Capítulo 13: LIÇÃO 11 – RELAXE UM POUCO, E VEJA NO QUE ESTÁ SE METENDO
Por alguns segundos fiquei inerte, nos segundos que se sucederam fiquei presa ao magnetismo que os olhos de Marcela exerciam sobre mim. Só saí daquele estado que se assemelhava a uma catatonia, quando a menina deixou escapar uma risada ao me encarar.
-- Marcela, desculpe-me... Nossa! Queimou você? O café estava quente!
-- Não o suficiente para me queimar, se não queimaria a senhora também!
Marcela apontou para minha roupa, completamente manchada de café. Sorri, completamente deslocada.
-- Nossos esbarrões precisam ser menos violentos, professora.
-- É verdade...Nossa, agora vou me sentir culpada, vou te deixar toda suja o dia todo!
-- Ah, eu vou ter aula de laboratório, trouxe meu jaleco, está no carro, posso usar e na hora do almoço vou em casa, relaxa, professora.
-- Bom, eu vou ter que trocar de jaleco... Acho que tenho um no meu laboratório.
Mais pensei alto, do que falei à menina. No entanto, Marcela ouviu e logo se ofereceu para ajudar:
-- Vamos ajudo a senhora então, está aí toda suja, cheia de bagagem...
-- Mas, você vai se atrasar pra sua aula, e...
-- A senhora também! E eu já ia para o estacionamento mesmo, pegar meu jaleco, é caminho.
Mesmo que eu tivesse motivos para contra argumentar, eu preferiria negá-los. Minha assistente no laboratório ainda não chegara, ficamos a sós no meu escritório.
Marcela acomodou minha maleta em uma das cadeiras no meu escritório, olhou em volta, enquanto eu tirava o jaleco sujo de café, deixando à mostra, a roupa caprichada que escolhera naquele dia. Nesse momento, os olhos de Marcela pararam sobre mim. Disfarcei a dubiedade da insegurança e satisfação dessa atitude dela procurando no armário um jaleco reserva dentro de uma sacola. Será que ela gostava do que via?
-- Achei! – Disse retirando o jaleco da sacola.
--A senhora é obrigada a usar esse jaleco para dar aulas?
-- Não, quer dizer, obrigada não, mas, é de bom tom, e já estou acostumada, por que?
-- Por nada... Sabe, é que... Deixa pra lá.
Marcela desconversou tímida. E eu, se estava insegura, agora estava ainda mais, e tomada de curiosidade insisti:
-- Fala, Marcela! Não acha que o uso de jaleco pelos professores, contribua para uma imagem da academia?
-- Ah, professora Luiza, a imagem da senhora por si só já é perfeita pra academia, independente de jaleco...
-- Han? – Minha perplexidade se deu pelo que supus entender na fala de Marcela.
-- Eu quis dizer que, uma professora como a senhora, com a fama que tem, que é justa, de pesquisadora reconhecida, premiada, já dá status o suficiente, que o uso de um jaleco não influencia, considerando sua carreira acadêmica.
-- Ah... Entendi.
Possivelmente um tom de frustração deve ser escapado na minha frase. Vesti o jaleco e apressei-me:
-- Vamos! Estamos atrasadas já.
-- Vamos. Mas, vou dizer: é uma pena a senhora esconder essa elegância toda em baixo do jaleco.
Marcela disse e saiu rápido, como uma criança levada que disse desaforo. Ainda bem, assim, ela não testemunhou minha cara abobada, e meu tropeço na saída do escritório, se não fosse a bancada dos microscópios à minha frente, teria ido ao chão.
Tudo bem, ela não disse nada demais, mas, para mim, foi o suficiente para deixar minhas pernas trêmulas. E elas voltaram a tremer quando revi Marcela na aula da tarde, o magnetismo do olhar dela, era surreal, passei a procura-la em meio aos alunos, enquanto ministrava a aula, vez por outra, ela me dava um sorriso com o canto dos lábios, gesto que me deixava ridiculamente feliz.
Como marcado, reunimos o grupo de pesquisa no final da tarde no laboratório. Os novos membros demonstravam a ansiedade, os olhos curiosos, os cochichos, as risadas. Os alunos que já participavam do grupo, falavam sobre o trote com os novatos despertando especulações a respeito. O clima de boas expectativas tomou de conta dos momentos que antecederam minha fala.
Nem todos os docentes do grupo puderam estar na reunião, coube a mim as boas-vindas e listar o cronograma de atividades do semestre.
-- Vocês serão divididos em grupos menores, para que as atividades sejam permanentes, e não sobrecarregue nenhum docente nem discente. Terão sempre um dos professores para coordenar as atividades, e os alunos que já são bolsistas, atuarão como monitores. Esse laboratório estará sempre de portas abertas para vocês.
Distribui nesse momento fichas de cadastramento e segui explicando:
-- Essa ficha vocês entregarão preenchidas no setor de informática desse campus, lá será feito o cadastramento biométrico, porque os laboratórios não terão mais chaves nas portas, serão abertas eletronicamente, portanto, só as pessoas do GRUFARMA, terão acesso a esse laboratório. Esse sistema também poderá identificar quem entrou aqui, a que horas, e por quanto tempo ficou aqui.
-- Nossa, praticamente um laboratório da NASA! – Um dos alunos veteranos brincou.
-- Na verdade, esse é um projeto pioneiro, mas que daqui a alguns anos será comum nas repartições. Nosso laboratório foi escolhido para ser o primeiro para testar esse sistema, em virtude do teor de nossas pesquisas. O que estamos desenvolvendo aqui, envolve muito dinheiro, vocês devem imaginar o poder da indústria farmacêutica, nossa pesquisa, representa uma alternativa a classe de antibióticos, muitos milhares de dólares em potencial, serão cultivados aqui.
Eu disse isso sabendo que chocaria os alunos novatos. Alguns arregalaram os olhos, outros sorriram, outros praticamente pararam de respirar.
-- Vocês são agora pesquisadores, serão cobrados por isso. Nós temos aqui, docentes e profissionais da área clínica, e agora também de engenharia química. Nossos próximos passos nessa pesquisa são ambiciosos, mas, como precisamos manter as bolsas pelos critérios da CAPES e solicitar novas bolsas para vocês que acabaram de ingressar, precisamos avançar em passos menores, é bom que saibam, que essa atividade exigirá muito de vocês, e a qualquer momento, quem não atender essas exigências, será desligado do grupo, e chamaremos outros que ficaram fora das vagas.
Dessa vez o discurso foi de Aurélio, um bioquímico como eu, com uma ampla experiência em pesquisa farmacêutica. Ligia, uma das médicas do grupo, prosseguiu falando das linhas de trabalho, ditou algumas atividades que seriam desenvolvidas nas próximas semanas, e anunciou o primeiro evento do semestre o qual, o grupo deveria enviar participantes:
-- Será um congresso internacional de pesquisa clínica, os meninos - apontei para os veteranos – Já tem trabalhos prontos, mas, os novatos tem tempo ainda para preparar algum trabalho, temos aí uns vinte dias antes de se encerrar o prazo de submissão, assim, quem tiver interesse, estamos à disposição para orienta-los, quanto mais trabalhos, melhor para o grupo.
Finalizei a reunião, e aos poucos, restavam poucos na minha sala.
-- E ai? Alguém topa, uma pizza? – Fernando, um dos veteranos convidou.
-- Eu topo! – Renatinha, uma das novatas disse.
Um grupo menor, seguiu para a pizzaria, e quanto a mim, que recusei o convite, quando percebi, estava sozinha na sala, nem vi, Marcela e sua amiga Jessica, deixarem a sala. Reuni minhas coisas e quando saía do escritório, fui surpreendida pela novata mais linda no grupo:
-- A senhora não vai para a pizzaria?
-- Ah, não... Estou exausta. Mas, você deveria ir, se enturmar com o pessoal.
-- Estou um pouco cansada também, acho que não faltarão oportunidades...
--Não faltarão mesmo, logo você vai se enturmar.
Saímos do laboratório, e Marcela me acompanhou até a saída para o estacionamento.
-- Eu gostaria de ir ao congresso, professora.
-- Olhe o site do congresso, veja se consegue fazer algum trabalho, eu posso te ajudar.
-- Olharei hoje mesmo.
-- Procure-me com alguma ideia, estão aceitando trabalhos de revisão bibliográfica, então, pode ser uma opção. Todos os finais de tarde, estou no laboratório, fique à vontade para me procurar.
-- Obrigada, professora.
Marcela sorriu, e eu me desmanchei. Observei-a se afastando, em direção oposta à minha, que estava indo para o estacionamento.
-- Marcela! O estacionamento é por aqui...
-- Eu sei, mas, não estou de carro, vim de carona com Jessica e ela foi para a pizzaria com o pessoal. Vou para o ponto de ônibus.
-- Ah, que é isso? Venha, te dou uma carona.
-- Professora, é muito contramão, moro no lado oposto da casa da senhora.
-- Mas, não vou te carregar nas costas... – Brinquei – Vamos, está tarde para você ir de ônibus.
Marcela fez um sinal positivo com a cabeça e seguimos para meu carro. Eu, estava tomada pela energia juvenil da menina. Olhava para cada detalhe do seu gestual, meu encantamento começava a se tornar escrachado.
-- Então, onde você mora?
-- Zona norte da cidade, perto da BR.
-- Vamos lá então, me diga o melhor caminho, não conheço muito bem esse lado da cidade.
Marcela acenou em acordo, e seguimos.
-- Sabe, engraçado, quantas vezes já andei nesse carro com a senhora...
-- Acho que você é a aluna que mais o frequentou, e olhe que não temos nem um mês de aula direito, e hoje foi a primeira reunião do grupo de pesquisa.
-- Então... Espero que eu continue batendo esse recorde.
Sorrimos juntas. O silêncio no carro, contribuiu para que qualquer barulho ecoasse, ouvi o movimento peristáltico vindo do estômago de Marcela, segurei o riso, até o momento que ela não conseguiu fazê-lo:
-- Ai que vergonha! – Marcela disse gargalhando.
-- Você devia ter ido comer a pizza com o pessoal, heim? Tanta fome assim?
-- Ah...Normal...Nem muito, nem pouco... Ah! Mentira! Estou morrendo de fome!
Ri do jeito moleque que Marcela confessava sua fome. Com o carro parado no sinal, pude observar os olhos da menina se fixarem em uma furgão transformado em barraca de cachorro quente.
-- Você gosta de cachorro quente? – Perguntei.
-- A senhora já provou esse? Nossa, é muito bom, o purê de batatas é uma coisa...
Marcela parou de falar de repente, quando me viu sorrindo.
-- Imagina, se a senhora fina como é, ia conhecer o cachorro quente da esquina né?
O sinal abriu e eu encostei logo à frente do tal furgão.
-- Não provei esse ainda, mas, adoro purê de batatas, vamos lá?
-- A senhora? Dra. Luiza, vai comer cachorro quente no meio da rua?
-- Xi, pode parar, acha que sou fresca?
-- Não, que é isso! Estou envergonhada, eu e minhas tripas rocando... Minha cara de esfomeada...
Notei que Marcela estava sendo honesta, estava visivelmente tímida.
-- Vai me deixar com fome? Vou atravessar a cidade e voltar antes de comer algo se não comermos agora.
Saí do carro e abri a porta para ela:
-- Vamos lá, Marcela!
Mesmo demonstrando constrangimento, Marcela desceu do carro.
-- Agora me apresente ao super cachorro quente, com o purê de batatas incrível!
Não demorou até Marcela me trazer “a iguaria”, sentadas em banquinhos de plástico perto do meio fio, degustamos o cachorro quente. Se eu lutava para vê-la como uma menina, aquele momento contribuiu para isso. A garota estava lambuzada de mostarda, purê, e sua roupa já não estava mais tão limpa. Vendo a cena, não contive um sorriso.
-- Que foi? – Marcela perguntou, desconfiada.
-- Você, não está dando chance pro cachorro quente...
-- Hum?
A carinha dela merecia ser eternizada numa fotografia. Peguei um guardanapo, e limpei sua boca, delicadamente, por alguns segundos, nossos olhares se cruzaram, e foi um momento apavorante para mim, tamanha a dimensão das sensações que experimentei: taquicardia, frio na barriga, tremor nas pernas. Se o brilho dos meus olhos fosse semelhante ao que vi nos dela... O diagnóstico de uma paixão estava fechado!
De tanto pavor, simplesmente parei o que estava fazendo e entreguei um guardanapo limpo a Marcela.
-- Ainda tem purê na sua roupa – Apontei – O que é um desperdício, porque o purê é realmente muito bom!
-- Que bom que gostou... Não acredito que trouxe a senhora pra comer no meio da rua...
Percebi as mãos de Marcela trêmulas também enquanto limpava a roupa. O tom seguro na voz da garota, pareceu se esconder.
-- Na verdade, eu te trouxe. Então relaxe, e limpe-se direito, pra não sujar meu carro. – Brinquei tentando minimizar o clima constrangedor.
-- Parece que você está falando com sua filha de cinco anos de idade.
Marcela fez bico involuntariamente, limpando bruscamente os farelos espalhados pela roupa. Meu Deus, aquilo estava ficando ridículo, eu achei a cena fascinante, sorri pateticamente.
-- É, eu tenho idade para ter uma menina de cinco anos, mas, não uma de vinte... Portanto, desfaça esse bico, e vamos embora, né?
Marcela foi me orientando no caminho, e quando finalmente chegamos à sua casa, em um bairro de classe média alta da cidade, a menina se apressou em agradecer:
-- Professora, não tenho palavras para agradecer tamanha gentileza.
-- Menos, Marcela, não foi nada demais. Está entregue, segura, amanhã me procure se tiver alguma ideia para apresentar no congresso...
-- Claro, eu vou olhar no site, agora mesmo.
-- Então, boa noite, Marcela.
O silêncio dentro do carro, aquele espaço tão pequeno, com qualquer outra mulher, eu sentiria que era a hora de um flerte mais pesado, uma carícia mais ousada, o ponto certo para o manifesto de sedução. Mas, não era qualquer mulher, era ela: Marcela, eu a vi pela primeira vez como mulher.
-- É difícil sabia?
-- O que?
-- Sair da sua companhia.
-- Ah...
Fiquei tímida. Não sabia o que responder, e Marcela como se aproveitasse do meu momento de ausência de fala, emendou:
-- Sua companhia, me faz tão bem, parece que te conheço há anos... Na verdade... Parece... Deixa pra lá.
-- Parece o que?
Fitei os olhos de Marcela, ansiosa por alguma respostas mais contundente que me impulsionasse a fazer o que meu corpo pedia. A pouca luz da rua, foi-se, um apagão aconteceu no instante que nossos olhares ficaram presos um ao outro.
Naquela escuridão, senti o calor e o perfume de Marcela se aproximarem do meu pescoço. Minha pele eriçou, meu coração galopou, ainda mais, quando ela falou ao meu ouvido:
-- Parece destino...
Marcela beijou meu rosto e saiu correndo, antes que eu conseguisse responder ou esboçar qualquer outra reação. Bateu a porta do carro e da calçada disse, agora a luz voltara à rua:
-- Boa noite, professora, obrigada mais uma vez, por tudo.
Ela subiu as escadas que davam acesso ao portão da casa, e rapidamente entrou. E quanto a mim? Fiquei lá, catatônica, o máximo de movimento que consegui executar, foi desenhar com os dedos a marca da boca de Marcela em minha pele.
Uma batida no vidro do carro me arrancou do meu quase êxtase. Um guarda municipal fez sinal para que eu baixasse o vidro:
-- Está passando bem, dona?
-- Ah sim. Estou de saída já senhor guarda.
Saí da frente da casa de Marcela saboreando aquele momento. O cheiro dela parecia fixado nas minhas narinas, o tom de sua voz sussurrando, me fazia arrepiar outra vez. Naquela noite, demorei a dormir, nem as mensagens de Beatriz me fizeram sair do pensamento em Marcela. Minha insônia não era angustiante, era efusiva, era inquietante. Não enxergar mais na aluna uma menina, começava a despertar outras sensações em mim.
Um gesto tão simples, mas foi um dos momentos mais sensuais e delicados que experimentei até então. As aulas que ministrei na turma de Marcela eram os momentos mais ansiados por mim, ao passo que me desconcertava ao parar meus olhos nela, eu não me cansava de desafiá-la com perguntas sobre a matéria, me deliciava com aquele jeito de fugir pela tangente quando não sabia a resposta certa. A minha sorte era que nenhum dos meus amigos assistiam minhas aulas, de outra forma, veriam nosso flerte menos disfarçado.
A semana seria mais curta, o feriadão que começava na sexta, antecipou para quinta-feira o clima de final de semana. Todavia, como não tinha planos de viagem para o feriado, mantive minha rotina no laboratório. No final da tarde, os alunos veteranos deixaram o lugar e fiquei só, concluindo um experimento.
-- O que vê? Alguns milhares de dólares em patentes?
A voz de Marcela tomou de conta do laboratório. Ou ela entrou muito silenciosamente, ou eu, estava muito concentrada no microscópio de última geração, recém adquirido pela universidade.
-- Marcela?! Nossa! Essa porta automática é mesmo silenciosa... Não percebi sua entrada.
-- Aproveitei a saída do Joaquim... E você estava muito concentrada aí... Não quis atrapalhar.
-- Ah... Quer ver? – Apontei para o microscópio – Não tem dólares ainda, mas tem uma atividade interessante nesses macrófagos.
-- Que excitante! Quero ver sim.
E ela veio, senti de novo aquele perfume me se fixou no meu olfato desde a segunda-feira.
-- Então, essa é ação da droga? – Marcela perguntou.
-- É, uma delas, mas, ainda estamos em uma fase primária da pesquisa. Provocamos infecções com agentes microbianos simples, e mesmo assim, a sobrevida dos ratinhos é baixa, após curada a infecção, logo, temos muitos efeitos colaterais a combater.
-- Ah, mas, já é um bom resultado!
-- Verdade...
E mais uma vez nossos olhares se cruzaram. Marcela sorriu. Ah se ela soubesse o que aquele sorriso provocava em mim!
-- Então... Aquela amiga da senhora não vai aparecer por aqui hoje?
-- Amiga? Que amiga?
-- Aquela que te deu as rosas, estava aqui naquele dia...
-- Ah! A Clarisse, não... E não foi ela quem me deu as rosas...
Falei sem graça. Marcela continuava me encarando desconfiada. E disse, agora fugindo dos meus olhos, voltando ao microscópio:
-- Então, está afim daquele cachorro quente?
-- Sério? Está me chamando pra comer na rua, de novo?
Marcela sorriu para mim, e minha versão gelatina Royal deu as caras, me tremi toda.
-- Está sem carona, de novo? Perguntei.
-- Poxa professora, eu te convido para jantar, e a senhora já acha que tem algum interesse?
-- Fui indelicada, não é? Perdoe-me, eu... – Gaguejei nervosa.
-- Calma, professora! Estou brincando! Mas, o convite para jantar continua, a senhora pode escolher dessa vez, e não precisa me dar carona...
Não sei o que me deu, nem pensei duas vezes antes de aceitar. Seguimos para o estacionamento, conversando amenidades, eu começava a enxergar Marcela com naturalidade, sem o fosso que eu construía com alunos.
-- Eu estou de carro, então, vou seguindo a senhora, tudo bem?
Marcela disse quando chegávamos perto do seu carro. Acenei em acordo, mas, de repente, uma voz estranha ecoou ali:
-- Eu precisava ver com meus próprios olhos que você, Marcela Ferraz, está até essa hora na faculdade em plena véspera de feriado.
O tom da voz era cheio de ironia, o olhar de Marcela era de susto, e desagrado. A dona da voz, era de uma jovem, talvez da mesma idade que Marcela, tinha cabelos longos castanhos com pontas cacheadas, usava um óculos de grau moderno, foi tudo que consegui prestar atenção nela.
-- Oi, Laura. O que faz aqui?
-- Você me disse que estava aqui, fiquei te esperando. Avisei que viria passar o feriado, não lembra?
-- Achei que fosse me ligar pra ir te pegar na rodoviária... Você não confirmou...
Notei o clima íntimo das duas, e isso me incomodou profundamente. Lembrei-me das vezes em que Marcela se afastou para atender telefonemas, e um dos quais escutei, logo associei a garota nova. Fiquei ali assistindo a cena, sem saber ao menos o que falar para cancelar os planos de jantar com Marcela, até que tentando disfarçar o constrangimento, ousei interromper:
-- Bem, Marcela, eu vou indo, nos vemos na segunda na reunião do grupo, bom feriado.
-- Professora, me desculpe, eu não sabia...
-- Professora? Você é a tal professora maravilha? – A jovem falou com sarcasmo.
-- Laura, por favor...
-- Não sei se sou a tal professora maravilha, mas, sim, sou professora da Marcela. Estava de saída, boa noite. Não tem nada pra se desculpar, Marcela, até mais.
Saí sem esperar as desculpas de Marcela, sequer tive coragem de olhar para a direção das duas, temendo testemunhar algo que me desagradaria. Precisava assumir para mim mesma: estava com ciúmes de Marcela.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Tatta
Em: 01/12/2017
Você não imagina minha felicidade quando recebi sua resposta lá no blog! Foram exatos 2 anos e alguns meses de espera pela continuidade dessa história, e agora finalmente vou matar aquela curiosidade do que vinha depois do capítulo 13!
Para poder sentir todas as sensações de dois anos atrás, quando chegasse no 14, me dei ao luxo de reler desde o primeiro capitulo... agora, me vejo na mesma empolgação de 2 anos atrás! Então, bora finalmente matar essa curiosidade!
seja bem vida novamente!
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]