Capítulo 22 Tão somente por você.
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 22
Tão somente por você.
Natasha saiu do hospital cuspindo marimbondo. Não estava mais suportando aquele amor incondicional de Andreia pelo homem que as separou. Que a enganou com uma historinha idiota de pais drogados.
-- Para mim chega! -- bateu a porta do automóvel com força -- Vamos logo embora dessa droga de hospital.
Jessye permaneceu imóvel. Natasha estava tendo mais um de seus ataques de fúria carregado de sotaque açoriano. Era uma ira incontrolável, que ela conhecia muito bem.
Agora, o que mais chamava a atenção da secretária era o modo dela falar. Geralmente entendia muito bem a chefe, mas, nesses momentos de descontrole, era algo simplesmente incompreensível! Jessye olhou rapidamente para a empresária. Sim, certamente Natasha era do tipo neurótica, pensou.
-- Deixe-me entender, Natasha -- ela disse à chefe -- Você e a senhorita Carolina, já tiveram a primeira discussão?
-- Não... Quer dizer... Sim... -- um pouco confusa, ela virou-se e ficou de frente para Jessye -- Ela preferiu ficar com o sequestrador do que ir comigo para a ilha. Dá para acreditar?
Jessye olhou para ela atentamente, e se calou. Era perda de tempo argumentar com a empresária.
-- Ficamos vinte e tantos anos longe uma da outra, agora que podemos, enfim, ficarmos juntas, ela se recusou a viajar comigo para a ilha. Eu mereço? Confesso que senti uma vontade enorme de avançar na Andreia e apertar aquele pescoço fino.
-- Agora acalme-se e me conte o que aconteceu -- pediu a secretária.
Natasha continuou a falar sem dar ouvidos à Jessye. Ela estava muito, muito brava.
-- Manda preparar o jatinho. Quero voltar para a ilha hoje mesmo -- Natasha ajeitou-se no banco -- E espero sinceramente que ela cumpra o que prometeu.
Com o telefone apoiado entre o ombro e a orelha, Jessye combinou os detalhes do retorno com o comandante.
Uma batida na janela do carro assustou Natasha. Ela virou-se e viu a silhueta de uma mulher próxima ao carro.
Seu jeito bravo desapareceu, substituído por um sorriso radiante, ao reconhecê-la.
-- Vanessa! -- ela destravou a porta do carro e saiu -- Que coincidência maravilhosa.
Vanessa era uma pessoa que dificilmente alguém consideraria linda. Hoje, quando se fala em padrões de beleza na sociedade, as referências são as blogueiras fitness e modelos. Porém, Vanessa era a fofinha mais sexy e elegante que Natasha havia conhecido.
Natasha patrocinava vários eventos beneficentes realizados pela moça. Vanessa não media esforços na arrecadação de fundos para ajudar crianças e adolescentes carentes.
-- Minha querida! Como vai você? -- Vanessa, levantou os olhos para aquela linda mulher e sorriu gentilmente.
-- Muito melhor, agora -- a voz empolgada da empresária fez Vanessa alargar o sorriso, ainda mais.
A moça passou de leve os dedos na bochecha da empresária, depois trocaram um selinho rápido.
-- Está acompanhada? Espero que não -- Natasha deu um olhar devasso para a mulher.
-- Sozinha e faminta -- Ela assumiu uma expressão bem-humorada.
-- Por comida? -- perguntou Natasha. Uma pergunta maliciosa que fez Vanessa abrir um largo sorriso.
-- Você é uma danadinha, bebê -- Ela virou-se para Jessye e deu um sorriso simpático -- Olá Jessye, tudo bem?
Jessye não estava nem um pouco feliz, deu um sorriso amarelo e lhe respondeu num tom pouco convincente:
-- Tudo bem.
Natasha percebeu o olhar contrariado da secretária.
-- Algum problema, Jessye?
-- O jatinho estará a sua disposição em duas horas.
-- Cancele -- Natasha disse com firmeza, sorrindo quando cruzou o olhar com o de Vanessa -- Também estou com muita fome e, um dia a mais, um dia a menos, não fará grande diferença -- sentiu um arrepio percorrer o corpo só de pensar em como a noite poderia terminar.
-- Mas Natasha...
-- Por favor Jessye, relaxa -- Natasha disse dando uma piscada de olho -- Pegue a noite de folga e vá se divertir.
Jessye deu um olhar dissimulado para a chefe e pegou o celular.
-- Vou ligar para o comandante.
Vanessa ajeitou-se melhor no assento do carro.
-- Então vamos -- murmurou a moça, enquanto o motorista manobrava o automóvel, para sair do estacionamento do hospital.
Andreia, Marcela e Sidney continuavam aguardando o doutor Vicente na sala de espera. O clima entre eles estava tenso e a ironia de Marcela não ajudou a melhorar as coisas:
-- A irmãzinha bipolar deu um pé na bunda e se mandou -- cantarolou debochada -- Por que você não foi com ela? -- perguntou, irritada -- Papai será muito bem cuidado. A tal da doutora Talita, não deixará nada faltar a ele.
-- Você não entende. Essa mulher é uma estranha, ela nunca poderá nos substituir. Nesse momento, papai vai precisar muito do nosso amor e carinho.
-- Para com isso, Andreia! Amor e carinho não paga dívidas -- Marcela escondeu o rosto nas mãos, num gesto cansado e desesperado -- Sabia que não podia confiar em você. Algo me dizia que no momento crucial você pularia fora.
Andreia passou a mão no cabelo, nervosa.
-- Você me faz sentir-se um monstro falando assim! Quando na verdade só quero o bem do papai.
Sidney lhe apertou a mão, confortadora.
-- Você só está fazendo o que é certo. A propósito, minha querida, você não teve culpa se as coisas não correram como esperávamos.
Doutor Vicente entrou na sala e todos olharam para ele, ansiosos para ouvir o que o médico diria.
-- Meu amigo Fábio é um guerreiro -- ele sorriu, não escondendo a felicidade que sentia.
-- Como ele está? -- perguntou Marcela.
-- Ele vai ficar bem. Nesse momento estamos levando o Fábio para a UTI. É o protocolo para esses casos.
O alívio na sala era palpável. Andreia estava pálida, seu rosto tinham lágrimas rolando. Seu pai era a sua vida. E, oh Deus, ela não poderia perdê-lo.
-- Posso ver o meu pai antes de levarem ele para a UTI? -- Andreia perguntou com voz rouca.
As sobrancelhas do médico levantaram e ele ficou em silêncio por alguns segundos.
-- Tudo bem. Apenas por alguns minutos.
Andreia empurrou a porta de vidro deslizante, seu coração despedaçou quando viu seu pai, pálido e preso a um monte de máquinas fazendo bipes.
Ele parecia tão frágil. Ela lutou contra as lágrimas, aproximou-se e pegou a mão dele com carinho.
-- Me perdoe, papai. Espero que um dia entendas que tudo o que estou fazendo é tão somente por você.
Vendo seu pai depois de ter feito a cirurgia, com oxigênio, intravenoso no braço e ligado a tantas máquinas, teve que admitir: Precisava do dinheiro da família Falcão.
Um grande número de pessoas aglomerava-se na entrada do restaurante. As mulheres com seus vestidos de grifes e os homens com seus ternos elegantes, enfeitavam o ambiente. Milionários do mundo dos negócios estavam presentes. Embora nenhum, Vanessa admitia, era tão poderoso quanto a mulher ao seu lado.
Logo um funcionário as recepcionou e as conduziram até uma mesa bem posicionada. A música tranquila de fundo tornava o ambiente agradável.
-- Pensei em algo bem mais simples -- comentou Vanessa ao sentar-se.
-- O carrinho de cachorro quente não serve champanhe -- com um gesto firme, Natasha pegou o cardápio e começou a folheá-lo -- Hum, essa paleta de cordeiro ao vinho branco e alecrim parece delicioso. O que você acha?
-- Prefiro Gnocchi recheado com carne de ossobuco, molho de limão siciliano.
-- Para quem preferia um restaurante mais simples, seu pedido é bem requintado.
-- Já que estou aqui, por que não aproveitar? -- ela sorriu. Natasha estava sentada do outro lado da mesa, a esta distância, podia sentir a fragrância suave do perfume dela.
O garçom registrou os pedidos e saiu, as garçonetes vieram logo em seguida, servindo as entradas. Vanessa deu um gole em seu champanhe e, em seguida, mesmo receosa, ousou perguntar sobre Mariana.
-- Tem notícias dela?
Natasha permaneceu serena. Recusava-se a deixar transparecer o quanto aquele assunto a incomodava.
-- Faz muito tempo que não tenho notícias dela, mas, provavelmente terei nos próximos dias.
-- Por que diz isso?
-- Mandei cancelar os cartões de crédito dela.
Vanessa soltou uma risada debochada.
-- Pode ser que ela não seja um deslumbramento para os olhos, mas tem uma esperteza assombrosa -- a moça deu outro gole no champanhe e olhou ao redor -- Aposto que ela vai voltar correndo.
-- Pois que volte, expulsarei ela da ilha, ou melhor, mandarei jogá-la aos tubarões.
Vanessa deu outra risada, dessa vez mais longa.
-- Não precisa proteger a sua reputação de mau, Natasha. Poupe seu fôlego. Todos sabem que você ainda é louca por aquela lambisgoia. Tudo que você deseja é vingança!
-- Quem falou em vingança? -- Natasha perguntou irritada.
-- Nem precisa falar. Eu vejo em seu rosto -- observou, com desdém.
Ficaram em silêncio. Natasha olhava para ela inexpressivamente. Seus olhos estavam mais frios do que nunca.
-- Penso que devemos mudar de assunto, antes que o assunto mude o que eu penso sobre você.
-- E o que você pensa sobre mim?
-- Que você é uma pessoa agradável e discreta -- Natasha bateu com o garfo na mesa sem pensar -- Seu prato parece mais suculento que o meu.
-- Bom gosto, meu amor. Isso tenho de sobra.
-- Posso me incluir em sua lista de bom gosto?
-- Primeirinha da lista -- Vanessa deslizou o dedo pelo rosto dela. Arrepios percorreram-lhe o corpo -- No meu hotel ou no seu? -- ela perguntou, divertida.
-- No meu.
Com isso, elas deram o assunto por encerrado. Não tocaram mais no nome de Mariana e, durante o jantar, Natasha já estava outra vez de bom humor.
Andreia retornou para a sala de espera e viu Jessye sentada na beirada da poltrona. De terninho e cabelo preso, toda reta, composta e naturalmente elegante. Se ela estava alí, então Natasha também deveria estar. Animada por esse pensamento, caminhou com determinação até a secretária.
-- Pensei que já tivessem voltado para a Ilha do Falcão -- sentou ao lado da moça, adotando uma atitude cautelosa.
Como era educada, Jessye forçou um sorriso amarelo, mas não tinha a menor vontade de sorrir. Estava chateada por Natasha ter mudado completamente os rumos daquela viagem. Havia conseguido poucas informações sobre o Hotel falido do senhor Fábio, dessa forma, não conseguiria montar um relatório preciso sobre a real situação do imóvel.
-- Natasha decidiu passar mais uma noite no Rio. Coincidentemente, ela encontrou-se com uma amiga no estacionamento do hospital e resolveram relembrar os velhos tempos.
-- Como assim, relembrar os velhos tempos? -- um tipo de expressão estranha surgiu no rosto de Andreia.
-- Jantar, beber, curtir até quase de manhã... Se é que você me entende -- Jessye levantou as sobrancelhas observando a reação da irmã de Natasha. Andreia deu de ombros, mostrando que estava confusa.
-- Não. Não entendi! -- disse Andreia, cruzando os braços sobre seu peito.
-- Bobinha! -- Marcela, que estava sentada numa cadeira no canto da sala, olhou para ela, mas não se levantou -- Elas foram: botar as aranhas para brigar; fazer vuco-vuco; nheco-nheco; repartir a peruca; sapeca iá iá; dar uma lapada na rachada; dar uns pegas; virar os zóin; colar o velcro; dar um tapa na periquita -- a moça respirou fundo e levantou uma das sobrancelhas de forma cínica antes de perguntar: -- Entendeu agora?
Por um segundo Andreia ficou apenas olhando para Jessye.
-- É isso mesmo?
-- Sim, é isso mesmo -- a secretária afirmou, balançando os ombros.
-- Como ela teve coragem? Ficar com a irmã, ela não podia, agora com uma amiguinha, ela pode! -- Andreia estava indignada.
Sidney caminhou em direção a ela, colocando a mão em seu ombro com um suspiro.
-- Não esqueça, minha querida que foi você que se recusou a ir com ela.
-- É mesmo! -- exclamou Marcela, com ironia -- E você Jessye, o que faz aqui? -- ela sabia que Jessye não estava ali por acaso, e a presença dela a incomodava.
-- Estou esperando pela doutora Talita -- ela deu uma olhada ao redor, como se estivesse procurando uma outra pessoa; e ela ficou contente ao perceber que a doutora acabava de entrar -- Olha ela aí.
Talita levantou o rosto e fitou Andreia por um bom tempo. Seu olhar era penetrante, como se quisesse descobrir os segredos dela.
-- Então você é a Carolina? Finalmente nos encontramos -- Talita sentiu uma onda quase insuportável de ódio ferver dentro dela. Droga. Aquela mulher era uma mentirosa perversa.
Houve um longo silêncio.
-- Sim, eu mesma -- Andreia estendeu a mão, esperou até que a doutora desse a sua a ela, e suavemente apertou -- Muito prazer, doutora Talita. Estava lhe aguardando ansiosamente.
-- Estava? -- perguntou Talita, admirada.
-- Natasha disse que você viria para acompanhar o meu pai em sua recuperação. Pois bem, preciso ir em casa tomar um banho e pegar algumas roupas limpas.
-- Por mim tudo bem, mas quero que me apresentem ao médico responsável por ele -- A jovem doutora olhou-a com altivez, lutando para manter a voz neutra -- Tenho que ter amplo acesso à papeleta, ao prontuário médico, a todo o seu material médico, laboratorial. Saber o seu diagnóstico, conhecer a fundo o seu tratamento, os medicamentos.
-- Sem problemas. Já conversei com o doutor Vicente e ele autorizou o seu livre acesso aos documentos -- Andreia falou com a voz mais simpática possível, apesar de perceber o modo como Talita demonstrara imediata desconfiança e antipatia em relação a ela -- Enquanto estou fora, Marcela poderá acompanhá-la. Não é mesmo marcela? -- Andreia olhou para a irmã e fez um trejeito com a boca.
-- Mas é claro -- a contragosto, Marcela concordou -- Pode ir, não se preocupe.
Andreia segurou o braço de Sidney e apontou na direção da porta.
-- Você vem comigo! -- ela praticamente o arrastou até o corredor -- Lembra qual é o hotel que a Natasha está hospedada?
-- No Windsor Marapendi, mas, por que?
-- No caminho te conto. Está com a chave do carro da Marcela?
Natasha e Vanessa saíram do restaurante e foram direto para o Windsor Marapendi. O enorme carro que as esperava junto à porta deslizou com facilidade pelas ruas desertas até estacionar em frente ao hotel na Barra da Tijuca.
Andreia estava no carro em frente ao hotel, sentindo-se ridícula parecendo uma ex-namorada perseguidora. Sidney estava encolhido no banco do carona, tremendo de frio. Ele esfregou as mãos nos braços, rezando para que os seguranças do hotel, não chamassem a polícia.
-- O que estamos fazendo parados na frente desse hotel, a essa hora? -- ele bocejou -- Francamente, por que eu me permito entrar nessas encrencas?
-- Para de resmungar. É por uma justa causa -- Andreia inclinou-se para frente e forçou o olhar em direção a entrada do Windsor Marapendi -- É ela.
Andreia abriu a porta do carro e saiu.
-- Ei sua louca, aonde vai? -- perguntou Sidney, surpreso. Andreia não costumava agir assim, por impulso. Ela era sempre tão pragmática.
Andreia apoiou-se na beirada da janela aberta do carro, e se inclinou para falar com o amigo.
-- Caso eu não volte em uma hora, não se preocupe. Pode ir embora.
Fim do capítulo
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brunafinzicontini
Em: 13/03/2018
Rsrsrsrs... Andreia com ciúmes querendo estragar a noitada de Natasha! Muito engraçado! Vamos ver no que vai dar isso... Está ficando muito bom!
Vanessa - fofinha e sexy. Parabéns, Vandinha, por criar uma personagem fora dos padrões de beleza impostos e apanhar alguém do "mundo real". Nem todas podem se mostrar magérrimas, luxuosas e lindas feito modelos, né? A beleza da mulher tem muitas expressões!
Talita sabe da verdade, mas está entrando "no jogo". Não entendo o motivo por que a verdadeira Carolina ainda quis ficar no anonimato e Talita com a babá aceitaram manter segredo. Mistério...
Abraços,
Bruna
Resposta do autor:
Olá Bruna.
Amo mulheres ousadas, daquelas que não têm receio de assumirem-se lindas, sexys e maravilhosas. Mulheres que sabem bem o que querem - e o que não querem! - sem se importar com conceitos antiquados ou tabus.
Com certeza a sua pergunta será a primeira que Natasha fará a sua verdadeira irmã: Por que ela ficou no anonimato?
Em breve teremos todas as respostas.
Beijão Bruna. Até mais.
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Mille
Em: 12/03/2018
Olá Vandinha
Andreia vai acabar com a festinha da Nat kkkkk é ciúmes demais.
Talita por enquanto está julgando a falsa irmã logo ela vai descobrir pelo Sr. Fábio que a filha não é uma pessoa ruim mesmo errando e fazendo está farsa.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Convenhamos que a Andreia fez por merecer esse pré conceito. Porém, com a ida deles para a ilha, quem sabe, ela não consiga mudar a opinião de todos.
Beijos e até mais.
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NovaAqui
Em: 12/03/2018
Talita, não estraga tudo!
Andreia com ciuminhos da "irmã".
Natasha fica querendo saber da ex. Aff! Deus mandou amar o próximo. Ajuda, né! kkkkk
Bom dia e boa semana!
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Talita é um tumulo. Ela não vai contar nada. A doutora, com certeza, deixará para a verdadeira Carolina a missão de desmascarar o bando de estelionatários.
Beijos e até mais.
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