Capítulo 6 A IRMÃ RUIVA
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 6
A IRMÃ RUIVA
O apartamento de Marcela era grande e luxuoso. As cortinas das janelas estavam abertas, emoldurando a vista da baia da Guanabara. Mais ao longe, o pão de açúcar, lembravam o cenário de um cartão postal.
O olhar de Sibele voltou-se para as paredes cobertas de telas retratando as belezas naturais de várias partes do mundo. O teto em arco era sustentado por colunas trabalhadas.
Puxa vida! ela murmurou para si mesma. Quanto luxo!
Pegou a mala que estava no chão e olhou para Marcela.
-- Algum quarto que você prefere que eu use?
-- Eu te levo -- ela respondeu e pegou uma das malas das mãos de Sibele -- Minha irmã está usando um dos quartos.
-- Ela já voltou dos Estados Unidos? -- Sibele mostrou-se surpresa -- Pensei que ainda faltasse um semestre para ela se formar.
-- Realmente falta, mas como lhe contei por telefone, papai sofreu uma parada cardíaca e está em coma no hospital -- Marcela abriu a porta do quarto e colocou a mala sobre a cama -- O médico dele achou melhor chamá-la.
-- É tão grave assim? -- Sibele colocou a segunda mala sobre a cama e sentou-se ao lado.
-- Muito grave! Segundo o cardiologista, ele vai precisar passar por uma cirurgia delicadíssima.
-- Que triste. Um homem tão ativo...
-- E burro! -- Marcela completou socando o colchão.
Sibele não estava entendendo o motivo de tanto ódio.
-- O que aconteceu? Da última vez que conversamos sobre ele, você me disse que ele era um homem muito competente e respeitado no setor de hotelaria.
-- Era o que pensava -- disse por entre os dentes -- Hoje a minha opinião é outra. Ele é um grande incompetente, isso sim. Estava enganada, meu pai não era a pessoa que imaginei que fosse -- mordeu o lábio inferior -- Ele cavou a própria cova.
-- Talvez você esteja exagerando -- Sibele fitou demoradamente os raivosos olhos castanhos, antes de continuar -- Uma pessoa que construiu um hotel desse porte em plena orla de Copacabana, não poderá nunca ser considerado um burro incompetente. Não é para qualquer um manter-se tantos anos no mercado em meio a tantas crises que esse país já viveu, e vive.
-- Estamos falidos! -- Marcela gritou furiosa. Depois caiu em convulsivo pranto -- Nós estamos falidos, Sibele.
Na frente do hotel, Natasha parou e olhou para o outro lado da avenida durante alguns minutos para apreciar o movimento.
Era alta temporada, estação mais esperada para aquecer os negócios de sua cadeia de hotéis e pousadas. Para sua satisfação, a ilha estava cheia de turistas, os bares lotados, as praias entupidas de gente.
Os negócios se expandiram rapidamente. Agora funcionam praticamente sozinhos e ela tinha tempo de sobra para circular pela ilha, visitar obras e conversar com os moradores.
Uma sombra de frustração passou pelo rosto bonito de Natasha. Tudo seria perfeito se Carolina estivesse ali compartilhando de toda aquela beleza e riqueza. Sentia falta de alguém para discutir, tomar sorvete, darem risadas juntas. Ainda tinha esperanças de encontrar a irmã e traze-la para junto de si.
-- Admirando o seu paraíso, senhorita Falcão? -- Talita parou ao lado dela na escada.
-- Nunca me cansarei de admirar -- respondeu Natasha, com as mãos nos bolsos e os olhos fixos no horizonte.
-- Parabéns Natasha, você montou um ambulatório magnifico aqui na ilha. Bem equipado e com profissionais bem treinados e comprometidos.
-- Estamos a meia hora do continente e mesmo de helicóptero, em casos mais graves, precisamos ter condições de dar os primeiros socorros aqui na ilha.
-- Quando precisar de mais um médico, não esqueça de me chamar -- disse Talita, com um sorriso tão sincero que fez Natasha pensar na possibilidade.
-- Sibele é a chefe desse departamento, é ela quem trata desses assuntos. Por que não conversa com ela?
-- Farei isso -- ela sorriu esperançosa. Uma excelente remuneração, um projeto de sonho, trabalhar em um paraíso e em excelente companhia. O que mais poderia querer? Ela tinha certeza de que aquele era o lugar para começar a sua nova vida, o lugar que a afastaria do caos em que se encontram os hospitais públicos da capital. Faltam médicos e enfermeiros e quase a metade dos hospitais tem leitos fechados e falta de medicamentos. Estava cansada, muito cansada de dar murro em ponta de faca.
-- Senhorita Talita, está maravilhosa com esse jaleco branco. Se eu não tivesse uma aversão tão intensa ao compromisso de uma vida a dois, em especial quando esse compromisso é formalizado pelo casamento, estaria agora jogada aos seus pés implorando que casasse comigo.
-- Você é muito gentil. É pena que eu já seja casada -- ela sorriu -- E como diz o poeta: "O casamento é a união de duas pessoas que se amam para sempre".
-- Os poetas dizem muitas coisas que não são verdadeiras. E essa frase com certeza é uma delas.
-- Não acredita no amor eterno, Natasha?
-- Não! Eu não acredito. Acho que a partir do momento que a relação começa a ter problemas, você não consegue deixá-la perfeita de novo. Você esqueceria uma traição?
-- Não!
-- Nem eu. Acho que a gente tem que cuidar no dia a dia para não se machucar. Se você quer ficar do lado da pessoa que você escolheu para o resto da vida você tem que regar diariamente seu relacionamento. Isso é difícil, muito difícil, por isso não posso acreditar.
-- Você fala isso porque nunca amou alguém -- Talita retrucou.
-- Me contentaria com uma relação que houvesse um ponto de equilíbrio.
-- Hum, isso parece bom -- Talita olhou para ela curiosa -- Duas pessoas maduras, quem sabe?
-- Quem sabe, só que não -- Natasha fez uma careta, deixando claro que o assunto a incomodava -- Vamos jantar juntas esta noite, Talita? Ficaria encantada com sua companhia, se aceitasse ir comigo a algum restaurante fora do hotel.
Talita pensou em dizer não, mas ao ver o sorriso sedutor de Natasha mudou de ideia.
-- Está bem -- concordou num fio de voz -- Eu aceito.
Andréia estava com fome. Seu almoço tinha consistido em salada e um suco de frutas. Foi até a lanchonete fez um lanche rápido e quando retornava para junto do pai, encontrou o doutor Vicente conversando com um homem na porta da UTI. Andréia bebeu um copo de água gelada enquanto se perguntava quem seria aquele senhor vestido socialmente e segurando uma pasta preta de couro.
De todos os modos jogou um olhar sério a ele e descobriu que seu instinto estava certo. Assim que a viu, ele caminhou até ela e estendeu a mão.
-- Meu nome é Rodrigo Santos. Sou Oficial de Justiça. Estive no apartamento do seu pai por diversas vezes e não o encontrei. Hoje, conversando com o porteiro fui informado do triste ocorrido -- o oficial olhou para ela alguns segundos, parecia constrangido -- Sinto muito, mas tenho que cumprir o meu trabalho.
-- Pode falar senhor Rodrigo. Estou preparada para tudo o que senhor tiver para me falar.
-- Seu pai se arriscou a uns níveis que nenhum homem sensato se teria atrevido. E esses riscos lhe custaram uma fabulosa soma de dinheiro. Ele empenhorou o apartamento e não conseguiu pagar a dívida -- o oficial abriu a pasta e entregou uma pilha de documentos para ela -- Vou ter que cumprir a ação de despejo. O juiz fixou prazo de trinta dias para vocês desocuparem o imóvel.
-- Eu já esperava por isso, o advogado de meu pai havia me alertado.
-- Melhor assim -- o homem fez um gesto com a cabeça -- Boa sorte!
Atônita e sem fala, Andreia jogou-se na cadeira. Pensou, que fosse desmaiar
-- Oh, Deus, o que faço? -- sem conseguir encontrar uma saída, ela apenas escondeu o rosto entre as mãos e tentou reprimir os soluços.
-- O que de pior ainda poderia acontecer?
-- Falidos? -- Sibele perguntou, incrédula.
Natasha era uma verdadeira enciclopédia em matéria de hotéis e pousadas. Sempre comentava a respeito de como andava o mercado financeiro. Lembrou-se de certo dia ter a ouvido falar que esse hotel era uma verdadeira mina de ouro e faturava milhões por ano. Agora aquele dinheiro tinha ido embora, engolido pela má administração e ações inconsequentes do pai de Marcela. Infelizmente, ele fora ingênuo demais e agora estava pagando o preço por isto.
-- Sim, foi isso mesmo que você ouviu: Falidos -- Minha vida acabou. Quero morrer -- Marcela sentia-se como se estivesse atolada em uma lama sem fim -- O que meus amigos dirão? Com certeza vão me abandonar, vão fazer chacota com cada passo que eu der, vão me ironizar.
-- Não seja tão infantil -- Sibele disse-lhe indignada -- O que menos importa nesse momento é a opinião dos seus amigos.
-- Você tem razão. Foi por isso que a chamei até aqui, Sibele.
A médica cruzou os braços e a encarou curiosa. O que ela teria a ver com aquilo?
-- Pensei que o motivo seria saudade, apoio, uma palavra amiga?
-- Também! -- Marcela sentou no colo da médica e envolveu seu pescoço com os braços -- Você é uma pessoa sensata. Pensei, se você pudesse atrair um sócio rico que estivesse preparado para colocar dinheiro na empresa.
Sibele olhou-a nos olhos e ergueu as sobrancelhas.
-- Eu? A única empresária rica que conheço é a Natasha e, ela já deixou bem claro que não investe fora das ilhas.
Marcela se levantou rapidamente, irritada com a resposta da namorada.
-- Pensei que me amasse -- disse com um tom de voz dengoso.
-- Eu a amo -- Sibele se aproximou dela humildemente -- A amo muito.
As duas eram tão diferentes. Sibele uma brava guerreira, Marcela uma gatinha dengosa criada por pais que a mimaram muito. Que diabos iria fazer? Precisaria de um milagre para salvá-la.
-- Se me amasse como diz me amar, faria algo para me ajudar -- lágrimas brotaram em seus olhos. Era tão típico de Marcela essa chantagem emocional, mas mesmo assim, Sibele deixou-se envolver.
-- Sinto muito, mas...
Marcela saiu do quarto chorando. Sibele foi atrás.
-- Juro, que se tivesse algo que eu pudesse fazer por você, eu faria...
-- Oh, pode parar Sibele -- disse bruscamente -- É muito fácil para você ficar aí parada -- disse-lhe Marcela, ferozmente -- Poderia pelo menos tentar. O que faz você pensar que essa Natasha não aceitará o negócio?
-- A única coisa que ela pensa nesse momento é encontrar a irmã desaparecida.
-- Que idiota! -- resmungou Marcela.
Sibele caminhou até a estante. Seguiu-se um grande silêncio, durante o qual a médica olhava para um retrato.
-- Essa ruiva é a sua irmã adotiva? -- Sibele tirou o porta-retratos de uma das prateleiras e ficou olhando para a fotografia. Ideias maldosas passaram por sua cabeça -- Você conhece a história da adoção de sua irmã?
-- Claro! Papai contou para nós..., mas o que isso importa agora? -- perguntou, sem entender a que ela se referia.
-- Estou pensando em algo que resolveria o seu problema de dinheiro para sempre.
-- Diga, Sibele! -- pediu Marcela, ansiosa.
Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 08/09/2020
Eita e eita e mais eita... agora a coisa vai começar.
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patty-321
Em: 09/01/2018
Vixe. A Sibelebq vai dar a ideia? Que pilantra. Pensei q ela fosse honesta, mas talvez a paixão pela marcela está cegando ela. Bora ver. Bjs van
Resposta do autor:
Olá Patty.
Sibele infelizmente deixou-se levar pela chantagem emocional de Marcela. E isso não é nada bom.
Beijos.
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Mille
Em: 09/01/2018
Olá Vandinha
Olha aí o que a Sibele vai aprontar, mais acho que a maior bandida é a Marcela que usa as pessoas para proveito próprio, so pensa no próprio umbigo.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Sibele caiu na chantagem emocional de Marcela. Não sabe ela que, está se metendo em uma grande trama.
Beijos.
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