LUZ por Marcya Peres
Capítulo 22
E A LUZ SE FEZ...
A operação durou cerca de uma hora e vinte minutos. Muito para um transplante de córnea, que costuma levar de 40 a 50 minutos. Mas o caso de Ana parecia ser um pouco mais complicado devido às intervenções cirúrgicas anteriormente feitas sem sucesso. Além disso, concomitante com o transplante, foi feita uma cirurgia para reparação de uma catarata congênita que também afetava Ana.
Dr. Olavo finalizou seu trabalho com um suspiro de alívio, pela tensão que uma cirurgia delicada como aquela gerava. Durante sua carreira não havia feito muitos transplantes, era mais clínico que cirurgião. De qualquer maneira decidira por operar Ana por conhecer tão bem seu caso e todos os reveses que ela já sofrera. Possuía a qualificação e a formação necessária para fazer o transplante e o lado sentimental também falou mais alto. Usaria sua melhor técnica, daria o melhor de si para que tudo desse certo para Ana. Sabia muito bem o quanto feliz estava sua filha Livia pela decisão de Ana em aceitar fazer a operação e não pretendia decepcioná-la de jeito nenhum.
Ana preferiu tomar anestesia geral e logo que a cirurgia terminou, foi levada para o quarto onde Lívia e seus Pais a esperavam ansiosamente.
Quando Dr. Olavo entrou no quarto logo após, foi abordado pela turma de desesperados querendo saber como tinha sido a cirurgia, e pergunta em cima de pergunta, ninguém entendia nem consegui falar nada...
- Como foi Pai! A Ana vai voltar a enxergar logo?
Lívia era a mais tensa de todos, pois os Pais de Ana já haviam se acostumado pelas outras cirurgias que Ana já havia feito...já estavam acostumados com o fracasso delas...talvez, então, o possível sucesso desse transplante, gerasse neles uma expectativa diferente!
- Dr. Olavo, o senhor acha que minha filha tem realmente chances de voltar a ver? Perguntou a Pai de Ana.
- Calma todos vocês! Toda essa tensão e expectativa não vai ajudar em nada! Ana tem que se sentir calma e relaxada quando voltar da anestesia e vocês estão agitados demais! Se continuarem assim, vou tirar todos do quarto!
Todos se aquietaram e Dr. Olavo continuou…
- Hoje em dia esse tipo de transplante é muito simples, porém como toda operação, é bem delicada! A córnea era de um rapaz jovem, de 23 anos que morreu em um acidente de moto. Como vocês devem saber, só foi operado um olho e a outra córnea foi para outro paciente. Até que Ana teve sorte e ficou pouco tempo na fila de espera…5 meses é bem rápido comparando com outros lugares do País onde chegam a esperar mais de um ano por uma córnea…acho que mais uns 4 meses, se tudo der certo, poderemos operar a outra vista.
- Mas, Pai, ela vai voltar logo a ver ou não?
- Lívia, eu já conversei com você e com a Ana sobre isso...expliquei tudo detalhadamente sobre a cirurgia e as implicações que ela traria...falei também sobre a possibilidade de rejeição e de como a visão dela voltaria aos poucos...
- Mas, Pai! Eu queria que você explicasse tudo outra vez para eu ter certeza que não entendi nada errado e para que os Pais de Ana também saibam o que fazer caso precisem ajudá-la.
- Tá bom, querida! Eu entendo a sua aflição.
Dr. Olavo, aprendera a aceitar o relacionamento de Ana e Lívia e, muitas vezes, já nem lembrava mais que eram duas mulheres e não um casal hetero convencional. No fundo até achava que Lívia, sem dúvida, era muito mais feliz com Ana que seria com qualquer outro Homem. Começou devagar sua explanação, como se estivesse dando uma aula para novos médicos:
- O transplante de córnea é atualmente uma cirurgia bastante segura, embora o seu sucesso dependa da técnica cirúrgica e do pós-operatório. Faz-se necessário um cuidadoso acompanhamento, com remoção dos pontos no momento correto, que será daqui a três meses. Os pontos são invisíveis a olho nú, pois são microscópicos, mas nem por isso deixam de ser pontos e deve-se tomar muito cuidado com eles. Também é fundamental que uma possível rejeição seja imediatamente identificada e tratada como tal, para garantir uma boa qualidade visual e minimizar as possibilidades de uma possível reintervenção no futuro. A rejeição é rara. Costuma-se controlá-la com medicação tópica ou sistêmica. Ocasionalmente pode ser necessária medicação imunossupressora...
- Pai, por favor, explique melhor em linguagem para leigos...a gente não entende direito esses termos médicos!
- Bem, o que quero dizer é que vocês devem ficar atentos se o olho de Ana começar a ficar vermelho e ela reclamar da visão piorar...
- Como assim piorar! Ela é cega! - Comentou a Mãe de Ana com espanto.
- Deixe eu acabar de explicar! - Ponderou o Dr. Olavo.
- Ninguém interrompe mais! Deixa o médico falar! - Clamou o Pai de Ana.
- A recuperação visual é gradativa e ocorre em um período variável de tempo. Alguns pacientes já têm uma visão boa em dois ou três meses, outros só após um ano, quando a cicatrização deve estar completa. Eu expliquei isso muito bem a você, Lívia, e a Ana antes da cirurgia.
- Sim, eu lembro bem desse detalhe Pai!
- Recomenda-se curativo oclusivo por alguns dias, ou seja, eu faço questão de ir a casa de vocês todos os dias cuidar do curativo de Ana. Não quero nem pensar em possíveis riscos de contaminação...quero acompanhar de perto essa recuperação. Depois disso a proteção será feita através de óculos com lentes coloridas...óculos escuros pra ser mais preciso. Ela pode ter muita fotofobia nos primeiros meses e a vista tem que ser protegida por muito tempo ainda. Geralmente há pouca dor após a cirurgia. Pode haver sensação de corpo estranho ao piscar e lacrimejamento, não se assustem, é comum e passa com o uso tópico dos colírios que vou prescrever. Os colírios são de corticóide e a recuperação rápida ou não de Ana vai depender e muito da correta aplicação dos colírios, entenderam bem?
- Sim! - foi dito em uníssono pelos três.
- E qual a possibilidade dela voltar a ver normalmente, Pai? Pode ser o mais claro possível, quero saber quais as chances reais que a Ana tem de ver como eu vejo.
- Bem filha, vou ser o mais realista possível...não se tem previsão da acuidade visual final. Isso quer dizer, em linguagem coloquial, que não posso saber exatamente o quanto de visão Ana irá recuperar...50%, 70%, 90%...a média costuma ser 80% da visão. É quase certo que ela precise usar óculos, e mais tarde quando estiver com a córnea totalmente recuperada dos pontos, lentes de contato. É possível também que ela tenha astigmatismo depois de recuperar a visão, por isso o uso dos óculos ou lentes corretivas...outra cirurgia refrativa pode ser necessária para uma boa visão após o transplante de córnea estar totalmente recuperado, em um ano mais ou menos.
- Tomara que não seja mais preciso cirurgia alguma...Ana está cansada de tanta cirurgia e de tanta decpeção! Tomara que dessa vez minha filha dê sorte e consiga voltar a enxergar para poder ver o rosto lindo do filhinho dela! - Disse a mãe de Ana com voz embargada de emoção.
Dr. Olavo continuou:
- É muito importante que vocês e Ana estejam sempre atentos à possibilidade de rejeição! O período crítico para rejeição é no primeiro ano. Porém, o paciente pode apresentar rejeição até quando viver. Grande parte das rejeições podem ser tratadas com sucesso se forem diagnosticadas no início, por esta razão todo mundo deve estar sempre atento se o olho apresentar vermelhidão sem motivo aparente e ela começar a perder a visão novamente...claro que não é pra virar paranóia e me ligar todas as manhãs quando ela acordar com os olhos cheios de remela e vermelhos, ok Livia?! Bom senso, por favor! Na pior das hipóteses, existe a possibilidade de se realizar outro transplante após a rejeição!
Lívia riu e o Pai continuou...
- Deve-se evitar esforço físico no período de cicatrização e dormir do lado contralateral ao olho operado. Isso eu tenho certeza que você irá cuidar bem, filha! Nada de deixar ela pegar sol demais ou ficar brincando com o Flavinho como se fosse outra criança da idade dele. Ana possui uma grande vantagem, ela enxergou até os 16 anos, por isso não terá problemas pra voltar a ver formas e dimensões que ela já conhece. Ela possui uma completa percepção espacial e sabe muito bem identificar formas e imagens tridimensionais. Pela experiência que possuo, acho que Ana voltará e ver logo e muito bem. Quando operarmos o outro olho então, será o sonho se tornando realidade...sem falsas esperanças!
- Ah, Doutor! Que suas mãos tenham sido abençoados por Deus e que tudo o que o senhor disse agora se torne verdade! - Disse a Mãe de Ana segurando as mãos de Dr. Olavo.
Lívia abraçou o Pai e todos olharam ao mesmo tempo para a paciente que jazia no leito dormindo pelo efeito da anestesia. Parecia tão tranqüila e usava um curativo numa das vistas. Ana não sabia da presença dos quatro ali no quarto e sua inconsciência lhe trazia um sonho estranho...colorido, com rostos desconhecidos e uma voz bem familiar que lhe fazia tão bem...a voz de sua amada Lívia!
Ana dormiu por quase 6 horas e quando acordou, tudo estava como sempre...escuro!
- Tem alguém aqui comigo?
Os três levantaram ao mesmo tempo de seus lugares, estavam cochilando quando ouviram Ana chamar. Lívia foi a primeira e segurar sua mão e dizer:
- Estou aqui, querida! E seus Pais também! Pedi que Cininha ficasse com Flavinho hoje e só trouxesse ele amanhã...mais tarde ligo pra eles e dou notícias...agora me diga como você está se sentindo?
Os Pais de Ana postaram-se do outro lado da cama e acarinhavam sua mão e cabelos.
- Bem, parece que não mudou muita coisa...continuo não vendo nada!
Ana ria, pois sabia que não tinha como ver, afinal tinha um curativo na vista operada e a outra ainda era cega. Todos riram também e a mãe de Ana disse:
- Filha, o Dr. Olavo conversou conosco e explicou direitinho como vai ser...você vai começar a ver aos poucos, a vista vai começar a clarear, você vai ter uma tal de foto...foto...qualquer coisa e depois vai começar e ver de novo, pode até ver tudo igual via antes...
- Lembra que Papai conversou com a gente antes da cirurgia? Ele voltou a dar os detalhes e dizer que teremos que ter muito cuidado com uma possível rejeição...você está sentindo alguma dor? Algum incômodo na vista?
- Não...não sinto absolutamente nada!
- Não tenha pressa! Tudo vai acontecer no seu tempo...cada dia será uma nova surpresa...você verá uma luz a mais, reconhecerá aos poucos os objetos, tudo irá ganhando mais nitidez...
Lívia tentava passar pra Ana a calma que na verdade não sentia. Queria tanto que ela pudesse voltar a ver...ver seu rosto, do filho, ver a natureza, seus Pais, amigos...ver a vida! Estava ansiosa, mas tinha que manter o equilíbrio pra não passar essa ansiedade pra Ana, pois isso poderia atrapalhar sua recuperação.
- Isso mesmo, filha! Tudo tem seu tempo e o melhor a fazer é esperar que sua visão volte como quando você era menina. O Dr. Olavo disse que vai fazer os curativos todos os dias na sua casa. Ele é um homem muito bom, Ana! Sempre cuidou de você e apesar das operações anteriores não terem dado certo, com certeza não foi culpa dele e sim da ciência que ainda não tinha cura pro seu caso...agora eu tenho certeza que você voltará e ver o mundo, filha! Através das mãos desse médico, Deus devolverá a luz aos seus olhos!
O Pai de Ana era um homem de poucas palavras, mas quando falava, era sempre sábio em sua simplicidade.
- Sim Pai, dessa vez acho que estou mais confiante! Tenho tanta vontade de voltar a ver o rosto de vocês...poder ver meu filho...você Lívia!
Apertou mais forte a mão de Lívia que a segurava. Depois perguntou:
- Quando volto pra casa?
- Papai disse que amanhã mesmo...desde que você se comporte direitinho e prometa cumprir tudo o que ele falou...nada de pegar peso ou fazer esforço nos próximos 3 meses...não passar os dedos nos olhos nunca...usar os colírios e tomar o antibiótico direitinho...sol nem pensar...depois de tirar os pontos, aos poucos a gente vai te liberando pra algumas coisinhas...
- Nossa! Vou ser uma prisioneira em casa! Ou então vou ficar mal acostumada e querer essa boa vida pra sempre...todo mundo me paparicando!
- Que injustiça! Você já é a mulher mais paparicada dessa cidade! Por todos nós...seu filho, seus colegas de trabalho, a Cininha...todo mundo baba em cima de você!
Lívia sorria com carinho.
- Nada disso! Eu que paparico vocês todos...além do mais vou enjoar em uma semana de ficar em casa sem fazer nada...ai, ai...fazer o que! Qualquer esforço é válido pra voltar a ver...vai valer a pena, com certeza!
- Sim, com certeza!
Todos falaram, como que combinados, numa só voz.
No dia seguinte, Cininha levou Flavinho para ir buscar a Mãe. O menino já tinha sido avisado de todos os detalhes do pós-operatório e de como seria lenta a recuperação da mãe. Como criança, ele não podia criar uma expectativa de que a Mãe pudesse vê-lo logo que tirasse o curativo. Estava muito eufórico e bombardeou a mãe de perguntas:
- Mãe tá doendo? Eu posso ver o Doutor Olavo fazer os curativos? Sei que não vamos poder brincar de cócegas nem na piscina tão cedo, mas você vai poder me ver depois como eu vejo você, Mãe?
Ana ria da ansiedade do filho.
- Bem primeira pergunta, Não! Não estou sentindo dor...segunda pergunta, sim, você poderá ver o Dr. Olavo fazer os curativos, só não pode ficar falando nem fazendo perguntas enquanto ele estiver trabalhando...terceira pergunta sim, não vamos poder brincar tão cedo, mas aos poucos eu vou poder ver seu rosto, meu querido, e isso é o que mais quero, poder ver seu rostinho que sei que é lindo!
- Bem, todos prontos pra irmos pra casa?
Então vamos logo que sei que Cininha preparou um almoço especial pra Ana ! - Disse Lívia com alegria.
- E tem uma sobremesa mais especial ainda, que ela adora! - Flavinho falou baixinho, como que confidenciando.
- Xiiii...seu linguarudo! Eu sabia que você não ia deixar de contar a surpresa! - Cininha brincou de ralhar com o menino.
E fora todos embora do Hospital com os corações cheios de esperança e promessas de coisas boas pela frente.
Como prometido, Dr. Olavo ía todos os dias na casa de Ana para trocar o curativo. Nesse período tinham conversas amenas e alegres que o aproximavam ainda mais de sua cliente mais especial. Aproveitava pra ver Lívia e de vez em quando ía com a mulher Lúcia e ficavam pro jantar.
Ana estava seguindo à risca as recomendações médicas o que tornava as coisas muito mais fáceis...principalmente com a supervisão de Lívia e de Flavinho, que a todo tempo fazia recomendações cuidadosas à mãe.
Certa noite, Dr. Olavo chegou como de costume e retirou o curativo de olho de Ana. Fez a assepsia de rotina e pingou o colírio...depois levantou-se e disse:
- E então, vamos jantar?
Todos ficaram surpresos e Ana falou:
- Mas e o curativo, o Senhor não vai colocar outro?
- Não, Ana. À partir de hoje você ficará sem o curativo oclusivo e sua vista começará e distinguir um pouco mais que a luz...não quero influenciá-la, mas pode ser até que você consiga perceber vultos de pessoas e objetos. Agora não se empolgue com tudo, pois sua mente também pode enganá-la.
- A mente me enganar! Como assim?
- Você ficou cega por muitos anos...mais precisamente 18 anos...os cientistas descobriram há não muito tempo, que quem enxerga não é o olho, mas o cérebro...é ele quem primeiro vê e depois passa a informação para o olho através de estímulos nervosos...por isso é muito comum em pessoas que voltam a enxergar depois de um longo período de cegueira, verem coisas que não estão realmente lá! Você pode estar andando pela sua casa e ver uma pedra no meio da sala que na verdade não está lá, é apenas um reflexo daquilo que um dia você já viu em algum momento da sua vida. Por isso, à partir de agora, descreva com detalhes tudo aquilo que você conseguir ver, mesmo que seja pouco ou quase nada...quem estiver perto de você dirá o que é realmente e isso te ajudará a ir reconhecendo as formas e reaprendendo a enxergar e definir objetos, pessoas, animais, o que é sombra e o que é massa corporal. Mas não exagere nem fique ansiosa por querer definir tudo de uma vez só...em casos como o seu, a pressa é a maior inimiga, o lema é devagar e sempre...sem afobação, entendeu bem mocinha?!
- Sim Doutor! Posso abrir o olho agora?
- E ele está fechado por que? Não tenha medo...vamos, abra devagar...me diga o que você consegue definir?
Lívia e Flavinho olhavam Ana com nervosismo e uma alegria tensa...a expectativa era muito grande!
Ana abriu os olhos e piscou várias vezes...ficou quase um minuto abrindo e fechando os olhos devagar, tentando se acostumar sem o curativo pressionando-lhe as pálpebras, quando Dr. Olavo ligou uma pequena lanterna na direção de seu olho operado, Ana deu um grito:
- Ai!!! O que é isso no meu olho?! Tem uma claridade muito grande que me incomoda!!!
Ana virou o rosto e sentiu uma leve dor no fundo do olho.
Dr. Olavo sorriu com prazer e pegando Ana pelos ombros disse:
- Parabéns, Dra. Ana Mendes! Mais uma vez você supera as expectativas! Essa pequena luz que seu olho não gostou de ver mostra que seu cérebro está funcionando perfeitamente bem em comum com o nervo óptico e que seu olho recebeu a mensagem e a processou mais rápido que eu esperava! Maravilha! Talvez mais rápido do que eu esperava, vamos ter uma Dra. Ana Mendes dirigindo por esta cidade!
- Dirigir?! O Senhor acha que algum dia eu poderei dirigir?
- E porque não? Quando operarmos a outra vista, você terá grandes chances de fazer tudo o que qualquer outra pessoa que enxergue faz! Mas isso é coisa pra mais adiante...agora temos que nos ater à sua recuperação...o que mais consegue distinguir? Qualquer coisa que seja!
Ana voltou a piscar lentamente os olhos e virou-se na direção de Lívia e Flavinho que estavam mudos de emoção...
- Consigo definir a luz e duas partes mais escuras...uma maior, outra menor...mas não posso dizer que é um vulto de alguém, pois não consigo distinguir cabeça, membros, tronco....vejo apenas como se fosse um monte escuro maior e outro menor! Tem uma luz atrás deles! O que é?
Dr. Olavo parecia bastante contente com a descrição do que Ana estava vendo...
- É assim mesmo Ana! Tirei o seu curativo há exatos três minutos e você já conseguiu sentir fotofobia pela luz da minha lanterninha...já conseguiu ver dois montes escuros que são Lívia e seu filho e ainda por cima conseguiu perceber a luz que vem do corredor! Fantástico! Estamos indo muito bem! Lembre-se, é seu primeiro dia, não queira ver tudo ao mesmo tempo, pois pode cansar...não fique ansiosa e relaxe que a cada dia você irá distinguir algo diferente, irá perceber a cada momento uma coisa nova! Deixe que o tempo e os remédios te ajudarão a realizar seu sonho!
Ana ria como uma criança e abraçou Lívia e Flavinho chorando de emoção!
- Hoje uma nova etapa na minha vida começa e o melhor de tudo é ter vocês dois aqui comigo pra me ajudar. Amo vocês!
- Nós também te amamos muito, Mãe. Você já até conseguiu ver minha sombra!
Todos riram bastante e foram pra sala jantar. Mais tarde, Lívia fez questão de telefonar para os Pais de Ana contando a novidade.
As coisas começaram a acontecer exatamente como Dr. Olavo disse que seria...a cada dia, Ana conseguia distinguir melhor a luz e as sombras das pessoas e dos objetos...aos poucos tudo ia ganhando uma silhueta e ficando mais nítido...ainda não podia ver as feições de Lívia e de seu filho, mas podia já distinguir perfeitamente seus vultos...sabia quando era Lívia e quando era Cininha paradas na sua frente...Lívia era menor, mais magra, tinha as formas mais proporcionais...Cininha era mais alta e grande na sua estrutura...adorava ficar sentada na sala tentando distinguir os objetos de cima da mesinha de centro...não os tocava, apenas olhava e apontava pergutando pra Lívia:
- Aquele objeto meio retangular é o livro sobre o Egito e as pirâmides que trouxe para o Flavinho?
- Sim, é o livro! Você já consegue vê-lo?
- Ainda não...só percebo o seu formato...ainda está tudo muito escuro...mas quando tenho uma luz de fundo, ajuda muito a notar o formato dos objetos e seus vultos pelo contraste de sombra e luz. Ah, Amor! Eu fico tão ansiosa querendo ver melhor tudo...sei que você é linda, mas quero ver suas feições que já conheço tão bem com minhas mãos...quero ver seu corpo em todos os detalhes, saber reconhecer cada cicatriz, cada pintinha...as curvas eu já conheço todas muito bem, quero ver os traços que meus dedos já percorreram tantas vezes! Quero ver como seus olhos falam...o que dizem quando olham pra mim...o jeito que me vê...quero ver seu jeito de andar, de comer, seus gestos, seu sorriso! Sinto falta disso, que ainda não conheço, mas que me é tão familiar!
Lívia ficou emocionada e deitou a cabeça no colo de Ana...
- Você terá todo o tempo do mundo pra ver o que quiser, meu Amor! Quando você conseguir ver meus olhos, a única coisa que lerá neles é que te amo demais!
Numa manhã clara, Ana acordou e ao abrir os olhos, viu mais que a sombra do lustre sobre sua cabeça...levantou o corpo e recostou-se nos travesseiros...olhou na direção de um enorme quadro que cobria um terço da parede em frente à cama...sabia que era um pôster que Lívia mandara fazer das duas...era uma enorme foto com “close” de seus rostos, onde Lívia olhava de cima pra baixo Ana, que de olhos fechados sorria e tocava o rosto de Lívia com uma das mãos...era uma foto singela, em preto e branco, que transmitia a quem visse o quanto aquelas mulheres se amavam!
Ana firmou a vista e conseguiu distinguir mais que a sombra que estava acostumada a ver...olhou na direção da enorme porta de vidro que dava acesso à varanda do quarto e que deixava entrar mais luz que o habitual, pois Lívia havia deixado as cortinas meio abertas...e distinguiu uma luz azul que vinha de fora!
Levantou-se e caminhou até a porta da varanda, abriu-a e consegui ver! Sim, conseguiu ver a luz que vinha da piscina de sua casa...a luz azul era o reflexo do sol na água da piscina e refletia diretamente na porta da varanda de seu quarto! Ana conseguiu ver toda a extensão da piscina, distinguiu seu formado sinuoso e ovalado e as espreguiçadeiras brancas que havia por toda a volta! A claridade a incomodava bastante! Voltou pra dentro do quarto e foi direto para o pôster da parede...e ela viu! Conseguiu ver seu rosto...e o de Lívia...”como é linda o meu Amor!!! Eu sabia que ela era muito mais linda que minhas mãos podiam ver!” . Ainda não distinguia com perfeição as feições, mas já conseguia ver a disposição dos olhos, nariz, boca, cabelo...não estava nítido, mas já via sua Lívia!
Neste instante chamou alto por Lívia...que entra correndo no quarto, assustada pensando que algo de grave acontecera com Ana pelo seu tom de voz...
- O que houve, meu Amor!!! Aconteceu alguma coisa?! Você caiu?!
Lívia estava tão preocupada se Ana estava machucada que nem percebeu o sorriso bobo em seu rosto e as lágrimas que caiam pela face...quando se deu conta, Ana estava sorrindo, olhando pra ela e tocando seu rosto, chorando de emoção...tocou com a ponta dos dedos as sobrancelhas, o contorno dos olhos, o nariz e finalmente pôs-se a acarinhar os lábios que tanto adorava beijar...a covinha delicada no meio do queixo e o contorno harmonioso de seu rosto...as mãos acompanhavam os olhos e tudo o que Ana encontrava no rosto de Lívia, tinha que ser tocado também, como que precisasse ainda do tato para ver melhor...tocou os cabelos de sua amada e disse:
- Estou te vendo, Amor! Estou vendo seu rosto, consigo ver como seus cabelos são lindos, de uma cor tão diferente ! Eles têm a mesma cor dos seus olhos! Que lindo!!! E sua boca...é muito mais linda ainda de se olhar do que a minha mente havia imaginado! Lívia, estou conseguindo vê-la e você é muito mais bonita que minhas mãos disseram!!!
Lívia não cabia em si de tanta emoção e deixando cair as lágrimas que teimavam em brotar dos seus olhos, beijou Ana com Paixão!
Saiu correndo do quarto e trouxe em seguida Flavinho pela mão...
- Olhe, Ana, veja como também é lindo seu filho!
E Ana viu...tocou o filho...chorou e beijou cada pedacinho daquele rosto tão amado! A emoção de conseguir ver com maior nitidez o rosto das pessoas que mais amava era muito mais forte ainda do que Ana imaginara!
À partir daquela manhã, um novo mundo começou a descortinar para Ana! Cada dia com uma descoberta nova, com algo diferente para se olhar com mais atenção! Às vezes ela parava em frente de algum objeto e ficava vários minutos admirando sua forma, sua cor, sua textura...adorava sair para o jardim e ver a profusão de cores que vinha das suas flores, os diferentes tons de verde da vegetação em volta, dos arbustos, das gramíneas, das árvores...como eram lindos os Oitis que circundavam a casa!
Tomou cuidado com o que alertara o Dr. Olavo sobre possíveis reflexos da sua mente, por isso sempre perguntava se o que estava vendo era real! Muitas vezes queria saber se as cores que via eram intensas daquele jeito mesmo...se a paisagem era tão bela como enxergava, se a água do Rio ainda era tão limpa como antes...se Lívia era linda daquele jeito mesmo ou se estava criando imagens irreais! Nessas horas ria bastante implicando com sua amada.
Foi tão bom voltar a ver o rosto dos Pais...estavam mais velhos pelos anos passados, mas ainda eram do mesmo jeito que guardava na lembrança! Num Domingo, fez um almoço em casa e convidou todos os familiares, a irmã Alice, veio de São Paulo passar o final de semana, vieram os irmãos com as famílias...pôde rever todos e conhecer o rosto das cunhadas, dos sobrinhos...era como se estivesse reencontrado a família depois de um longo tempo fora. Como era bom poder resgatar algo tão precioso e simples, que muitas pessoas não dão o valor devido...a vida estava de volta aos seus olhos e não queria perder um minuto sequer da chance que estava tendo novamente de poder admirar a beleza do mundo, das formas, das pessoas à sua volta...tudo era lindo ao seu ver, mesmo que não fosse uma beleza convencional...e até o feio era admirado!
Uma de suas maiores surpresas foi ver o próprio rosto em frente ao espelho, depois de tanto tempo! Passados 18 anos, via-se mais velha, com algumas pequenas diferenças, o rosto ainda era jovem, mas não era mais aquele rosto de menina de 16 anos que via à sua frente...era uma mulher, mais madura, mais sensual, achava-se até mais bonita! Os olhos ainda tinham o mesmo brilho de antes e o sorriso estava mais belo que nunca! Admirou o próprio corpo, de formas generosas e curvas sinuosas...riu ao olhar-se nua e encontrou os olhos de Lívia admirando-a pelo espelho...olhar lânguido, de desejo...
- Por isso que você caiu de amores por mim! Até que eu não sou de se jogar fora né?! Você acha que estou meio fora do peso para os padrões?! Não acha que tenho curvas generosas demais?! Acho que tenho que voltar a correr logo que puder...
Lívia sorriu, um sorriso maroto, de tesão pela visão que sua fêmea provocava nela...aproximou-se por trás de Ana e tocou seus seios, cada mão em um, circundando as auréolas com a ponta dos dedos, sussurrou em seu ouvido com voz baixa e quente...
- Você é toda linda, meu Amor! Amo cada milímetro desse corpo e não permito que você mexa em nada, ouviu bem?! Eu me apaixonei por você ainda criança...nem entendia direito o que era aquela fixação pela sua imagem que eu tinha! Meus olhos te seguiam pelas ruas...eu parava tudo o que estava fazendo cada vez que a via passar e ficava como que hipnotizada por você... no dia do seu casamento, eu estava lá, do outro lado da rua, vendo você entrar toda linda na Igreja, como uma fada! Lembro de cada detalhe da sua roupa, de como estavam os seus cabelos e do sorriso lindo que você estampava...lembro também que senti uma tristeza profunda e que passei o resto da semana numa melancolia inexplicável! Hoje eu sei porque, naquela época ainda não entendia! Eu já te amava, Ana! Por isso nunca consegui amar outra pessoa, nunca me apaixonei de verdade...no fundo eu esperava por você...queria que você me notasse, me reconhecesse, se lembrasse de mim...mas como poderia, se você nunca havia me visto?!
Beijou o lóbulo da orelha de Ana e desceu a língua pelo seu pescoço...Ana olhava pelo enorme espelho do camarim do banheiro, que permitia se verem quase que de corpo inteiro...o coração batia desordenado...era tão lindo ver Lívia admirando seu corpo, beijando-a toda de olhos fechados para sentir melhor seu perfume, sua textura...Ana estava encantada! Queria ver tudo! Ficou paralisada de prazer olhando Lívia beijar os bicos dos seus seios, um por um e ajoelhar-se na sua frente pra prosseguir o passeio com sua boca....no umbigo, no ventre...
- Vamos pra cama... – pediu Lívia cheia de desejo.
- De jeito nenhum! Eu quero ver tudo! Quero olhar você me amando em todos os detalhes...quero ver pelo espelho!
Dizendo isso, fez Lívia sentar-se no vaso sanitário e pôs uma das pernas na borda, a outra ficou apoiada no chão e Ana fez com que seu sex* ficasse exatamente na frente da boca de Lívia, abriu-o com as mãos e ofereceu ao seu Amor como se fosse uma flor desabrochada...
- Vem...me enche de prazer como você faz tão bem...me coma, me sugue como se fosse uma fruta bem suculenta e beba o gozo que vou te dar...quero ver tudo pelo espelho! Quero sentir e ver sua boca me engolir...sua língua brincar com meu grelo...quero ver e sentir sua boca me ch*par como só você sabe fazer, Amor...vem...
Lívia obedecia...fazia tudo o que Ana pedia e mais ainda o que sua vontade exigia...Ana olhava a boca de Lívia em seu sex* e o prazer parecia aumentar cada vez que via os lábios de Lívia colados aos seus outros lábios...via a língua mexer, ora delicada, ora firme, seu pedacinho de carne teso e vermelho...o desejo era tão intenso que o mel que saía de seu sex* escorria pelo queixo e pescoço de Lívia...e ela sorvia tudo, com fome, com tesão!
Poder ver Lívia pelo espelho ch*pando sua xana era muito excitante, mais ainda que Ana podia imaginar...vê-la assim, aparentemente subjugada, mas ao mesmo tempo subjugando, era muito gostoso! Ana rebol*va na boca de Lívia e sentiu que, apesar de não querer goz*r logo, não agüentava mais segurar o prazer, que veio explosivo, intenso! Dessa vez teve que fechar os olhos...não conseguiu segurar mais! Gozou e gozou tanto que esqueceu que estava em pé e só lembrou quando as pernas bambearam e ela quase caiu, não fosse Lívia segurá-la e fazê-la sentar em seu colo. Abraçou Lívia e disse em seu ouvido:
- Adorei te ver desse jeito, me dando tanto prazer...agora eu quero ver como é seu rosto quando está goz*ndo...vem pra cama, vem...
Ana sabia que Lívia adorava meter-se entre suas pernas...era uma das posições favoritas dela e queria vê-la goz*r desse jeito, em cima dela, cavalgando e sentindo os sex*s molhados se esfregando...encharcados...esfomeados...querendo devorar-se de tanto tesão! Lívia já estava excitadíssima e não demorou muito a goz*r para que sua Ana visse, com deleite indescritível, o prazer que sentia quando amava aquele corpo tão adorado! Depois deitou-se e puxou Ana pra cima de seu peito...Ana olhava-a intensamente, parecia não querer perder uma expressão sequer daquele rosto...
- Sempre que nos amarmos, eu quero olhar você! É tão linda a cara de prazer que você faz, Amor! Quero conhecer todas as suas expressões...poder me perder nesses olhos de mel e sentir o Amor que tem neles...não quero deixar de ver nada! Fiquei tempo demais no escuro...agora quero luz! Vamos comprar mais abajures pro quarto...quero uma luz difusa ali entre as sancas, pra não incomodar a gente...mas suficiente pra que eu possa te olhar sempre...ah, outra coisa! Quero espelhos espalhados por todo esse quarto! Um bem grande ali naquele parede, outro perto da porta da varanda e um no teto pra eu não perder nada !
Lívia gargalhava alto dos gestos e da excitação de Ana com as novidades que a luz trazia aos seus olhos! Era tão lindo vê-la assim, como uma criança descobrindo o mundo, as maravilhas tão simples e cotidianas que muitas vezes não percebemos e nem damos importância...
- Pode deixar, minha paixão! Vou providenciar todos os espelhos e luzes que você quiser! E cada vez que te olhar, saiba que é o Amor mais profundo que sai dos meus olhos pra você!
E recomeçaram as brincadeiras de Amor...
Fim do capítulo
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