segurança enquanto tentava organizar seus pensamentos que estavam em turbilhão. – Não acredito que eu teria vencido esse desafio... – Olhou duramente para Delphine que parecia inatingível enquanto passou por todos e sentou-se sobre a mesa de Marion, cruzando as pernas. – Contudo, mesmo que todos tenhamos chegado aqui praticamente ao mesmo tempo, uma pessoa se destacou das demais. – Encarou cada um deles. Marc lhe olhava com complacência enquanto Louis tinha um certo teor de raiva lhe fazendo crispar os lábios. Já René e Amélia demonstravam desapontamento e Sophie, em toda sua ingenuidade, permanecia apenas incrédula. – Foi alguém que não se negou a ajudar os colegas a interpretarem dicas e que vi, ainda na Biblioteca Saint-Barb, buscar livros para os amigos. E essa pessoa é a Sophie! – Estendeu o prêmio para ela que arregalou seus grandes e brilhantes olhos verdes.

- Sério?! – A jovem apertou seu prêmio contra o peito e olhou para os amigos.

- Muito justo. – Marc concordou com a decisão de Cosima, e os demais também demonstraram satisfação naquela escolha, o que lhe trouxe certo alívio.

- Muito bem! Parabéns Srta Lacroix! – Delphine desceu de onde estava e foi até a jovem para lhe apertar a mão. – Espero que tenham apreciado a nossa pequena atividade de hoje. – Disse em direção aos demais e não esperou resposta alguma. – Sendo assim, gostaria que me entregassem, daqui a quinze dias, um artigo sobre os seus temas de pesquisa contendo as referências que encontraram nessa busca de hoje. – Juntou suas coisas e evitou o olhar de Cosima, embora o sentisse sobre si o tempo todo. – Acredito que seja tempo suficiente.

Todos os Semideuses se entreolharam. Sabiam que seria praticamente impossível fazer a contento para a PhDeusa, mas teriam de fazê-lo de alguma maneira.

- E não se esqueçam de que, na semana que vem, teremos o “Mundos de Mulheres”[1] em Nova Deli e tenho a certeza que vocês estão com tudo pronto para as suas respectivas apresentações. – Dirigiu-se até a porta, mas antes de sair voltou-se para o interior da sala. – Cosima, eu a espero em minha sala. – E saiu sem dar maiores satisfações, deixando todos ainda atordoados pela recente revelação.

Assim que sua professora saiu, sendo seguida pela Professora Bowles, todos os Semideuses voltaram-se para Cosima que se sentiu bem no meio de um tribunal de inquisição, dados os olhares que seus amigos lhe lançaram. O julgamento estampado no rosto de todos e sabia que lhes devia um mínimo de explicações. Sabia em seu intimo que não iria conseguir esconder deles aquela história por muito tempo. Inclusive porque em poucos dias todos estariam juntos por alguns dias durante o congresso na Índia.

- Então a mulher misteriosa é a Profa. Cormier! – Foi Amélia quem quebrou o silêncio incômodo que imperava ali. O desdém em sua voz deixava claro o desgosto dela.

- Realmente eu não esperava por isso. – René juntou-se a amiga no julgamento inicial.

- Gente, por favor. Vocês têm de se acalmar e deixar a Cosima falar. Até por que ela não fez nada demais. – Marc saiu ao “socorro” da amiga.

- Gente... – Cosima finalmente falou logo após dar um longo suspiro. – Mais cedo eu disse a vocês que havia me apaixonado perdidamente por alguém. Algo que nunca senti em toda a minha vida por ninguém. Nem mesmo pela Shay, que tinha tudo para ser a minha companheira perfeita. – Falou com denotada cautela na voz e com olhar quase suplicante. Embora soubesse que não precisasse de fato da aprovação deles, mas ainda assim gostaria que não compreendessem aquilo de forma errada, pois realmente gostava de todos eles. – Mas isso era impossível, pois de alguma maneira que ainda não consigo explicar, eu me sinto... Completa quando estou com a Profa... Com a Delphine.- Avaliou cuidadosamente as expressões de todos eles.

- Mas quando isso começou? – Sophie a questionou muito mais curiosa do que chateada. Diferente dos demais.

- Para ser bem sincera com vocês... – Ajeitou seus óculos no rosto. – Aconteceu no exato instante em que a vi pela primeira vez. – Olhou para o chão e depois os encarou de baixo para cima.

- Quer dizer que foi amor à primeira vista? – Sophie insistiu. – Que legal!

- Isso não existe garota! – Louis se posicionou e Cosima temeu, pois sabia que aquela situação poderia afetá-lo de forma diferente que os outros. – O que existe é mau caratismo...

- Ei Louis! É de Cosima que estamos falando. – Marc novamente intercedeu em nome da amiga. – Ela não é mau caráter. Muito longe disso e sabes muito bem disso. Aliás, todos nós aqui podemos dizer que conhecemos a Cos bem o suficiente para sabemos o quão bondosa, gentil e correta ela é. – Seu tom de voz imperativo fez todos repensarem suas posturas. – E não sejamos hipócritas nem apressados em nossos julgamentos. – Os alertou e com um aceno de cabeça, indicou que Cos deveria continuar.

- Sim Sophie... Amor à primeira vista eu diria sem medo de errar. – Disse sorrindo.

- E... É recíproco? – Amélia mudou seu tom.

- Completamente! – Respondeu sem um instante se quer de hesitação. – Isso não é um jogo ou uma brincadeira para a Delphine.

- De fato a Profa. Cormier nunca se envolveu com aluna alguma. – René se posicionou - Aliás, o único envolvimento que é sabido dela é com a Profa. Bowles. – Cosima não conseguiu conter o breve embrulho no estômago que sentiu ao ouvir aquilo. – E mesmo assim era algo superficial, até onde sabemos. Fora isso, mais ninguém, mesmo ela sendo muitíssimo cortejada. – Nova onda de ciúmes.

- Gente, eu juro para vocês que nós tentamos lutar contra isso assim que percebemos o que estava acontecendo, pois ambas sabíamos que havia uma outra pessoa. Mas foi muito mais forte do que nós duas juntas. – Pensou em tudo que vivenciou com Delphine nas ultimas semanas, especialmente na extraordinária conexão que possuíam. Pesou por alguns instante se deveria contar sobre aquilo para eles, mas achou por bem guardar aquele segredo só para elas. – E quando estamos juntas é... É... Indescritível! – Disse essa ultima frase com um sorriso bobo nos lábios e com os olhos fechados. Assim que os abriu, os viu lhe encararem com mais serenidade, exceto o Louis. Lamentou-se por aquilo, mas sabia que ele ainda estava magoado pelo que lhe aconteceu. - Louis? – Mas ele já havia saído da sala bastante chateado.

- Deixe-o. Dê um tempo a ele. – Marc a segurou.

- Então... Eu gostaria de me desculpar com vocês... – Olhou para os restantes e se demorou um pouco mais em René e Amélia. Essa lhe sorriu de volta a interrompeu.

- Cos... Não tens que nos pedir desculpas. – Ela a tranquilizou. – Acredito que a única pessoa a quem devias alguma satisfação era a Shay. E pelo que nos disse isso já foi feito. – Cosima anuiu com a cabeça.

- Isso mesmo! – Marc a envolveu pelos ombros enquanto René fez o mesmo do outro lado.

- Dizem que a PhDeusa é uma mulher e tanto... Pois eu digo que ela é quem tem muita sorte sabia? – Seu amigo lhe disse com gentileza. – Pois és uma mulher e tanto!

- Vocês não sabem como fico aliviada ouvindo tudo isso. – Disse com sinceridade. – E espero que o Louis me perdoe.

- Ele irá! – Marc lhe disse. – Mas agora vá ver o que a Toda Poderosa quer com você! – Piscou um dos olhos. – Enquanto isso... Sophie é verdade que vais dividir conosco esse maravilhoso livro? – Todos riram e Cosima caminhou para fora da sala, mas não antes de parar e admirar seus amigos e constatar o quando gostava deles.

O alivio que sentia naquele instante era verdadeiro, contudo, aquilo não escondia uma pontada de chateação que ainda sentia de Delphine. Pois ela não tinha o direito de externar, daquela maneira, o relacionamento delas. Sentia que precisava ter uma conversa séria com ela, mesmo sabendo que assim que a visse, seria duríssimo manter o controle e não partir para seus braços, devido ao tamanho da excitação que a consumia desde o evento de mais cedo.

Assim que saiu do elevador, viu Marion saindo da sala de Delphine extremamente chateada. Pisando firme e resmungando algo, porém, assim que a mulher a viu mudou seu semblante, adotando a mesma expressão sedutora de sempre. Suavizou seus passos e foi serpenteando em direção a Cosima que revirou os olhos como sempre fazia, porém decidiu lidar com ela de igual para igual, pois era ela a quem Delphine queria, era ela a quem a Toda Poderosa, a mais desejada amava.

- Boa tarde Professora Bowles. – Disse assim que passou por ela.

- Sabes que não passas de um brinquedo para ela não é? – Mais direta impossível. Porém Cosima a ignorou a deixando possessa, levando-a a segurá-la pelo braço. – Não se iluda. Ela vai descarta-la assim que enjoar de você. Pois é isso que ela faz. Aquela mulher é incapaz de amar! – Só então Cosima a olhou nos olhos e pode ver o pesar verdadeiro, embora mascarado. Ela realmente sentia algo a mais por Delphine e estava se sentindo magoada por ela. Mas isso não lhe dava o direito de trata-la daquela maneira. Puxou seu braço de volta.

- Eu duvido muitíssimo! – Deu dois passos para longe dela – Passar bem professora. – Sibilou a voz, imitando-a. Ofereceu-lhe as costas e percebeu quando essa seguiu andando pesadamente até entrar no elevador.

Parou diante da porta da sala dela e se pegou pensando em quanto a sua vida estava mudando embora o que a Marion tenha dito lhe incomodava um pouco. Somado a isso havia o que seus amigos lhe disseram sobre ela nunca se envolver seriamente com ninguém. Mas em contrapartida era inegável o sentimento entre elas. Era algo especial demais.

- Entre Cosima! – A voz vinda do outro lado da porta a despertou. Sorriu de canto de boca, mas logo desfez o sorriso e respirou fundo abrindo a porta em seguida.

- Quem lhe deu o direito de fazer aquilo?

- Aquilo o que? – Delphine ergueu a cabeça e estava provocadoramente tranquila.

- Não se faça de desentendida “mocinha”! – Cosima estava parada, no meio da sala de Delphine, com ambas as mãos na cintura. A loura fazia um esforço imenso para não gargalhar dela e do “mocinha”. Apenas uma pessoa havia chamado daquela maneira e isso fora há séculos.

“Tão parecidas...” Pensou secretamente.

- Tudo bem! Talvez eu tenha exagerado... Só um pouquinho!

- “Exagerado”? – Riu sarcasticamente. – Você me colocou numa puta saia justa.

 - Achas mesmo que ninguém perceberia o que está acontecendo entre nós? – Disse enquanto se levantava e contornava sua mesa.

- Sei que seria difícil... Mas... Refiro-me a forma como você fez. – Andava de um lado para o outro.

- Tudo bem. Eu reconheço que posso ter me precipitado e exagerado um pouco, mas... – Recostou-se em sua mesa e apoiou os braços. – Mas eu não estava mais suportando as investidas em você... Em minha mulher... – Parecia exasperada. Cosima não pode deixar de sentir o calorzinho gostoso lhe envolver com aquela declaração de Delphine.

- Mas ambas sambemos que não é assim que funciona não é? – Caminhou lentamente ao encontro dela, já com o tom de voz mais suave. – Ninguém possui ninguém. Não podemos ser posse de ninguém. – Concluiu assim que colou seu corpo contra o dela que a envolveu pela cintura.

- Sim Cos. Eu sei... Mas você entendeu o que eu quis dizer. – chocou sua testa contra a dela. – Mas é que eu estou tão feliz por tê-la em minha vida, que sinto uma vontade quase juvenil de gritar para que todos ouçam.

 - E o que gritarias? – Cosima entrelaçou seus dedos nos loiros cabelos.

 - O quanto eu a amo! – Disse de uma única vez. Sem hesitar por um instante se quer e a olhando profundamente nos olhos. E por mais que a morena estivesse pronta, nada era igual a ouvi-la dizendo àquelas palavras que eram capazes de pulverizar qualquer resquício de dúvida que ainda pudesse existir.

 Selaram aquele momento com um terno e apaixonado beijo que logo converteu-se num intenso e despudorado dançar de línguas. Cosima desceu as mãos pelas costas de Delphine cobrando mais dela. A loura entendeu a mensagem e se ergueu, sentando sobre sua mesa, puxando sua saia para cima afim de abrir suas pernas para poder receber a morena entre elas.

Sem hesitação ou pudor algum Cos passou sua mão pela parte interior das coxas de Delphine que se arrepiou por completa. Logo ela alcançou a calcinha da loura e constatou o quanto ela já estava ficando excitada.

 - Tudo isso é por minha causa? – Sussurrou ao ouvido dela.

 - Por falar nisso... – Retirou a mão dela do meio de suas penas e se inclinou até alcançar seu casaco e puxar de um dos bolsos, a calcinha da outra. Cosima não conseguiu esconder seu rubor. – Me deves uma... Explicação sobre isso! – Balançou aquela peça de roupa bem diante do rosto dela.

 - Quis... Brincar um pouquinho com você. – Tentou pegar a peça sem sucesso.

 - Mas me diga então... Como foi passar o dia todo andando por ai sem calcinha? – Apertou o sex* dela por sob a calça, levando sua aluna a gem*r alto.

 - Veja por si mesma! – Cosima a desafiou desabotoando a própria calça tomando a mão direita de Delphine e a enfiando ali. Foi a vez da loura gem*r alto e toma-la com intensidade, praticamente lhe arrancando as roupas e a deitando sobre sua mesa.

A tomaria ali mesmo e mataria um pouco do tesão que fora despertado por ela mais cedo e a estava atormentando.

 

 ******

 

 - Por favor, me explica novamente porque não podemos ficar juntas essa noite? – Cosima choramingava ao lado de Delphine enquanto ambas ainda estavam dentro do carro parado diante do apartamento da morena.

 - Por mais que eu queira passar a noite com você, temos algumas obrigações que precisam ser cumpridas. – Delphine tentou convencer a ambas. – Tens um certo artigo para preparar para uma certa professora e eu tenho um jantar chato de arrecadação de fundos e preciso terminar de preparar minha conferência para Nova Deli. O que me lembra de algo... – O sorriso maroto retornou ao lindo rosto e deixou a morena na expectativa de uma nova surpresa, pois já havia percebido que aquela seria a vida ao lado daquela mulher incrível. – Não estarei com vocês nos primeiros dias de Congresso. – Viu o desapontamento estampado no rosto de sua aluna. O segurou gentilmente. – Tenho assuntos da Ordem para resolver meu amor! – Lhe olhou profundamente tentando carregar de veracidade uma meia-mentira. – Contudo... – A morena arregalou os olhos e esses adquiriram um brilho esperançoso. – Chegarei ao final para a minha Conferência de encerramento e... – Sondou o rosto amado diante de si...

 - O quê? Fala logo, por favor! – A ansiedade característica daquela alma sempre a comovia e a divertia.

 - Tomei a liberdade de reservar uma suíte para nós duas no Ajit Bhawan que fica em Jodhpur, para que possamos passar o próximo final de semana juntas. Só eu e você! – Os olhos de Cosima se arregalavam ainda mais, seguidos por sua boca. Nunca ouvira falar em tal hotel, mas em se tratando de Delphine Cormier, certamente não seria insignificante e certamente iria fazer pesquisas sobre. – Então...? – Perguntou com certa apreensão.

 - Estar com você, sozinhas... Na Índia... Um dos lugares que sempre tive vontade de conhecer... Vejamos... – Ela brincava com Delphine. – É claro que eu aceito meu amor. – E lançou-se para beijá-la por breves segundos. – Já ficarei contando os segundos de agora.

 - Mas antes... – Cosima alertou-se.

 - Tem mais?

 - Gostas de ópera?

 - Ópera? – Questionou desnecessariamente. – Bom, confesso que nunca fui a uma embora já tenha ouvido e visto vídeos com meu pai. Ele gostava bastante.

 - Então Srta. Niehaus... Aceita me acompanhar, amanhã à noite, à ópera? – Carregou de formalidade aquele convite. Cosima ponderou por alguns instantes acerca do acervo de seu guarda-roupa e concluiu que precisaria da ajuda dos amigos para a escolha do traje adequado.

 - Com direito a jantar? – Exaltou-se como criança e divertiu Delphine.

 - Tudo o que desejares! – Sorriu lindamente. – Muito bem. Estamos combinadas. Esteja pronta às 20 horas.

 Cosima concordou com um aceno firme de cabeça e deu mais um beijo de despedida em Delphine. Essa a assistiu sair do carro e a esperou entrar em seu prédio para que pudesse dar partida em seu carro. À medida que se afastava sentia um leve pesar por ter contado meias-verdades a ela, pois não havia nenhum compromisso oficial que ela teria naquela noite.

 A loura estava muito mais interessada na continuação da leitura do diário de Melanie, pois desejava finalizá-lo antes do final de semana em que passará com Cosima, pois seria durante ele que ela iria ter “a” conversa com ela. Que iria lhe contar, ou pelo menos iniciar a contar, aquilo que lhe era mais complicado e delicado. A sua condição de imortalidade e o papel de Cosima em toda aquela história e para isso precisava de todas as verdades contidas no diário, aliadas a algumas outras coisas que estavam muito bem guardadas em Dublin, na Fundação Artêmis.

 Pensou na Ópera do dia seguinte e de como lhe ocorrera o convite a Cosima, pois seria o momento perfeito para apresenta-la, oficialmente a Siobhan, e poder confrontar a sua Irmã de Ordem acerca da não entrega daquele livro junto com o outro.

 Em pouco mais de trinta minutos já estava chegando ao Castelo Chermont. Havia decidido ir até lá para continuar a leitura de onde tinha parado, pois boa parte dos relatos que estavam por serem lidos, se passaram entre aquelas paredes por onde ela andava e por onde viveu por incontáveis dias.

 Acenou para suas governantas, que haviam sido avisadas de sua ida mais cedo e prepararam os aposentos de Delphine a contento. Abandonou a ideia de qualquer bebida alcoólica, pois já não reagia mais tão bem aos seus efeitos como antes e pretendia se demorar bastante naquela leitura.

 Havia mentido para Cosima também sobre sua conferência, a mesma já estava pronta já que ela havia realizado uma ultima revisão durante a tarde. Mas sentia a necessidade de findar e descobrir tudo o que Melanie tinha a lhe dizer. Quando entrou em sua biblioteca a lareira estava trepidando e extremamente convidativa. Retirou seus sapatos que já incomodavam e caminhou descalça até sua poltrona favorita e depositou seu pé sobre um apoio e então buscou a fita lilás que marcava o ponto onde havia parado aquela leitura. Percebeu que estava próxima a metade e aquilo lhe causou um certo pesar, pois estava sendo surreal aquela experiência e poder quase reviver tudo aquilo através daquelas palavras.

 

  ______

 

 Aquela havia sido a primeira vez que eu ouvi a sua voz em minha mente e preciso lhe confessar que eu amei a sensação, pois era diferente do que eu sentia com Manu. E você insistiu naquilo, para minha felicidade.

 "Mil perdões Srta. Verger!” Sua voz sempre mexeu comigo de uma forma que até hoje eu não possuo habilidade alguma para descrever. E assim que me virei, encontrei seus olhos semicerrados a me encarar. Fazias questão de ignorar todas as pessoas que estavam ao seu redor, inclusive o meu pai a quem hoje eu sei que havias ido ali para matar.

 Meu amor... Que isso fique claro para você. Sabes o que penso a respeito de violência e de mortes, mas em se tratando dele, não se preocupes mais comigo ou com minha memória. Após o meu fim, faça o que tiveres de fazer com ele. Aliás, deveria tê-lo feito desde a primeira vez que você teve a oportunidade, mas que sempre relutasses por minha causa. Mas isso virá a seu tempo, agora eu quero contar-lhe, com toda a minha emoção, com todo o meu amor, a época mais maravilhosa de minha vida. Que teve início naquela noite, quando a vi pela primeira vez.

 “Tudo bem Srta Chermont!”

 "Podes e DEVES me chamar de Evelyne!” Ordenou enquanto deixou até Manu falando sozinha e veio em minha direção. Lembro de ainda olhar por sobre seu ombro e ver sua mãe negando com a cabeça. Mas naquele instante eu só conseguia discernir a necessidade de conciliar as aceleradas batidas de meu coração e a firmeza de minhas pernas enquanto caminhavas em minha direção.

 Quanto mais você se aproximava mais o ar me faltava e aquela energia me atingia, fazendo-me suar em pleno inverno. Há poucos metros de me alcançares fores abordada. Lembras? Como era mesmo o nome dela? Ah sim, Augustine Lehu! Nunca simpatizei muito com ela e isso só piorou quando a vi alisar seu braço enquanto se debruçava para lhe sussurrar algo ao pé do ouvido. Mas mesmo assim você não quebrou o nosso olhar, o fez apenas quando surpreendeu-se com algo que ela lhe disse e você a encarou duramente e então ela a largou no susto e saiu a passos rápidos de perto de você.

 - Então és a famosa Lady Melanie Verger! – Você me disse assim que chegou próxima a mim.

 - Famosa, eu? – Duvidei daquele adjetivo.

 - Sim! És aquela que conquistou todos os corações das mulheres da Ordem do Labrys. – Sabias como me desconcertar. – Deixe-me reformular essa frase. És a mulher que encantou a todas. Melhor assim?

 Eu simplesmente não conseguia falar diante de você. Por mais que eu me esforçasse as palavras não saiam de forma articulada.

 - Eh... Sim! – Me amaldiçoei muito. – Se estás dizendo.

 - Eu não. Foram os “relatos” de seus talentos que me fizeram pensar assim.

 - Então eu poderia dizer que és tão ou até mais famosa do que eu! – Finalmente consegui reunir forças para articular palavras coerentes.

 - Não diria que sou famosa!

 - Não é o que ouvi falar... E não me refiro apenas às mulheres da Ordem. “A Deusa da Perdição.”- Quis lhe provocar e acho que consegui, pois você fechou seu semblante quando ouviu aquele apelido. – Não gostas dessa alcunha?

 - Não fui eu quem a criou. – Você disse secamente enquanto alcançava dois cálices de vinho.

 - Mas... A mereces? – Aceitei a bebida que me oferecestes muito mais para ter o que fazer com as mãos do que propriamente para bebê-la. Tudo o que eu menos queria era perder o senso diante de você.

 - Estou muito longe de ser uma “deusa”. – Você me respondeu com uma expressão séria. – Quanto à perdição... Bom – Não me esqueço jamais daquele olhar que você me lançou por sobre o cálice. Novamente me senti estremecer como em poucos momentos de minha vida (a imensa maioria deles com você) – Eu simplesmente me permito experimentar os prazeres que a vida e... As mulheres têm a oferecer.

 Quase cuspi todo o vinho que estava em minha boca. Por muito pouco não acertei um dos convidados presentes. Foi então que aquele homem desprezível chegou até nós. Françoise!

 - Srta Chermont... Poderias me conceder o prazer da próxima dança? – Curvou-se diante de você.

 - Olá Françoise... Será um prazer, digamos... Imensurável negar o seu pedido! – Ele paralisou no meio do movimento de se erguer após beijar sua mão. Aquele foi um dos raríssimos momentos que tive pena de um dos homens de meu pai. E então você fez algo que eu jamais poderia imaginar, mas que dizia muito sobre a sua personalidade. – Eu prefiro muitíssimo mais dançar com a Srta Verger! – E lá estava eu paralisada, tendo minha mão segurada pela sua.

 - Duas mulheres dançando juntas? Isso é uma heresia! – Ele praguejou ultrajado.

 - Curioso! Duas mulheres da alta sociedade não podem dançar juntas, mas se estivermos falando de mulheres de Montmartre ou de lugares afins isso seria um belo espetáculo para satisfazer o prazer de homens como você e o cardeal... Por exemplo! – Você disse enquanto ajeitava a gola do casaco dele o deixando possesso.  Levando-o a virar nos próprios calcanhares e se afastar fingindo choque.

 - Mas ele está certo até certo ponto. – Eu disse ingenuamente.

 - Sobre o quê? Duas mulheres dançarem juntas?

 - Sim!

 - Posso provar-lhe que não. – Você se postou diante de mim e me causou um pânico imenso sobre o que aquele gesto poderia significar. – Srta Verger, me concedes o prazer da próxima dança? – E você se curvou diante de mim.

 Meu amor, eu era tola e inocente demais. Perdoe-me por ter tirado a mão tão bruscamente, mas fui pega totalmente de surpresa.

- DE JEITO NENHUM! – Você riu divertida de minha reação exagerada.

- Acalme-se. Jamais lhe colocaria numa situação dessas... Talvez! – Me olhou intensamente - Mas... Se estiveres realmente interessada em ver se isso seria possível... E a fim de uma festa de verdade... – Você se aproximou perigosamente de mim e então senti seu cheiro inebriante e viciante. – Me encontre amanha no Lys Blancs[2] que fica na Promenade des Anglais. – E então você se afastou, me privando de seu perfume e de sua companhia, mas não antes de tomar minha mão e beijá-la, causando nova onda de reprovação das pessoas próximas a nós.

A vi se afastar e parar próxima a Manu. Vocês tiveram uma pequena discussão e então ela veio até mim.

- Querida Mel. Sua festa está realmente belíssima, mas parece que Evelyne não se sente bem então estamos indo. Mas, se quiseres me ver, estarei no Bleue Le Royal até segunda. – E nos despedimos com dois beijos em ambos as bochechas dela.

Para mim, aquele baile havia chegado ao fim. Sabia que minha presença ou minha ausência não faria muita diferença para meu pai que, naquele momento deveria estar em alguma reunião maquiavélica e os demais convidados só estavam interessados na comida e na bebida aos montes.

Corri até meu quarto e me joguei em minha cama, completamente atordoada ainda sob o seu efeito. Naquele momento eu não possuía conhecimento suficiente, nem tão pouco ousadia para nomear o que eu estava sentindo, mas hoje eu tenho a clareza para reconhecer que foi a mais avassaladora das paixões. Eu havia me apaixonado perdidamente por você naquele momento, mas não ousei nomear como tal.

Ficava repassando em minha mente tudo o que aconteceu há pouco. De você brevemente em minha mente. Do toque se sua mão macia e delicada, quase como veludo. Do seu cheiro, da sua ousadia e da sua beleza desconcertante. E ainda havia aquele convite, para acabar de infernizar com a minha razão. E aquela foi a tônica da minha noite onde o sono teimava em não vir e só consegui adormecer quando os primeiros raios de sol já incidiam por minha janela.

Inevitavelmente você me fez companhia naquela noite, pois esteve presente em meus sonhos que hoje lembro-me de quase nada, infelizmente. E acordei pouco antes do almoço tomada por uma empolgação que me fez cantarolar pelo quarto, surpreendendo Alba.

- Parece que a menina Mel se divertiu mais do que se esperaria em seu Baile. – Sua ama lhe ajudou a se despir e entrar em sua banheira de água recém-aquecida.

- Realmente Alba. O Baile de ontem me trouxe surpreendentes momentos. – Suspirei audivelmente quando senti a água morna cair sobre minha cabeça.

- Eu ouvi algumas... Coisinhas aqui e ali dos funcionários da casa. – minha ama me confidenciou.

- O que?- Fiquei curiosa.

- Coisas que poderiam deixar seu pai extremamente irritado com a Srta. – Ela me alertou. A olhei com receio, pois a minha empolgação por tudo o que me aconteceu na noite anterior me fez nem me ater para aquela observação dela. – Ainda mais em se tratando da pessoa com quem estava tendo um... Contato “mais próximo”! – Falou em tom de cochicho. Aparentemente até a Alba conhecia a sua fama amor.

- Alba...Você conhece um lugar chamado Lys Blancs? – A coitadinha da Alba quase caiu para trás quando a perguntei sobre o destino de seu convite.

- Onde você ouviu sobre esse lugar?

- A Evelyne me convidou... – Disse eu na maior ingenuidade.

- Srta Melanie, por favor, nem penses em ir a um lugar como aquele. – Parecia até que a Alba não me conhecia tão bem, pois aquelas palavras tinham um efeito completamente contrário sobre mim. Só instigavam ainda mais a minha vontade de ir. – Não é um lugar para alguém como você.

- Como assim alguém como eu? É para que tipo de pessoas?

- Pessoas consideradas... Degeneradas. – Ela disse com receio.

- Degeneradas?

- Já não era sem tempo de acordares! – Meu pai invadiu meu quarto sem nenhum tipo de cerimônia. Eu detestava aquilo.    

- PAPAI! Estou em meu banho! – Alba tentou me cobrir com o uma toalha de pano.

- Sim sim, não existe nada ai que eu já não tenha visto antes. – Disse enquanto caminhava pelo meu quarto. – Apronte-se logo, pois fomos convidados para um almoço na casa do Duque. – Minha fome e toda a minha empolgação sumiram como mágica. Ele saiu de meu quarto logo em seguida me deixando encolhida e envolta no pano.

Novamente segui com ele em sua carruagem sem ânimo algum, como se caminhasse em uma via de martírio. E assim foi aquele almoço desagradável, o qual não merece a tinha e o papel gastos com ele. O que quero me demorar é em tudo que diz respeito a mim e a você.

Assim que retornei para casa, tranquei-me em meu quarto e fiquei a pensar no alerta de Alba e do que aquilo poderia causar em meu pai. Não tinha certeza se queria mesmo ir ou não. Da mesma maneira que a curiosidade me impelia, o medo do desconhecido e do alerta de Alba me incomodavam. Contudo havia você e a vontade estar em sua presença que me consumiam.

A dúvida crescia à medida que as horas passavam e assim que a noite fria chegou eu tomei minha decisão. Escolhi por você.

Para minha sorte, meu pai havia saído naquela noite e havia pouca vigilância no palacete. Consegui sair sem maiores dificuldades e logo vi uma carruagem parada diante de minha porta. Alba estava dentro dela a minha espera.

- Alba? De quem é essa carruagem?

- Eu a aluguei Srta. Sabia que irias até aquele lugar, não importando o que eu diga, então eu não poderia deixa-la ir sozinha. – Eu a abracei assim que entrei. Seguimos o caminho indicado por Alba e logo percebi que ela o conhecia bem. Quase uma hora depois estávamos entrando na zona portuária da cidade e pude ver um pouco do que Alba queria dizer por degenerados.

Assim que acessamos a Promenade des Anglais a carruagem ficou mais lenta, mostrando que havia um fluxo intenso de pessoas ali e então ouvi música provinda de dentro dos vários estabelecimentos que haviam ali. Pude observar com mais cuidado as pessoas que transitavam pelas calçadas de pedra. Vi artistas dançando e outros tocando instrumentos medievais. Havia barcos de diferentes tamanhos e nacionalidades ancorados ali indicando a diversidade de pessoas que frequentavam aquela parte da cidade.

- Que tipo de diversão as Srtas procuram? – Uma peculiar figura nos abordou, causando-me um sobressalto. A principio eu tive dificuldade em discernir se tratava-se de um homem ou mulher pois se vestia de forma a dificultar tal identificação e possuía uma carregada maquiagem em seu rosto. Mas apresentou-se como “A Duquesa” e prestando mais atenção vi que tratava-se de um homem.

- Procuramos o Lys Blancs! – Eu disse empolgada e nem esperei que Alba o respondesse.

- Ah sim... De fato o melhor lugar para Srtas tão distintas... – A Duquesa disse após nos observar mais atentamente.

- Agradecemos a sua ajuda, mas eu sei onde fica tal lugar. – Alba o dispensou. Eu a olhei assustada e então seguimos nosso caminho, deixando aquela singular figura para trás.

- Porque não me disse que sabias onde é? – Ela não precisou me responder, pois li em seu rosto que ela sabia da localização daquele lugar, pois já havia ido até lá. E eu não estava enganada. Logo vi uma placa de madeira com um pequeno buquê de lírios brancos esculpido indicando que aquele sobrado grande e de três andares era o que procurávamos.

Descemos da carruagem com a ajuda do cocheiro que parecia ser amigo de Alba e que fora pago por ela que também garantiu que ele retornasse para nos buscar. Eu olhava para tudo ali com um misto de surpresa e encantamento. Algo semelhante ao que senti quando estive na primeira palestra da Manu e até mesmo o publico que entreva naquele estabelecimento me remetia a isso. E algo me impelia fortemente para entrar também.

- Vejam só quem está aqui! – Uma mulher corpulenta cumprimentou Alba e a abraçou fortemente. As observei curiosa.

- Há quanto tempo Mimi! – Alba retribuiu a gentileza.

- Mas veja só quem é essa preciosidade que está com você? – Ela se aproximou de mim com olhar de interesse. – Sempre muito bem acompanhada minha amiga e com gosto refinado. Só não lembrava de gostares das mais novinhas.

- Calma ai Mimi. Essa é a minha senhora! – A mulher arregalou os imensos olhos negros e me olhou surpresa.

- E o que a sua senhora faz num lugar como o Lys Brancs?

- Eu me pergunto a mesma coisa. Mas confesso que nunca consigo dizer não para ela!

- Mais uma jovem da alta sociedade procurando pelos últimos momentos de diversão antes de ingressão numa vida medíocre de casadas e submissas. Seja muito bem-vinda...

- Olá, eu sou a Melanie! – Estendi minha mão para apertar a dela enquanto retirava meu capuz. Não compreendi nada do que ela disse em seguida, pois falou em algum idioma latino, chamando a atenção de pessoas próximas. Pela segunda vez eu recebi olhares cobiçosos de mulheres que passavam por nós e antes mesmo que qualquer uma delas me abordasse, Alba me puxou para o interior daquele estabelecimento.

A entrada discreta e pouco ornada contrastava com interior colorido e com decoração elegante embora um tanto quanto ultrapassada em alguns aspectos. Os cheiros daquele ambiente eram marcantes, o carvalho dos barris de scotch e cerveja preta misturava-se com o perfume das flores que enfeitavam os inúmeros jarros que haviam ali e outras que pendia de lustres até chegarem ao alcance das mãos. Também consegui identificar o odor de águas de cheiro que completavam aquele pequeno caos odorífico e que me deixou momentaneamente enjoada.

Mas o meu mal-estar logo cessou quando passei a observar mais atentamente os fregueses daquele lugar. Em sua maioria eram mulheres que andavam em duplas ou em grupos e reafirmando o que você havia dito, várias delas dançavam juntas bem no centro do salão ao som de uma animada música lindamente tocada de forma contagiante.

Havia alguns homens que também estavam juntos e alguns deles usavam trajes semelhantes ao da Duquesa e outros vestiam-se como cavalheiros normais. Inclusive reconheci alguns deles e fiquei estarrecida quando vi o jovem Philipe de Annis, filho mais velho de Fraçoise, sentar-se ao colo de um homem bem mais velho do que ele e... O beijar nos lábios!

Amor, eu jamais havia visto algo assim e só então eu tive a dimensão de onde eu estava. Minha educação católica me impelia a sair dali correndo e me confessar na manhã seguinte, pois certamente aquele lugar seria o que poderia chamar ser a definição de inferno, contudo o meu espirito destemido e curioso me impeliam a estar ali além de um frio em minha barriga e uma voz bem lá no fundo me dizerem que aquele era o meu lugar.

 

 ______

 

- Ah meu amor... Jamais me esquecerei daquele dia! Nunca lhe disse, mas também contei as horas para a chegada da noite e tive a dúvida me consumindo. Se irias ao meu encontro naquela noite. – Delphine sussurrava em direção ao fogo. Ela se referia ao momento logo após o Baile em que conhecera a Melanie, a jovem mulher por quem se interessara devido a tudo que ouvira sobre ela embora nada pudesse fazer jus a beleza e a tudo o que ela representava pessoalmente.

Evelyne se surpreendeu com o fato de poder se comunicar mentalmente com Melanie, pois aquele era um dos mais raros dons que alguém poderia possuir e ela só o estabelecia com sua mãe. Contudo, aquela encantadora jovem também o possuía e não só aquele.

A sua curiosidade só amentou após isso e o deslumbre e o encantamento se multiplicaram ao ponto de fazê-la esquecer completamente do real motivo da sua ida até a mansão Verger naquele dia. Sabia, naquela época, que teria outras oportunidades de matar o homem que tanto odiava mas resolveu esperar por causa a filha dele.

Fechou os olhos e lembrou-se do momento exato em que literalmente sentiu a presença de Melanie no Lys Blancs. Eve estava sentada em seu usual local, sendo adulada por um grupo de mulheres que quase se digladiavam para obter sua atenção e ela, impaciente, as ignorava, pois esperava por apenas uma pessoa. E finalmente ela chegou!

- Linda! – Evelyne sussurrou e as mulheres que estavam ao seu redor se entreolharam e disseram em uníssono.

- QUEM? – Novamente foram ignoradas e Evelyne se ergueu de onde estava, no andar de cima, próxima ao parapeito e de lá assistiu divertida a angustia da jovem que olhava para tudo ao seu redor assustada e curiosa.

- Isso Melnaie... Fique! – Dizia para si mesma. E então ela decidiu ficar e aquilo ficou claro quando retirou sua capa e a entregou à uma funcionária da casa. – De fato eras a mais pura definição da perdição e aquele apelido que fora dado a mim, certamente caberia a você naquela noite e nem se quer sabias disso.

 

______

 

Assim que meu choque inicial foi cessando eu passei a procurar meu objetivo ali. Dei alguns passos hesitantes e Alba não me deixava um só instante, temendo que algo pudesse me acontecer ali. Então eu percebi que ela havia parado por algum motivo e a vi com o olhar perdido em alguma direção daquele lugar. Segui seus olhos e vi que uma mulher de pele escura e turbante lindíssimo a olhava com intensidade. De alguma maneira eu entendi o que aquilo significava.

- Vá até ela. – Eu lhe disse. Ela me olhou aturdida.

- Não minha senhora. Não posso deixa-la sozinha. – Ela exasperou-se.

- Não se preocupe comigo. Posso me cuidar sozinha por alguns instantes. Além de poderes ficar de olho em mim dali. Prometo me comportar! – Sorri.

- É disso que tenho medo menina. – Rimos.

Ela hesitou mais uma vez, mas decidiu ir até o encontro daquela outra mulher. As observei de longe e vi a forma carinhosa que elas se abraçaram. Mas logo a minha ansiedade me fez voltar a lhe procurar e me deixar desconfortável, sem saber o que fazer com minhas mãos. Pensei em segurar algo para não parecer tão deslocada e decidi pedir uma bebida num balcão próximo a uma série de barris.

- Boa noite... Eu gostaria de uma bebida. – A moça que servia as canecas e cálices me olhou de cima a baixo com a mesma cobiça que as outras ali mais próximas.

- O que gostarias coisa linda? – Ela se debruçou sobre a mesa, insinuando o seu decote e aumentando meu desconforto.

- O que tens ai? – Quis parecer à vontade embora estivesse tremendo por dentro.

- Bom... Cerveja irlandesa, scotch escocês e... Acho que já sei o que uma moça como você poderia apreciar. – Ela se afastou por alguns instantes depois retornou com uma garrafa contendo um liquido cor de caramelo e um pouco espesso.

- O que é isso? – Falhei em meu fingimento de segurança.

- Isso minha jovem, é Hidromel![3] A bebida dos deuses e deusas, como você.

- Essa cantada ainda funciona Michelle? – Era a sua voz vinda de algum lugar logo atrás de mim. Paralisei e hesitei por alguns instantes em me virar e você não se conteve e se aproximou, apoiando-se no balcão ao meu lado. – Vejo que aceitou meu convite. – Ainda não lhe olhei. Fiquei com a caneca entre os lábios encarando a atendente que anuiu negativamente com a cabeça.

- Tudo bem Chermont! Com você não há concorrência. – E se afastou. Só então eu lhe olhei de canto de olho e tinhas ambos os olhos vidrados em mim. Ingeri uma quantidade maior do que o devido do hidromel e tossi.

- Realmente deverias pegar leve com a bebida.

- Ou então aprender a beber! – Lhe provoquei e quando afastei a caneca vi seus olhos contornarem meu rosto e pararem em meus lábios e quase perdi o fôlego quando fiz o mesmo e lhe vi mordendo o lábio inferior quando você novamente tirou meu ar no momento em que ergueu sua mão e alcançou meu rosto sem nem se quer pedir permissão para... Limpar uma gota que escorria do canto de minha boca para em seguida lançar-me a algum lugar muito além na sanidade, ao levar seu dedo até sua própria boca.

- Hidromel? De alguma maneira combina com você! – E você sorriu para mim aquele sorriso capaz de roubar toda a minha razão. Foi no instante seguinte em que começou a tocar uma belíssima musica medieval. – Agora que viu que é possível duas mulheres dançarem juntas, me concedes essa dança?

Eu paralisei naquele instante em que seguraste minha mão e novamente se curvaste diante de mim. Todas as minhas certezas, todos os meus ensinamentos, toda a minha criação me diziam para negar aquele pedido, porém razão nunca foi o meu ponto mais forte e a ousadia sempre me definiu muito bem. Foi então que apertei sua mão de volta, bebi o restante do hidromel num só gole (sem tossir) e me postei diante de você.

- Por que não?  

 

                       

 

 

[1] Women’s Worlds Congress. Este é um evento que reúne a cada três anos mulheres de todas as partes do mundo, tanto da academia como do ativismo. O encontro mobiliza setores diversos do feminismo, que vêm conquistando espaços nas últimas décadas, promovendo debates, releituras e autocríticas. A luta feminista é cotidiana, repleta de desafios, e ela se atualiza nas discussões promovidas em cada encontro, nas trocas de experiências, propostas de ação e no aprofundamento de situações locais.

[2] Lírios Brancos em francês

[3] Segundo a história da mitologia nórdica, a sua fabricação é anterior à do vinho e a da cerveja, e é representada como a bebida favorita dos deuses nórdicos e sagrada dos vikings. Esta bebida deu origem ao termo “lua-de-mel”, pois os casais a bebiam durante um ciclo lunar após o casamento para gerar filhos homens.


Fim do capítulo


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Comentários para 39 - Capítulo 39 Lírios Brancos:
patty-321
patty-321

Em: 10/04/2018

Eu aqui atrasada na leitura desta estória maravilhosa. Ah Melanie, ela e fascinante assim como cosima o é. Osegundoencontro ja comeca cheio de emoção. Bjs

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Guiga Novaes
Guiga Novaes

Em: 07/04/2018

Nossa eu to viciada nessa história! Muito muito fantástica! Estou adorando sua forma de escrever....aguardo os próximos capitulos.

OBS: To viciada na música: I Belong to you


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