CapÃtulo 59
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 59
-- Ela está morta.
Daniela ouviu o médico declarar seu falecimento. Neste momento, ela ouviu sons de sinos, harpas, uma música majestosa e sentiu flutuar para fora do corpo.
Ela queria continuar ouvindo aquela melodia tão linda, porém algo a puxou violentamente para um lugar escuro, não sabia ao certo se era uma caverna, um buraco, um túnel... A passagem pelo local foi rápida e quando saiu dele, Daniela entrou em desespero. Olhou para o seu próprio corpo físico estirado no chão.
-- Não! Não! Eu não estou morta -- berrou confusa -- Yasmin, meu amor, eu não morri. Olha para mim, eu estou aqui.
Daniela sabia que tinha de voltar ao corpo, mas não sabia como fazê-lo. Ela via o seu amor de joelhos desesperada, abraçada a ela.
Yasmin chorava, gritava, estava inconsolável.
-- Amor, eu não morri -- Daniela tentava contato, sem sucesso. Ela não podia ser ouvida ou vista. Descobriu que necessitava de solidez para conseguir tocar as pessoas ou pegar qualquer objeto -- Meus gatinhos... -- ela deu um suspiro e abriu os olhos. Uma luz muito forte e brilhante surgiu a sua frente. O mais incrível era que, apesar de a luz ser forte e intensa, em momento algum ela ofuscou a sua vista -- Quem é você? -- Daniela tentou se aproximar da luz, mas percebeu que havia a presença de uma barreira ou limite, uma espécie de divisória, uma névoa cinza entre ela e o ser de luz que a impedia de prosseguir.
-- Não sei quem você é, mas precisa me ajudar. Eu tenho que voltar para o meu corpo... Pai? Pai é você? -- ao reconhecer Daniel, Daniela sentiu-se protegida, um sentimento de paz muito agradável a invadiu, sentiu-se mais leve, feliz -- Sinto tanto a sua falta, pai. Queria tanto que estivesse comigo, tenho tantas coisas para te contar. Sabia que você tem dois netinhos? Ele são umas gracinhas. O menino se chama Daniel, em sua homenagem. Foi Yasmin que escolheu.
Daniel apenas sorriu.
-- Você está pronta para morrer, Daniela? -- a comunicação entre Daniel e Daniela se dava através do pensamento.
-- Não estou pai, eu não posso morrer -- respondeu -- Tenho dois anjinhos que precisam de mim, tenho uma mulher maravilhosa que vai ficar destruída com a minha partida, tenho tantos planos.
-- Como está o seu coração, Daniela? -- questionou o pai, não com o intuito de punir ou condenar Daniela, mas de uma forma carinhosa para que ela refletisse e fizesse uma autoanálise de como ela havia procedido até aquele momento e o que poderia fazer para melhorar.
-- Não entendi, pai.
-- Você sabe o que é perdão?
-- Eu sei o que é o perdão.
-- Sabe mesmo? Pense bem Daniela. Pense em tudo o que você viveu até agora. Pense em Luiz Carlos, seu verdadeiro pai, seus irmãos e, até mesmo na sua mãe.
-- Ela traiu o senhor. Eu não consigo perdoá-la.
-- Ao perdoar, você liberta-se do passado. O Perdão permite que você livre-se de crenças e atitudes limitadas. Ele liberta sua energia mental e emocional para que assim, você possa aplicá-la para criar uma vida melhor. Se você não perdoou, uma parte de sua energia interna de vida fica presa ao ressentimento, raiva, dor ou a algum tipo de sofrimento. Essa energia de vida que está presa limitará você. É como tentar andar de bicicleta freando o tempo todo. Isso atrasa e frustra você, e faz com que seja difícil continuar.
-- Luiz Carlos era um assassino, ele mandou matá-lo. Como eu posso chamá-lo de pai?
-- Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Lucas 6:41. Não foi o seu pai quem mandou me matar, foi Anita. Deixe o julgamento de pessoas, para Deus! Todos somos falhos, todos, sempre falharão com você, assim como você mesmo tem falhado com os outros, sem perceber!
-- Tenho?
-- Os que pensam que são perfeitos, estes mesmos têm os piores defeitos, orgulho e soberba, são defeitos, ao qual fez satanás cair, e hoje já estar condenado no fogo do inferno. Portanto, não julgue seu pai, seus irmãos ou Anita, reconheça que você mesmo tem falhado, tanto quanto eles. Quero que veja isso:
Daniel apresentou à Daniela uma recapitulação panorâmica de sua vida, tanto os momentos bons como os ruins. As imagens eram vistas em cores vibrantes, tridimensionais e em movimento. Em alguns casos, até as emoções expressas nas imagens podiam ser sentidas novamente naquele instante.
Daniela chorou, sorriu, arrependeu-se de muita coisa ruim que fez, que disse, mesmo sem perceber. Reveu fatos ocorridos em sua vida que jamais imaginou terem ocorridos.
-- Devemos ter a coragem de reconhecer um erro, de perdoar, de praticar a caridade, de termos fé em um Deus maravilhoso e supremo que nos ama mesmo diante de todos os nossos defeitos. Devemos repassar esse amor para todas as pessoas, sem qualquer tipo de discriminação.
Daniela baixou a cabeça. Nesse momento, ela teve consciência do amor de Deus por ela, de que ela era pecadora, uma experiência espiritual que jamais conseguiria expressar em palavras. Foi nesse momento que Jesus lhe apareceu como sofredor, carregando a cruz. E ela chorou muito.
-- Lembra da pergunta que fez: Por que Deus, não me socorre, por que ele não fez nada por nós? É uma boa pergunta. Compreenda, minha filha: Deus fez, está fazendo e vai fazer. Se existe uma falha, ela está em nós. E qual é a falha? Nós somos vítimas do sistema deste mundo. Veja bem: se o povo de Canoinhas foi explorado, humilhado e maltratado, isso só aconteceu por causa do sistema em que vivemos neste mundo, pois este é individualista, baseia-se no egoísmo e na ambição. Nele, não há Deus, portanto, não há amor.
-- O senhor tem razão, pai -- Daniela apertou os olhos imersos em lágrimas -- Acho que estou partindo mesmo. Posso dar uma última olhada nos gêmeos e em Yasmin? -- pediu ela hesitante.
-- Não Daniela -- Daniel disse de forma carinhosa -- Entenda que a sua morte realmente não existiu de forma definitiva, pois não houve o rompimento dos laços que ligam o espírito ao corpo por meio de seu envoltório semimaterial, o perispírito. De alguma forma, a espiritualidade fez com que o corpo recebesse os cuidados necessários, a fim de não sofrer qualquer sequela enquanto a alma mantinha seu contato com o mundo espiritual.
-- Quer dizer que eu posso voltar pai? Eu posso voltar para a minha família e para os meus amigos?
-- Sim, você pode retornar ao seu presente corpo físico.
Daniela ajoelhou-se e baixou a cabeça para agradecer a Deus.
-- Prometo rever meus valores e adotar novas posturas frente à vida, bem como frente à morte, em geral de maneira mais positiva e mais espiritualizada.
-- Quando idealizamos o bem para quem amamos, devemos estendê-lo para aqueles por quem não temos simpatia. O bem deve ser colocado em prática mesmo nos momentos em que os obstáculos parecem maiores do que nossas forças. Mas apenas parecem, pois, dentro de nós, temos uma força maior do que qualquer problema, temos fé e coragem para seguirmos em nossa caminhada.
Tudo foi coisa de segundos. Mas parece que o tempo ficou parado. Sua sensação era como se estivesse naquele lugar há muito tempo.
-- Continua tentando... continua -- Débora e Bianca tiveram que segurar Yasmin para que ela não batesse no médico que não conseguia salvar a vida de sua Daniela -- Por Deus, continua -- pedia, implorava.
O médico pressionava as duas mãos contra o peito de Daniela, porém seus batimentos chegaram a zero. Por fim, como última tentativa, sem muita esperança ele pegou o desfibrilador e deu um choque nela, dois, três...
-- Ela voltou! -- foi mais que um anuncio do médico, foi um grito de vitória, de milagre -- Vamos levá-la para a ambulância. Vamos logo.
Daniela chegou ao hospital com poucas chances de sobreviver, praticamente zero. Mas apenas uma semana depois, ela abria os olhos totalmente consciente e com uma certeza absoluta: ela havia conhecido o Céu.
Nota da autora:
Esse capítulo foi baseado em depoimentos de pessoas que estiveram a beira da morte e que, após se recuperarem, relataram coisas que intrigam e chocam até os mais céticos dos cientistas. São as chamadas Experiências de quase-morte (EQM), um fenômeno em que, por alguns momentos, o indivíduo fica entre o mundo material e o espiritual, retornando ao seu corpo de origem logo depois.
No livro Vida Depois da Vida, o dr. Raymond Moody Jr. descreve as experiências de 150 pessoas que viveram o fenômeno de quase-morte. Ele tem pesquisado este assunto há vários anos. Algumas pessoas referem que reviram fatos ocorridos em sua vida, tanto bons como ruins, e outros descreveram uma jornada por um túnel escuro com uma luz ao final, que em geral levam a um local celeste e/ou ao encontro com parentes e amigos desencarnados ou com uma presença amiga.
Crédito:
http://www.ippb.org.br/textos/especiais/editora-vivencia/experiencia-de-quase-morte
https://padrejonas.cancaonova.com/mensagem-do-dia/sistema-do-mundo-seus-males-e-consequencias/
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 11/12/2017
Ola Vandinha
Que alegria ter a volta da Dani, eu acho muito interessante o assunto da pessoa ficar entre a avisa e a morte, reencontrar aqueles que partiram.
Agora é se recuperar e por em prática as mudanças, e logo estará ótima, convidando com muito amor.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Beijão minha querida. Até o próximo.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]