Capítulo 14
A VINHA QUER SOMBRA. O GIRASSOL QUER LUZ!
No dia seguinte, acordaram com batidas na porta. Constance levantou-se e pôs o short do baby doll, fez gesto para que Iara se cobrisse e abriu a porta. Do outro lado está Emma com Bia no colo com cara de choro. Fala afobada...
- Não acho Iara em nenhum canto dessa casa! Bia ficou horas se esgoelando de fome, acabei esquentando leite que tava no freezer e dei a ela! Vocês esqueceram a babá eletrônica na sala de TV! Por falar nisso o que aconteceu naquela sala de TV?! Parece que um furacão passou por ali e...
Calou-se chocada quando viu Iara enrolada no lençol chegar junto à porta e pegar Bia no colo, dizendo...
- Que maldade fizeram com minha pequerrucha?! Essa mãe desnaturada deixou ela com fome, foi?! Vem meu bebê!
Constance ficou extremamente constrangida pela atitude de Iara! Preferia que ela tivesse se escondido! Não queria todos sabendo que estavam dormindo juntas! Seu pai havia morrido há menos de um ano, não achava certo já exporem uma situação como aquela aos olhos de todos!
Sem se conter Emma perguntou ainda assustada...
- Madonna mia! Vocês estão juntas?
Completamente sem graça Constance diz...
- Emma, por favor...meu pai morreu há pouco tempo, não queremos que essa história se espalhe por aí! Seja discreta o máximo que puder! Eu e Iara foi só...foi só...
- Sexo!!!
Iara responde com indisfarçável ironia na voz. Doía saber que Constance tinha vergonha de ser flagrada com ela, que nem mesmo para Emma, que era como sua mãe, ela tinha coragem de dizer a verdade!
Mas afinal qual era de fato a verdade? Sexo, oras! Essa era a verdade! Significava somente um bom sex* para ela, então que assim fosse!
Iara se aproxima de Emma e continua...
- Desculpe Emma, não quero te chocar, mas é que eu e Constance estamos sozinhas há algum tempo e descobrimos que nos sentimos atraídas uma pela outra, mas é somente sex*! Ela ainda ama Camille...e eu...bem, eu nunca amei ninguém! Então ficamos juntas, mas não significa que vamos ficar sempre entendeu? Eu sou viúva e desimpedida e ela também, não há nenhum tipo de compromisso entre nós!
Emma olhava de uma para outra mal refeita do susto! Tentando entender, pergunta...
- Vocês dormiram juntas, mas não estão juntas é isso?
- Exatamente Emma! Por isso o que viu aqui não pode sair dessa casa, seriamos alvo de fofocas à toa, entendeu?!
A senhora balançou a cabeça concordando. Perguntou curiosa...
- Mas porque não ficam juntas de verdade, já que se gostam?
Dessa vez foi Constance a responder demonstrando certa impaciência...
- Iara já respondeu essa pergunta! Porque não nos amamos!
Emma fez uma cara estranha, de quem não acredita no que ouve...
- Sei...entendo! O que se passa nessa casa, fica nessa casa! Eu e Gigio nunca falamos da vida de nenhum de vocês para estranhos. Vocês são minha família esqueceu Conca?! E não falamos da família para os outros...só entre nós!
E virando as costas para ir embora falou com naturalidade...
- Da próxima vez não esqueçam a babá eletrônica ou então levem Bia para dormir comigo. Sabem como gosto de ficar com ela!
Constance fechou a porta e olhou para Iara com o cenho franzido e o tal bico característico de sua cara contrariada...
- Porque apareceu aqui na porta? Ela teria ido embora sem te ver!
Irritada Iara fala sentando Bia na cama...
- É mesmo Constance?! E até quando acha que esconderíamos dela o que se passa conosco?! A menos que ela fosse uma autista, tá na cara que ia acabar percebendo logo! A não ser que essa tenha sido a última vez! É isso que quer? Que tenha sido a última vez?
O coração de Iara parecia querer saltar pela boca! O medo de ouvir que aquela noite maravilhosa tinha sido a última a fazia tremer involuntariamente. Constance a olha intensamente, se aproxima dela devagar, senta ao seu lado e passa as mãos por entre os cabelos de Iara trazendo a cabeça dela para bem junto do seu rosto, diz com a voz e o olhar firmes...
- Tem razão! Ela acabaria descobrindo! E quanto a última vez, vou deixar para quando você enjoar de mim! Enquanto me quiser, eu a quero!
Iara a beijou com força, desespero, alívio! Estava chateada por ter sido objeto da vergonha de Constance, mas bastava ela chegar daquele jeito e esquecia de tudo para somente ser dela!
“Enjoar?! Então não sairia nunca mais daqueles braços!”
Foram interrompidas pelos gritos da pequena princesa pedindo atenção!
Iara contou o que tinha acontecido entre elas a Jordi, inclusive o acordo de que seria somente sex*! Jordi ouviu a história e no final deu uma risada de descrédito...
- A quem vocês estão tentando enganar hein?! Só sex* é? Essa é boa! Vocês não se enxergam não? Basta olhar pra vocês e notar que são loucas uma pela outra! Que coisa mais idiota é essa?!
Impaciente Iara explica...
- Eu sou apaixonada por ela, mas ela não é por mim! É isso, Jordi! Ela não me ama e não posso fazer nada pra mudar isso! Então, que seja assim enquanto existir tesão entre nós, no dia que acabar ou alguém enjoar, acabou a brincadeira! Somos adultas!
Jordi olha pra ela e fala irônico...
- Tá convencendo a quem dessas palavras? A mim ou você mesma?
- Pára Jordi! Assim você não me ajuda em nada! Vamos acabar com esse assunto, não quero mais ficar falando disso com ninguém! Não temos nenhum tipo de compromisso e pronto! Estamos bem assim!
- Ok! Assunto encerrado! Até o próximo capítulo!
Era só sex* não era?! Então começaram a viver naquela casa dias de pura luxúria! Viviam como duas adolescentes que acabaram de descobrir as delícias do sex*! Se buscavam a todo o momento, o toque era sempre urgente, mesmo que discreto, os olhares se procuravam aonde estivessem, os sorrisos cúmplices sabiam quando era hora de se esgueirarem para algum canto isolado a fim de extravasar um beijo ansiado!
O desejo era tão latente que nas horas mais inesperadas do dia a urgência de querer uma a outra tinha que ser aplacada fosse no banheiro, no sofá da sala de TV, nos quartos espalhados pela casa, na biblioteca, dentro do carro! Não havia lugar certo e hora menos ainda!
Algumas vezes, depois do gozo, Iara perguntava ofegante...
- Essa febre um dia vai acabar não vai?!
Da mesma forma, Constance respondia...
- Acho que sim, senão vamos nos consumir até desintegrarmos!
E passavam-se dias, semanas, meses, sem que a febre diminuísse! Pelo contrário, a temperatura parecia aumentar à medida que se conheciam cada dia mais! A intimidade crescia e sabiam decifrar cada sinal do corpo uma da outra.
XXXXXXXXX
O aniversário de 31 anos de Iara e o de 42 de Constance, que era uma semana depois, chegam junto com a primavera! Decidiram comemorar juntas!
Optaram por um jantar entre amigos mais íntimos para estrear o novo espumante que seria lançado pela Vinícola: O “Picolla Bia” que estava quase pronto!
Fariam uma comemoração pequena porque a grande festa seria no aniversário de Bia, dali dois meses!
Chamaram os amigos de sempre e Ferdinand também foi convidado. Seu trabalho na Vinícola estava quase no fim e uma nova aventura o esperava em outras instâncias! Era a ocasião certa para aproveitar e se despedir. Foi acompanhado de uma bela jovem camponesa da região, mais uma que ficaria de coração partido!
Nunca mais havia insistido com Iara, mesmo porque notara que algo havia entre ela e Constance. As duas viviam se devorando com os olhos!
Constance havia dado de presente para Iara um delicado relógio cartier e o vestido usado naquela noite, um vestido vermelho, cor de carne, como adorava ver no corpo dela e mais ainda em tirar!
Iara deu a Constance uma aliança em três camadas, duas de brilhantes e outra no meio de rubis, também vermelho como ela tanto gostava! Entregou a jóia dizendo sarcástica...
- Não é anel de compromisso nem um pedido de casamento! Só achei tão delicado quanto você e queria vê-lo no seu dedo!
Estavam radiantes naquela noite! Os amigos festejavam com elas e Bia já estava quase dando seus primeiros passinhos, se apoiando em tudo e em todos que estavam por perto!
Iara comenta com o grupo aparentando falsa decepção...
- Adivinhem qual foi a primeira palavra que ela começou a balbuciar?
- Mamãe?
Pergunta Laura...
- Não, quem dera! “Tanti”
- Tanti?
- Sim, o jeito dela de chamar Constance!
E todos riem da desolada mãe.
A certa altura da festa chegam dois casais que não faziam parte do usual grupo de amigos de Iara e Constance. Esta última aproveitara o evento festivo, para convidar os dois principais distribuidores de seus vinhos para o Leste Europeu e Asia, a experimentar a mais recente criação da Vinícola Gomide: O “Piccola Bia”!
Um dos casais era composto por um homem de meia idade e sua jovem esposa, pelo menos 30 anos mais jovem! Iara lembrou dela própria na mesma situação com Lorenzo. Parecia que era algo tão distante e só um ano havia passado!
O segundo casal era bem compatível, ambos por volta dos 40 anos, bonitos, charmosos e bem sucedidos!
Constance fez as apresentações e logo os quatro estavam interagindo com o restante do grupo. Percebeu que a mulher mais velha tinha uma intimidade com Constance que os outros não tinham, pelo abraço carinhoso e demorado que deram logo na entrada.
Estranhou o fato!
O espumante foi apresentado para degustação e explicações técnicas e sobre a maturação da bebida foram dadas, com especial atenção aos dois homens.
Suas mulheres então ficaram mais afastadas conversando com Iara.
Lyria era a jovem de 23 anos, meio timida e observadora. Antonella, a mulher mais velha, tinha 41 anos, era sofisticada e um pouco esnobe. Entabularam uma conversa sobre amenidades e as Vinícolas da região. Moravam em Roma, mas estavam de passagem por Siena. Lyria demonstrava admiração pela região da Toscana que parecia parada no tempo, com suas vilas rústicas, o jeito ainda antigo de fabricar um dos melhores vinhos do mundo, o Chianti, e sua gente acolhedora e simples!
Já Antonella não tinha o menor apreço por aquela área! Não gostava do campo, detestava simplicidade e aquele dialeto falado na região a irritava profundamente! Por isso havia abandonado a Toscana há tantos anos! Havia nascido ali, em uma Vila menor que Montalcino, mais próxima de Siena, e estudara com Constance na época do ensino médio. Aliás não só estudaram juntas, como descobriram várias outras coisas juntas também! Mas quando chegou a época da faculdade, se mudou para Roma e lá adquiriu todos os trejeitos e ranços cosmopolitas, inclusive mudando o sotaque de seu italiano e incrementando sua natural arrogância! Estava no terceiro casamento, todos com homens ricos que a deixavam a cada divórcio, mais rica ainda!
Estava fora da Toscana há mais de vinte anos, mas sempre manteve algum tipo de vínculo, pois ainda tinha parentes que moravam por ali e seu atual marido era um dos principais distribuidores dos vinhos da região. Por isso sempre sabia de Constance por pessoas próximas. Soube das várias mulheres que teve antes de conhecer Camille e da tragédia que se abatera sobre ela, da morte dos avós e do pai e da chegada da madrasta e sua irmã!
Invejava a fortuna que Constance tinha e que, em sua opinião, não sabia desfrutar se enfurnando naquela Vinícola. Sempre tivera curiosidade em saber como Constance estava, pois não esquecia os bons momentos que experimentaram juntas nas descobertas da adolescência.
Foram a primeira experiência sexu*l* uma da outra! Ela com 15 anos e Constance 16. Lembrava-se de todos os detalhes como se mais de vinte anos não tivessem passado! Vinha à memória como aquela adolescente inteligente, bem humorada e fascinante a havia encantado a ponto de sonhar em ter sua primeira experiência sexu*l* com ela. Se descobriram juntas e chegaram a se apaixonar, mas a ambição de Antonella era maior que seus desejos românticos juvenis e, três anos depois, foi a causadora da primeira decepção amorosa da vida de Constance! Partiu em busca de suas ambições de um dia se tornar uma “socialite” famosa por ser simplesmente rica e esposa de alguém bem sucedido e influente. Sabia que Constance jamais seria alguém assim em sua vida. Dinheiro tinha de sobra, mas ambição pela fama e o “jet set” internacional, nenhuma!
Nunca mais tinha se envolvido com mulheres daquela forma, até chegou a ter algumas experiências com seus maridos à três, mas nenhuma outra a interessou como Constance! Depois que foi abandonada por ela, Constance sofreu, mas pouco tempo depois já estava refeita e apaixonada por outra! Já Antonella, apesar de ter tomado a iniciativa, demorou um pouco mais para esquecer.
Reencontraram-se há pouco mais de um ano, quando seu atual marido passou a ser o distribuidor da Vinícola Gomide para todo o continente Asiático e Constance compareceu a um jantar de apresentação em Siena. Estava abatidíssima e andava com o auxílio de uma bengala. Foi um encontro agradável, cheio de boas lembranças, onde passaram a noite recordando seus tempos de adolescência e velhos amigos. Só não falaram de Camille, pois Constance não permitiu! Semanas depois uma nova tragédia cairia sobre ela, a morte do pai num acidente aéreo!
Ficou agradavelmente surpresa naquela noite em ver como Constance havia mudado naquele ano que ficou sem vê-la! Não usava mais a bengala, havia engordado pelo menos cinco quilos, estava com a pele, os cabelos e os olhos radiantes e cheios de vida! Uma transformação completa e impressionante! Parecia a menina sapeca e divertida da adolescência! O que a teria feito mudar tanto?! Será que finalmente havia conseguido esquecer Camille e acordado para a vida?! Diziam à boca pequena que a causa era não só sua pequena irmã, mas também a mãe dela! Aquela bela brasileira com quem conversava amenidades naquele exato momento!
- Está gostando da Toscana, Iara?
- Nunca pensei que um dia fosse dizer isso, mas estou adorando!
Antonella faz uma expressão de enfado e comenta...
- Não sei como pode alguém deixar cidades como Rio de Janeiro, Paris, Nova Iorque, Roma para se enfurnar nessas montanhas! Sinceramente não conseguiria, sou urbana demais para uma vida no campo!
Iara não simpatiza com ela! A acha fútil e pernóstica! Acaba se enxergando nela há um ano atrás quando chegou naquela Região, tinha aquele mesmo modo de pensar. Falou com um sorriso condescendente...
- Eu também pensava assim, mas ainda bem que descobri sentimentos que me fizeram mudar de idéia!
Antonella a fitou atenta, parecia que os boatos tinham um fundo de verdade!
Nesse instante Francesca se aproxima, já um pouco alterada pelo álcool, e fala com uma esfuziante ironia...
- Ora ora...quem é vivo um dia dá as caras! Nunca pensei em encontrar a bela Antonella numa festa entre amigos nas montanhas, já que prefere as altas rodas da Europa! Ainda mais sendo a casa de Constance! Como voltaram a ficar amigas?
Iara estranhou a pergunta...
- Como assim voltaram? Vocês já se conheciam?
Francesca mesmo responde...
- Ah, não sabia?! Foram amigas de colégio. Sabia que Antonella foi a primeira paixão da vida de Constance?
Pela expressão que Iara fez, Antonella teve certeza que os boatos tinham de fato seu fundo de verdade e demonstra o quanto não gostava de Francesca no comentário que faz...
- E você a primeira a querer atrapalhar nossa vida! Ainda bem que Constance, apesar de ser sua melhor amiga, não dava ouvidos aos seus venenos contra mim, senão não teríamos ficado quase três anos juntas!
Iara sente o estômago embrulhar! - “Primeira paixão...amigas de colégio...três anos juntas!” Um terrível mal estar começou a tomar conta dela e virou a taça de Prosecco que estava em suas mãos de uma só vez, para tentar amenizar os efeitos daquela revelação! Estava surpresa e muito enciumada! Porque Constance nunca mencionara aquela mulher?! Por isso a intimidade que havia notado entre elas quando abraçou demoradamente Constance na sua chegada! Não se conteve e perguntou...
- Seu marido sabe?
Com as sobrancelhas erguidas e ar de desafio respondeu...
- Claro que sim! Temos um casamento aberto e sentimentos pequenos e mesquinhos como ciúmes não fazem parte da nossa relação! Mas não comentamos absolutamente nada porque Constance é discretíssima e sei que não gostaria disso, sempre foi uma dama!
Sem perceber o que fazia, Iara afastou-se das duas. A festa parecia ter perdido toda a graça! As pessoas vinham falar com ela e respondia como um autômato, na verdade sem ter noção do que diziam. Olhava Constance de longe, conversando animada com seus distribuidores, e um sentimento de frustração e impotência assolava sua alma! Saber que ela havia se apaixonado, namorado e sofrido por aquela mulher que estava tão perto a incomodava demais!
Se retirou para um canto isolado da varanda. Precisava de ar e tentar acalmar o espírito do ciúme que a invadia! Cinco minutos depois seu silêncio foi interrompido por Francesca...
- Desculpe ter sido tão desagradável lá dentro, mas eu tinha que te alertar sobre Antonella. Ela é uma caçadora de fortunas e me dá arrepios pensar que ela possa voltar a fazer parte do círculo de amigos de Constance!
Profundamente chateada Iara diz...
- E o que te faz pensar que eu impediria Constance de voltar a ser amiga dela ou o que mais ela desejasse?
Segurando Iara pelos ombros, quase a sacudindo, Francesca responde com firmeza...
- Acorda, Iara! Constance te adora! Ela jamais iria te contrariar!
- Quem te disse que ela me adora?! Você não sabe nada do que se passa dentro dela!
- E pelo visto você sabe menos ainda! Tenha mais confiança em você! Eu nem sei se gosto mesmo de você, mas sei que faz minha amiga muito feliz e isso me basta!
De certa forma Iara até gostava da sinceridade mal educada de Francesca! Diz com a voz morrendo na garganta...
- Ela não me ama, Francesca!
- É o que ela diz!
- Se é o que ela diz...é o que ela sente!
- Não exatamente!
Com esperança na voz, Iara pergunta...
- Ela te falou algo?
- Não! Jamais falaria! Não é da personalidade de Constance fazer confidências a ninguém, nem mesmo pra mim que sou sua melhor amiga! Ela guarda tudo dentro daquele cofre que é seu coração, um cofre grande e pesado, mas que só ela tem a chave!
Iara desanimou novamente...
- Então como pode ter certeza?!
- Porque conheço minha amiga e certos sinais que ela dá, se não gostasse de você nem nessa casa estaria mais!
Iara faz um muxoxo e fala melancólica...
- Por Bia estaria sim!
Francesca retruca...
- Você sabe tão bem quanto todos nós que não é só por Beatriz que ela está tão mudada e pra melhor! O que está acontecendo entre vocês duas é notório e salta aos olhos de todos! Não seja pessimista, você nunca me pareceu ser do tipo insegura!
Parecendo recuperar sua confiança, Iara diz com altivez...
- Pode deixar que vou manter essa tal de Antonella bem longe daqui! Posso até não ter o amor de Constance, mas chega de concorrência!
Francesca sorriu e voltaram para a festa.
Quando entrou na sala, Iara não viu Constance. A procurou por todos os cantos e não encontrou. Antonella também não estava!
Começou a ficar ansiosa! O marido de Antonella conversava animadamente com o outro casal e não deu falta de mais ninguém naquela sala que não fossem as duas!
Decidiu buscar na enorme varanda que circundava a casa. Não demorou muito e ouviu vozes vindas de um canto isolado do alpendre. Ficou atrás de uma das portas de acesso ao local, de onde podia ver e ouvir as duas mulheres conversando com uma intimidade que fazia Iara querer invadir o lugar e tirar aquela lacraia magricela do lado da sua Constance pelos cabelos!
Conteve-se e apurou os ouvidos, se sentia uma idiota espionando! Antonella falava com uma voz sensual...
- Devo confessar que fiquei muito surpresa em vê-la tão bem! Da última vez estava muito abatida e magra! Como se operou esse milagre?
Com um sorriso nos lábios Constance responde...
- Chama-se Beatriz! A razão da minha vida! Você viu como ela é linda?!
Apertando os olhos maliciosamente a mulher questiona...
- Só sua irmã? Me parece que todo esse viço na sua pele e o brilho nos seus olhos não são só por causa da sua pequena irmãzinha!
- O que quer dizer?
- Que eu reparei como você a sua madrasta se olham, se tocam disfarçadamente e, principalmente, a cara que ela fez quando Francesca contou que nós namoramos na juventude!
Indignada Constance pergunta?
- Francesca o que? Ela não podia...
- Não podia por quê? O que tem de mal a brasileira saber se até meu marido sabe?!
Demonstrando irritação Constance responde...
- Sua relação com seu marido é problema seu! Já o modo como lido com as pessoas que convivem comigo é assunto meu! Não gosto desse tipo de interferência!
- Ok...mas Francesca sempre foi uma intrometida mesmo! Você sempre deu muita confiança pra ela...esse é o problema!
- Francesca é minha melhor amiga, ela às vezes passa da conta, mas é como uma irmã.
- E a sua madrasta? É o que na sua vida?
Visivelmente constrangida ela retruca...
- Não sei do que está falando, ela é a mãe da minha irmã e viúva de meu pai!
Irônica Antonella provoca...
- Humm...sinto cheiro de incesto no ar!
Constance fica impaciente...
- Olha aqui Antonella, não acho que tenha que conversar esse tipo de coisa com você! Nos reencontramos e foi muito agradável, mas agora você está entrando na minha vida de um jeito que não cabe há muitos anos, não temos mais esse nível de intimidade!
Sem se deixar abater ela se aproxima e faz um carinho nos cabelos de Constance, dizendo sedutora...
- Voltarmos a ser íntimas só vai depender de você, por mim nossa intimidade pode recomeçar agora!
Se esquivando com desagrado Constance retruca...
- Acho melhor voltarmos para a festa, logo vão dar por nossa falta!
- É a brasileira não é?!
- Do que está falando?!
- Você está fugindo de mim por causa dela! Sei que eu poderia fazer você recuperar sua vontade de amar novamente, mas ela atrapalha não é?!
Aborrecida e com a paciência já totalmente esgotada, Constance fala duramente...
- Guarde suas insinuações venenosas para você, Antonella! Eu não tenho nada com Iara! Ela é apenas a mãe de minha irmã e não admito que você venha com suas maledicências contaminar a minha relação com ela!
- Ah, então admite que tem uma relação com ela?!
Fora de si ela repete num tom mais alto...
- Não há NADA...ouviu bem?! Absolutamente NADA entre mim e Iara!
Nesse instante Iara sai de trás da porta e se deixa ver pelas duas mulheres! Sente uma dor tão lancinante no peito por ouvir as últimas palavras de Constance, que não se importa que elas saibam que estava ali espionando!
Em sua mente só ouve o martelar daquela palavra que tanto a feria: “NADA! Ela era NADA para Constance!”
As duas se surpreenderam! Constance ficou vermelha e completamente sem ação! Antonella olhava sarcástica para ela e comentou debochada...
- Que feio ficar ouvindo atrás da porta a conversa alheia! Isso é hábito comum no Brasil?!
Iara não responde! Não ouvia nada mais! Era como se aquela mulher irritante não estivesse ali! Seus olhos marejados só conseguiam enxergar o rosto embaraçado de Constance! Sentia-se tão humilhada como mulher! Doía demais saber da boca da própria Constance que a relação mágica que julgava viver com ela, era em sua opinião NADA! Sentia como se ela estivesse esmagando seu coração com as próprias mãos!
Antonella deu de ombros e se retirou da varanda, deixando as duas sozinhas, cada uma delas com o peito agoniado de um modo diferente!
Sentindo-se culpada e covarde, Constance tenta dizer aflita...
- Não leve em consideração o que disse, eu só queria me livrar das perguntas estúpidas dela e...
Iara a olha intensamente demonstrando toda a mágoa que havia em si! Sem dizer uma palavra sequer, vira as costas e deixa Constance sozinha, angustiada, cheia de remorsos por saber o quanto a tinha ferido!
Iara não volta de imediato para a festa, sobe em direção ao seu quarto, pois precisa se recompor! Não daria o gostinho à vaca da Antonella de saber o quanto suas provocações a tinham afetado!
Deixou cair as lágrimas que estavam represadas e chorou tentando aplacar a dor intensa que sentia! Estava magoada e decepcionada pela covardia de Constance! Ela demonstrou vergonha de admitir perante a ex-namorada que as duas tinham sim uma relação! Provavelmente tinha dificuldades em admitir até para si mesma! Podia não ser um romance convencional e declarado, mas era concreto, rolava de fato e não devia ser camuflado como algo infame e vergonhoso, especialmente para alguém como Antonella!
Foi para o banheiro, lavou o rosto com água fria e refez a maquiagem, escovou os longos cabelos negros e aprovou o que viu no espelho. Conseguiria fingir que estava tudo bem! Era seu aniversário, a casa estava cheia de amigos e não deixaria que a presença daquela “caninana” estragasse ainda mais o restante de sua noite!
Ao sair do quarto depara com Jordi com uma expressão aflita no rosto...
- Nossa, Bi...te procurei pela casa inteira! Porque se escondeu aqui?! Que cara de quem ch*pou limão é essa?!
- Cara de quem não vai mais deixar que ninguém arruíne minha noite mais do que ela já foi arruinada!
- O que aconteceu?!
Iara contou tudo para Jordi, a mágoa começava a dar lugar a uma raiva incontida pela atitude de Constance e pelo deboche de Antonella! Por fim sacramentou...
- Vamos?! Ainda quero aproveitar a noite, afinal a festa também é minha!
Jordi desceu com ela desconfiado, tinha a impressão que alguma Iara aprontaria para a tal da Antonella!
Assim que chegou à sala, viu logo o olhar aflito de Constance buscar o seu! Ignorou-o!
Seu foco seria aquela “carne seca” esnobe que circulava sorridente pela casa! Ia acabar com aquele sorriso falso e com o caríssimo vestidinho Versace branco que empinava!
Pegou uma taça daquelas bem grandes, próprias para se degustar vinho tinto, encheu com prazer até quase a borda e aproximou-se displicente de onde Antonella conversava de nariz em pé com a tímida Lyria.
Um tropeço e pronto! O tecido nobre da delicada peça encheu-se do tom violeta escuro do chianti que trazia nas mãos! Perda total! Para completar a cena bufa, dissimulou uma expressão de surpresa seguida de desculpas fingidas!
A mulher ficou em choque! Com os braços estendidos para o alto e a boca aberta soltou um grito de horror ao ver que seu exclusivíssimo vestido estava arruinado pelo ataque daquela brasileira estúpida!
Olhou para Iara como se a fuzilasse, assim que ouviu o pedido de desculpas acompanhado da cara mais cínica e deslavadamente mentirosa que já tinha visto!
Pessoas como Francesca, Jordi e Lyria fizeram um enorme esforço para não cair na gargalhada diante da cara da vítima! Ela de fato era insuportavelmente arrogante e mereceu a troça de Iara!
O marido de Antonella se aproxima tentando ajudá-la e um dos garçons aparece com um pano nas mãos, a fim de minimizar o estrago, mas a mulher estava furiosa! Soltando fogo pelo nariz, cuspiu meia dúzia de impropérios e disse para o marido que a amparava...
- Vamos embora agora!!! Por isso que detesto essa gente provinciana! Não sabem receber e ainda insultam o convidado dessa forma!
Constance que até então tinha ficado calada, resolve falar em defesa de Iara...
- Sinto muito pelo que aconteceu, Antonella, mas Iara pediu desculpas...foi um acidente! Faço questão de comprar outro vestido igual para que você não se sinta tão prejudicada!
O marido dela se manifesta calmamente...
- Não se preocupe, Constance! Incidentes acontecem e minha mulher está só um pouco nervosa! Depois acertamos os detalhes para distribuição e marketing do “Piccola Bia”. Vamos querida...é só um vestido!
- Só um vestido?!
E saiu indignada proferindo toda sorte de grunhidos e insultos do seu repertório!
Iara não conseguia conter a risada cínica e comentou jocosamente...
- Que coisa hein?! Quem olha toda aquela pose jamais desconfiaria que tanta coisa feia pode sair daquela boca! E depois os provincianos somos nós! Se isso é ser fina e ter classe, prefiro continuar sendo desclassificada!
E não conseguiu mais conter a gargalhada que acabou acompanhada por outras que também se seguravam.
Constance, apesar de tensa, também acabou achando engraçada a cena, mas se segurou e não riu para não atiçar ainda mais o falatório. Tinha sido educada para ser sempre uma boa anfitriã, mesmo com gente como Antonella!
Aproveitou um momento em que Iara foi até o bar pedir uma bebida e disse com ar de riso...
- Você foi muito cruel com Antonella! Pensei que ela fosse ter uma síncope!
Iara olhou para ela friamente e disse seca...
- Não fale comigo!
E deu-lhe as costas indo ter com os demais convivas. Constance sentiu como se tivesse levado uma forte bofetada na cara! A expressão fria e distante de Iara, seu olhar vazio, sua voz magoada...
Ficou estática com os olhos parados fitando o nada e um sentimento de abandono a invadindo que a deixava quase sem ar!
Percebendo o que se passava, Jordi se aproximou dela e disse discretamente...
- Calma! Não fique assim! Ela vai ficar emburrada um tempo, mas logo esquece isso tudo! Acredite em mim!
Constance o olhou com ar perdido e disse profundamente triste...
- Eu juro que nunca quis magoá-la!
- Eu sei disso! Dê um tempo pra ela, logo as coisas voltam ao normal!
Constance passou o resto da noite buscando Iara com o olhar. Ela por sua vez, ignorava solenemente a mulher e fingia estar alheia e indiferente à presença de Constance.
Os convidados se foram e a festa acabou!
Iara pegou Bia, que dormia a sono solto, e subindo as escadas fala com Emma...
- Muito obrigada por tudo, Emma! A festa foi maravilhosa, graças a sua dedicação! Só não foi perfeita por causa de uma erva daninha que invadiu o local, mas dei logo um jeito nela!
E foi colocar Bia na cama ignorando completamente Constance que a seguia tentando se desculpar...
- Iara, por favor, me ouça! Eu só falei tudo aquilo porque não queria dar margem aos comentários de ninguém! Não acho que devemos expor nossas vidas para pessoas como Antonella! Ela faria tudo parecer vulgar...ordinário...eu só estava tentando nos proteger!
Agindo como se Constance fosse invisível, Iara continuou suas atividades sem se voltar na direção dela! Coloca Bia no berço e vai para o seu quarto, entra e quando tenta fechar a porta na cara de Constance, esta impede com o pé e segura no braço dela tentando se fazer ouvir...
- Iara, por favor, não faça assim! Eu...
Mas antes que pudesse completar o que tinha a dizer, Iara puxou com força seu braço e disse entredentes...
- Não ouse me tocar nunca mais, ouviu bem?! Esta noite você me magoou de uma forma que nunca pensei ser capaz! Estou decepcionada com sua covardia, com sua fraqueza diante de perguntas de alguém tão insignificante como aquela mulher! Você sentiu vergonha de nós! Exatamente como se sente de uma puta que serve para trepar, mas só se for escondido! Ninguém pode saber que a Santa da Constance se deita com uma vadia como eu! Não quero que fale comigo nem que me toque! E já que me considera um NADA na sua vida, com certeza não sentirá falta de me tocar nem de falar comigo!
E bateu a porta com força para insultar ainda mais Constance!
Tinha vontade de gritar com ela, de socar seus braços, de chorar e dizer que estava doendo muito o que ela lhe fez! Mas colou a testa na porta e ficou ouvindo Constance do outro lado desfilar um rosário de desculpas pela sua atitude. Até que ela cansou e Iara também!
Duas semanas se passaram sem que Iara permitisse a aproximação de Constance. Nos primeiros dias ela ainda insistiu em tentar se desculpar, mas diante da forma gélida e indiferente que Iara a tratava, decidiu aceitar e esperar que a mágoa dela passasse. Pensava: “Mas e se não passar?!”
Iara, por sua vez, estava decidida a manter seu silêncio enquanto sentisse aquela dor a consumindo por dentro. Não permitiria que Constance fosse mais um “paizinho” na sua vida, que a tratasse como uma prostituta de luxo que servia para aquecer sua cama, mas não para ser mostrada a ninguém!
Sim, a falta que sentia dela era enorme! Não conseguia dormir direito, as olheiras ficavam cada dia maiores em volta dos olhos e, muitas vezes, quase fraquejou ao flagrar o olhar arrasado de Constance em sua direção, implorando silenciosamente para ser desculpada!
Mas aí voltavam as lembranças daquela noite, das palavras de Constance afirmando que não tinha nada com ela, da cara de deboche de Antonella, de ter se sentido uma indigna de amor!
Cada dia sem que Iara lhe dirigisse sequer um olhar, deixava Constance mais arrasada! Descobria-se sentindo uma falta dela absurda! Mesmo a vendo ou sabendo que ela estava ali por perto, nunca sentira Iara tão distante e isso a deixava completamente desolada!
Ela não fazia mais as refeições na mesma hora que Constance, não falava com ela absolutamente nada durante o dia inteiro e nunca pegava Bia diretamente do colo dela, sempre pedia a Emma que fizesse isso!
Claro que não poder tocar, abraçar, beijar, fazer sex* com ela era terrível! Mas a falta que lhe faziam as conversas na varanda, os sorrisos compartilhados, os gestos ternos, era maior ainda e causava um vácuo por dentro que não havia entretenimento algum ou outra pessoa que pudesse preencher!
Era sábado e Jordi decidiu passar o dia com a amiga para ver se a convencia a deixar de ser cabeça dura e desculpar Constance. Achava sinceramente que ela não merecia toda rigidez de Iara e pensava em colaborar um pouco para amenizar o coração daquela teimosa!
Conversaram por horas, sem que Constance aparecesse, e Jordi tentou de todas as formas fazer Iara ver que ela estava sendo dura demais, não só com Constance, mas também com ela mesma, afinal também sofria muito com a distância entre elas!
Mas a mulher sempre rebatia os argumentos do amigo com outros ainda mais fortes: a rejeição, o desamor, a falta de sensibilidade de Constance com os sentimentos dela. Enfim, era complicado tentar fazer uma mulher humilhada em seu amor próprio passar por cima de suas quimeras e perdoar! Ela ainda não se sentia pronta pra isso!
- Quando eu a desculpar tem que ser de coração, Jordi, ainda não sinto que é a hora! Cada vez que penso nisso, vem logo na mente aquele dia e me sinto acabada de novo!
- Mas querida, você tá se punindo também! Basta olhar pra você, pra sua carinha de sofrimento! Pensa que não sei que deve tá morrendo de vontade de voltar pra cama dela?!
Iara ficou quieta, engoliu em seco e depois de um tempo falou em tom sofrido...
- Eu sinto vontade de bater nela para expurgar toda essa minha raiva e depois cobri-la de beijos! Eu chego a tremer por segurar tanto uma vontade! Mas tenho que ser forte, ela foi muito cruel comigo!
- E agora você está sendo cruel com vocês duas! Pense nisso!
Despediu-se da amiga pra ir embora, mas antes lembrou...
- Vou lá em cima falar com ela!
Constance estava no quarto de Bia e lia um livro, recostada no sofá, enquanto a pequena dormia seu sono da tarde. Deu um sorriso triste quando viu Jordi parado na porta olhando para ela com cara de piedade. Ele falou carinhoso...
- Vim te dar um abraço! Parece que você tá precisando! Mas também vim te falar uma coisa...
Constance levantou e abraçou o também amigo, esperou que ele falasse.
- Vai pra cima dela!
Ela o olhou com um riso assustado...
- Como assim?!
Jordi faz cara de enfado e responde...
- Ai, parece até que tenho que ensinar pra vocês como é que se faz as pazes!
Constance abaixa os olhos de pura desolação...
- Ela não quer me desculpar! Já tentei de todas as formas e ela sequer olha na minha direção ou dá uma palavra! Não sei mais o que fazer!
- Será que não sabe mesmo?! Duvido! Ela é louca por você e sabe muito bem disso, então deixa de ser boba e ataca! Já tem duas semanas que vocês não se falam e não se tocam! Não tá sentindo falta?!
Ela responde aflita...
- Tanta que chega a dar uma dor física! Me sinto sem ar!
- Então chega desse sofrimento né?! Dê um basta nisso! E como é ela quem está magoada, então sugiro que seja você a tomar essa iniciativa, senão essa mágoa vai se agigantar e quando perceberem já estarão distantes demais pra uma reconciliação! É isso que quer?
Responde veemente...
- Claro que não! Você tem razão...chega!
Jordi, então partiu com a sensação de dever cumprido!
Iara já tinha deitado há mais de 40 minutos e rolava de um canto ao outro da cama sem conseguir pregar os olhos! Era a mesma coisa há duas semanas! Dormir sem Constance estava sendo um exercício diário de força de vontade e resistência! Pela enésima vez mudou de posição e ficou de bruços cobrindo a cabeça com um dos travesseiros para ver se espantava a vontade que tinha de gritar por ela!
Não percebeu a porta de seu quarto ser aberta e alguém entrar sorrateiramente até sua cama, se esgueirando na escuridão do ambiente.
De repente Iara sentiu uma mão tocar suas costas e sentou abruptamente na cama, assustada! O coração estava aos pulos e o ar parecia ter ficado preso nos pulmões!
Sabia quem era e o susto era justamente porque já tinha perdido as esperanças de que Constance a buscasse ali. Queria tanto que ela tomasse aquela atitude há dias! Apesar de ainda estar magoada, pensou que ela nunca fosse tomar a iniciativa! Chegou a sonhar com ela invadindo seu quarto durante a noite como agora!
Mas não podia abrir a guarda tão fácil! Perguntou quase sem fôlego...
- O que quer? Quem mandou entrar aqui?
O escuro do quarto não permitia que vissem a expressão uma da outra, tudo era percebido pelo som, pelo odor, pela respiração, pelo tato...
Constance segurou firme no braço dela e espalmando suas costas a trouxe para mais perto, falou ofegante, porém decidida...
- Chega! Não posso mais ficar um dia sem você! Não agüento mais! Minha cabeça dói, meu corpo todo grita por você, já não consigo fazer mais nada direito, nem mesmo pensar! Me perdoa, por favor! Não suporto mais!
Era aquilo!!! Tinha esperado por aquilo todos os dias desde a festa! Queria ela ali, implorando, confessando que sentia sua falta, que a queria, que doía nela também!
Iara perdeu a razão! Tremendo involuntariamente, segurou forte a gola do roupão que Constance vestia e disse com raiva e desejo...
- Como eu queria não sentir essa vontade louca que sinto de você! Queria poder dizer que não me faz falta, que não ligo, que nunca mais me tocasse dessa forma...mas...mas...não consigo! É como se fosse morrer!
Ofegante, Constance diz...
- Não consigo mais ficar sem você! A falta que me faz me sufoca! Você é minha mulher e que se danem todas as outras pessoas e o que elas pensam! Se pra você me perdoar eu tiver que gritar pra todo mundo que estamos juntas, eu faço! Eu faço o que quiser, mas não me trate mais assim! Por favor, me perdoa!
Num impulso afogueado, Iara tateou o rosto de Constance, subiu as mãos agarrando-se aos cabelos dela com força, abriu os lábios e engoliu desesperadamente aquela boca que tanto adorava! Perdeu-se no gosto da saliva, nos arroubos ansiosamente retribuídos, nos longos minutos de uma deliciosa punição de sugadas fortes e mordidas de raiva represada! Beijou com paixão, com ardor! Era como uma náufraga em busca de salvação através da boca e do abraço que há tanto tempo ansiava!
Perderam o fôlego!
- Nunca mais faça isso comigo, me humilhar daquela forma! Me senti um lixo!
Pede enquanto puxa o ar!
Com todo sincero arrependimento que sentia Constance diz...
- Nunca...nunca mais! Você é minha mulher e a partir de agora diante de todos, não me importa mais nada...só você!
Esfregando os rostos uma na outra acompanhados de dedos que se tocavam incessantemente, Constance sussurra...
- Que saudade! Senti tanta falta dessa boca, desse toque, do seu cheiro de baunilha, do seu corpo! Você me enlouquece, Iara!
Iara segura firme o rosto dela e tentando enxergar o verde no breu do quarto, fala ofegante...
- Você que me deixa louca! Louca de raiva, louca de tristeza, louca de ansiedade, louca de tesão, louca de paixão!!!
E puxando Constance sobre seu corpo, implora...
- Vem, preciso sentir o peso do seu corpo! Preciso te amar agora! Faz gostoso comigo!
Constance a puxa de volta e diz com veemência...
- Não! Hoje vamos começar diferente!
Sem entender Iara senta-se novamente. Constance pega sua mão e leva até a abertura do decote do roupão que vestia, desliza lenta e suavemente por entre a fenda aberta e deixa que ela alcance seus seios pequenos e delicados, completamente desnudos! A pele já estava toda arrepiada e com os mamilos eriçados, implorando pelo toque!
Diz com a voz arfando de desejo...
- Quero que me tenha inteira, sem roupas, sem barreiras! Quero sentir o seu toque, a sua boca, sua língua na minha pele, seus dedos dentro de mim! Quero ser sua como você é minha! Me dar pra você como você se entrega pra mim! Venha, me toma! Entra em mim!
E busca a outra mão de Iara guiando-a até seu sex* completamente encharcado de tesão!
Quase sem acreditar no que acontecia, Iara se deixa conduzir por aquele passeio apaixonado! Constance leva suas mãos a cada recanto de seu corpo, como que autorizando a exploração por todas as suas curvas e reentrâncias!
Sem perceber, duas lágrimas de Iara escorrem pelas faces e se espalham entre os seios de Constance que estavam sendo deliciosamente sugados! O momento era único! Um sonho acalentado há tempos e que agora se realizava completamente!
Os gemidos das duas mulheres soavam pelo ambiente e o cheiro de sex* impregnou o ar como um incenso de feromônios!
Constance arfava e se entregava como não lembrava de fazer a muito tempo! Sentia os dedos de Iara imolando seu sex* numa deliciosa tortura de prazer! Meneava os quadris na ânsia de sentir mais, de buscar mais ainda, como se fosse possível! Queria ela toda!
Dizia frases obscenas e de completo desvario, não pensava mais e seu corpo era só sentir!
Gozou rápido e tão forte que o tampão de sua cabeça parecia que ia sair! Não conseguiu reprimir o grito que estourou em sua garganta ecoando pelos ouvidos de Iara como a melhor das melodias!
Ela não esperou que Constance se refizesse, deitou o corpo dela na cama e disse arfando...
- Quero sentir seu gosto agora! Preciso beber você toda!
E colou sua boca no sex* besuntado pelo gozo e sem que pudesse esboçar qualquer reação, Constance foi engolida...lambida...sugada...tomada com fome e ardor!
Gozou tão intensamente quanto antes e seus músculos convulsionaram involuntariamente pelo esforço desprendido! Sentia-se completa!
Iara estava encantada! Nunca imaginara conseguir goz*r somente em ch*par alguém, mas foi o que aconteceu! Ficou tão excitada em ouvir os gemidos e ver a mulher que adorava tremer de prazer completamente entregue em suas mãos e boca, que o orgasm* veio sem que pudesse evitar...sem se tocar...sem aviso...de surpresa...delicioso!
Subiu o corpo sobre o de Constance e a beijou profundamente, deixando em sua boca o gosto dela mesma, do prazer que tinha proporcionado a ela, da paixão que transbordava!
Os sex*s se encaixaram e lambuzados iniciaram uma dança deliciosamente erótica! Os corpos se enroscavam como se pudessem se fundir em um só! O barulho de suas excitações só fazia aumentar o frenesi que se avizinhava! Parecia que não teria fim aquele enlace de ancas remexendo num mesmo ritmo! Escorregavam...se prendiam...deslizavam outra vez...se abriam...se comiam famintas!
E mais uma vez a explosão, o tremor, o gozo libertador do corpo, mas carcereiro da alma!
As respirações começavam a retomar seu ritmo mais lento, mas os corações ainda bumbavam acelerados, pareciam ter a mesma cadência como se tocassem juntos a mesma canção! Permaneceram coladas e quietas por um longo tempo! Deleitando-se com o calor, os suores, o cheiro, o ar que saia da boca de cada uma delas e o latejar de seus sex*s após o estouro do gozo!
Constance foi a primeira a quebrar aquele momento, pedindo ainda colada à boca de Iara...
- Não vamos nunca mais brigar desse jeito, promete?! É tão precioso ficar assim com você que não quero me privar disso nunca mais!
Cobrindo seu rosto de beijos ela responde...
- Sim, nada de brigas! É tudo tão deliciosamente perfeito que não admito brigas para atrapalhar! E ai de você que me desobedeça!
- Brigona! Minha flor! Meu Girassol!
- Girassol?! Mas nem loira eu sou!
Iara exclama curiosa! Com os olhos sorrindo e afagando delicadamente seu rosto Constance explica...
- Não é loira, mas é como os Girassóis destas terras! Você se volta para a luz, está sempre em busca do sol, da energia...em contrapartida nos dá sua vitalidade, seu calor, sua alegria mesmo mal humorada, sua beleza ímpar e esse sorriso que ilumina cada canto desse lugar e cada pedacinho da minha alma!
Sentindo uma forte emoção tomar de assalto seu peito, Iara suspirou profundamente e séria falou tocando o lábio entreaberto de Constance...
- A culpa vai ser sua!
Sem entender direito, Constance pergunta...
- Minha culpa?! De que?!
Iara então sussurra dentro da boca daquela que adora...
- Se essa paixão não passar nunca, a culpa vai ser toda sua!
E se entregaram novamente àquela febre que consumia seus corpos, que anuviava suas mentes e que invadia afoita seus corações!
Constance se deixou amar de todas as formas, numa entrega física até então impensada! Não imaginava ser capaz de se dar tanto a alguém novamente! E se deixou conduzir pelo resto da noite por onde quer que as mãos, a boca e o corpo de Iara a levassem! Uma coisa tinha certeza, seriam sempre caminhos de doces torturas luxuriosas e maravilhas libidinosas!
A paixão estava lá, gritante, pulsante, ferroando seus corações e corpos sem cessar! Não podia mais ser ignorada, represada e muito menos negada!
Mas e o amor?! E aquele sentimento que alicerça toda uma vida em comum?! Que é a base que solidifica uma história a dois! Que é a brasa resistente que mantém um casal quando as labaredas da paixão já se apagaram! Que resta quando tudo o mais se vai!
E essa pergunta sorrateiramente se embrenhou e se escondeu como que envergonhada dentro do peito das duas mulheres e, para cada uma delas, trouxe diferentes questões, medos, dúvidas e incertezas!
Mas e o amor?!
Fim do capítulo
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