Capítulo 17 - Apesar de você amanhã há de ser outro dia
Dormi pelo cansaço que o choro provocou em mim. Não sei dizer se naquele momento já sentia saudade ou era medo. Na verdade, talvez não fosse nem um nem outro, acho que sofria com a falta dela. Meu pé procurou o dela durante toda a noite e a cama parecia pender para o meu lado, sentindo a falta do peso dela.
Noite difícil.
Acordei com a campainha tocando. Atordoada, meu coração ainda bateu como se existisse a chance de eu ser surpreendida por ela a minha porta. De volta.
Mas sabia que aquilo não era possível.
Abri a porta e fui surpreendida, mas por um entregador, carregando uma cesta de café da manhã e um buquê de gérberas laranja, as minhas preferidas.
O cartão dizia:
Meu amor, a noite não foi fácil para nenhuma de nós, mas lembre-se que nada como um dia após o outro. Estarei sempre com você, onde quer que eu esteja.
Te amo,
Carol.
Deixei meu corpo cair pesadamente no sofá, enquanto mordia uma maçã da cesta.
O telefone tocou logo depois, era Carol.
– Amor, acabei de chegar. Vou pegar o metrô para ir até o apartamento e de lá eu ligo. Como você passou a noite?
– Sentindo a sua falta – a essa altura, as lágrimas já escorriam pelo meu rosto e minha voz já queria embargar.
– Eu também estou sentindo muito a sua falta – disse ela, com a voz fraca.
– Ah! Tô comendo a melhor maçã da minha vida – falei para descontrair.
– Fornecedor novo? Perguntou ela, rindo.
– Obrigada, meu amor! – falei.
– É para você saber que vou estar sempre por perto – afirmou.
Uma hora depois, o telefone voltou a tocar.
– Amor, cheguei no apartamento. Não é muito grande, mas dá para nós duas, além de ser aconchegante. Sabe o que eu estou fazendo?
– Que bom amor, não vejo a hora de te encontrar. O que?
– Comendo o melhor bolo de goma da minha vida! – ela disse.
Eu havia colocado um saco de bolo de goma dentro da mala dela com um cartão que dizia:
Meu amor, a vida, vez por outra, nos oferece caminhos amargos, mas, sem dúvida, necessários para a construção de um futuro doce. Estarei sempre com você, seja qual for o caminho.
Te amo,
Lu.
– Como você está? – perguntei.
– Cansada. Não dormi nada no vôo, pensando em você, em nós – disse.
– Aproveite para descansar. E lembre que, em breve, estarei ai com você – acalmei.
– Te amo – disse ela.
– Eu também – confirmei.
Desliguei o telefone e deitei no sofá me sentindo uma adolescente apaixonada.
Ao mesmo tempo em que sofria com a distância, parecia que aquele furor juvenil tinha despertado novamente em nós.
Foram dois meses de muitas ligações, emails e até cartas românticas, mas, sobretudo, de celibato.
Desde o fim do meu relacionamento anterior e do início da relação com Carol, não passava tanto tempo reclusa.
Como estava meio de “bobeira”, foquei no trabalho e consegui render bastante, o que me possibilitou mais dias de folga. Viajei para passar 20 dias com Carol.
A sensação era a do primeiro encontro. Estava ansiosa. Ela foi me esperar no aeroporto e foi bom ter sido recebida com um abraço tão forte quanto o último.
Era um dia de final de inverno e Carol estava corada pelo frio. Mesmo com o excesso de roupas consegui sentir o calor do corpo dela. Que saudade!
Chegamos em casa e mal a porta bateu, Carol começou a tirar minha roupa. Nos amamos ali mesmo no chão. Perdi a conta de quantas vezes goz*mos juntas. O chão duro e o frio não atrapalharam nossa performance, talvez até tenham sido ingredientes de uma experiência.
Eram quase 9 da noite e o céu ainda estava claro. Isso fez com que perdêssemos um pouco da noção de quanto tempo havíamos passado ali.
Com exceção dos dois dias que passamos em Bruges, na Bélgica, e dos quatro dias em que estivemos em Paris, quase não saímos de casa, ou melhor, quase não saímos da cama. Mas posso garantir que foi a viagem mais proveitosa dos últimos tempos.
Carol fez questão de me levar até a Universidade e de me apresentar a seus amigos, que faziam questão de dizer que já me conheciam de nome. Foi importante para nós duas reafirmar nossos espaços.
No último dia da minha estada em Londres fomos a um pub e Carol encheu a cara de cerveja. Voltei para casa com ela completamente embriagada.
Estava trocando a roupa dela, o que me fez lembrar a nossa primeira noite, quando ela olhou pra mim e disse:
– Você foi a única mulher que eu amei de verdade.
– Meu amor, você bebeu demais, vamos tirar essa roupa – eu disse.
– Eu tiro, mas quero que você saiba que aconteça o que acontecer vou continuar amando você. Que você é a mulher da minha vida e que eu quero ter filhos com você – declarou e correu para o banheiro, onde vomitou em seguida.
Dei um banho quente nela e a coloquei na cama.
Fim do capítulo
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