Capítulo 21 Ela Foi Embora?
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 21
ELA FOI EMBORA?
Natasha segurou a mão de Andreia, e todos se sentaram e ouviram enquanto o doutor Vinícius descrevia a cirurgia e o que isso implicaria para Fábio.
-- Algumas vezes, especialmente quando o defeito é na valva mitral, é possível fazer o reparo usando cateteres, envolvendo-a com um anel de plástico ou tecido. Em outras situações, o mal funcionamento da valva requer que ela seja substituída por uma válvula (versão artificial da valva). Quando isso acontece, é preciso fazer a substituição.
-- O que é o caso do papai? -- perguntou Andreia, com sua expressão de preocupação, cansaço e desespero.
O médico balançou a cabeça.
-- Sim. Existem dois tipos de válvulas: mecânicas e biológicas.
-- E qual vai ser usada no senhor Fábio? -- perguntou Natasha, com interesse.
-- Quando as válvulas mecânicas são utilizadas, você terá que tomar remédios que fazem o sangue ficar mais ralo, mas elas normalmente duram o resto da vida (são feitas de aço inoxidável ou titânio). Já as biológicas têm um tempo determinado de vida, mas você não vai depender de medicamentos -- o cardiologista sorriu -- Como conheço muito bem o meu amigo e sei que ele não tomará os remédios, usaremos as biológicas.
Andreia balançou a cabeça.
-- O senhor faz ideia de quanto tempo levará a cirurgia?
-- Não tenho como prever. Só saberemos depois de abrir o peito e examinar a extensão dos danos. Durante a cirurgia ele será conectado a uma máquina coração-pulmão, que faz o trabalho desses órgãos.
-- Meu Deus, tudo isso me parece assustador -- Isabel prendeu Natasha com seu olhar -- Eu preciso de você ao meu lado.
Natasha pegou a mão de Andreia e trançou os dedos com os dela.
-- Ficarei o tempo todo com você -- disse com um sorriso, encorajador.
Doutor Vicente tocou de leve o ombro de Andreia.
-- Por que não vão todos para a sala de espera, eu peço para uma enfermeira avisar assim que a cirurgia terminar.
O médico finalmente saiu. Natasha colocou o braço em volta de Andreia, amparando-a.
-- Vamos para a sala de espera. Agora só nos resta aguardar -- Natasha guiou-a até uma sala ampla com televisão e várias poltronas onde elas se sentaram em silêncio.
Andreia se inclinou e encostou a cabeça no ombro da empresária. Que delícia aconchegar-se nos braços dela e deixar o mundo girar lá fora! Pensou.
-- Obrigada por estar aqui comigo, Nat. Não sei se conseguiria sozinha.
Natasha beijou a cabeça dela, segurou-a firme, e a deixou chorar.
-- Enquanto você precisar de mim, estarei aqui.
As palavras de Natasha a fez refletir sobre suas atitudes desonestas. Sentiu-se tomada de um profundo sentimento de culpa. Estava tomando posse de uma vida que não era dela, roubando o carinho e afeto que eram de outra pessoa. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Abriu a boca ensaiando uma confissão, mas só conseguiu sussurrar um pedido banal:
-- Eu adoraria uma xícara de café. Busca pra mim?
-- Claro, bonequinha -- Natasha se levantou, olhando para ela -- Já volto, tá.
Layla sentou-se na enorme sala de espera do escritório da gerência, olhando nervosamente para a porta fechada.
Distraída, tomou mais um gole de café e depositou a xícara sobre a mesinha. Baixou os olhos para o relógio. Já eram quase três horas e nada do tal gerente aparecer. A secretária havia garantido que ele estava na sala, então por que não a recebia?
-- Com licença, pode me dizer se o gerente vai demorar muito a me atender? -- perguntou para a moça esbelta e de cabelos negros sentada atrás de uma imensa mesa de vidro, analisando alguns papéis.
Ela levantou a cabeça quando ouviu Layla e interrompeu a tarefa que estava realizando.
-- Já comuniquei a sua presença, por favor, aguarde mais alguns minutos -- disse com um grande sorriso no rosto.
-- Tudo bem. Desculpa, é que estou um pouco nervosa -- Layla voltou a sentar. Quanto mais o tempo passava, mais nervosa ficava. Como seria esse gerente? Sua imaginação criava várias imagens dessa pessoa desconhecida.
-- Senhorita Layla, já pode entrar -- avisou a moça.
-- Obrigada.
Assim que entrou na sala, Layla ergueu os olhos e viu um rapaz sorrindo para ela. A moça retribuiu o sorriso educadamente. Ele estava em pé ao lado da mesa e estendeu a mão com exagerada delicadeza.
-- Layla Azevedo.
-- Leozinho -- respondeu o rapaz, com um aperto de mão delicado -- Sou o gerente. A venerável está no Rio de Janeiro resolvendo um assunto particular.
-- Venerável? -- ela franziu o senho, sem entender.
-- Natasha, oras! -- afirmou ele, abrindo os braços -- Quem mais poderia ser?
-- Ah, claro -- ela revirou os olhos.
-- Mas, vamos ao que interessa -- Leozinho coçou a testa com a ponta do dedo indicador -- A Natasha está muito animada com a possibilidade da instalação de um parque temático aqui na ilha e, confesso que eu muito mais que ela. Adoro parque de diversão.
-- Que bom -- Layla abriu o notebook -- O Parque Temático da Ilha do Falcão será uma experiência inovadora, repleta de incríveis emoções e puro relaxamento...
-- Antes que você comece a apresentar o projeto, quero que saibas que o Hotel Falcão opera de forma sustentável e foi o primeiro hotel de luxo no Brasil a receber o selo de Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), que caracteriza ações sustentáveis como redução de desperdício, menor impacto ambiental e potencial de economia. O hotel foi projetado para consumir 40% menos água e 50% menos energia que um hotel comum. A Natasha se preocupa muito com o meio ambiente.
-- Posso adequar o projeto atual, isso não será problema -- seus lábios tremiam. Aquele negócio renderia milhões, não podia perder de jeito algum. Faria qualquer coisa para que ele fosse aprovado.
-- Mal posso esperar pra ver -- os olhos de Leozinho piscaram animados -- Estive no Beto Carrero e achei o máximo. Me senti uma criança grande.
-- O Parque da Ilha do Falcão será o único parque temático genuinamente natural e tecnológico, construído em uma ilha. É algo que vai agitar o turismo Catarinense e brasileiro.
-- Uau! -- Leozinho vibrou animado -- Espero que a Natasha aprove.
-- Consta no projeto aquários, orquidário, borboletário, arboreto, museu arqueológico, museu da história da ilha, montanha-russa, teleférico, núcleo de conhecimento científico, núcleo de experiências, além do teatro, do espaço de convivências, lojas, lanchonetes, centro administrativo e estacionamento -- Layla detalhou, orgulhosa.
-- Pode ter certeza que farei tudo o que estiver ao meu alcance. Esse parque é um sonho antigo. Eu quero ele pra mim, Layla.
Layla ergueu imediatamente a cabeça e o encarou, sorridente.
-- Que legal, Leozinho. O parque vai precisar de um administrador competente. Já conversou com a Natasha?
-- Tentei várias vezes, mas ela não me deu atenção.
-- Não desanime tão fácil. Quando ela voltar, vamos nos reunir e então você aproveita para falar a respeito.
-- Vou tentar.
Leozinho desejava realmente administrar aquele parque. Queria algo muito melhor do que aquele cargo de gerência que ele já possuía. Ele queria um desafio maior. Desejava poder ser parte de um projeto ambicioso como aquele. Tinha muito para provar à Natasha e também a si mesmo. Era a sua área, merecia aquele cargo.
Sidney puxou Marcela pela mão e foram para o balcão de informações.
-- Aonde está o senhor Fábio Dias? -- o rapaz perguntou aflito, tamborilando os dedos no balcão.
A mulher digitou algo em seu computador.
-- Nesse momento o paciente Fábio Dias está passando por uma cirurgia cardíaca.
-- Você sabe onde está a minha irmã Andreia?
-- Em uma área de espera reservada para a família. Atravesse a porta à sua esquerda, depois vá até o fim do corredor e entre a direita.
-- Obrigada -- disse Marcela e puxou Sidney junto.
Passaram por portas e corredores até finalmente encontrarem a sala. Marcela soltou a mão de Sidney e se aproximou de Andreia.
-- Alguma notícia?
Andreia balançou a cabeça.
-- Estamos à espera do fim da cirurgia. O doutor Vicente pediu para esperarmos aqui.
Olhando para o relógio de pulso, Natasha ficou surpresa ao ver que já tinha se passado tanto tempo.
-- Já faz mais de três horas de cirurgia -- ela se levantou e começou a andar pela sala -- Essa espera é terrível.
-- Nem me diga. Estou a ponto de subir pelas paredes -- Andreia olhou para Marcela com os olhos muito abertos. Estava com o semblante fechado. A irmã não demonstrava preocupação pelo pai e isso a deixava louca -- Pelo amor de Deus, Marcela! Você não deve ter um coração dentro desse peito.
Ao ver as lágrimas que Andreia derramava, Marcela abaixou os olhos envergonhada.
-- Eu também estou sofrendo muito, não é só você -- ela sussurrou, hesitante -- Eu tenho um coração. Tenho sentimentos. Eu me importo com ele.
-- Não é o que parece, Marcela -- Andreia disse, irritada -- Papai está passando por uma cirurgia complicada e perigosa e você, aonde estava? Com certeza tramando mais um de seus golpes.
-- Cala a boca, Andreia! -- berrou Marcela, Andreia estava falando demais -- Como poderia saber que essa cirurgia seria feita ainda hoje? -- defendeu-se, desejando ardentemente que a irmã mantivesse a calma.
-- Como poderia saber? Estando aqui, sendo mais presente -- Andreia fez um gesto nervoso -- Desde que papai foi internado, você visitou ele no máximo umas três vezes -- esbravejou, colocando para fora sua angústia.
-- Andreia, por favor! -- Sidney franziu a testa, e passou o braço em torno da amiga -- Não agora, meninas. Concentrem-se em seu pai -- Decididamente, alguma coisa estava errada com Andreia. Sidney nunca a vira tão aborrecida!
Natasha se levantou e puxou Andreia de volta para a poltrona. Colocou a mão sobre a dela num gesto carinhoso -- Tente não perder a calma. Pense que daqui a pouco a cirurgia terá terminado e vocês terão o pai com saúde novamente -- Ela acariciou de leve, os cabelos ruivos de Andreia.
Andreia sabia que ela estava tentando acalmar a briga entre as duas. Ela estava correta. Não era o momento, nem o lugar para discutirem suas diferenças.
-- Sinto muito, Natasha. Eu não deveria ter me descontrolado assim -- ela tentou se levantar, mas a empresária segurou-a pelo braço.
-- Você tem direito de ficar assim -- ela passou o polegar sobre o rosto de Andreia, secando algumas lágrimas que ainda teimavam em cair.
Andreia beijou o topo da cabeça de Natasha.
-- Obrigada -- ela fungou e deu um sorriso fraco.
Finalmente, um médico entrou.
-- Boa noite. Eu sou o Dr. Leonardo, um dos cirurgiões cardíacos da equipe do Dr. Vicente.
Andreia apertou a mão de Natasha com força.
Sidney deu um gritinho abafado.
-- A cirurgia terminou? -- o rapaz perguntou, ansioso.
O médico se aproximou do grupo, enfiou as mãos nos bolsos do jaleco e encarou-os com o semblante nitidamente cansado.
-- A cirurgia correu bem. Agora vamos transferi-lo para uma sala na unidade de cuidados cardíacos e monitorá-lo durante as próximas vinte e quatro horas.
-- Ele está fora de perigo, doutor? -- Andreia não queria nem pensar que seu pai pudesse morrer. Seu pai era humano, mortal, mas não era hora ainda. Não podia ser.
-- As próximas horas serão decisivas. O importante é que ele está vivo e com grande chance de recuperação. Seu pai é duro como uma rocha.
-- Graças a Deus -- Andreia exclamou aliviada, jogando-se nos braços de Natasha.
-- Bom, tenho que sair, mandarei uma das enfermeiras trazer notícias de hora em hora.
-- Obrigada, doutor -- Andreia agradeceu com um sorriso -- Vocês ouviram isso? Papai vai se recuperar.
-- Claro que vai, seu pai é um homem forte e guerreiro -- Sidney disse, andando lentamente na direção dela -- Eu não disse que tudo ficaria bem?
-- Eu tinha certeza -- Marcela disse com firmeza, depois se atirou na poltrona.
Natasha estava calada e pensativa. Andreia sentou-se de frente para ela e encarou-a interrogativa.
-- O quê foi?
-- Agora que o seu pai já fez a cirurgia e, segundo o médico, com um prognóstico bem favorável, penso que podemos finalmente ir para a ilha, não é mesmo? -- ela perguntou em tom estranhamente autoritário que não tinha nada a ver com a Natasha de minutos atrás. Sua expressão estava fechada, os olhos verdes opacos e resolutos ao fitá-la.
Andreia sorriu, mas era um sorriso tenso.
-- Você não está falando sério. Não pode ser sério -- ela andou nervosamente pela sala e voltou a parar diante da empresária -- Meu pai acabou de sair da sala de cirurgia. Ele ainda está correndo o risco de morrer, precisa de alguém ao seu lado -- cansada, Andreia deixou escapar um suspiro que fez Natasha levantar as sobrancelhas.
-- Ele precisa de um médico ao lado, não de uma chorona como você.
-- O que? -- Andreia estava indignada -- Ele precisa de um familiar, de uma pessoa que cuide dele com carinho.
-- Marcela -- Natasha apontou com um dedo para a garota esparramada na poltrona -- Pronto, está decidido.
-- Ahhh... Não! -- Marcela se levantou rapidamente da poltrona -- Eu estou sonhando há dias com essa viagem. Não fico de maneira alguma.
-- Que tal o tricoflor, então? Ele é praticamente da família -- Natasha olhou-o rapidamente, de esguelha.
-- Não fico, não fico, não fico -- Sidney recusou, na mesma hora -- Eu também quero ir para a ilha.
-- Tadinho do papai. Ele não merece o que vocês estão fazendo -- Andreia estava fisicamente, mentalmente e emocionalmente esgotada -- Eu vou ficar com ele -- ela desafiou, com cautela, colocando doçura na voz.
-- Isso está fora de cogitação -- Natasha estava irredutível -- A Jessye já entrou em contato com a doutora Talita. Pedi para que ela acompanhasse toda a recuperação do seu pai. Se for necessário a sua presença, você poderá vir na próxima semana -- ela admitiu, com voz dura.
Natasha virou-se e dirigiu-se para a porta de saída, mas Andreia, insistente, bloqueou a sua passagem.
-- Olha, Natasha. Me dá mais alguns dias -- Andreia segurou-lhe a mão com firmeza -- Apenas alguns dias.
Natasha bufou. Olhou demoradamente para Andreia e cruzou os braços.
-- Quatro dias -- disse ela, tentando parecer firme -- Caso você não esteja sexta feira na ilha...
-- Caso eu não esteja sexta feira na ilha? -- Andreia devolveu as palavras para Natasha, encarando-a com ar de desafio.
-- Eu venho te buscar -- ela respondeu, com uma ponta de ironia, observando Andreia dos pés a cabeça -- E te levo mesmo que seja arrastada.
Natasha saiu e fechou a porta atrás de si com uma surpreendente delicadeza. Andreia virou-se para Marcela e Sidney, completamente surpresa.
-- Ela foi embora? -- a ruiva fez uma careta enquanto andava até a porta -- É isso mesmo? Ela foi embora e nem se despediu de mim?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Anny Grazielly
Em: 10/09/2020
Nat sendo Nat... coitada de Andreia
Baiana
Em: 05/03/2018
Rapaz,acho que a Natasha estava jogando um verde para ter a certeza de que a Andreia não seja tão interesseira quanto a Marcela,ela percebeu que a ruiva é a única que se preocupa com o pai. E ela não faria nada que causasse tristeza na "irmã",ou que a colocasse contra ela,logo agora que a encontrou.
PS. Ainda acho que a Natasha está indo ao sabor do vento, só observando ate onde os golpistas vão.
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Mille
Em: 04/03/2018
Bom dia Vandinha
Nat deu força para a irmã, mais agora é hora de ir para casa acha que já fez tudo para salvar o pai (sequestrador) da irmã.
Marcela só pensa no bem estar dela nem deu a opinião para ficar com o pai ela realmente não tem coragem.
Tem uma pessoa doida para reaparecer a Isabel kkkkkkk Alex souber desta fuga é capaz de ter uma guerra com a senhorita Falcão.
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo domingo
Resposta do autor:
KKK... A Alex já arrancou ela de lá.
Obrigada! Beijos.
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patty-321
Em: 03/03/2018
Nat realmente é bipolar. Caramba. Muda rápido, Andréa ficou sem entender muita coisa dessa mudança de atitude repentina. Mas até q a poderosa tá sendo paciente. Bom fds querida vandinha. Bjs fraternos.
Resposta do autor:
Obrigada, meu anjo!
Um FDS cheio de luz pra você.
Beijos.
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