Capítulo 75
-- Pu... – auto censurou após perceber o semblante de Camila e mudou o tom de voz. – Poxa Camila, eu pensei que lhe levaria para ao trabalho, depois iria lhe pegar, a gente jantava em um lugar legal e... – a veterinária interrompeu.
-- Vanessa, eu sou muito agradecida pelo que tem feito... – a delegada passou a mão no cabelo sem paciência e Camila preferiu se abrir. – E você tem, praticamente, se anulado para me acompanhar... Olha, isso não é legal e não funciona dessa forma.
-- Não estou reclamando por isso... Só quero mais tempo e... – coçou a nuca. – Camila, eu sempre gostei de você, agora tenho essa oportunidade e me sinto o lixo da gosma excretada pela lagartixa que comeu a barata. – a veterinária sorriu. – E eu nem sei se lagartixa come barata ou ela come a lagartixa. – Camila se aproximou e lhe deu um beijo no rosto. Ester ia entrando na sala e parou ao vê-las, ela saiu antes que fosse percebida e aguardou onde a filha estava, para ela não interromper as duas.
-- Vanessa, eu só peço calma. Não quero que se anule ou mude sua vida por mim.
-- Eu quero ficar com você. – a segurou, olhando-a nos olhos.
-- Mas eu não posso me entregar da forma como você quer e precisa. Passei esse tempo com a Mel, investi pesado nesse amor, não posso simplesmente mudar o canal e hoje me entregar assim para você.
-- Então é um fim?
-- Não. – voltou e acariciou o rosto da delegada. – Um começo lento... Gradativo... Em doses homeopáticas. – sorriu. – Aceita tentar? – Vanessa sorriu e a abraçou forte.
-- Eu vou pegar essa chance e agarra-la com todas as forças. – tentou beijá-la, mas Camila desviou o rosto.
-- Agora eu preciso conversar com Melissa.
-- Quer que venha lhe pegar?
-- Eu tenho seu telefone, envio mensagem depois.
-- Liga, vou amar ouvi-la no meio do dia. – declarou sorrindo. Camila beijou seu rosto e concordou.
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-- Mãe, Camila está demorando. – levantou-se, mas Ester lhe fez um sinal para espera-la.
-- Fique com Enzo aí. – Melissa a olhou desconfiada. - Espere que ela já vem.
-- A senhora está escondendo alguma coisa. – afirmou, mas Ester não teve tempo para responder, Camila voltou sorrindo para o filho e se abaixou.
-- Vem para mamãe meu gatinho. – Melissa a olhou desconfiada e ajudou Enzo ir até ela. – Está tão lindo andando. – encheu o menino de beijos. Ester estava triste, ficou com os olhos cheios d´água e pediu licença.
-- Vou arrumar algumas coisas lá dentro. – saiu deixando-as sozinhas.
-- Mamãe está estranha. – confidenciou para Camila.
-- Deixa ela, não começa a implicar. – mordeu a barriga do menino, enquanto Melissa olhava para porta. – Queria conversar comigo? Por que não fala logo?
-- Educada! Essa é a nova versão Camila? – perguntou com ironia e recebeu uma careta como resposta. A empresária revirou os olhos e a encarou. – Cam, precisamos falar como ficarão as coisas.
-- Que coisas? – a olhou desconfiada.
-- Você está com essa delegada? – Camila colocou o menino no chão e olhou seria para Melissa.
-- E se estiver? – ela passou a mão pelo cabelo.
-- O que me resta é desejar sorte. – respondeu com pesar.
-- O que lhe resta? – a veterinária perdeu a paciência. – Não fui eu que lhe traí. Aliás, eu nunca lhe trairia, e sabe o motivo? Eu a amava.
-- Amava?
-- Sim... Melissa, eu ainda a amo, mas o que vale viver com isso? Sua vida está decidida e traçada com Isadora, agora quer saber se tenho alguma coisa com Vanessa? – Melissa ficou quieta, nunca a tinha visto assim. - Estamos saindo. – respondeu um pouco mais alto e Enzo a olhou assustado. – Oh meu amor, mamãe está brincando. – completou com uma voz brincalhona.
-- Eu imaginava. – afirmou em um tom mais triste olhando entre o menino e a veterinária. – Cam, eu me arrependo de não ter me segurado e traído a nossa relação.
-- Melissa, aconteceu, ponto. – permanecia auxiliando Enzo em suas brincadeiras. – Não quero mais falar nisso. – Melissa respirou fundo e balançou a cabeça em afirmação.
-- Eu quero falar da situação do seu apartamento.
-- O que tem meu apartamento? – perguntou franzino as sobrancelhas em curiosidade.
-- Pensamos em trocá-lo por um maior. Vender o meu que Júnior morava e o seu e... – Camila sorriu com deboche. – Camila, aquele apartamento tem dois quartos, o de Enzo cheio de brinquedos.
-- Esse é um problema meu.
-- Camila, você é a mãe do meu filho o mínimo que posso oferecer é um apartamento melhor.
-- Eu não fui sua esposa e nunca pensei em ter nada que não fosse fruto do meu trabalho.
-- Eu sei, mas logo esse moço cresce e vai ficar mais espaçoso.
-- Só falta me oferecer uma mesada para mantê-lo. – respondeu irritada.
-- Só pensei em lhe oferecer mais conforto.
-- Obrigada. – Melissa se abaixou na mesma altura da veterinária e a encarou.
-- Não estou subestimando seus esforços e capacidade... – a olhou bem dentro dos olhos castanhos. - Juro que só pensei no que havíamos conversado sobre conforto.
-- Não precisa se preocupar. – pegou o brinquedo que o menino lhe entregou. - Pensarei sobre isso na hora certa. – Melissa respirou fundo e balançou a cabeça mais uma vez. – O que mais precisava conversar?
-- Se você não aceitar, não poderemos fazer o que pensei: sair para olhar alguns apartamentos aqui perto.
-- Eu não acredito que já tinha procurado.
-- Camila...
-- Melissa, não precisa agir como se quisesse me ressarcir por algum dano.
-- Não é minha intenção...
-- Mas é o que parece. – Enzo entregou um carrinho para Camila e depois a abraçou pelo pescoço. – Como ficarei em relação a Enzo?
-- Como assim?
-- Eu poderei pegá-lo em finais de semana? Como faremos? – Melissa sentou ao seu lado no chão.
-- Nunca irei proibi-la de vê-lo, pelo contrário, quero que a gente resolva isso da melhor forma para ele.
-- O que pensou?
-- Guarda compartilhada. – Camila estava surpresa.
-- Está falando sério? – beijou o menino que se mantinha abraçado a ela.
-- Claro. – olhou para o filho e sorriu com a cena dos dois juntos. – Ele lhe reconhece como mãe, não tem sentido priva-lo.
-- Melissa, estou me envolvendo com Vanessa, isso não vai influenciar em nada depois? – estava sem acreditar na oferta da morena.
-- Confesso que estou com ciúme... – a olhou nos olhos e coçou a cabeça - Porque eu lhe amo, mas isso seria sacanear você, Isadora e a mim mesma. Sabotar nossas felicidades. Acho que não acredita Camila, mas eu lhe amo muito e quero que nosso filho tenha essa personalidade forte, decidida e íntegra como a sua. – sorriu e acariciou o rosto da veterinária. - Porque se sair igual a mim será chucro, sem paciência...
-- Integro, bonito, inteligente, leal... – sorriu e retribuiu o carinho no rosto da morena que estava com os olhos azuis cheios d´água. Fez uma careta e concluiu. – Certo, leal nem tanto. – sorriu. – Não vamos fazer parecer estranho. – as duas riram e Enzo acompanhou.
-- Não quero perder nossa amizade.
-- Eu queria muito lhe falar tudo o que uma pessoa na situação que estou diria, mas não me vem nada a cabeça, além da vontade de apertar esse pequeno. – beijou diversas vezes o menino, brincando.
-- Camila, não precisamos partir para uma inimizade. – a veterinária lhe olhou séria e levantou, depois ajudou o menino a ficar em pé.
-- Melissa, eu nunca me tornaria sua inimiga porque preferiu outra mulher. Apesar de ter o Enzo nos ligando para o resto de nossas vidas...
-- Eu sei Cam, mas estou preocupada...
-- Não é preocupação, isso se chama crise de consciência. – as duas se olharam nos olhos. – Não vou entrar nessa, e aconselho a fazer o mesmo. Quando surgir a oportunidade, irei procurar um lugar maior para nós dois. – pegou o filho nos braços. Melissa ficou observando-o por segundos e depois sorriu.
-- Ele lhe ama. – Camila apenas sorriu.
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-- E elas estão lá fora? – Daniel perguntou curioso.
-- Estão. – Ester respondeu sem paciência.
-- Elas têm o Enzo... Ela vai voltar atrás e pedir para voltarem.
-- Daniel, não se iluda, Camila também está envolvida com a delegada.
-- O que? – parou olhando surpreso para esposa.
-- Elas estavam em uma conversa mais íntima lá fora.
-- Caramba! – passou as mãos pelo cabelo. – Essa juventude de hoje muda de sentimento como vento.
-- A fila anda, ela não vai ficar esperando um dia Cristina voltar.
-- Nossa filha perdeu a oportunidade de ser feliz e viver como família.
-- Essa é a escolha dela. – foi incisiva.
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Camila passou todo o dia na companhia de Enzo e Melissa. A morena permanecia com um dos braços na tipoia, o que a limitava. O cabelo estava mais curto, mas cobria a região da cabeça raspada por conta da cirurgia.
-- Mamamamammm... – repetia olhando para Camila.
-- Ele só fala mamãe para você. – reclamou fazendo um bico.
-- Mel, estas últimas semanas ficamos mais juntos por conta da sua internação, em uma semana ele estará do mesmo jeito com você. – respondeu sorrindo.
-- Olha aí cara, eu também sou sua mãe, tá ligado? – resmungou para o filho que deu uma gargalhada.
-- Ele está rindo com a sua diversificação gramatical. – respondeu brincando. Melissa revirou os olhos e beijou o menino.
-- Estou falando sério, cara pálida. – brincou. – Ei Cam, estava pensando em leva-lo ao haras este final de semana.
-- Por que estou esperando algo por trás disso?
-- Porque é uma bestona. – estirou a língua para a veterinária.
-- Não pense em montar, e muito menos subir no cavalo com nosso filho junto. – Melissa continuou a brincadeira.
-- Ele vai aprender, uma hora ou outra.
-- Melissa, eu não quero sonhar nisso antes dos cinco anos dele, ou terá os dois braços imobilizado. – ameaçou e Melissa sorriu. O clima se desfez quando Vanessa chegou.
-- Boa tarde meninas! – disse sorrindo e se aproximou de Enzo que se encolheu nos braços de Camila – Ei garotão, e você? – o menino sorriu mostrando uma pontinha branca surgindo na gengiva inferior. – Ele é muito fofo. – Melissa observava disfarçando a irritação, mas Camila a conhecia bem.
-- Acabou o plantão? – Vanessa balançou a cabeça.
-- Vamos para casa? – Melissa olhou com surpresa para as duas. Camila beijou o filho e o colocou no carrinho.
-- Vamos sim. – olhou para morena. – Mel, sexta, depois do trabalho, posso pegá-lo? – ela só balançou a cabeça. Vanessa colocou a mão nas costas da veterinária, conduzindo-a até a porta.
-- Até sexta Cristina. – piscou e saiu acompanhada de Camila que só acenou se despedindo.
-- Desaforo! – resmungou e chamou a mãe que logo apareceu. – A senhora me ajuda com Enzo?
-- Ajudo, mas antes vai melhorar esse humor, não vai?
-- Não começa mãe.
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-- Eu lhe esperei por quinze dias, não pedi para sair, respeitei sua ausência, mas agora que está aqui quero falar sobre minha... - pretendia pedir a demissão.
-- Isadora, antes de qualquer coisa, preciso lhe falar que consegui sua transferência para o Oriente Médio, será nossa correspondente por toda aquela região. – Smith disse interrompendo-a.
-- Como?
-- Sua promoção como correspondente. – respondeu com um imenso sorriso. Isadora sorriu e depois passou as mãos pelo rosto em derrota. – O que foi? Algum problema?
-- Smith... Eu agradeço, mas... – não sabia como falar.
-- Mas... – fez sinal com a mão para ela prosseguir.
-- Quero voltar para o Brasil.
-- Serei franco. – levantou-se e andou ao redor da mesa com as mãos no bolso. – Seu pedido de antes não foi acatado por interferência.
-- Interferência? De quem?
-- Eu não sei. Lutei para convencer a diretoria sobre a importância dos seus serviços no Oriente Médio... – coçou a barba. – Agora quer ir para o Brasil. – concluiu pensativo.
-- Smith, eu não faço questão da promoção, pelo contrário, posso ficar com o mesmo salário, só quero voltar para o meu País.
-- Por que isso Isadora?
-- Minha família, minha casa e minha vida...
-- Sua vida estava aqui, de repente tudo mudou?
-- Minha felicidade está lá. – respondeu com os olhos úmidos. O redator nunca a havia visto tão fragilizada, isso o sensibilizou. Ele voltou a coçar a barba e fez uma expressão preocupada.
-- Tudo bem. Eu tenho uma reunião com toda a diretoria no dia cinco, posso tentar por algo.
-- Dia cinco? Em quatro semanas. – o olhou derrotada. – Você não pode, simplesmente me demitir?
-- Não. – sentou-se. – Você é muito premiada, uma das garotas audiência da emissora, não é tão fácil assim demiti-la. Terei que responder vários questionamentos e minha cabeça estaria em jogo. – Isadora não sabia mais como se livrar do alto valor do contrato de rescisão.
-- Como fico até a reunião?
-- Fazendo seu trabalho. – sorriu e pegou um envelope. – Isso veio para você. – ela abriu e leu.
-- Mais uma premiação. – revirou os olhos com uma expressão de enfado.
-- Muitos se matariam para ter uma premiação dessas.
-- Se eu fosse participar para ganhar algum prêmio, com certeza estaria, mas apresentar... – Smith sorriu.
-- Existia uma frase que falavam nestas situações no Brasil, quando trabalhei por lá, mas não lembro.
-- Ainda bem. – respondeu forçando um sorriso.
-- Antes dessa premiação, tenho duas matérias para você. – entregou algumas fotos e um pequeno envelope e discutiram sobre a matéria.
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-- Um mês a mais Isadora. – Melissa reclamou.
-- Amor pelo menos volto com emprego.
-- Desde quando isso é problema?
-- Mel, pode não ser para você, mas para mim que ficarei sem nada...
-- Sem nada? – a interrompeu. – Isadora, você tem vários prêmios, surgirão ótimas ofertas e oportunidades. – explicou segurando a irritação.
-- Mesmo assim tem o contrato. Eu não posso pagar, está além das minhas posses.
-- Quanto?
-- Nem pensar Melissa Cristina. – a morena bateu com a mão sobre a perna, estava irritada.
-- Estará aqui para o aniversário de Enzo?
-- Mel, o que mais quero é chegar ao Brasil e ficar com vocês. – usou um tom mais manhoso, o que deixou a morena mais calma.
-- Eu também lhe quero aqui... recomeçarmos nossa vida. – Isadora esfregou uma coxa contra a outra, estava excitada.
-- E usar as habilidades das suas mãos em mim. – o coração de Melissa acelerou, assim como sua respiração.
-- Isadora... – sussurrou.
-- Meu potinho de mel, eu adoro quando sinto o seu mel escorrer pelo meu rosto... - conversaram por quase duas horas.
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-- Olha só quem recomeçou hoje. – anunciou com falso deboche.
-- Não vem com essa carinha, a conheço muito bem. – respondeu com um sorriso de lado. – Está chegando agora?
-- Não. – fez uma careta. – Cheguei no horário dos pobres operários, não sou da diretoria. – sorriu.
-- Por enquanto. – falou baixinho, e Camila não entendeu, a olhou surpresa.
-- Não entendi.
-- Deixa para lá. – falou mais alto. – Quero você em meia hora na minha sala.
-- Mel, preciso fazer um monte de coisas... – antes que ela se explicasse, Melissa interrompeu.
-- Camila, nós não vamos conversar, fazemos isso lá fora, aqui é trabalho. Preciso que vá em minha sala em meia hora. – respondeu séria. – a veterinária ficou surpresa com o tom usado, apenas acenou em positivo e seguiu para sua própria sala.
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-- Minha neta, tem certeza disso?
-- Vô, o senhor mesmo me falou que eles só fizeram lambanças enquanto estava fora. – deu de ombros. – Não sei como o senhor mesmo não fez isso.
-- Não queria lhe tirar este prazer. – sorriu. – Com Camila me acompanhando em viagens, Enrico sozinho aqui, não podia colocá-lo nesta encruzilhada. – Melissa ajeitou a tipoia e pegou um dos relatórios.
-- Essas compras foram autorizadas por Enrico. O senhor sabe como isso aconteceu?
-- Fizeram uma exposição de motivos e ele caiu.
-- Vô, estou preocupada com Rico, essa morte de Borges o abalou demais. Não vou culpa-lo, mas esses dois pagarão caro pela falsa assistência que deram ao meu tio. Eles se aproveitaram da fragilidade dele.
-- Não esperava outra coisa de você. – sorriu e bateu a mão na bengala. – Seu tio não tem o mesmo tino para negócios como você e seu pai.
-- Falo por mim, cresci com o senhor me ensinando o melhor gado para corte, leite e adquirir novas cabeças e terras... – deu de ombros. – Natural, não acha?
-- Quando penso que poderia ter feito mais por ele... – Melissa olhou o avô e viu que estava realmente emocionado.
-- Não foi por culpa sua. – o velho voltou a bater a mão na bengala.
-- Enrico não quer continuar a frente da empresa, prefere voltar a estudar e fazer outra coisa.
-- Ele me falou. – respondeu pensativa.
-- E o que você achou?
-- Respirar novos ares ajuda muito, ainda mais quando estamos nesta situação de “cárcere”.
-- Continue.
-- Com a morte de Borges e essa história da Bruna ser uma louca assassina, acho normal esse desejo. Porque o senhor não o incentiva e ajuda a superar tudo isso? Acredito que até vai aproxima-los mais.
-- Ele tem que assumir isso com você, para que adiar? Desejo maluco. – resmungou.
-- Não é um desejo maluco, está péssimo e se sentindo inútil. Papai acha que ele meteu os pés pelas mãos porque agiu sem pensar com tanta pressão e fez questão de falar para ele.
-- E o que você acha?
-- Enrico segurou as pontas enquanto estava fora. Sempre esteve ao meu lado, antes mesmo de saber que era meu tio. Não tenho do que reclamar ou achar, apesar de segurar a vontade de mata-lo com o nosso prejuízo. – sorriu.
-- Não foi tão grande, Camila soube amenizar e intercedeu quando soube.
-- Camila... – repetiu pensativa.
-- Camila é uma grande mulher, e se você não estivesse nesta cadeira, ela ocuparia sem que eu pensasse duas vezes.
-- Uau! A doutora tem o poder. – brincou. – O primeiro ser humano que não faz parte do clã Alcântara Peixoto a despertar admiração do velho patriarca José de Alcântara Peixoto.
-- Não brinque, sabe muito bem que gosto e confio muito nela.
-- Sei sim. – piscou para o avô. – Camila é muito técnica, objetiva e bom caráter.
-- Lamento que a tenha deixado. – disse com pesar e despertou a curiosidade da neta.
-- Acha que fiz uma burrice?
-- Não tenho que achar nada, isso só você para saber. – levantou-se. – Peça um café, estou com fome e sem paciência para esta reunião.
-- Vô, o senhor não aprova minha relação com Isadora, não é?
-- Minha neta, eu interferi muito nessa história, e ela me surpreendeu pela força e persistência que tem. – fez uma expressão de cansaço. – Não quero me intrometer mais nas suas decisões, mas, eu não vou negar: admiro muito Camila e ela conquistou meu respeito. A considero como uma pessoa próxima, da família. – olhou para a neta que o observava. – Agora peça algo para comer.
-- Ah! Sim... – pediu a secretaria que trouxe o lanche minutos depois. – Dona Ada, por favor, em quinze minutos chame Camila e os diretores veterinários e de compras. – José revirou os olhos e confessou para neta e secretaria.
-- Ando sem paciência para essas coisas, acho que estou velho. – declarou sorrindo.
-- Espero que dessa vez o senhor não fique enfadado.
-- Se a minha querida neta voltou a velha forma, não terá como.
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-- Como vamos pegar esse menino?
-- Temos alguém infiltrado lá dentro. – respondeu sorrindo.
-- Espero que seja alguém muito esperto, porque aquela sapata é desconfiada. – Timóteo explicou enquanto se servia.
-- Muito desconfiada, só que está muito mais envolvida nos seus casos amorosos.
-- Ela me roubou Isadora... – deu de ombros. – Agora que se vire com todo o ônus.
-- Ela será a próxima.
-- E Cristina?
-- A última. – deu uma gargalhada. – Antes quero tirar tudo o que ela ama, sentir o gostinho amargo do sofrimento.
-- Por que tanto ódio?
-- Ela sempre teve tudo o que eu não tinha, e só dividia com aquele viado.
-- Dupla perfeita! – deu uma gargalhada. - Não comente nada com Joaquim.
-- Eu sei. – disse irritada. - Não sabemos qual a dele.
-- Ele tem muito mais a lucrar se nos entregar.
-- De onde? Do inferno? Porque será para lá que vai.
-- Bruna, ele é muito escorregadio. Conheço bem o tipinho.
-- Ele também me conhece e sabe que não perdoaria.
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-- Passei dez anos nesta empresa e não admito ser tratado assim. – estava quase gritando. José olhou para neta que se mantinha imóvel e inexpressiva. Camila estava surpresa com toda a situação, não havia sido avisada sobre o real motivo da reunião. – Essa... Essa...
-- Moreira, aconselho manter o tom mais baixo e não concluir a frase que tem em mente. – Melissa declarou saindo da mudez.
-- Cristina, você passou quase um ano fora daqui e não sabe muito bem o que aconteceu. – argumentou.
-- Pelo contrário, estava mais presente do que imagina. – o homem olhou irritado para Camila.
-- Ela sempre quis meu lugar, percebi isso na primeira reunião que participou. – Camila esboçou uma reação, mas José segurou sua mão e lhe pediu calma.
-- Em sua primeira reunião aqui, ela mostrou estudos e frisou bem que não deveríamos negociar com os holandeses aquela raça de gado, eles não se adaptariam muito bem com o nosso clima. – pegou uma pasta. – Vocês forjaram um relatório e entregaram a Enrico sobre a qualidade destas cabeças que ele, ingenuamente, autorizou a compra.
-- E foi um bom negócio. – o diretor de compras interrompeu.
-- Bom? – Melissa jogou várias folhas sobre a mesa. – Aí estão os cálculos com prejuízos. Quem vai nos ressarcir? – Camila pegou uma das folhas e leu o relatório. Ela sabia que havia um prejuízo, só não tinha conhecimento do valor. Sua expressão foi avaliada por Melissa que a conhecia bem, as duas trocaram olhares e foi o suficiente para deixar a empresária ainda mais irritada. – Esse prejuízo foi lucro para alguém, será que preciso instaurar uma investigação interna?
-- Cristina, eu posso explicar... – ela olhou para Moreira que sentiu um frio percorrer pelo corpo.
-- Explique. – pediu encarando-o.
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-- Smith, eu tenho essa premiação hoje, você poderia me aliviar dessa. – falou com um sorriso sarcástico.
-- Aliviar? Esse é o maior furo e quer perder? – Isadora deu de ombros e sorriu timidamente.
-- Eu só quero calmaria e de preferência no Brasil.
-- Essa Melissa deve mesmo valer a pena. – disse brincando.
-- E como vale. – respondeu mais empolgada.
-- Tudo bem. – olhou o relógio. – Acho que sua hora chegou. – Isadora olhou e deu um pulo da cadeira.
-- Ainda tenho que me arrumar. – saiu correndo e pegou um táxi.
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-- Eu sei que são negócios, mas não gosto de ver ninguém ser demitido e ficar feliz.
-- Camila, como você mesma disse: são negócios. Minha família vive disso, não cai nada do céu.
-- Mel, por favor, não me interprete mal, não estou julgando-a. – Melissa sorriu e ajeitou o cabelo da veterinária.
-- Eu sei, não se preocupe. – Camila estava hipnotizada com os olhos azuis tão próximos. – Amanhã, isso tudo será do nosso Enzo, precisamos pensar como empresarias. – estavam próximas e Camila permanecia enfeitiçada, mas o clima foi cortado com o som do celular de Melissa que olhava nos olhos da veterinária e não manifestou interesse em atender.
-- Não vai atender?
-- Oi?
-- O telefone Melissa. – chamou a atenção da morena.
-- Ah! – afastou-se para atender. – Oi... Isadora? – Camila saiu, deixando-a sozinha na sala. Melissa a observou saindo e sentiu uma dor no estômago.
-- Amor, pode atender?
-- Cla... Claro. – Isadora sentiu que algo estava errado e não deixou passar.
-- Pela firmeza na resposta, acredito que tenho de acelerar meu retorno. – Melissa ficou sem jeito.
-- O que é isso Isadora? Não existe motivos para isso.
-- Não? – Melissa ficou quieta e ela concluiu. – Melissa Cristina, você é minha e nem invente novidades. – ameaçou irritada.
-- Ligou para demarcar território? – havia perdido a paciência.
-- Não. Queria dizer que estou indo ao prêmio e lembra-la que não poderemos conversar hoje.
-- Alguma previsão de voltar?
-- Mel, a reunião ainda não aconteceu.
-- Estou cansada Isadora, quero você aqui, enchendo-a de beijos em meus braços.
-- Ou você ocupa o espaço com outra... – Melissa amava a loirinha, mas sempre ficava chateada com o seu ciúme excessivo.
-- Engraçado...
-- O que?
-- Sempre que falamos algo assim, com tanta persistência, parece refletir a verdade do que somos. Você tem medo que eu lhe traia, será que aí não faz o mesmo? – Melissa explicou com calma, apesar de muito irritada.
-- Eu não vou responder Melissa Cristina. – estava irritada, também.
-- Não está na hora do seu show? – Isadora suspirou.
-- Ficaremos assim?
-- Sempre que agir assim, com infantilidade, ficaremos.
-- Então tudo bem.
-- Tudo bem.
-- Tchau!
-- Até. – desligaram e Melissa sentou irritada. – Dona Ada, por favor, localize Enrico para mim.
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-- Eu vou esquecer Melissa Cristina... Eu vou esquecer Melissa Cristina... – Camila falava para si mesma, desde que havia saído da empresa. – Eu não lhe amo mais... – tomou um banho rápido e voltou para o quarto e se deitou. – Eu não vou ficar louca... Eu não amo mais Melissa... – colocou o braço cobrindo os olhos e começou a chorar. – A quem quero enganar? – deixou as lágrimas lavarem sua alma. Adormeceu após algum tempo, estava cansada, seu dia havia sido exaustivo.
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-- Isadora, eu pensei que havia esquecido.
-- Esquecido como? Smith me lembrou a cada hora. – respondeu irritada.
-- Vem, eu vou lhe acompanhar. – Francisco a observou e perguntou. – Você está bem? – ela forçou o sorriso.
-- Briguei com Melissa.
-- Ah... – concluiu. – Mas isso é tão normal entre vocês? – Isadora o olhou irritada.
-- Não começa Fran.
-- Isadora, está na hora de começar. – um dos auxiliares de palco avisou a loirinha que saiu em direção as câmeras de televisão e jornalistas.
-- Isadora... Isadora... – uma jornalista ruiva a chamou e ela parou sorrindo enquanto outros a fotografava. – Quando será seu casamento? – a loirinha fez menção em responder, mas, foi interrompida por Alicia que se aproximou, abraçando-a.
-- No próximo mês, não é amor? – ela quis responder, mas Alicia a puxou para um beijo. A loirinha tentou se afastar, mas a empresária era mais alta e mais forte, segurou forte e quando o beijou terminou, saiu com um sorriso vitorioso. – Cuidado com o escândalo. – afastou-se. Não houve tempo para uma justificativa ou explicação aos repórteres, outro assistente de palco a puxou para ela subir, pois já havia sido anunciada. Ela olhou rapidamente para o amigo que pensou alto.
-- Fudeu!
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-- Esta vendo isso Ester?
-- Calma, eu tenho certeza que existe uma explicação para isso. – ele bateu forte na parede e chamou a filha.
-- Melissa Cristina! – a morena estava na varanda, achou estranho o pai lhe chamar pelo nome completo.
-- Eu não ouço o senhor me chamar assim desde que montei naquele cavalo da fazenda Juriti.
-- Melissa Cristina, venha ao escritório agora.
-- Daniel, não precisa fazer isso. – Ester pediu e Melissa olhou de um para outro.
-- O que está acontecendo?
-- Ester, ela precisa saber onde está se metendo.
-- Pai... Mãe, o que está acontecendo?
-- Venha comigo. – chamou a filha até o escritório e acessou o site de noticias até achar o momento do beijo. – Assista e leia isto. – Melissa sentou na cadeira do pai e leu a matéria, depois assistiu ao comunicado de Alicia e ao beijo entre ela e Isadora. – Viu agora a que me referia? Ela não lhe ama como você a ela.
-- Daniel... – Ester chamou atenção do marido e o repreendeu. – Não faça isso.
-- Ela precisa saber a verdade Ester. – Melissa se levantou e deixou os dois discutindo. Estava com a cabeça girando, sentia-se não só traída, como também suja. Pensou em Camila e em tudo o que haviam passado. Havia abandonado a vida que tinha por conta de uma mentira.
Fim do capítulo
E agora? Espero que Isadora saiba se sair dessa. Genteeee... Demorei mais voltei, e muito renovada, desta vez pelas areias brancas da praia do Bessa e aquela água gostosa, quentinha que só encontro no Nordeste, principalmente na minha terrinha maravilhosa, João Pessoa. E bora para mais um capítulo.... Beijos
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Sdqueen
Em: 19/07/2018
Ola autora.
Rapaz, so tenho elogios pro estória. Muito bem escrita, o ritmo muito bom me prendeu mesmo, deverdade. E seria mais coerente se eu fizesse esse comentário no final da históri, no último capítulo mas nem precis, nesse 75 capítulos manteve uma Constância de ritmo e continuidade com personagens tiveram poucos desvios que acredito que se mantera assim. Não deixe de escrever.
Sobre a obra e as personagens: Que bela mulher de malandro é a Melissa. Tava chateada pq ela não iria ficar com a Camila, mas qdo vi que ela não pensou duas vezes pra traí-la percebi que Melissa e Isadora têm o msm grau de maturidade, qse nenhum. Isadora, no meu ponto de vista, é leviana, inconsequente, mimada, instável. Ela poderia ter feito a carreira dela aqui, coisa pra investigar aqui é o que não falta. Em nenhum dos momentos, exceto o tiro, até agora, ela esteve di lado da Melissa. A gravidez foi fruto de um abuso, poderia ter gerado problemas psicológicos pra Melissa, mas isso não fez diferença pra ela. So importava a carreira e msm qdo ela resolveu voltar, ela nada explicou ou conversou, apenas um " eu quero e você também"....aaaah vontade de matar uma criatura mimada dessa. Pra mim, não é difícil imaginar um cenário onde ela faça as mesmas coisas novamente.
Ô autora, vc poderia ter dado mais tempo pra Camila, pras pessoas conhecerem a bixinha tbm. Camila é 10/10.
No mais, parabéns novamente, o último enredo que havia me prendido assim foi uma da Wind Rose em 2014.
Baiana
Em: 21/03/2018
Eita! Agora o bicho pegou! Mas ainda acredito que esse mal entendido seja resolvido e que não seja um outro término.
Vou me basear na primeira versão quado a Mel foi para o oriente médio salvar a loirinha e assim elas se resolverem de vez.
Resposta do autor:
Oi Baiana, foi sim, para alegria de vocês...kkkkk. Nesta versão não terá OM, mas teremos outras situações chatas para a nossa dupla de gatas. Bjs
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Candanga
Em: 21/03/2018
Autora, vc sabe que amo essa história, eu li e reli ela várias vezes.
Só que essa nova versão das personagens não estou gostando ,cade a Isa justiceira da primeira versão?
Saudades da Mel e da Isa da primeira versão, mesmo assim estou aqui firme e forte lendo a história. Kkkkkkk
Qual a previsão para atualização de coincidência?
Bjs ate a volta
Resposta do autor:
Obrigada Candanga! A Isa e Mel mudarão um pouco a partir do capítulo 77, espero que continue gostando. Bjs
Quanto a Coincidências, já introduzi algumas coisas aqui que explicam as ações de Haidê lá na frente. Vamos aos poucos e logo chego no final. Bjs
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Mille
Em: 21/03/2018
Olá Rafa
E mais uma vez o destino as separando só espero que a Mel se acalme para conversar com a Isa para não se arrepender depois.
E ela não vá brincar com a Camila a deixe caminhar e tentar ser feliz.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Brincar com Camila não tem mais como, a veterinária está com o objetivo de esquecê-la mesmo e se dá a oportunidade de ser feliz. Quanto as duas, não tem como elas ficarem mais longe uma da outra. Bjs
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Lili
Em: 21/03/2018
Veio foda que o Daniel faz, Isadora foi burra foi, mas ela se manter no erro seria idiotice dela.
Agora cabe a ela processar ou algo do tipo para Alícia naonchegnã mais perto.
Resposta do autor:
Parece que quando ela passa o atestado de idiota, isso a fortalece e ela volta com tudo. No capítulo 77 ela nocauteia a megera da Alicia. Beijos
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