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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 5332
Acessos: 6266   |  Postado em: 26/11/2017

Capítulo 3 De Ponta a Cabeça

Desorientada, Cosima abre os olhos tentando se acostumar à claridade turva e com alguma substância que fazia seus olhos arderem, mesmo ao longe, com pouca intensidade. ''O que... onde raios eu estou?'' Pensou, sem força para emitir qualquer som. Forçava seu raciocínio a buscar qualquer resquício de consciência que pudesse ajudá-la a entender o que estava acontecendo exatamente. Gradativamente, começou a discernir alguns sons e seus olhos captaram uma cena confusa, desconexa. As vozes soavam dissonantes, escandalosas. Gritos? Risos? Algumas ecoavam desesperadas e outras se divertiam com o que quer que estivesse acontecendo ali. Haviam pessoas amontoadas num espaço não tão grande, não era possível saber quantas. Ela não entendia muito bem, mas algo na atmosfera daquele lugar era sombrio, fazendo os pelos de sua nuca se eriçarem. Uma densa camada do que parecia ser uma neblina a impedia de enxergar mais além ou qualquer detalhe significativo. 

 

         A medida que seus olhos e seus ouvidos se adaptavam, conseguiu obter certa clareza. Cosima estava distante, fora do alcance, somente observando. Na medida em que ganhava compreensão do cenário que a cercava, o choque e a incredulidade ganhavam força, deixando-a horrorizada.

 

Foi então que Cos a avistou. Não conseguia enxergar seu rosto, nem mesmo o das outras pessoas que ali estavam, mas sentia o terror e o desespero que emanavam daquela mulher. Existia algo mais, uma energia que lutava contra o medo palpável que fluía do coração daquela moça, mas ela não foi capaz de identificar.  O que estava acontecendo? A mulher tinha seu corpo amarrado a uma grossa estaca de madeira, com os braços pendurados acima de sua cabeça. Mesmo antes de seus olhos assimilarem aquilo que presenciava, seu olfato e paladar já haviam se aguçado, permitindo que Cosima constatasse que a neblina turva que lhe ardia os olhos era de fato, fumaça. Fogo. Ainda assim, era difícil enxergar. Onde ela estava? O que ela estava fazendo ali? Que inferno era aquele? Cosima tentou se mexer, mas não sentia seu corpo.

 

Meu Deus... Aquilo era uma fogueira? A mulher estava sendo queimada viva?  Quem era ela? A angústia avassaladora se acumulava em seu peito. Ela precisava ajuda-la, mas como?! Cosima se debatia tentando sair do lugar, mas seus membros não lhe obedeciam. Outra vez, com maior intensidade, Cos pôde senti-la. Todo o pânico, todo o pavor e... Deuses, o que era aquilo? No olho do furacão, por um milésimo de segundo, a energia antes não identificada apresentou-se novamente, numa sensação que transcendia absolutamente tudo. Seus sentidos foram invadidos com tamanha potência que não sobrara espaço para mais nada. Era uma devoção sussurrada, uma adoração inigualável, incondicional. Mas, por que? Ou quem. Cosima pôde sentir toda a coragem e determinação daquela mulher. Não havia medo, e sim, uma certeza. Uma convicção tão inabalável que mesmo ali, frente ao fim de sua vida, não seria capaz de abandoná-la. O milésimo de segundo se esvaiu e a realidade novamente a alcançou. Ela queria chorar, mas não encontrava seus olhos.

 

       - Senhora? Com licença... – Uma voz feminina que soava de maneira amigável a chamava, nada parecida com sons confusos e de caráter horripilante que ecoavam em sua mente.  Assustada, Cosima cerrou os olhos, focando-se no rosto atraente e impecavelmente maquiado de uma mulher ruiva, com feições agradáveis e que lhe sorria educadamente.

 

    - Desculpe incomodá-la. - Disse ela, imprimindo um tom de 'desculpas' em sua voz. - A senhora deseja a sua refeição agora?  “Ham?'' 

 

   Cos ajeitou o corpo no assento em que ocupava e piscou algumas vezes tentando se concentrar. Então, com algum esforço, percebeu que estava sonhando e tinha acabado de ser acordada pela comissária de bordo. Ah, é! Ela ainda estava em seu voo para França. Que porcaria de pesadelo foi aquele? Continuou encarando aquela moça até perceber que deveria dizer algo.

 

   - Tudo bem, não se preocupe. - Seu tom de voz era tranquilo e educado.  - Quais são as opções? – Sorriu timidamente.

 

  A jovem informou todas as suas três opções de cardápio e Cosima achou melhor ficar com a salada. As demais envolviam frango ou filé grelhado e isso, de uma maneira esquisita, lhe remeteu ao sonho doido que acabara de ter. Que droga tinha sido aquilo? Mesmo sem se lembrar de detalhes nítidos, seu corpo e sua mente guardaram a sensação do que parecia ser um terror sem precedentes. Cos engoliu em seco com a lembrança. Entretanto, se lembrou de que havia algo mais. Aquela energia... sensação, força.. não sabia descrever, mas, aquilo sim era verdadeiramente intrigante. ''Puta merd*!'' Cosima não se recordava de ter sentido qualquer coisa parecida em sua vida. Não daquele jeito e principalmente em meio a um cenário tão horrível. Com certeza, esse havia sido o pesadelo mais poderoso que havia vivenciado e não estava entendendo porr* nenhuma daquilo tudo! O que poderia significar? Curiosa de carteirinha e excelente pesquisadora que era, sabia que sonhos diziam muito mais do que éramos capazes de entender através de nosso senso comum, o que a deixava ainda mais ansiosa.

 

Sacudiu o corpo, querendo afastar do pensamento aquela loucura toda e acabou se assustando com um livro que caía de seu colo e já ia de encontro ao chão, caso não tivesse escorregado pelo meio de suas pernas, sendo prensado a tempo por elas! Arrumando sua postura já com o artefato em mãos, encarou a capa do livro e seu título, deixando que seu olhar se perdesse além dele. ‘’O medo do Feminino na Cultura Ocidental’’, Por Delphine Marie Cormier. Num súbito, Cosima entendeu do que aquilo tudo se tratava.

 

Era óbvio que ela tentaria absorver o máximo das obras de sua futura orientadora, por isso decidiu levar aquele exemplar recentemente adquirido como seu companheiro de leitura no tempo em que passaria no avião. Queria ganhar todos os pontos possíveis com aquela mulher que era quase uma lenda na área em que atuava. Cos adormeceu enquanto lia o exemplar, reflexo do cansaço acumulado dos últimos 4 dias mais corridos da sua vida, em que mal tinha conseguido dormir e as poucas horas em que isso havia sido possível, a ansiedade e expectativa absurdas contribuíram para um sono de merd*.

 

Lembrou-se do conteúdo que lia pouco antes de cair no sono, tratando-se de um breve trecho que referenciava a perseguição impiedosa de mulheres consideradas bruxas e feiticeiras, tendo seu início no século XV e seu auge entre os séculos XVI à XVIII. Como punição, tais mulheres eram condenadas a morte e queimadas vivas, para que servissem de exemplo e para que cada vez mais, a igreja detivesse total e absoluto controle sobre elas. A explanação do assunto na obra da Dra. Cormier era curta e objetiva. Poucos assuntos eram tão fascinantes e de extrema importância para o entendimento do curso que as sociedades seguiram após aquele período terrível.

 

Cosima concentrou-se no motivo exato para aquela contextualização toda. É claro. Todo aquele sonho absurdo advinha da leitura ávida daquele livro. Respirou fundo, assumindo que seu inconsciente deveria estar implorando por uma pausa, por um descanso. Aquele ritmo a enlouqueceria e isso ela não poderia permitir. – Não, você não vai enlouquecer, Srta Niehaus! Recomponha-se. – Afirmou em um tom confiante. Ainda assim, não compreendia muito bem aquele turbilhão de sensações que o pesadelo havia provocado nela. Ajeitou mais uma vez o corpo em seu assento, decidida a não pensar mais naquilo.

 

Tocou a pequena tela localizada à sua frente, no intuito de conferir quanto tempo de voo ainda restava. Pouco menos da metade. ‘’Graças aos Deuses.’’ Quase 12 horas confinada naquela máquina incrivelmente útil, mas totalmente mortal, caso algo desse errado, era tempo demais.

 

            Recostou seu assento e olhou pela pequena janela, observando a madrugada escura e sem lua, suspirando pesadamente.  Sua mente trouxe à tona a maluquice que os últimos 4 dias haviam sido, desde que recebera o famigerado e-mail da Dra. Cormier contendo a tão aguardada notícia. Ela realmente tinha conseguido. ‘A’ vaga, n‘A’ Universidade mais respeitada em sua área, com ‘A’ Ph.D ícone no campo em que Cosima havia dedicado toda a sua existência. Um meio, porém orgulhoso sorriso formou-se em seus lábios. Sua sede de conhecimento e de fazer a diferença nesse mundo não teria limites. Seus pensamentos foram dissipados pela presença da Comissária de bordo que retornava com sua salada. Ela estava mesmo precisando repor as energias.

 

            Lembrou-se da difícil conversa que teve com a sua quase namorada,  que apesar de claramente feliz por sua incrível conquista, lamentou o tremendo e repentino afastamento que teriam que enfrentar. Justo agora que mal mal haviam decidido assumir o namoro, já teriam que vivenciá-lo à distância. Cos não queria ver aquilo como um mau presságio ou sinal referente à decisão de assumir o relacionamento, mas era intuitiva e mística demais para ignorar esse golpe do destino. Ajeitou seu cabelo num coque desajeitado, tentando espantar a paranoia e lembrou-se das palavras confiantes de Shay. Queria manter o foco nelas:

 

       ‘’Cosima, eu gosto mesmo de você e você sabe... Esses meses passarão voando e vou estar exatamente aqui, esperando você voltar’’. Disse a médica maravilhosa e bastante chorosa já na despedida, no aeroporto. Shay tentava mostrar-se confiante, mas Cosima a conhecia bem o suficiente para saber que a dúvida sobre o futuro daquela relação também pairava sobre ela. Agradeceu imensamente por tê-la naquele momento, já que Shay, juntamente com Izzy e seu colega de universidade, Scott, foram mais do que essenciais para que Cosima conseguisse organizar tudo para a viagem de última hora. Eles ajudaram a providenciar tudo em tempo recorde e Cos sabia que não teria conseguido sem eles. Despediu dos 3 de maneira calorosa e sincera e seguiu rumo ao que a vida estava lhe proporcionando. ‘’Vamos nessa, garota’’.

 

            Por um milagre dos Deuses, conseguiu sua hospedagem temporária num pequeno loft mobiliado bem próximo a Universidade em que passaria a maior parte de seu tempo nos próximos meses, o que iria lhe custar quase a metade do valor de sua bolsa, dilema que havia sido ponderado de maneira cuidadosa por ela, sabendo que o que economizaria com deslocamento e tempo, correlacionado à excelente localização que o local dispunha, bem como certa elegância e conforto, era claramente a melhor opção custo-benefício.

 

Scott foi de grande utilidade, já que assumiria a Habbit Hole juntamente com Izzy enquanto Cos estivesse fora. No geral, a correria descontrolada contra o tempo foi mais para conseguir toda a documentação necessária à viagem. Graças à Ártemis, estava com o passaporte em dia e não podia negar que as cartas disponibilizadas por sua nova orientadora facilitaram e muito a conquista do visto estudantil, uma vez que as fronteiras francesas estavam mais limitadas e rigorosas devido à crise da imigração.

 

 Assim que terminou sua refeição, que por sinal estava demasiadamente suculenta para um Menu de serviço aéreo, ligou seu notebook e tratou de continuar e revisar seu plano de estudos que seria apresentado no momento em que encontrasse com a sua orientadora, de quem já fora alertada da rigidez de postura e exigência de suas cobranças. Gracie, assistente de sua mais nova Professora, já havia lhe alertado das peculiaridades que compunham sua chefe, deixando Cos ainda mais inquieta sobre como ela deveria ser. Pensar ou pronunciar o nome dela lhe causava um tipo estranho de incômodo e Cosima sentiu-se ridícula por isso. Gracie e Cos estavam conversando diariamente nos últimos 4 dias, alinhando os detalhes para sua chegada à Cidade dos amantes. Cosima não deixou de notar a amabilidade e boa vontade de Gracie, simpatizando-se com ela de maneira natural.

 

 Chegaria na data limite do prazo estabelecido pela Universidade e isso a deixava aflita. Não gostava de operar em cima da linha e sem nenhuma margem para imprevistos, como já dizia a máxima: ‘’Eles acontecem’’.  Qualquer problema em sua conexão poderia lhe custar a tão almejada vaga, disputada inclusive entre alguns de seus colegas também Doutores. Repousou a cabeça em seu assento, fechando os olhos de maneira suave, mentalizando que tudo daria certo. Os Deuses estavam ao seu favor e tudo transcorreria bem.

 

   Por volta de meio-dia da sexta-feira, Cos desembarcava no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle. Aquele era o momento em que finalmente colocaria à prova a eficácia do curso de francês que havia feito por um bom tempo. É claro que ela não se contentaria com sua língua nativa e, inclusive, falava espanhol também, mas a paixão pelo francês era quase incontrolável e inexplicável! Essa maldita língua charmosa e sedutora dos infernos. Ela riu ao pensar daquela forma.

 

 Após passar pela alfandega, saiu observando e absorvendo tudo a seu redor. Já havia estado naquele aeroporto a vários anos atrás, quando acabara o High School. Toda aquela estrutura parecia ainda mais intimidadora agora, juntamente com a cidade que a encarava assim do que saiu do aeroporto. Pegou-se deliciosamente admirada com tudo aquilo e com sua nova realidade. Seu encantamento se intensificou, muito provavelmente pelo glamour que o inverno de Paris ostentava. Da primeira vez que esteve lá, pode comtemplar a beleza do verão, mas nada que comparasse ao que sentia naquele momento.

 

        Com a sorte a seu lado, não precisou esperar quase nada por um táxi. Sentiu-se ainda mais animada pela presteza e gentileza do motorista. Não era francês, era um simpático jovem turco que puxou conversa num francês carregado com seu sotaque, ao qual Cosima lutava para compreender achando muito engraçado a maneira como ele conversava.

 

Há quanto tempo está em Paris? – Cos perguntou de maneira pausada. Sabia que seu francês não deveria soar dos melhores também, mas resolveu colocá-lo a prova.

 

   - 6 anos no mês que vem. – Disse ele de maneira sorridente. Cos sorriu diante da cordialidade do rapaz.

 

  -  Um período significativo. Certamente seu coração já foi fisgado pela cidade!  - Comentou de maneira especulativa.

 

 - A vida não tem sido fácil para nós imigrantes, mas não tenho do que reclamar. Consigo me manter e mandar dinheiro para minha esposa e filho – Disse aquilo já indicando uma foto um pouco amassada que estava presa ao painel do carro.

 

  - Este bairro para onde estamos indo é excelente. A senhora pretende ficar por quanto tempo? 

 

 - Bom... – Ponderou. - Se tudo der certo, 9 meses. Vim desbravar um conhecimento de suma importância para mim. Estou aqui para estudar.

 

       - Estudar é muito bom, né? – Cos sentiu uma certa amargura nas palavras do rapaz e ele continuou - É uma pena que a vida tenha me privado disso.

 

      - Nunca é tarde, Amir. – Cosima o chamou pelo nome que avistou no documento de identificação do carro, uma espécie de crachá. Ela desejou muito sinceramente que um dia aquele jovem tivesse a chance dele.

 

     A viagem foi rápida e bastante agradável. Continuaram conversando sobre os pontos turísticos da cidade e brincaram com a maneira derretida como os franceses conversavam. Cosima aproveitou para pegar o contato de Amir, já que ele havia se prontificado a ajuda-la caso precisasse de um guia turístico ou mesmo dos seus serviços de taxista. Tão logo ele ofereceu ajuda, Cos solicitou um favor ao seu mais novo e simpático conhecido. Já desembarcando em frente ao pequeno e harmonioso conjunto de prédios onde iria morar, pediu que Amir a esperasse para leva-la até a Universidade. Tudo bem que era bem próximo, mas pretendia chegar o mais rápido possível para assinar a documentação de sua matrícula e assegurar de uma vez por todas a bendita vaga!

 

     Muito solícito, Amir a ajudou com sua pesada bagagem. Cos o agradeceu com um entusiasmo exagerado, fazendo-o rir, afinal de contas, precisaram subir 3 lances de escadas e sua companhia ajudou a economizar um tempo que Cosima parecia não estar disposta a perder. Parou rapidamente na portaria para pegar as chaves que já estavam separadas para ela e foram entregues por um senhor baixinho, sério e de pouca conversa. Tratava-se do Sr. Frontnack, o síndico do prédio.

 

      Assim que entrou no apartamento, Cos deu uma rápida olhada no local, gostando do que seus olhos observavam. A inspeção mais detalhada do pequeno, porém muito charmoso Loft teria que ficar para mais tarde. Era de uma simplicidade singela, mas muito harmonioso e continha tudo de que precisaria.

 

    Com as pernas trêmulas de nervosismo a expectativa, seguiu para a Universidade que avistara a pouco da janela de seu novo quarto. Sua arquitetura antiga apresentava aspectos clássicos de tirar o fôlego.  Às pressas, desceu do carro novamente agradecendo a Amir, quase correndo para encontrar o famoso prédio que Gracie havia indicado. Às 14 horas estava entrando no prédio administrativo, desejando melhores informações de como chegar até o Campus III e foi instruída de que o local ficava a cerca de 1km dali. Enquanto caminhava, se deu conta da dimensão e imponência daquela Universidade. ‘’Caramba!’’ Depois de muito correr e se desesperar, finalmente tinha algum tempo e decidiu gastá-lo em sua caminhada. Andou com mais tranquilidade, absorvendo tudo que seus olhos alcançavam. Contemplou a grandeza do lugar e não conseguiu evitar um sorriso. Aquele cenário que seria o seu pelos próximos meses.

 

  Como quase tudo que é tradicional no velho continente é também carregado de história, aquela instituição opulenta não seria diferente. Ela se remetia ao século XIII, no surgimento do Colégio de Sorbonne. Caminhando pelo local, Cosima perdia-se nos detalhes quase medievais e na beleza das árvores a essa altura já sem algumas de suas folhas. Toda aquela instituição era um verdadeiro sítio histórico. A Universidade e seu novo apartamento ficavam no Quartier Latin, bairro famoso pela alta concentração de escolas e instituições de ensino superior. Cos já havia estudado a origem daquele nome. Na idade média, o ensino era ministrado em latim, originando a composição do nome do local. Sorriu por se lembrar de um detalhe como aquele. Quartier Latin também era conhecido pelo seu ambiente animado, cheio de bistrôs e por ter reunido muitos artistas e escritores ao longo sua história.

 

 Absorta em sua exploração pelo local, mal notou que 30 minutos haviam passado quando avistou o conjunto de blocos correspondentes ao Campus Paris III. Outro sorriso lhe invadiu a cara! A visão daquele local impressionante e a constatação de que estava ali e por ali iria ficar por um bom período de tempo, era animador demais pra ela.   Nem mesmo o frio intenso ou a viagem super cansativa, foram capazes de abalar sua empolgação. Bateu palminhas de uma maneira divertida e muito infantil.

 

  Entrou na secretária do Departamento de Humanas, dirigindo-se ao balcão da recepção. Cos aguardou o que julgava ter sido tempo suficiente para assinar os papéis de sua matrícula 5 vezes, caso os funcionários não tivessem ignorando-a com tanta eficácia. ''Ah! Então é essa a tão falada 'cordialidade francesa'! Ridículo.'' Na terceira tentativa para ser atendida, sua irritação era tanta que já nem se dava ao trabalho de falar em francês, apelando para um inglês estressado e impaciente quando ouviu alguém chamando o seu nome.

 

- Srta. Niehaus?

 

Cosima virou-se rapidamente, se perguntando sobre quem poderia conhecê-la ali e de imediato reconheceu a jovem que caminhava em sua direção. Era Gracie Johasson, secretária da PhDeusa Cormier.

 

- Ah! Oi! - Disse com um certo alívio! Até que enfim alguém para ajudá-la. - Sim, sou eu! Gracie, certo? Posso te chamar assim? – A jovem sorriu docemente em resposta.

 

- Claro que pode! Seja muito bem vinda a Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III.- Antes mesmo que Cosima começasse a estender a mão para cumprimenta-la, Gracie se aproximou num átimo, dando-lhe um beijo em cada uma de suas bochechas, fazendo Cos sorrir. Os franceses eram mesmo engraçados! Lembrou-se que aquela era uma típica saudação da França. – Veio fazer sua matrícula? - Indagou com uma expectativa aparente na voz.

 

Novamente a cara de Cos denotava um semblante irritado, lembrando da folga absurda daqueles funcionários de meia tigela.

 

- Estou tentando, sem muito sucesso, ao que parece. – Ironizou, olhando em direção a funcionária que não se prestava a sequer olhá-la de volta. Gracie suspirou como quem já conhecia a preguiça daquele povo.

 

- Deixe comigo. Vou agilizar isso para você – Disse a jovem, já pegando os documentos de Cosima e entrando numa das salas próximas a recepção. 5 segundos depois, a tal funcionária levantou a cabeça e a encarou, perguntando ''como poderia ajudá-la'' com tanta má vontade que Cosima precisou contar até 10 para não mandá-la pra inferno.  Cos sorriu de maneira debochada, voltando-se para sua cadeira.

 

  Enquanto esperava por Gracie, se lembrou de que ainda não havia avisado a ninguém em São Francisco sobre sua chegada e que estava bem! ''Puta merd*!'' Retirou o celular do bolso e constatou que também havia esquecido de ligar o aparelho. Soltou um risinho de desespero, aquela cidade tinha mesmo mexido com ela. Assim que a tela ascendeu, uma enxurrada de mensagens começou a chegar. Priorizou as mensagens de Shay e de sua mãe., dizendo que estava viva, bem e que já sentia saudades. Enquanto respondia as demais mensagens de seus amigos, Gracie retornou.

 

- Tudo certo! Apenas assine aqui, e aqui... - Entregou os papéis para que Cos assinasse. - E me procure amanhã para trocarmos o seu cartão de autorização pelo definitivo. Este aqui é provisório. Com ele você poderá circular livremente por todo o Campus.

 

- Muitíssimo obrigada, Gracie! – Agradeceu à jovem, novamente ganhando um sorriso gentil. - Sem problemas, Cosima. Pode contar comigo para o que precisar. - Gracie já ia se despedindo quando foi interrompida por Cos. – Ah! Eu tenho uma dúvida. De acordo com a agenda que você me disponibilizou, meu horário marcado com a Dra. Cormier é segunda-feira a tarde. É isso mesmo?

 

- Deixe-me confirmar aqui. – Gracie consultou um Tablet que carregava em sua bolsa e, para sorte de Cos, continha a agenda de sua chefe. – Isso mesmo, Cosima. Às 15 horas no próximo bloco, ali em frente. - Apontou em direção ao conjunto de prédios que ficava a frente daquele em que estavam. - Sétimo andar. E não se atrase! - Gracie sorriu, mas Cosima levou muito a sério o aviso velado.

 

- Ótimo! Obrigada mais uma vez, Gracie. - Agora tinha sido a vez da jovem de não deixar Cosima ir embora ainda.

 

- Srta. Niehuas... - Ponderou - Caso queira, você pode tentar falar com ela hoje. – Avisou. ''Como assim?''

 

- Hoje? Não irei atrapalhá-la? Não quero ser inconveniente e… Pode me chamar de Cos!  - A jovem ruiva de olhos azuis e feições leves alargou o sorriso.

 

- Na verdade, Cos, ela dará uma conferência hoje à noite no salão principal. Imagino que deva estar exausta da viagem, mas seria uma ótima oportunidade de ganhar uns pontinhos com ela. – Gracie falou, piscando um dos olhos e continuou. – Esta noite ela lançará o seu novo livro.

 

- Novo livro? Que horas vai começar? – interessou-se, sendo pega de surpresa.

 

- O início é as 19 horas, impreterivelmente. - Gracie checou seu relógio de pulso. - Eu realmente preciso ir agora! Tenho que assegurar que os preparativos para o “show” estejam em perfeita ordem. – Novamente os dois beijinhos para a despedida e Gracie começou a se afastar rapidamente.

 

 Cosima ponderou sobre o convite feito pela agradável secretária de sua orientadora. Tudo bem que iria conviver com sua Professora por um razoável período de tempo, mas reconhecia que estava extremamente curiosa para assistir a uma das conferências de Delphine Cormier. Já ouvira falar muito a respeito delas. Dra. Cormier nunca permitia que suas conferências e palestras fossem filmadas ou gravadas, por este motivo, somente tinha ouvido a respeito de suas intrigantes pautas. Conferiu às horas no celular. Faltavam 10 minutos para as 16h. Decida a comparecer no importante evento da noite, retornou a pé para o apartamento, observando tudo que a rodeava. Os bancos, os carros, os carrinhos de pipoca e outras comidas, os franceses imersos em conversas e risadas, tudo. Cosima parecia uma criança feliz e encantada com toda a novidade. Sentiu seu estômago reclamar, muito tempo já havia se passado após sua última refeição. Bem próxima ao Loft, encontrou uma charmosa padaria que ficava à duas quadras da entrada de sua nova casa. Que coisa linda! A comida estava próxima a ela e o cheiro era sensacional.

 

Exausta da viagem, adiou mais uma vez a minuciosa inspeção de sua nova casa, se jogando no sofá azul escuro e de uma textura bastante confortável, fechando os olhos e deixando que seu cérebro assimilasse todas loucuras daqueles últimos dias …. daquelas últimas horas.          

 

Abiu os olhos assustada e confusa. Uma buzina mais próxima a despertou e Cos sentiu uma pontada dolorida em seu pescoço. - Ai .. que merd*. - Suas mãos repousaram em sua nuca, tentando aliviar a pressão.  Só então percebeu que tinha dormido no sofá! Se levantou num pulo, quase tropeçando em suas próprias pernas.

 

- Que Merda!!!  – Conferiu as horas e verificou que já passava das 18h20! - Atrasada, claro! - Suspirou exasperada. - Como alguém pode ser tão lerda desse jeito? Puta merd*...! - Praguejava sozinha enquanto começava a correr pelo pequeno espaço que estava ainda menor com todas as suas malas abertas e jogadas no chão. Sacou de uma delas um vestido cor de vinho com mangas, vestindo-o sobre uma espessa meia-calça preta que certamente ajudaria com o frio. Pegou seu pesado sobretudo preto e enfiou em seu pescoço o primeiro cachecol que encontrou. Graças a Deus era de um cinza escuro e fechado e não ficaria muito ridículo com o restante de seu look. Faltava o sapato. - Onde estão aquelas malditas botas?

 

Se olhou rapidamente no espelho enquanto escovava os dentes. Seu tempo já estava esgotado. ''Meu Deus, fique calma!'' Voltou quase que correndo para a sala finalmente lembrando em que mala havia colocado suas botas pretas de cano baixo e saltos discretos, quando numa fração mínima de segundo, chutou a quina de seu mais novo sofá ao tentar contorná-lo para alcançar a mala localizada em seu lado oposto. - AAAH QUINA FILHA DA PUTA!! - Soltou um grito de dor alto e raivoso! Aquela merd* doía muito e sem conseguir sustentar-se num pé só, ela caiu no chão.

 

 Lançou mão de todo o seu arsenal de palavrões na tentativa de aliviar a dor que sentia no dedo! Aquela porcaria só podia estar quebrada! Xingou, praguejou e choramingou ainda mais ao pensar no inferno de botas que precisaria calçar. Afinal de contas, não ia para conferência de chinelo. Ainda teria que caminhar até a Universidade e, com a velocidade que conseguiria  andar,   chegaria lá só no ano que vem. - Amir! - Lembrou do gentil taxista super disposto a ajudar. Pegou rapidamente o celular no bolso de seu sobretudo e discou.

 

- Boa noite, Sra Cosima. – Atendeu de maneira gentil, mas com certa desconfiança na voz.

 

- Amir! Pelo amor dos Deuses, você vai salvar a minha vida. Me diga que está perto do meu apartamento!? – Suplicou esperançosa.

 

- Realmente, Alá deve gostar mesmo de você. Estou a duas quadras daí. Parei numa padaria para tomar um café. - Cosima suspirou audivelmente aliviada.

 

- Maravilha! Preciso que venha me buscar agora mesmo!

 

- Já estou dobrando a esquina.

 

    Cosima terminou de calçar a bota com muita dificuldade, amaldiçoando o sofá e aquela quina maldita repetidas vezes! Sentia uma dor horrorosa em seu dedo e realmente cogitou que algo mais sério tivesse acontecido com seu pobre dedinho, mas preferiu se preocupar com aquilo mais tarde.

 

    Olhou as horas novamente enquanto descia as escadas. Faltavam 15 minutos para as 19 horas. ''Maldição!'' O jovem já estava com o motor ligado e a porta aberta. Cos entrou na maior velocidade que pôde.

 

- Amir, pé na tábua! Tenho que estar na Universidade em 10 minutos.

 

- Pé no que? – Indagou com tamanha curiosidade que conseguiu arrancar um meio sorriso na carranca de Cosima. Claramente Amir nunca tinha ouvido aquela expressão.

 

- Acelera! Pisa fundo! Dirija o mais rápido que puder, mas com prudência, é claro. - Sorriu.

 

- Pode deixar!

 

Com 11 minutos cravados, o táxi parava em frente ao prédio onde o salão principal ficava.  Certamente se atrasaria. ''Muito bonito, Cosima lerda Niehuas!'' Faltando poucos minutos, choramingou e revirou os olhos ao constatar a absurda quantidade de degraus que precisaria subir. Não haveria problema algum em subir tantas escadas, se não fosse a dor horrenda que sentia no que restara de seu dedo. Com muito sacrifício conseguiu chegar topo. Por sorte, as escadas estavam vazias e ninguém a viu se arrastar degrau acima. ''Provavelmente porque todos já estão no salão, e não atrasados feito eu!'' Tentou se consolar pensando que eventos daquele tipo nunca começavam na hora certinha. Há! Ledo engano.

 

Finalmente alcançou uma das portas que davam acesso ao glorioso auditório, sendo capaz de ouvir uma voz masculina apresentando a importante conferencista daquela noite. Cosima só não perdeu a entrada de sua orientadora graças a lista absurdamente extensa de títulos que ela possuía e que era lida por uma figura de baixa estatura e pouco cabelo.

 

O vasto salão, que por sinal era extraordinário, estava praticamente lotado, exceto por 4 ou 5 assentos perdidos que Cosima fora capaz de enxergar. Graças a Deus não precisaria ficar em pé com aquele dedo insuportavelmente dolorido. Indo em direção ao assento mais próximo, todas as luzes do auditório se apagaram e uma gigantesca imagem do que Cosima prontamente reconheceu ser a Deusa da Mitologia Grega, Artêmis, fora projetada no imenso telão em cima do palco, seguida de aplausos acalorados e duradouros. Uma batida de coração depois, um silêncio mortal se fez no ambiente enquanto Cosima quase alcançava sua cadeira. Já não olhava em direção ao palco, uma vez que buscava seu assento com afinco, porém, ouvia o som comedido e incrivelmente ritmado de saltos tocando o piso do local. Por algum motivo inexplicável, aquele som provocou um frio em sua barriga.

 

- Bonsoir à tous et toutes¹ - Uma voz que mais parecia uma melodia afrodisíaca composta pela própria Afrodite, sedutoramente sonora, com uma cadência e serenidade desconcertantes, dava início ao evento da noite no exato momento em que Cosima enfim sentava-se em sua cadeira, suspirando de alívio. Quando finalmente ergueu os olhos em direção ao palco, seu choque e a reação de seu corpo foram inevitáveis. A imagem que outrora pertencia à Deusa Ártemis, havia dado lugar ao rosto de uma outra Deusa. Só podia ser... Aquela era a mulher mais absurdamente linda, harmoniosa e escandalosamente sensual que Cosima havia visto em toda a sua existência. Os traços desenhados numa perfeição que chegavam a incomodar.

 

Lá estava ela. Sua Professora, orientadora, lenda e Ph.D, Delphine-Marie-Cormier, em toda a sua exuberância. Aturdida por sua sensualidade latente e escancarada, Cosima não se deteve, saltando um suspiro baixo de admiração. A habilidade com que Delphine se movimentava naquele palco e a propriedade com que pronunciava cada palavra fez o ventre de Cosima se contrair. ''Só pode ser brincadeira!''. O que era aquela mulher? Sem que fosse capaz de impedir, sua boca se abriu, refletindo sua perplexidade diante daquele sonho. Era isso... Delphine era a personificação de um sonho poderoso e erótico. ''Cosima! Que porr* é essa? Ela é sua orientadora!'' Imediatamente censurou-se em pensamento.  Cos ajeitou os óculos, apreciando melhor os detalhes. Sua orientadora era Sex appeal dos pés à cabeça, do tipo que era impossível fingir ou mesmo tentar imitar. Do tipo que transformava a beleza física extraordinária dela quase num bônus. - Puta merd*... pare com isso! - Sussurrou, tentando espantar aquele tipo de pensamento. Seu queixo continuava caído e assim ficaria até o final daquela conferência.

 

 

 

 

 

*Glossário:

 

¹  Boa noite a todas e todos.

 

 

Fim do capítulo


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