Capítulo 2 - ANDREIA DIAS
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 2
ANDREIA DIAS
-- Sinto muito, senhorita -- o cardiologista falou com pesar -- Fábio já não vinha se sentindo bem há duas semanas, até que ontem sofreu uma parada cardíaca.
Marcela começou a chorar e o médico a levou até um banco e ajudou-a sentar.
-- Por que você não me avisou? -- perguntou Marcela entre soluços.
O cardiologista olhou para ela, surpreso. Segundo Fábio, sua filha Marcela nunca foi do tipo "família". De temperamento rebelde e tempestuosa, nunca deu importância a autoridade do pai e tão pouco a da mãe. Sua vida resumia-se a baladas e viagens. Por isso preferiu entrar em contato com Andreia, a filha adotiva de Fábio.
-- Avisei a senhorita Andreia, mas ela só conseguiu chegar aqui no Rio, hoje de manhã.
-- E como ele está doutor?
-- Infelizmente muito mal. Tivemos que o induzir ao coma.
-- Então é grave? -- indagou ainda incrédula -- Ele não vai sobreviver?
-- O estado dele é muito grave -- disse o médico enfiando as mãos nos bolsos do jaleco -- Fábio precisava de reparos complicados em veias em torno de seu coração para impedir o rompimento fatal de um aneurisma na aorta -- explicou -- No momento, vamos concentrar nossas energias em mantê-lo vivo. Depois nos preocuparemos com a cirurgia.
-- Marcela! -- Andreia correu até a irmã com lágrimas rolando no rosto -- Assim que soube larguei tudo e vim imediatamente.
Marcela enlaçou a irmã e a abraçou com força.
-- Estou tão feliz por você estar aqui, mana.
-- Eu também, Marcela. Como papai está?
-- Segundo o doutor Vicente, o caso dele é crítico. Não é mesmo doutor?
-- Como vai, Andreia? -- ele estendeu a mão para a ruiva a cumprimentando com um sorriso genuíno -- O estado de saúde dele é grave, mas estável. Está em coma e respira com a ajuda de aparelhos. Ele vai precisar passar por uma cirurgia complicada.
Andreia caiu em pranto copioso.
-- Meu Deus! Papai parecia um touro, de tão forte e saudável que aparentava ser.
-- Seu pai não estava bem ultimamente, Andreia. Ele não queria preocupar vocês, por isso não comentou nada -- suspirou profundamente e pousou a mão sobre o ombro da ruiva -- Prepare-se, Andreia. Mesmo que ele sobreviva, não poderá mais ficar a frente dos negócios.
O médico saiu e Andreia continuou onde estava, pensando nas coisas que ele dissera. Estava fora do país há três anos preparando-se para esse momento. Porém, não imaginava que fosse tão cedo.
Um ano nos Estados Unidos tinha acrescentado experiência e brilhantismo a sua preparação para a vida empresarial. A família Dias formava parte do grupo de elite do mercado hoteleiro e o pai se sentia muito orgulhoso de sua posição.
-- Assumir a direção do hotel? -- pensou em voz alta, passando impacientemente a mão pelo cabelo.
-- Por quê? Algum problema nisso? Você passou os últimos três anos da sua vida estudando no exterior, para assumir os negócios do papai. Agora está com medo? Me poupe, Andreia -- disse Marcela, irritada.
-- Estudar, fazer estágio, não é a mesma coisa que assumir a direção de um negócio tão importante.
-- Difícil ou não, você vai ter que se virar -- Marcela falou aborrecida -- Esse hotel é tudo o que temos. É o nosso sustento.
Enquanto Andreia se preparava para ingressar no vasto mercado hoteleiro e, assumir os negócios da família, Marcela só pensou em diversão.
-- Você está mais preocupada com os negócios do que com o papai -- falou indignada.
-- Deixe de ser tão metódica. Estou apenas sendo realista -- Marcela se levantou -- Vamos pegar uma xícara de café. Dormi muito pouco.
Andreia assentiu e elas saíram em direção a cantina do hospital.
-- Como é que foi a viagem? -- perguntou Marcela num tom aparentemente descontraído, apontando para uma mesa vaga.
-- Foi um pouco demorada, mas, como estava com sono, dormi quase toda a viagem.
-- Dois cafés, por favor -- pediu Marcela para o rapaz que estava atrás do balcão -- Conheci uma mulher maravilhosa.
Andreia fez um ar de surpresa, mas, antes que pudesse comentar algo, Marcela continuou:
-- Ela é médica e trabalha em Santa Catarina! -- exclamou a jovem, orgulhosa -- Tive muita sorte de encontrar uma mulher assim, com uma profissão tão interessante... e bonita! -- acrescentou, com malícia.
-- Há quanto tempo você está com essa moça? -- indagou Andreia, franzindo a testa.
-- Dois meses -- ela informou, sorridente -- Foi uma amiga minha, que nos apresentou. E, sinceramente, estou bastante entusiasmada.
Preocupada com a irmã, Andreia insistiu em questioná-la:
-- Você gosta realmente dessa mulher, ou é apenas mais uma "ficante"?
-- Ainda não sei -- deu de ombros, fingindo indiferença -- Agora que herdei um grande hotel, talvez, não tenha mais tempo para um relacionamento sério.
-- Papai ainda não morreu, Marcela -- irritada, Andreia sentiu vontade de bater na irmã.
-- Talvez não morra, mas você ouviu o doutor Vicente? Papai não vai mais voltar à frente dos negócios.
Ansiosa por encerrar aquela conversa, que ameaçava rumar para uma discussão, Andreia tomou todo o café e se levantou.
-- Me leva para casa. Preciso tomar um banho e voltar -- emendou Andreia, séria -- Vou passar a noite no hospital.
-- Iremos para o meu apartamento, você toma um banho, descansa e mais tarde lhe trago de volta.
Andreia assentiu com um gesto de cabeça.
-- Primeiro vamos passar no hotel para pegar as minhas malas.
As irmãs mantiveram-se em silêncio e assim permaneceram até saírem do hospital.
Minutos mais tarde, Marcela estacionava na garagem do prédio luxuoso localizado de frente para o mar.
Assim que entraram, Andreia encaminhou-se para o quarto indicado por Marcela e trancou a porta. Ficou profundamente magoada com a irmã. Ela estava dando a mínima para o pai. Preocupava-se tão somente em como ficaria a sua situação financeira de agora em diante. Era o tipo de atitude egoísta e desumana com a qual ela jamais se acostumaria.
Intranquila, Andreia abriu a janela, apoiou-se no parapeito e aspirou o ar fresco que vinha da baía.
Amava Fábio. Ele nunca foi um padrasto, Andreia odiava a palavra padrasto. A relação de sangue marca, mas pode gostar-se de forma muito semelhante. Não têm o mesmo sangue, isso nunca se poderá alterar. Porém, brincava, levava-a ao médico, acompanhava-a como qualquer pai. Uma vez ouviu o pai falar para um amigo:
"Gosta de futebol e de beber umas cervejas com os amigos. Ela é mais parecida comigo do que a minha filha legitima. Fala baixo, é meiga, estudiosa e romântica. Pode ser da personalidade, mas também pode ser da convivência comigo".
Uma batida forte na porta do quarto a fez franzir a testa.
-- Andreia! Sou eu, abra!
Andreia percebeu pelo tom de voz da irmã que o assunto era urgente.
A ruiva abriu a porta e encarou Marcela.
-- O que aconteceu? Papai...
-- Não! Não tem nada a ver com a doença do papai -- Marcela suspirou fundo antes de falar -- Tem um homem na sala se dizendo o advogado do papai. Ele quer conversar conosco.
Andreia caminhou ao lado da irmã até a sala sentindo-se, de repente, terrivelmente cansada. Contudo, o assunto deveria ser sério, para ele procurá-las àquela hora da noite.
O homem a cumprimentou e sentou-se no sofá com uma pasta sobre as pernas.
-- Infelizmente trago péssimas notícias -- ele abriu a pasta e lhe entregou um maço de papéis.
-- O que é isso? -- Andreia perguntou-lhe assustada.
-- São os balancetes financeiro dos negócios de seu pai -- o homem olhou-a com pesar -- Sinto muito, senhoritas, mas o senhor Fábio está falido -- disse ele, sem rodeios.
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Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 08/09/2020
Eitaaaaa... coitada da Andreia... pelo visto vai entrar numa enrascada por conta da irmã.
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Mille
Em: 04/01/2018
Ola Vandinha
Essa Marcela é a mesma que estava com a Natasha??? Mais pelo jeito ambicioso deve ser ela sim, o pai entre a vida e a morte e ela pensando na herança e golpe levaram no final em saber que o pai está falido.
Bjs e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Não é a mesma pessoa. As duas de fato são muito parecidas. Ambas são interesseiras e ambiciosas, porém pessoas distintas.
Beijão. Até amanhã.
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