• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • She's Got Me Daydreaming
  • Still Here

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,495
Palavras: 51,977,381
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entrelinhas da Diferença
    Entrelinhas da Diferença
    Por MalluBlues
  • A CUIDADORA
    A CUIDADORA
    Por Solitudine

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • DESTINO - Série One Wolf - Livro 2
    DESTINO - Série One Wolf - Livro 2
    Por Ellen Costa
  • Sweet Child of Mine
    Sweet Child of Mine
    Por Rose SaintClair

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

She's Got Me Daydreaming por Carolbertoloto

Ver comentários: 0

Ver lista de capítulos

Palavras: 7822
Acessos: 4120   |  Postado em: 14/02/2018

Still Here

Pov- Delphine

Inserir-se em quadros de uma rotina colorida, porém às vezes, preta e branca.

Experimentar momentos de ternura delicada e raiva mal compreendida.

Estar com quem se ama, é assim...

Estudando os arredores dos corredores estreitos que formam o corpo de Cosima, vejo seu abdome levantar e abaixar conforme manda seu respirar. Eu poderia observa-la a noite inteira.

Caminho em sua epiderme com meus dedos de maneira suave. É possível constatar o clarão de seus pelos arrepiarem-se ao toque meu. Sua estrutura tem a temperatura adormecida e preguiça convencida. Seus cabelos estão mais compridos e menos selvagens. Os grossos fios descem e falham em cobrir os fartos e deitados seios de sonolenta moça. O castanho das mechas tocam os sensíveis mamilos enrijecidos. Analisando com maior profundidade, sigo a linha esculpida que define cada um dos músculos de uma barriga lisa e branca. E quão branca é! Parece uma jovem nuvem roubada do céu. As curvas da cintura, os abismos dos quadris, e o lençol do mesmo tom que cobre a virilha atentada e o íntimo de uma mulher só.

O abdome ainda sobe e desce.

As pernas curtas parecem uma mentira bem contada. São tão perfeitas e manipuladoras com sua suavidade e pintas tímidas em poros selados. Joelhos pontudos e donos de cicatrizes denunciantes de uma infância feliz. Panturrilhas firmes e definidas por tanto pedalar e, por às vezes, salto alto calçar. Tornozelos finos, frágeis, porém mais fortes do que os meus. Pés magros e quase tão claros quanto as costas largas e robustas. Os dedos de unhas pintadas em tom melancólico e aquela mística pinta à lateral.

Em minha visão completa, mas não satisfeita, voltei meus olhos ao pescoço de minha namorada. Clavícula sublinhada por ossos aparentes, espaço profundo pela falta de carne. Trapézio generosamente sadio e ombros casa de muitas sardas.

Ela dormia, eu sorria.

Seus lábios levemente ressecados separavam-se em uma pequena abertura para expulsar o ar. Alguns suspiros mais fortes, alguns ganidos preguiçosos. E uma beleza sem igual, só dela e só para mim. Cosima havia bebido um pouco mais do que o normal na exibição de Felix, então o cansaço a impediu de tirar a maquiagem de seu rosto. Os olhos ainda pretos do lápis e as bochechas rosadas. O cheiro do perfume usado misturado com natural odor de sua doce essência. Cada detalhe, por mim, foi observado. Entretanto, meus olhos ainda não sentiam-se prontos para abandonar a açucarada realidade e entregar-se ao repouso da fantasia.

Virei-me para avistar o quadro que comprei. Cosima fumava sua erva no parapeito da janela. As pinceladas em óleo de tom monocromático não foram capazes de captar os detalhes descritos por mim, porém apreenderam a natureza silvestre de uma jovem mulher. E ela tragava sua medicina ao pensar em mim. Sim, ela pensava em mim. Amedrontada por sentimentos nada vulgares ou leais. Consumida pela curiosidade de uma recém paixão descoberta. Inserida na ruptura de seu caráter festivo e boêmio. A moça na tela não fazia a menor ideia de que um dia estaria onde está, despida e deitada sendo observada por mim.

Não pude evitar, então sorri.

Aos poucos, dobrando os segundos, passando os minutos, esquivando o cansaço, adormeci ao lado de Cosima. Porém antes de ir, pousei minha cabeça sobre seu colo. Não há maneira melhor de aceitar a fantasia sem despedir-se da realidade.

As malas já estavam prontas. A casa já recebia o vazio de sua alegria. E Dra. Niehaus, como de costume, estava atrasada. Seu voo partia em uma hora, ela retornaria a Rhode Island sozinha, pois eu ainda precisava assinar os papeis da guarda de Charlotte.

"Amor, você vai perder a hora!" Exclamei enquanto terminava meu cigarro na varanda.

Nossa nova casa tem quintal grande, jardim em processo de construção, árvores altas e grama baixa. É um prato cheio de beleza natural, porém é mais afastada da cidade. O quê significava que Cosima, provavelmente, perderia seu avião de volta aos Estados Unidos.

"Tô pronta, tô pronta!" Informou saindo do quarto de maneira desastrosa, "Mentira, não tô não! Esqueci meu passaporte."

Sua bagunçada organização despertava-me gargalhadas impossíveis de conter.

"Tá! Agora, tô pronta." Cosima disse ao pegar sua mala laranja neon. A moça agitada vestia um casaco branco com detalhes vermelhos e calças pretas e justas.

Saímos de casa e partimos em direção ao aeroporto. Felix, Colin, Scott e Mud já haviam despachado suas malas, e enquanto esperavam a chegada da amiga, fumavam ao lado de fora do edifício.

"Finalmente, Cos!" Scott clamou aliviado.

Desci do veículo para auxiliar Dra. Niehaus com sua bagagem.

"Foi mal! Acordei tarde." Cosima explicou encabulada.

"Ficaram até altas horas fazendo um sex* lésbico, né?" Felix provocou levantando as grossas sobrancelhas.

"Não apenas um! Se é que você me entende." Retruquei sagazmente.

Enquanto todos riam educadamente, meus olhos encontram os de Cosima. A brancura do dia e de sua pele evidenciaram o verde de suas íris.

"Bom, te vejo daqui dois dias." Clarifiquei com enorme peso em meus ombros.

"Odeio ficar sem você." Respondeu cabisbaixa.

"Ei!" Busquei por seu queixo com meu indicador e polegar, "Desta vez irá valer a pena."

Toquei em seus ressacados lábios com o molhado dos meus. Acariciei sua língua gelada com o morno da minha.

"Até logo." Disse ao afastar-se de mim.

"Até logo, meu amor." Gesticulei ao observar a distância crescendo entre nós.

Quando todos haviam desparecido entre as portas automáticas, busquei meu celular.

"Felix, me avise quando chegarem. E não se esqueça de me informar sobre o andamento da surpresa."

"Sim, senhora! Hahaha.

Não me mate pela piada!

Conversei com Alison antes de sair de casa, ela já deixou tudo pronto quando chegou, então pode ficar tranquila."

"Ufa! Que bom! Obrigada pela ajuda.

Te vejo em dois dias."

Na noite que antecedeu o retorno de Alison, Paul e Donnie aos Estados Unidos. Tive uma longa conversa com minha amiga e Felix. Solicitei por ajuda com meu pedido de casamento, o qual tomaria lugar no telhado do laboratório onde trabalhei com Cosima. Ally foi encarregada da decoração enquanto Felix foi o responsável por manter minha futura noiva longe do local durante sua estádia.

Com o coração pesado, senti as batimentos ecoando em minha caixa torácica. A pressão era tanta, minhas costelas doíam por tanto suportar as ofegantes súplicas de meus pulmões por oxigênio. Minhas mãos tremiam. Meu cérebro mascarava os desesperados pensamentos com sonhos em aquarela abstrata. Eu não fazia a menor ideia de como me portar devido aos planos que corriam em meu subconsciente alerta.

Atenta à estrada, fiz meu caminho até o laboratório, onde encontrarei meus advogados e representantes do fórum. Após assinar os últimos termos, serei a guardiã legal de Charlotte, quem mal podia conter a alegria e brilho de seu espírito curado. Levará 48hrs para encerrarmos o processo e então começarmos o resto de nossas vidas.

Os músculos de minha face, os ossos de minha mandíbula e as rugas de minha expressão juntaram-se para formar o mais belo e sincero sorriso que já visitou-me.

Eu sorria, eu gargalhava, lagrimejava e encontrava a paz de um futuro simples e bom.

----------------

Pov- Cosima

Voltar para Rhode Island foi tipo um tapa na cara, daqueles bem ardidos.

Não que tenha sido exatamente como um tapa na cara, até porque nunca levei um, mas com certeza deve ser assustador.

Saindo do aeroporto, Donnie nos recepcionou com um abraço apertado, porém sem saudade. Logo, levou Scott até a casa dos pais, onde o Nerd ficaria com a namorada. Depois dirigiu até o loft, o qual ainda pertencia a Felix e seria nossa casa durante os poucos dias que passaríamos na cidade.

Donnie nos ajudou com as malas e nos informou sobre um jantar que aconteceria na casa de Paul.

"Lá começa umas 19:00, então tentem não se atrasar para não estressar a Alison." Avisou com olhares debaixo dos olhos.

"Cara, você tá acabado." Exclamei preocupada.

"Com aquele barrigão, Ally não está mais trabalhando, então assumi todos expedientes da loja." Explicou, "Mas até que a olheiras e cabelo bagunçado me deixam mais sexy."

"Olha, não vou negar." Felix adicionou em tom piadista.

"Fique calmo, Colin. Eu não jogo pra esse time." Donnie assumiu a pose de macho.

"Mas sentou no banco de reserva." Provoquei causando risos.

Após o constrangimento sair de cena, o palhaço da turma ajustou a postura.

"Eu até poderia comentar algo, mas não quero perder meu tempo. Tenho que voltar pra loja." Donnie caminhou até a porta metálica, deu um último olhar embaraçado e partiu ao som das risadas que ainda ecoavam pelo loft.

Felix ajeitou suas coisas em seu antigo quarto enquanto bolei um grosso baseado para fumarmos. Eu ainda não havia organizado meus pertences. Estar de volta era muito estranho, tudo parecia estar igual, porém o sentimento era absurdamente diferente. Meus móveis estavam embalados nas caixas e em papel bolha. Aparentemente, meu ex colega de quarto não havia tido coragem para vende-los. Entretanto, minhas cortinas amarelas continuavam fechadas, como se eu estivesse nua deitada em minha cama.

"E ai, quais são os planos?" Questionei ao dar a primeira tragada.

"Bom, vou pegar o carro e visitar minha mãe, ela tá louca para conhecer o Colin." Informou, Fe.

"Então quer dizer que vocês estão prontos para assumir o romance para a família?" Indaguei caçoando de meu amigo, até porque ele sempre foi contra relacionamentos sérios.

"Felix já conhece meus irmãos e meus pais. Nada mais justo do que eu fazer o mesmo." Colin respondeu orgulhoso de seu feito.

"Quem diria..." Traguei mais uma vez antes de passar o baseado.

"Não, miga! Minha mãe sente o cheiro de maconha a quilômetros de distância." Sorri ao lembrar de quando a Sra. Kendall veio ao loft pela primeira vez. Ela até pensou em chamar a polícia por ter encontrado um dichavador encima da mesa.

"Bom, acho que passarei a tarde toda aqui então. Me encontra no Leda à noite?" Sugeri já meio chapada.

"Cos, eu volto só sábado para sua homenagem. Tenho algumas coisas para fazer aqui." Felix soava misterioso, como se estivesse escondendo algo.

"Então porque você não vai levar todas suas malas?" Perguntei curiosa.

"Porque serão só dois dias, não preciso de tanta coisa." Clarificou impacientemente.

"Quem é você e o quê fez com meu amigo viado?" Brinquei ao soltar uma densa fumaça de cannabis.

"Ah! Vai tomar no cu, sapatão! Me liga se estiver se sentindo sozinha." Exclamou antes de buscar por seus pertences básicos.

Fe e Colin se apressaram, se despediram e logo me deixaram para trás.

Sentada em meu antigo sofá ao som de "Back To Me", por Marian Hill e Lauren Jauregui. Procurei por companhia em meus contatos do celular.

Marion estaria trabalhando.

Alison está grávida, ou seja, está mais neurótica do que o normal.

Paul estava de plantão.

Donnie estava na loja.

Shay? Seria uma audácia!

Hannah? Uma audácia maior ainda.

É! Aparentemente, eu passaria o dia todo sozinha.

Fiz uma chamada de vídeo com Delphine, porém ela demorou a atender.

"Oi amor! Chegou bem?" Perguntou.

"Cheguei! Estou aqui no loft sozinha. Todo mundo tem planos, menos eu." Desabafei.

"Ah! Sinto muito, amor! Aproveita o tempo para trabalhar no seu discurso." Sugeriu.

"Não vou preparar nada! Vai ser tudo improvisado." Brinquei.

"Por favor, me diga que não está falando sério." Franziu a testa em preocupação.

"Claro que não!" Admiti, "O quê você está fazendo?" Delphine vestia o mesmo terninho daquela manhã, e aparentemente não estava em seu escritório.

"Estou no shopping comprando algumas coisas para o quarto de Charlotte." Respondeu.

"Poxa! Você não pôde esperar para fazer isso comigo?" Resmunguei irritada.

"Tenho outras coisas para fazer aqui, amor." Explicou sucintamente.

"Quais coisas?" Insisti.

"Coisas, amor! Escuta, preciso ir agora. Liguei para sua mãe, ela disse que irá comparecer no evento, então reservei um quarto no hotel. Mas mesmo assim, tenta não deixar o loft muito bagunçado." Demandou com seriedade.

"Delphine, não sou mais uma criança!" Exclamei feito uma.

"É uma criança muito maconheira por sinal." Retrucou cheia de suas razões.

"Ah! Então para te mostrar que não sou, vou ao Leda mais tarde." Provoquei.

"Com quem? Você disse que todos estão ocupados." Indagou em tom enciumado.

"Vou encontrar uma amiga." Provoquei.

"Cosima! Que amiga é essa?" Delphine antes andava com o celular na mão, entretanto, ao cair em minha armadilha, parou de caminhar e passou a me fuzilar à distância pela tela de seu celular.

"Você conhece, amor! Tenho que ir, se não vou me atrasar! Beijo!" Rapidamente encerrei nossa ligação. E em menos de dois segundos, a furiosa loira já me ligava novamente.

Não aceitei a chamada, porém não a recusei. Permiti que o telefone tocasse em silêncio para não atrapalhar minha playlist, e para não me sentir muito culpada, virei meu celular com a tela para baixo.

Tudo parecia igual, até mesmo o sentimento estava voltando ao normal.

O jantar na casa de Paul seria às 19:00, e eu ainda estava largada em meu sofá às 18:00. Felix e Colin não compareceriam, Scott e Mud não haviam confirmado. Então mandei uma mensagem para avisar que eu, também, não estaria presente. E obviamente, Alison não demorou a responder. Reclamando sobre todo o esforço em vão, minha amiga me deu uma lição de moral, mas logo desistiu de insistir.

Eu não estava no clima para um jantar comportadinho, afinal, todo meu corpo pedia por diversão. E em um incentivo corajoso, tomei uma ducha rápida e me vesti conforme minha limitada opção de roupas permitia: calça jeans rasgada, regata do Artic Monkeys e all star preto.

Preferi guardar meus vestidos para os outros dias.

Fiz minha maquiagem usual, soltei meus dreads e, de maneira exagerada, borrifei perfume demais para disfarçar o prolongado cheiro da maconha em meus poros.

Encontrei minha antiga bicicleta encostada perto da velha máquina de lavar que nunca usamos, os pneus estavam murchos, mas isso não foi nenhum empecilho. Em uma das caixas, busquei pela bomba. Após terminar os reparos em minha antiga companheira, coloquei meus fones de ouvido e ao som de Alanis morissette, fiz meu caminho até o Leda.

Era uma quinta-feira à noite, ou seja, o bar estava lotado.

Ao entrar no local, senti uma onda de calor com sabor de lembrança. "Babe I'm Yours", por Whilk & Misky, dava vida ao ambiente. As luzes estavam mais baixas do que me recordava. Caminhei até o balcão desviando dos corpos dançantes. Marion abriu um lindo sorriso ao me ver.

"Cosima!" Sua voz continuava rouca por tanto gritar.

"Hey!" Abracei seu longo corpo saudosamente.

"Fiquei sabendo que você vai ser homenageada na Brown." Exclamou surpresa.

"Quem diria, não?" Brinquei.

"Pois é! E ai, vai pedir o quê?" Questionou voltando para sua posição.

"Hum! Acho que vou de Apple Martini." Respondi ainda indecisa.

"É pra já!" Balançou a cabeça.

Sentei em uma das poucas banquetas vazias. Analisei o local com estranheza. A mesa onde minha turma e eu costumávamos sentar, estava ocupada por pessoal que nunca vi em minha vida.

"Cosima Niehaus..." Eu já havia pensado que isso fosse acontecer.

"Shay! Como vai?" Virei para encarar um rosto quase esquecido no passado.

"Muito bem e você? Cadê sua dona?" Indagou maldosamente.

"Tô bem! E minha namorada só chega no sábado." Retruquei em correção ao ridículo termo.

"Ela sabe que você está aqui sozinha?" Insistiu em me humilhar.

"Claro que sim." Menti, "Como sabe que estou sozinha?"

"Bom, não vi nenhum dos integrantes da sua gangue, então assumi que estivesse sozinha." Clarificou analisando meus braços.

"Estão todos ocupados." Afirmei após receber minha bebida.

"Estou com algumas amigas." Apontou ao grupo de meninas em uma mesa privilegiadamente posicionada perto do palquinho, "Vem comigo."

"Ah! Melhor não, estou bem aqui." Engoli quase todo meu drink.

"Vamos lá! Quero te apresentar minha namorada." Persistiu mais um pouco.

Entendo que seria uma péssima ideia me juntar ao grupo de sapatões, entretanto, eu estava mesmo sozinha e procurando por diversão. Além do mais, Delphine ainda estava no Canadá, não apareceria do nada para me matar.

Suspirei fundo, "Okay, vamos lá."

Havia duas cadeiras vazias, me sentei ao lado de uma bela mulher com cabelos super curtos e loiros, quase tão loiros quanto os de Shay.

"Meninas, essa é Cosima, minha ex." Uau! Não dava para ficar mais esquisito.

"Prazer..."Sorri com dentes escondidos.

"Ouvimos muito sobre você." Uma mulher de tatuagem no pescoço exclamou.

"É quase tudo mentira." Brinquei em resposta.

"Você não transou com sua professora enquanto estava com Shay?" Questionou a bela moça ao meu lado.

Santa merd*!

"Na realidade, e-eu..." Gaguejei.

"São águas passadas, meninas." E eu pensando que a noite não tinha como ficar mais esquisita. Reconheci o suave daquela voz, captei o aroma que já não tinha mais nenhum efeito sob mim.

"Hannah!" Tentei não soar desesperada.

"Cosima, como vai?" Questionou animada.

"B-bem." Eu precisava parar de gaguejar.

"Cos, está é minha namorada Hannah! Calma, vocês já se conhecem, né? E muito bem por sinal." Shay comunicou ao levantar-se para beijar sua parceira.

"Sim, estudamos juntas." Retruquei disfarçando meu embaraço.

"Vocês também dormiram juntas por um tempão, né? Aliás, Cosima transou com a professora enquanto estava com Hannah também! Que loucura, não?" Eu poderia socar o lindo rostinho de minha ex-namorada.

"Nossa, você deve mesmo amar essa professora." Assumiu, a moça ao meu lado.

"Sim!" Respondi sem ter nada para beber.

"Vou pedir uma rodada de tequila, o quê acham?" A Tatuada sugeriu.

Todas concordaram, até mesmo eu. Só tequila me faria sair viva daquela mesa.

"Desculpe, não me apresentei, pode me chamar de Alex." O nome dela combinava com seu estilo despojado e cabelos curtos.

"Acredito que não preciso me apresentar, certo?" Fazendo piada, alcancei sua mão.

"Pois é!" Alex sorriu exibindo suas profundas covinhas, "Me conte mais sobre você, Cosima."

"Amiga, cuidado! A estrada que você está prestes a tomar, não tem volta." Interrompeu Hannah, e tal comentário causou risos em sua nova namorada.

Eu deveria ter selecionado minhas exs melhor.

"Bom, eu moro em Toronto, trabalho em Instituto que produz vacinas e experimentos médicos. Namoro com minha ex-professora, mas ela ainda continua sendo minha chefe. Vamos nos tornar mães em alguns dias, adotamos uma de nossas cobaias humanas. Trabalhei no Leda por vários anos, onde conheci Shay. Nós namoramos por pouquíssimo tempo, na realidade, ela me pediu em namoro porque sentiu que eu estava me apaixonando por minha professora. O quê me lembra, Delphine também deu aula pra Hannah. Mas diferente de Shay, Hannah e eu não namoramos, ficamos juntas durante o verão, porém eu ainda amava outra mulher. Terminamos amigavelmente, ou pelo menos foi o quê pareceu." Detalhei de maneira direta sem pausas para repor meu oxigênio. Foi incrível analisar as expressões e reações das meninas, até mesmo a Tatuada ficou em pé segurando a bandeja com nossos shots sem atrapalhar minha fala.

Suspirei novamente, mas desta vez, triunfantemente.

"Hannah dormiu com meu melhor amigo, quem antes namorava com Delphine. Ela ainda contou sobre meu caso com minha professora. Paul me pediu para terminar tudo com minha namorada, já que ela estava grávida de seu filho." Eu estava pegando fogo, "Resumindo, não sei exatamente o quê vocês ouviram, mas Hannah e Shay tentaram de tudo para me separar de Delphine. E acho que já deu pra ver que nada funcionou."

Peguei um shot e o bebi sem fazer careta.

"Vou buscar outra rodada." Alex levantou e caminhou juntamente com a Tatuada.

"Foi pra isso que você me chamou, Shay?" Questionei curiosa.

"Não!" A Loira respondeu arrumando sua franja bem feita.

"Olha, já pedi mil desculpas para vocês duas. Eu não tive a intenção de machucar ninguém, então podemos seguir em frente? Podemos ficar de boa?" Sugeri pelo fim da guerra.

"Tudo bem." A Ruiva gesticulou.

"Bom, eu vou embora agora. Passamos muito constrangimento em uma só noite." Educadamente, levantei, "Muito obrigada pelos drinks."

Fui me afastando mais e mais por entre rostos embriagados na pista. Arrisquei sorrir em direção a Marion, porém ela estava ocupada com Alex e a Tatuada. Dei uma última olhada aos arredores e então me retirei sem mais delongas. Montei em minha bicicleta e pedalei até a adega na esquina de casa. Comprei dois fardos de Corona e alguns limões.

Ao chegar em casa, abri uma cerveja, tirei minhas calças, deitei no sofá e ao som de "Wish I Knew You", por The Revivalists, fumei um bom baseado na celulose.

Devo ter cochilado por uma hora, não sei ao certo. Entretanto, acordei com a mesma música tocando junto às batidas em minha porta.

Em minha cabeça, não cogitei ser nenhuma visita imprevisivelmente surpresa, porém eu já deveria ter aprendido a sempre esperar o inesperado, pois, sem calças, atendi a porta.

"Cos, preciso falar uma coisa." Shay estava completamente bêbada e com a franja bagunçada. Ela nunca deixava a franja bagunçada.

"Entra!" Liberei a passagem já sentindo o peso da culpa em meus ombros.

"Olha, eu preciso entender." Iniciou entre soluços, "Por que não demos certo?"

A Loira embriagada sentava ao sofá enquanto seus olhos deitavam em minhas pernas despidas. Shay mordeu seu lábio inferior discretamente, exatamente como ela fazia ao sentir tesão.

Apressei-me para sentar ao seu lado. Busquei por minha cerveja na metade, e para piorar a situação, ela estava quente. Então levantei novamente para pegar outra na geladeira.

"Pega uma pra mim também." A Loira demandou.

Não era uma boa ideia dar mais bebida para minha ex, porém aquela noite foi composta por ideias ruins. O quê seria mais uma, certo?

"Aqui está." Entreguei a garrafa gelada em suas mãos.

"Então, me responde! Por que não demos certo?" Insistiu.

"Shay..." Balancei minha cabeça após um longo gole, "Você foi maravilhosa, uma ótima amiga, mas o problema fui eu. Me apaixonei por Delphine."

"Você não sentiu minha falta? Falta do meu beijo?" Questionou pousando sua mão livre em minha coxa.

"Você sabe como é quando nos apaixonamos. Não conseguimos pensar em mais ninguém." Amenizei o ambiente com palavras banhadas em eufemismo.

"Você é quem não sabe, quem não faz a mínima ideia de como é se apaixonar por alguém como você! E mesmo depois de tudo, cá estou, te olhando feito a tola de sempre." Shay sempre foi muito cuidadosa com suas palavras, porém desta vez, fez bom uso de sem vocabulário, "Eu tentei várias vezes te ganhar, mas perdi cada uma delas. E eu tento segui em frente, até que funciona às vezes, mas como ganhar sendo que estou destinada a sempre perder. Nós tínhamos tudo, Cosima. Como fui perder você?"

Um longo silêncio preencheu os cantos e buracos do ambiente.

Uma lágrima escapou da prisão de olhos azuis feito o céu do campo.

"Me perdoe, Shay." Não haviam palavras suficientes. Eu jamais entenderia o que ela passava, o que ela sentia, "Não pense em dor toda vez que pensar no amor. Você tem Hannah."

"Eu acho que sim! Hannah e eu nos damos bem." Confessou com um ensaio de sorriso teatral.

"Cosima." Virou sua cabeça em minha direção, mirou seu arsenal azul em meus esverdeados covardes, "Posso te pedir um favor?"

Seu pedido não poderia ser maldoso.

Uhum!

"Pode sim." Gesticulei feito a idiota que sou.

"Posso te dar um último beijo? Mas você tem que prometer deixar rolar até onde conseguir." Explicou.

SANTA MERDA! Essas coisas só acontecem comigo, por quê?

"Cosima, olhe bem para ela. Se Shay está assim hoje, é por sua culpa! Então beije-a" Dizia a pequena voz endiabrada em minha cabeça.

"Cos, você não pode! Como Delphine se sentiria? Não pode ficar com alguém só por piedade ou culpa." Retrucou o anjinho imaginário de tom tranquilizante.

"Mas é só um beijo." O diabinho insistiu.

"Tudo começa com apenas um beijo." Eu não estava com a menor paciência para ter uma discussão interior.

"E então, Cos?" O suave timbre da voz de Shay me trouxe de volta a realidade.

Me pergunto quanto tempo fiquei brigando contra os personagens de minha própria imaginação.

"Tudo bem! Você pode me beijar." Informei por fim.

A Loira exibia uma generosa visão de seios fartos seios com sua blusa branca sem alça. Ela chegava mais e mais perto.

"Calma!" Exclamei, "Preciso tomar um gole." Deliciei minha cerveja gelada.

Minha seca garanta agradeceu pela hidratação gaseificada.

Shay aguardou um segundo e meio, logo veio ao encontro de meus lábios. E ao sútil toque, a voz de Leon Bridges com "River", invadiu a atmosfera.

A carne de sua cavidade bucal tinha o mesmo sabor de antes, porém nada era como antes.

Nossas línguas cruzavam caminho enquanto meus olhos permaneciam largamente abertos. Com seu corpo inclinado, a Loira passeava com suas mãos em minha despida perna. Suas carícias tinham sabor de memórias guardadas.

Meus olhos selaram no papel de um momento retrospectivo.

Com um pouco mais de força após apalpar meus glúteos, Shay mergulhou sobre mim. Sua estrutura encaixou entre minhas pernas. Minha vagin*, culposamente, umedecia minha roupa íntima.

Eu não deveria ter me sentido assim.

COSIMA, PARE!

COSIMA, PARE!

COSIMA PARE!

As duas vozes em minha cabeça formavam um coral barulhento. Ambas entraram em um acordo, ambas entenderam que aquilo não estava certo.

"Shay!" Sussurrei ao remover meus lábios dos dela, "Não consigo ir além. Eu amo Delphine."

A Loira foi, aos poucos, se retirando de meu corpo.

"Tudo bem!" Suspirou profundamente, "Pelo menos pude te saborear uma última vez."

"Sinto muito." Confessei ao me recompor.

"Tá tudo bem, Cos! Sério!" Tremula e extremamente excitada, minha ex-namorada buscou por sua estabilidade.

"Posso dormir em seu sofá? Juro que saio antes que você acorde." Pediu em sinceridade desesperada.

"Pode sim." Confirmei mais uma ideia ruim.

"Valeu!" Agradeceu por fim.

Em minutos, fiquei sozinha novamente, mas desta vez em meu quarto com as cortinas fechadas e o coração na mão.

Estar novamente em Rhode Island foi, com certeza, feito um tapa na cara. E a única razão para tal era eu mesma.

Eu estava diferente, mesmo estando como antes.

____________

Pov- Delphine

Através das pequenas janelas de um avião, é possível observar o tudo contido no nada. As nuvens criam formas e desmancham conforme o vento mandar.

Ao meu lado há uma taça bem servida de champanhe e algumas castanhas brasileiras. À minha frente há um televisor vazio que reflete minha imagem pela luz matutina.

Meu coração doí em medidas justas. Minha mente trabalha sob pressão e medo.

Após assinar os documentos que trariam a guarda de Charlotte para mim, fui consumida por grande otimismo. Porém mesmo sendo a guardiã, não pude permitir a viagem de uma menina recém curada e sem passaporte. O sistema de imigração dos Estados Unidos é um dos mais dificultosos. Entretanto, sinto que se tivesse tentando mais um pouco, Charlotte estaria aqui ao invés desta taça de champanhe acompanhada por castanhas.

Gracie supervisará cuidadosamente a jovem menina sorridente em minha casa. Após a homenagem de Cosima, farei o mais importante pedido de minha vida. E com todos os afazeres feitos, minha noiva e eu nos apressaríamos para, finalmente, termos paz, termos nossa pequena família em uma casa nas montanhas.

Descrever em pensamentos aleatórios todos meus planos, até parece ser trivial, ser algo impossível e completamente fora da realidade. Entretanto, ao bater das rodas na pista de pouso, notei que não estava mais sonhando. Permaneci acordada o tempo inteiro. Meus sonhos finalmente deixaram de ser apenas isso, agora, eles são planos, e planos muito bem arquitetados.

Ao sair do aeroporto, tomei um taxi até o antigo loft de Cosima. Enquanto subias os degraus até o primeiro andar, captei uma essência por mim odiada, recordei de momentos tortuosos, e tornei-me capaz de homicídio doloso.

"Shay! O quê faz aqui?" Eu subia, ela descia. Eu chegava, ela saía.

"Delphine, tudo bom?" Seus olhos estavam mais azuis do que o normal. Talvez o inchaço de seu rosto, combinado com a vermelhidão fossem os responsáveis pela mudança do tom.

"Estou ótima! Agora me responda, o quê faz aqui?" Insisti apertando a alça de minha mala.

"Vim aqui levar mais um fora, nada demais." Era nítido que sua voz e corpo estavam de ressaca.

"Bom, então agora talvez você aprenda a ficar longe." Provoquei ao afastar-me.

"E talvez você aprenda a dar valor agora." Retrucou e rapidamente desceu os restantes dos degraus.

Observei Shay abrir e fechar a porta de entrada do edifício. Minha cabeça trabalhava em mais palavras para serem ditas àquela mulherzinha desprezível. Entretanto, prometi a mim mesma que tentaria me controlar em relação ao meu ciúme quase doentio.

Respirei o mais fundo que pude. Ajeitei meus cabelos, relaxei meu rosto cansado.

Com batidas leves, porém altas, chamei a atenção de Cosima para que ela abrisse a larga porta metálica.

"Bom dia, meu amor." Exclamei sorrindo ao ver seu rosto sonolento.

"Delphine!" Correu para meus braços feito criança solitária, "O quê faz aqui? Cadê a Charlotte?"

"Vamos entrar primeiro, pode ser?" Removi sua estrutura da minha para adentrarmos ao local.

Enquanto Cosima lutava contra o trinco da imensa porta, posicionei minha mala próxima ao sofá bagunçado que sentei. O cheiro nas almofadas eram familiares demais.

"Shay dormiu aqui?" Questionei interessada.

Cosima vestia um top casual preto.

Ao ouvir minha pergunta, pude ver os músculos de minha namorada tencionarem em culpa.

"Amor, sua ex dormiu aqui? Bem neste sofá?" Repeti em tons balanceados.

"Sim!" Exclamou antes de virar seu corpo em minha direção.

"Hum!" Exprimi meus olhos franzindo a testa, "E o quê vocês fizeram?"

"Eu não a convidei! Fui pro Leda e acabei encontrando com ela e Hannah. As coisas estavam ficando estranhas então voltei pra casa, e depois de alguns minutos a Shay veio pra cá completamente bêbada." Explicou sem pausas.

"Então você falou para ela dormir aqui?" Perguntei tentando entender o quê havia acontecido.

"Eu não pude deixar com ela voltasse sozinha naquela condição." Completou desesperada para não brigarmos.

"Cosima..." Levantei do sofá e caminhei em sua direção, "Eu te conheço muito bem. Sei quando você tem algo engasgado, sei quando você esconde coisas de mim, então me poupe de perguntas."

"Rolou um beijo!" Admitiu por fim, "Mas não significou nada pra mim! Eu te amo, Delphine."

Meu sangue borbulhava.

Minha saliva esquentava.

"Então você a beijou?" Indaguei ao andar para relaxar meus músculos.

"Não foi nada pra mim." Cosima insistia em expor seus sentimentos.

"Bom! Charlotte não tinha passaporte em dia, ela não pôde vir. Gracie está em casa com ela. Sua mãe chega daqui algumas horas, reservei um horário para vocês duas jantarem no restaurante do hotel. Estou saindo agora, vou refrescar minha cabeça." Informei ao alcançar meus pertences.

"Amor, você não vai embora, certo?" Seus olhos consumiam os meus.

Analisei a mulher em minha frente mais uma vez. Seus ombros eram largos e bem definidos, havia uma linha que demarcava cada músculo superior. Seus fartos seios encontravam-se formando uma outra linha, esta era profunda e um tanto circular. O abdome enrijecido pela tensão. Os pés e dedos agitados em posição levemente tora.

Ah! Antes mesmo de sair, eu já estava com saudade. Entretanto, eu não poderia ficar. Em alguns minutos encontraria Alison e Felix no telhado do laboratório para começarmos a decorar o local. Como a perfeita perfeccionista que sou, gostaria de tudo pronto para amanhã. A homenagem seria após ao meio dia, o pedido encaixaria entre às 14:00 ou 14:30. A semi-briga seria a desculpa não ideal, porém efetiva para tal.

"Cos, estou chateada, preciso ir. Aproveite o dia com sua mãe." Informei admirando a vista diante de mim.

"Você ainda me ama?" Questionou esperançosa.

"Sempre." Respondi antes de pousar um beijo demorado em seus lábios de ressaca.

Busquei por minha bolsa e parti em direção a porta.

Pude sentir-me sendo observada enquanto fazia meu caminho para fora.

Solicitei um Uber e fui ao encontro de meus organizadores pontuais.

Ferdinand, o segurança do laboratório, permitiu minha entrada e avisou-me sobre os visitantes. Subi com elevador até o penúltimo andar, então escalei o pequeno lance de escadas até o telhado.

Ao alcançar meu destino, fui surpreendida por uma equipe de decoração que começava a instalar a estrutura do gazebo branco em madeira e as luzes em postes improvisados. Felix, Colin e Alison coordenavam os funcionários enquanto seguravam pranchetas de cor rosa.

"Uau!" Gesticulei com olhos bem abertos.

"Amiga!" Ally caminhou até meus braços, "O quê está achando?"

"Serei bem sincera..." Limpei minha garganta seca, "Pensei que iriamos ter que fazer tudo! Até troquei meus sapatos no carro."

"E você realmente achou que Alison perderia a oportunidade mandar em uma equipe?" Felix brincou antes de me cumprimentar com seu namorado.

"Pois é!" Sorri aliviada.

"Bom, tudo está caminhando como previsto. Amanhã enquanto a homenagem rola, os floristas irão terminar a decoração. E enquanto você atrai a Cos pra cá, estaremos aqui dando o último toque." Ally informou animada.

"Tudo bem!" Exclamei surpresa com tamanha organização.

Passamos o final do dia até o cair da tarde fazendo planos e melhorando cada um deles. E após horas de brainstorming, retribuí o favor pela metade com um jantar em um restaurante não muito distante do campus.

Felix informou que não poderia voltar ao loft, pois Cosima pensava que eles ainda estariam na casa de sua mãe fora da cidade. Então o afeminado rapaz e seu namorado passariam esta última noite na insana residência de Alison e Donnie.

Solicitei outro Uber para voltar, e ao chegar encontrei Cosima adormecida. Ela vestia os trajes que usou para passar a tarde com a mãe.

Sua boca estava suavemente aberta. O cheiro de cannabis impregnava o local. Suas pernas pálidas estavam quase para fora da cama. Era impossível esconder o riso.

Cautelosamente, despertei minha namorada de seu sono. Auxiliei seu corpo sonolento a sair das roupas desconfortáveis. Em um sutiã branco e calcinha preta, Cosima voltou a dormir.

Removi minhas roupas e selecionei uma camisola cinza com rendas pretas, escovei meus dentes e antes de deitar ao lado de minha amada, discretamente estudei os detalhes de nosso anel de noivado. Mesmo com tantos diamantes, o brilho não era capaz de ser comparado com a resplendência contida ao redor da menina de corpo cansado.

Sorrindo satisfeita e com uma tímida e salgada lágrima correndo por minha face, suspirei. Pousei meu corpo à cama, trouxe Cosima ao zelo de meus braços, e sem muito esforço, mergulhei em um sono de cores primárias, quase tão belas quanto as cores de um arco-íris após uma escura tempestade de outono.

___________

Ao despertar do sol, suas luzes invadiram a janela grande de madeira envelhecida. Pela claridade soube que era a hora de levantar. Pousei um singelo beijo em Cosima, quem demorava à acordar. Não precisei de relógio para entender que havíamos pouco tempo.

"Bom dia, amor." Sussurrei, "Levante. Está na hora."

Em um pulo assustado, a homenageada do dia abriu seus olhos de tom esverdeado.

"Puta merd*." Exclamou ao retirar-se da cama, "Preciso tomar um banho."

"Então corre, vou preparar um café." Informei.

Cosima apressou seus passo até o minúsculo banheiro, e em alguns segundos, ouvi o som da água correndo.

Com pés descalços, caminhei até a cozinha. Fervi a água e preparei o pó. Logo o inconfundível cheiro invadiu o bagunçado loft.

"O quê você acha?" Distraída pela contemplação da manhã, deixei o tempo passar e mal percebi a repente presença de minha amada. Ela vestia uma saia social cinza e uma camisa branca apertada.

"Uau! Você foi rápida." Sorri, "E está maravilhosa."

"Obrigada." Respondeu enquanto suas pálidas bochechas ganhavam cor, "Tô muito nervosa."

"Fica tranquila, tudo vai dar certo." Confortei-a enquanto segurava minha xícara escaldante.

"Vou tomar meu banho! Aproveita o tempo para relaxar e comer alguma coisa." Levantei da banqueta, entreguei minha bebida em suas mãos tremulas e, por fim, beijei seus lábios de sabor mentolado.

"Não demora." Exigiu em tom piadista.

"Pode deixar." Retruquei ao caminhar em direção ao banheiro.

O local estava completamente desorganizado. As maquiagens de Cosima formavam um caos sobre a pia. Ela ainda terminaria de se aprontar para o grande evento.

Enquanto infinitas gotas geladas caiam sobre minha estrutura desperta, revisei cada passo de meu plano. Cada momento que antecederia o grande pedido.

Acredito não ter levado muito tempo, porém mesmo assim, Dra. Niehaus adentrou o ambiente desesperada.

"Será que prendo meu cabelo?" Indagou.

"Acho uma boa ideia, amor." Respondi enquanto terminava de tirar o sabonete de minha pele.

"Valeu!". Buscou por elásticos, juntou todas suas selvagens mechas para que ficassem contidas em um coque.

"Bom, vou me trocar! Fico pronta em dez minutos." Avisei enrolando a toalha ao meu redor.

"Tá! Só vou passar um pó e um delineador." Explicou sua preparação.

De volta ao pequeno quarto definido por cortinas extremamente amarelas, abri minha mala para selecionar meu traje. Um terno social e feminino nas cores pretas e cinza claro.

Admito o prazer em ver que mesmo depois dos trinta anos, meus glúteos continuam firmes e bastante elevados.

Penteei meus cabelos, borrifei perfume e decidi não usar maquiagem por falta de tempo.

Ao passar dos dez minutos previstos, Cosima e eu solicitamos um Uber até o Campus. Fomos recebidas pelo reitor, pelo chefe do departamento de ciências biológicas e Aldous. Meu mentor não daria discurso algum, apenas estava presente para seguir o protocolo do Instituto. Trocamos míseras palavras, depois fomos dirigidos ao saguão do auditório. Um pequeno coquetel estava sendo servido. Mimosas e petiscos, afinal era uma manhã de sábado.

Enquanto Cosima revisava seu discurso, fui ao encontro de sua mãe, quem estava muito bem acompanhada por nosso grupo de amigos.

"Bom dia, pessoal." Exclamei.

"Amiga, já é boa tarde." Alison e sua enorme barriga corrigiram-me.

"Sim! Boa tarde." Gargalhei levemente.

"Delphine, tudo está pronto. Após o discurso iremos dar um check final." Felix informou animado.

"Pra onde vamos depois?" Paul e sua voz eram duas das coisas que mais estranhei ao voltar.

"O plano é continuarmos lá e beber champanhe." Expliquei.

"É um bom plano, mas acho que poderia rolar um Leda mais tarde." Donnie sugeriu agitadamente.

"Vocês podem ir, mas eu gostaria de levar você, Senhora Niehaus, para jantar." Mirando nos olhos de minha futura sogra, clarifiquei.

"Imagina, Delphine, amanhã podemos ir. Vocês precisam sair, beber, se divertir hoje." Cosima não parecia nada com sua mãe. Ela tinha olhos azuis e uma boca envergada para baixo, como se estivesse sempre em contato com a tristeza.

"Pronto, problema resolvido. A primeira rodada é minha." Donnie exclamou ansiosamente.

"Enfim, reservei a segunda fileira para vocês. Não demorem para sentar, pois já já vai começar." Informei ao checar meu relógio.

Meus amigos e futura sogra partiram em direção ao auditório. Acompanhei seus passos até chegarem às poltronas. No caminho, avistei a presença de duas mulheres, Shay e Hannah.

Algumas pessoas não deveriam ser capazes de respirar.

Suspirei fundo e decidi não desperdiçar meu tempo me incomodando com coisas triviais. Então, fui ao encontro de Cosima atrás do palco.

"O reitor vai entrar agora, depois é você, depois sou eu." Ela ofegava e tremia, tremia e ofegava.

"Calma, amor." Com braços de cunho familiarizado, confortei sua pequena estrutura.

O evento foi distribuído em três partes. O reitor seria o primeiro a falar e faria uma breve introdução sobre o curso de biologia, sobre a qualidade do campus e encerraria dando a palavra a mim.

Meu trabalho era não demorar muito, porém por meio de palavras claras e diretas, meu dever era resumir todo o processo das vacinas desde o projeto que propus quando professora. E antes de introduzir a grande homenageada, eu teria de tocar um vídeo sobre a Dyad, sobre nossas cobaias antes e depois do experimento.

De acordo com o cronograma, Cosima entraria no palco às 13:20. Receberia uma medalha de honra do reitor e um enorme buquê com rosas vermelhas de mim. Por fim, a homenageada explicaria os maiores obstáculos que enfrentou não somente durante o experimento como também durante sua trajetória como cientista.

E conforme o previsto, todas as três partes do evento foram pontuais e concluídas com êxito. Após o término do discurso de Dra. Niehaus, Alison e Felix saíram do auditório sorrateiramente. Combinamos que quando tudo estivesse pronto, quando o restante de nosso grupo já estivesse posicionando discretamente no telhado, Ally enviaria um SMS para subirmos.

Enquanto Cosima agradecia todas as pessoas presentes, sinalizei para Paul, Sarah, Colin, Scott e Mud seguirem com o plano. Permiti que minha amada curtisse seu momento, então a deixei sozinha no coquetel e caminhei até minha antiga sala de aula.

Andar pelo campus, passear pelos corredores e revisitar meu antigo lugar de trabalho trouxeram sentimentos saudosistas com uma pitada de arrependimento. Muitas vezes me questiono se fiz a coisa certa ao abandonar minha carreira acadêmica. Entretanto, olhando para minha vida agora, com Cosima, Charlotte e a calmaria das montanhas canadenses, não tenho dúvidas sobre ter, finalmente, encontrado meu lugar, minha felicidade.

Sentei na carteira da primeira fileira, fiquei me imaginando à minha frente, explicando sobre conceitos e teorias, sobre perdas e ganhos, sobre imunologia e genética. Meu coração palpitava pela saudade.

"Achei você!" O rouco suave tom daquela voz manipuladora despertou-me.

"Ei! Quis deixar você aproveitar seu coquetel." Esclareci ao observar Cosima caminhando em minha direção.

"Cara, eu sofria tanto quando você era minha professora." Confessou ao diminuir cada vez mais a distância entre nós.

"Por quê?" Questionei intrigada.

"Bom, primeiro porque eu precisava te impressionar academicamente e segundo porque eu não parava de pensar no quanto eu queria te ter." Clarificou sentando em meu colo, "Eu estava obcecada por você."

"E mesmo assim chegava atrasada e com muitos ch*pões no pescoço." Provoquei apalpando seus fortes glúteos.

"Eu lembro desse dia! Você ficou puta da vida, até pensei que fosse ou me matar ou me beijar." Admitiu sorrindo lindamente.

"Eu queria te matar, mas antes eu queria poder beijar seus lábios. Estavam tão ressecados aquele dia, eu precisava hidratara-los." Informei sentindo seu aroma em meus ossos.

"Eu te amo, amor." Olhando para mim, ela disse.

"Ainda é obcecada por mim?" Questionei antes de dar o link para meu plano final.

"Sou cada vez mais." Respondeu.

"Então, vem comigo." Exigi ao auxilia-la a levantar.

"Pra onde vamos?" Insistiu.

"Só me siga." Demandei fazendo o caminho até a porta.

Com os dedos entrelaçados nos meus, pude sentir seu coração bater forte. Passamos pela fonte ao meio da praça central, atravessamos a cafeteria e então adentramos o laboratório. Ferdinand sorriu ao permitir nossa entrada. Subimos com o elevador até o penúltimo andar, escalamos a curta escada, e então abri a porta de acesso ao telhado.

A primeira fresta de luz solar evidenciou o colorido do lado externo. Flores delicadamente posicionadas, um gazebo perfeito em branco, luzes em bolas de tecido marrom claro, pétalas e arranjos com margaridas, orquídeas e rosas azuis. O amarelo dos balões de hélio, o doce som da canção "Never Got Away", por Colbie Caillat...

As mesas de pallet com tinta colorida.

A atmosfera.

A gravidade.

O oxigênio e a falta dele.

A expressão de surpresa.

A linda boca semiaberta.

"O quê é isso?" Cosima questionou o óbvio.

"Meu amor..." Virei seu corpo ao meu, "Sou apaixonada por você desde que te vi. Fiz tantas coisas erradas, tomei decisões egoístas. Senti raiva, senti ódio. De tudo e todos erros e acertos, falhas e excelências, conquistas e derrotas...meu amor, você é a parte de mim que nunca quero perder. Você é o que me falta, você é o que nunca falha, você me constrói, me renova e me faz aprender." Lágrimas doces nos invadiam.

"Cosima..." Desci em um joelho, removi a pequena caixa de meu bolso, "Você é obcecada por mim e eu sou por você. Não quero muito, mas desejo tudo o quê pode me dar. Não sou perfeita, mas com você sou melhor. Então fica comigo e, assim como eu, prometa nunca mais ir embora. Não temos mais amor para desperdiçar, então casa comigo? Seja a família que nunca tive e sempre almejei?"

O verde daqueles olhos ficava cada vez mais claro. As gotas escorriam naquela face avermelhada. E aquela boca de lábios carnudos e pontudos abria-se milímetros por segundo.

"Sim!" Sussurrou entre a secura e ânsia de sua garganta.

"O quê?" Insisti pela confirmação.

"SIM!" Gritou, "Eu aceito ser sua família, ser sua mulher."

"Santa merd*!" Exclamei ao levantar para guardar seu corpo dentro de meu abraço.

Enquanto a música ainda tocava, nossos amigos saíram detrás de uma cortina ao lado do gazebo. Eles sorriam, riam, berravam e choravam.

"Vai ser Cosima Cormier ou Delphine Niehaus?" Donnie questionou em tom alto.

"Será o quê for." Retruquei, "Desde que estes anéis nunca mais saiam de nossos dedos." Completei ao posicionar a joia naquele anelar tremulo e branco.

"Agora, podemos beber." Felix exclamou ao ordenar o garçom que se escondia com seu carrinho de bebidas ao outro lado do telhado.

"Todos, menos eu." Alison completou.

Com taças em nossas mãos e sorrisos em nossos rostos, brindamos em nome do amor, da amizade e do acaso.

Festejamos sem pressa.

E ao adeus do sol, partimos para o Leda. Todos nós, exceto a mãe de Cosima, quem misteriosamente desapareceu com o reitor da universidade.

Sentados em nossa antiga mesa, com mais integrantes em nosso não tão pequeno grupo, ouvindo uma música qualquer e bebendo doses de tequila Patron. Aproveitamos cada segundo que passava por nós. Donnie contava piadas sem o menor sentido, Paul sorria em alegria, Alison se controlava para não beber, Felix imitava as expressões do nosso cômico amigo, Scott associava o conteúdo da piada com uma HQ antiga, e Cosima...

Ah! Cosima fingia não me olhar tanto. Ela sentava à minha frente ao lado de Colin. Seus olhos me encontravam por desejo e me desencontravam por teimosia.

Com seu pé carente em um truque familiar e certeiro, senti seu toque por debaixo da mesa. Ela acariciava meus tornozelos e canelas. Seu sorriso crescia em mimo. E o anel em sua mão direita brilhava com diamantes não tão esmeros quanto a paz que senti naquele momento.

E enquanto o momento passava, sendo roubada por uma menina problema, pensei comigo mesma...

...Não controlamos o correr de um rio. Não prevemos tragédias. Não sabemos o caminho até o final do arco-íris.

Não escolhi me apaixonar, tampouco optei por me perder nas graças de uma jovem estudante. Entretanto, ela me ganhou com um respiro, me bagunçou com seu jeito e me fez encontrar um caminho que não sabia se era possível seguir.

E estamos aqui ainda, sonhando acordadas, porém sem realmente precisar.

Por quê?

Porque com o amor é assim, não escolhemos sentir, mas decidimos como prosseguir.

E a trilha é árdua, perigosa, injusta e cruel. Porém a vista daqui do topo, do destino final, é linda, é de tirar o ar. É quase tão bela quando sonhos em aquarela. Mas é melhor ainda, pois Cosima é minha e eu sou e sempre fui dela.

Àqueles que nos ouviram, àqueles que por nos torceram. Aos sonhadores e apaixonados, desejo uma vida complicada e um amor que possa simplificar os problemas. Nada é como queremos, mas tudo, exatamente tudo, é como merecemos, como fazemos ser.

Lute pelo amor e apenas por amor. Não desista de ser feliz seja com que for.

No final tudo fica bem, assim como sonhos despertos e noites de calor.

Fim do capítulo

Notas finais:

Chegamos ao fim de uma estória interminável. É incrível o poder da imaginação na arte. Desenhos, fanfics, one shots e etc. Cophine, um casal homossexual que conquistou muitas pessoas dando coragem para serem quem são. 

Leitores e Leitoras, agradeço por chegarem até aqui, por terem me dado tamanho suporte e carinho. Espero ter inspirado o coração de vocês, espero também ter trazido alegria e lágrimas doces.

O fim chegou, mas ainda dá tempo de começar ou recomeçar. Viver um romance do zero, como se fosse a primeira página de um livro ou o prólogo de outro. 

Imenso agradecimento à editora Nayssa War (nome em rede). Obrigada por não me deixar desistir e por revisar palavras e sentimentos que saiam sem rumo ao longo de uma página digital em branco. 

 

Ps: Do not forget to fall in love today and always. 


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior

Comentários para 40 - Still Here:

Sem comentários

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web