Capítulo 17 VOCÊ NUNCA ERROU POR AMOR?
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 17
Você nunca errou por amor?
Sob a luz difusa do corredor, Natasha parecia uma visão. O cabelo castanho comprido à altura do ombro, a pele aveludada do rosto e algo misterioso na sua expressão, fez com que Andreia tremesse e se segurasse ainda mais forte a porta. Ela Assemelhava-se a uma gata siamesa de lindos olhos verdes e o sorriso que formavam covinhas fofas nas bochechas.
Sua presença era tão avassaladora e dominante, que fez com que Andreia sentisse uma súbita sensação de pânico, um desejo ardente de fechar novamente a porta. Sentiu um gosto amargo na boca. Muito nervosa, fez um grande esforço para se controlar. Então, ela finalmente ia conhecer Natasha Falcão!
Natasha ficou parada, olhando para ela com ar abobalhado. Estava tão emocionada que seus olhos ficaram úmidos. Era sua irmã, não tinha como se enganar. Carolina não tinha nenhuma semelhança com ela, o que desde criança sempre intrigava os estranhos. Aqueles olhos castanhos brilhantes e os fartos cabelos ruivos eram herança de Ângela, a querida mãe.
Natasha inclinou-se em direção à porta aberta, os olhos molhados e tempestuosos fitaram Andreia com carinho.
-- Posso entrar? -- perguntou, receosa, avaliando o rosto da irmã por alguns segundos -- Ou vai bater a porta na minha cara?
-- Estou surpresa -- disse ela, ignorando a pergunta e enfatizando a ausência de boas maneiras. No entanto, ser educada era a menor de suas preocupações no momento. Não quando aquele sotaque soava como um Fado encantado e hipnotizante.
-- Acho que vai bater a porta na minha cara -- Natasha riu, um riso seco, um som baixo que pareceu ressoar diretamente nos ouvidos de Andreia.
-- Ai meu Deus! Desculpa! -- ela inspirou profundamente e despejou as palavras -- Entra, como eu sou desligada.
-- Obrigada -- Natasha, agradeceu com o olhar passeando pelo corpo de Andreia, desde os olhos e seguindo uma trilha por suas curvas, passando pelas pernas e chegando até as sandálias de salto que ela usava. E fazendo todo o caminho de volta -- Você costuma ir a praia de salto alto? -- disse ela, os cantos da boca elevando-se em um sorriso maroto.
Somente naquele momento, Andreia se deu conta que estava usando apenas um biquíni. As faces pálidas da ruiva ficaram vermelhas na hora. Ela olhou para Natasha com os olhos arregalados, assustada por se sentir praticamente nua dentro daquela peça minúscula.
-- Ah, é que eu... -- ela gaguejava e corava -- Jesus! Isso é muito embaraçoso. Vou até meu quarto colocar uma roupa.
-- Não -- Natasha foi até ela e segurou seu braço -- Espera um pouco.
Andreia mordiscou o lábio superior lentamente.
-- Fala -- pediu, lutando para manter a voz neutra.
-- Eu nunca deixei de acreditar que você estava viva -- confessou Natasha -- Não sei explicar o porque, só sei que eu sentia em meu coração. Você entende?
Andreia entendia, estava evidente nos olhos da empresária o desejo que tinha de encontrar a irmã e, isso doeu demais nela.
-- Eu entendo.
Seus olhares se cruzaram, e as duas permaneceram longo tempo como que hipnotizadas, se contemplando.
-- Posso lhe dar um abraço?
Andreia sentia-se como se o ar fosse lhe faltar. Uma coisa era ficar de biquíni em frente a mulher de olhos verdes misteriosos, e outra, era imaginar-se nua abraçada a ela.
-- Posso? -- Natasha repetiu o pedido.
-- Pode -- ela concordou timidamente.
Natasha enlaçou Andreia em um abraço caloroso e apertado. As mãos macias lhe tocaram a pele nua e alva. A ruiva não podia acreditar que havia concordado com esta mentira. Mas agora era tarde demais para voltar atrás. Deixou-se abraçar, no início tesa, retraída, mas aos poucos foi aconchegando-se naqueles braços reconfortantes, quentes e fortes. Nunca havia recebido um abraço tão gostoso, tão verdadeiro como aquele.
Natasha fechou os olhos, saboreando o calor que emanava do corpo de Andreia. Inalou o doce perfume dela e sentiu todos os fantasmas do passado irem embora. A paz a rodeava. Com certeza, naquele momento, ela deu um passo em direção ao céu.
Andreia escutou o leve ruído de Sidney por cima dos ombros de Natasha e abriu os olhos. Ele gesticulava, fazia caretas desesperadas, arrancava cabelos e finalmente, apontou para a mala rosa da Sibele que estava no chão da sala.
Andreia estremeceu. Caso Natasha visse a mala, poderia facilmente reconhecê-la como sendo a de Sibele. Então, tinha que pensar rápido em uma saída estratégica.
Saindo daquele abraço apertado, Andreia tornou-se a própria reencarnação da irmã desaparecida. Ela afastou o encantamento e se concentrou no plano.
-- Obrigada por nunca ter desistido de mim -- declarou enquanto beijava carinhosamente o rosto de Natasha -- Isso demonstra o quanto me ama. É tão bom sentir-se amada dessa forma.
Andreia olhou de relance para Sidney, ele permanecia em pé escondendo a mala atrás das pernas, aguardando uma oportunidade de arrastá-la para o quarto.
-- Eu te amo muito, minha bonequinha -- Natasha não pôde deixar de retribuir com um beijo carinhoso no rosto da irmã -- Lógico que você não se lembra, mas era assim que eu te chamava -- quando era criança, Carolina chegava a sofrer bullying devido as suas sardas e aos cabelos ruivos rebeldes. Mas agora, aquele brilho tímido no olhar, aqueles cabelos volumosos e macios, eram o exemplo clássico de como o tempo faz bem a algumas pessoas. Ela se tornou uma mulher linda -- Temos muito o que conversar, quero saber de tudo o que se passou em sua vida nesses vinte e poucos anos -- Natasha falava animada -- Papai e mamãe devem estar muito felizes com o nosso encontro.
-- Nós teremos todo o tempo do mundo para conversar. Quero que me conte tudo sobre os nossos pais, tudo sobre você -- Andreia se inclinou na direção dela, abriu os braços e sorriu -- Mas no momento, eu quero mais um abraço e um aconchego que só os irmãos podem dar.
Natasha sorriu, emocionada com aquela amável recepção. A irmã aproximou-se e ela abraçou-a.
Sidney percebeu que era a deixa para ele agir. Com cuidado, arrastou a mala de Sibele até o corredor.
-- Sidney?
O chamado brusco soou da porta do quarto. Sidney estremeceu ao ouvir a voz de Sibele.
-- Aiii... Meu Deus! -- Sidney levou um susto, e colocou a mão sobre a boca -- O que faz aqui. Pensei que estivessem com o detetive Vanderlei.
-- Estávamos com ele, mas a conversa foi rápida e voltamos cedo para o apartamento -- Sibele olhou para a mala e depois para ele -- O que você está aprontando? Aonde vai com a minha mala?
-- Fique sabendo que estou salvando a sua pele -- disse zangado -- Espia quem está lá na sala. Mas, toma cuidado para não ser vista.
Sibele espiou pela fresta da porta, quando seus olhos pousaram sobre a mulher que, em pé, conversava de perto com Andreia. O sangue fugiu-lhe completamente do rosto. E só a muito custo conseguiu dominar o pânico.
-- Natasha -- ela pronunciou o nome da chefe como se achasse que tinha visto um fantasma.
-- Ela mesma. Em carne e osso -- Sidney encostou a porta lentamente e se virou para a médica -- Não fique aí parada como uma idiota! Chama a Marcela para ajudar a Andreia.
-- Ajudar em que? -- Sibele sorriu trêmula, muito agitada, muito nervosa -- Ela pareceu estar bem à vontade, agarrada à Natasha daquele jeito... A respeito da questão, que mal lhe pergunte, por que ela está vestida com aquele look extravagante de biquíni fio dental e sapato de salto alto? Andreia está pensando que é a Lady Gaga?
-- O que está acontecendo? -- Marcela saiu do quarto e fechou a porta ruidosamente atrás de si -- O que vocês fazem a essa hora, discutindo aqui no corredor?
-- Fala baixo! A Natasha está lá na sala com a Andreia -- o desespero estava estampado nas feições suaves do rosto atraente da médica.
-- Meu Deus! -- muito pálida, Marcela levou as mãos às têmporas, pensando que fosse desmaiar -- Ela descobriu algo? Desconfiou que a Andreia não é a Carolina?
-- Calma! -- pediu Sidney -- A Andreia está se saindo muito bem como Carolina Falcão.
Sibele teve um lampejo e lembrou-se de ter deixado o endereço do hotel Windsor Marapendi com a secretária da Natasha.
-- Eu preciso ir agora mesmo para a Barra da Tijuca.
-- Por que, Sibele? -- Marcela perguntou, estranhando seu comportamento.
-- A Natasha vai me procurar no Windsor Marapendi, eu tenho certeza disso.
-- Droga! O que faremos, agora?
-- Que tal se você começar tirando a sua irmã dessa situação constrangedora? -- Sidney abriu a porta e deu mais uma espiadinha pela fresta -- Olha lá. A coitada está sentada no sofá toda sem jeito.
-- Eu vou tentar levar a Natasha para a cozinha. Enquanto isso você dá um jeito de sair do apartamento e a Andreia de colocar uma roupa decente.
Sibele concordou prontamente.
Na sala, Andreia analisava os olhos de Natasha, pensando sobre como era lindo o tom de verde deles.
-- Carol... Carol...
-- Hum, fala Natasha -- ela falou, boquiaberta, segurando a mão de Natasha, ainda abismada, imaginando-se diante de uma visão.
-- Nós a procuramos por quase todo o país. Depois de tanto tempo de buscas, todos acreditavam que você havia morrido. Mas no fundo do coração eu mantinha a esperança de que você estava viva.
-- E você estava certa.
-- O senhor Fábio não devia ter feito o que fez. Ele cometeu um crime, um crime muito grave -- uma sombra de tristeza passou pelos luminosos olhos verdes -- Perdemos vinte e poucos anos de uma convivência feliz. Podíamos ter cuidado uma da outra, crescido juntas.
-- O destino quis assim, Natasha. Não podemos mudar o passado mais devemos aproveitar o presente. Nem tão pouco devemos julgar e condenar as pessoas pelo que elas foram no passado, e nem basear-se nele para tirar conclusões. Existem pessoas que se arrependem, mudam e encaram seus erros passados como uma lição de vida. Eu mesmo posso dizer isso. Jamais quero cometer os mesmos erros que cometi no meu passado -- Andreia lembrou-se da frase citada por Caio Abreu: "Pobre menina, dava conselhos que nem ela mesma seguia." Com esse pensamento o rosto de Andreia enrubesceu mais uma vez. No entanto, forçou-se a ficar firme -- Meus pais adotivos erraram, isso é fato, mas, você nunca errou por amor?
-- Você está parecendo a Elisa -- Natasha não pode deixar de rir.
-- Quem é a Elisa?
-- Você não vai lembrar. Elisa foi a nossa babá. Foi ela quem comprou a nossa primeira roupinha, deu o primeiro banho na maternidade e os primeiros em casa. Trocava as fraldas, brincava, ia ao mercado e fazia todas as papinhas. Ela foi fundamental em nossa criação. Elisa é médium e sempre vem com esses conselhos. Geralmente frases de Chico Xavier. Nesse momento ela diria: "Quem errou por amor já está no caminho do acerto." -- ela sorriu novamente -- E respondendo a sua pergunta: Sim, eu já errei por amor... e várias vezes... especialmente com as mulheres. Por isso, por hora, vou deixar esse assunto para resolver depois.
Andreia agradeceu com um sorriso, mas o sorriso morreu-lhe nos lábios quando Marcela entrou na sala e a olhou preocupada.
Ela entrou em silêncio, mas a tensão entre ambas estava presente. Uma apreensão que Natasha percebeu, mas não comentou.
-- Boa noite! -- Marcela se pegou muito envergonhada. Sentiu-se corar da cabeça aos pés e viu que isso não passou despercebido pela empresária.
-- Boa noite! -- Natasha respondeu, com um leve sorriso.
A empresária respondeu, boa noite, com um sotaque tão irresistível, que fez Marcela sentir-se como se milhares de borboletas tivessem invadido o seu estômago. Ela pigarreou discretamente chamando a atenção de Andreia.
-- Ah, que falta de educação! -- Andreia se levantou do sofá e caminhou até Natasha -- Essa é a Marcela, a minha irmã.
Marcela não conseguiu se mover. Natasha se aproximou, a mão estendida para cumprimentá-la. A irmã adotiva de Andreia controlou suas emoções e se forçou a corresponder ao caloroso aperto de mãos.
-- É um prazer conhecer a irmã de Carolina -- Natasha olhou-a de alto a baixo, revelando sua admiração.
-- Obrigada -- ela murmurou, quase que para si mesma -- Que tal se tomarmos um café? -- Marcela perguntou e, sem esperar pela resposta pegou Natasha pelo braço. Ela teve tempo de observar o leve sorriso fugindo dos lábios de Andreia, os olhos brilhando com uma ponta de contrariedade -- Minha irmã precisa se vestir -- gesticulou para ela.
Natasha olhou para Andreia como se pedisse a sua opinião. Andreia parou diante dela, sorriu e a incentivou:
-- Vai lá, eu logo volto -- prometeu.
Sem maiores considerações, ela seguiu Marcela até a cozinha. O cômodo era bem iluminado, elegante e acolhedor. As janelas do apartamento pelo qual passou ofereciam uma vista magnífica da cidade, da praia e o Forte de Copacabana.
Com as mãos nos bolsos dianteiros das calças, ela observava Marcela de cima a baixo. Sem dúvida, era uma mulher atraente, morena clara, muito feminina. Marcela merecia um elogio, mas pela primeira vez, ela não conseguiu dizer nada. Mesmo que adotiva, ela era a irmã de Carolina, por isso, manteria distância.
-- Teve alguma dificuldade para encontrar o nosso prédio? -- ela perguntou, no mesmo instante em que ligava a cafeteira.
-- Não. Na verdade foi bem fácil. Vim de táxi, isso facilita muito.
-- Com certeza -- Marcela pegou duas xícaras e um prato com bolo.
-- Espere -- Natasha pediu -- Deixe que eu a ajude.
Assim que Natasha chegou mais perto, Marcela pôde sentir a deliciosa fragrância do perfume que ela usava invadir-lhe as narinas, deixando-a levemente entorpecida.
-- Obrigada. Vamos sentar? -- Marcela convidou -- Quero que prove esse bolo de cenoura. Fui eu que fiz -- disse orgulhosa.
-- Pelo jeito, é uma mulher de muitas qualidades! -- Natasha comentou, observando o corpo perfeito de Marcela.
Marcela sorriu.
-- Prove e seja sincera.
Natasha se instalou à mesa de madeira escura e Marcela se sentou à sua frente. Quando estava levando o primeiro pedaço de bolo à boca, ouviu um barulho alto vindo da sala.
-- O que foi isso? -- Natasha imediatamente se pôs de pé -- Acho melhor irmos ver o que aconteceu -- ela sugeriu e a voz soou preocupada.
Nervosa e sem saber o que fazer, Marcela olhou assustada para Natasha.
Créditos:
http://averdadeiraessenciadoamor.blogspot.com.br/2012/04/nao-devemos-julgar-as-pessoas-pelo-que.html
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Baiana
Em: 10/02/2018
Marcela de interessou pela Natasha,que não é indiferente a mulher bonita,sera que ela vai tentar dar um golpe em cima do golpe? Sibele não é besta,sabe o tanto que a namorada é gananciosa.
Espero que a Natasha não caia nos encantos dela
Resposta do autor:
Olá Baiana. Tudo bem?
A gananciosa Marcela demonstrou interesse por Natasha, porém isso pode colocar o plano em perigo. Será que ela vai arriscar?
Beijos. Até.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 08/02/2018
Olá Vandinha
Não gostei deste olhar da Marcela para Natacha e vice versa. Embora seria legal a Sibele provar um pouco do veneno.
Sidney salvou a pele desta dupla mala e da amiga, mais até quando a mentira vai se sustentar.
E a Natacha julgando um homem inocente embora o que a Andreia falou amenizar o que ela falou do pai.
E o que aconteceu, será Andreia que desmaiou???!!!!
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Natasha realmente não gosta de Fábio. Mas é porque ela acredita que ele roubou a menina Carolina.
Hoje à noite nos encontramos. Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 08/02/2018
E o plano continua.....
Lógico que ela não iria se encontrar com a médica Não teria graça acabar com o plano antes dele começar.
Será que Natasha vai se engraçar com Marcela? Seria legal para ferrar com Sibele.
Quero ver quando Elisa encontrar Andréia. Será que ela vai perceber que não é Carolina?
Aguardemos os próximos capítulos.....
Bom carnaval procês.
Abraços fraternos!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Muitas surpresas para os próximos capítulos. Você não faz ideia do desenrolar da história.
Aguardemos... Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]