~POV Larissa~

 

Acordei no outro dia um pouco abatida. Por mais que eu entendesse a situação na minha cabeça não entrava que todas essas coisas estavam acontecendo. Eu sempre quis ficar com o Mateus e mesmo levando algum tempo pra isso se concretizar, mais cedo ou mais tarde, eu sabia que ficaríamos juntos. E quando finalmente esse desejo se realizou, meu coração já tinha um novo espaço sendo habitado.
Confesso que no começo, pensei que Eduarda seria uma espécie de “bônus indesejado” pro meu namoro, já que os dois faziam quase tudo juntos e por esse motivo eu cogitei a hipótese de sentir ciúmes dela e foi totalmente ao contrário. Desde a primeira vez que nossos olhos se cruzaram eu fiquei presa a ela, tremi na base e notei que estava entregue. Por mais que isso não seja certo, não consigo parar de pensar que apesar de tudo ela se mostrou uma pessoa com valores, já que preferiu preservar sua amizade com o Mateus do que se entregar a loucura dos nossos desejos.
Depois de muito pensar, decidi que iria focar no meu relacionamento. Afinal, até alguns meses atrás eu era completamente apaixonada pelo meu namorado e isso não podia ter acabado.
Estava em casa conversando com Júlia por mensagem quando recebi o convite de Mateus pra irmos a uma espécie de bar Promenade. Aceitei na hora, pois precisava me distrair.

 

Convidei Júlia e ela aceitou fiquei mais animada ainda. Tomei um banho e fui me arrumar.
Como a noite estava agradável vesti um Shortinho envelope em crepe preto, uma blusinha da Gucci branca e uma espadrille com salto baixo. Cabelo solto
Uma make com batom vinho e boas. Estava linda rsrs..
Combinei com Mateus de nos encontrarmos lá, já que eu passaria na casa de Júlia pega-la.

 

Ligação on:

- Jujuba, estou aqui faz meia hora. Se aligeira ou vai casar?
- Credo, Kürbis. Mateus não anda dando conta não?
- Cala boca e desce logo. Desliguei.

Ligação off.

 

Depois de uns 10 minutos aparece Júlia vestida para o casamento, por que né?

 

- E ai garota que não trans*! Já chegou loucona.

 

- E ai noiva. Desculpa, mas esqueci de que era teu casamento e acabou não dando tempo de vir com o traje certo.

 

- Haha você sempre exagerada.

 

- E você sempre atrasada. Nunca vi.

 

Dei partida e seguimos para o Promenade. Chegamos lá e o bar era excelente, havia adorado.
De longe avistei meu namorado e me aproximei.

 

- Oi amore. Dei um beijo nele.

 

- Oi amor. E ai dona Júlia, arrumou um tempinho pra nós?

 

- Nem fala Mateus. Minha vida é corrida. Haha

 

- Imagino.

 

- Atarefada desse jeito, terei que marcar uma horinha na tua agenda da próxima vez. – fiz bico.

 

- Mateus você não anda cuidando dela direito? Que quando não está brava, está carente. Disse Júlia me zoando.

 

- Haha eu tento Júlia, eu tento.

 

Continuamos a conversa com o clima descontraído, Mateus e Júlia pareciam amigos de infância. O telefone de Mateus tocou ele atendeu.

 

- Quem era? Perguntei.

 

- Heitor. Ele tá vindo pra cá.

 

Gelei na hora, imaginei que Duda pudesse estar com ele, e essa ansiedade se estendeu até o momento que vi Heitor entrar no bar. Graças a díos, sozinho. Me acalmei.

 

- Buenas, galera. Heitor cumprimentou a todos.

 

- E ai Hein, Duda não quis vir? Perguntou Mateus.

 

Olhei para Heitor na hora que me olhou e deu um sorrisinho discreto.

 

- Não, Mat. Até convidei ela, mas ela já estava de saída, ia pra uma festa com o Murilo. Falou.

 

Nossa, que tudo! Deixou de estar aqui comigo pra ir pra festa. Se bem que não estaríamos a sós e ela é solteira né, vai querer pegar todas, não ficar empacada com alguém que tem namorado. Que raiva! – Na verdade eu nem poderia estar desse jeito, mas só de imaginar ela ficando com outras pessoas me deixava desconsertada.

 

- Ela tá certa, tem mais é que sair e se divertir, afinal o Gabriel já era. Mateus disse.

 

Sério Mateus? Por favor! – Só posso estar ficando louca pensando essas coisas.

 

 

- Vamos ao banheiro comigo? Pedi pra Júlia.

 

- Claro! Respondeu.

 

 

Cheguei ao banheiro e molhei meus pulsos, estava irada, mas não podia demonstrar.

 

- Quem é aquele gato? Júlia perguntou.

 

- Heitor, irmão da Duda que encontramos na cafeteria aquele dia, lembra?

 

- A do namorado gato que agora tá solteira, pegando todos pelo que entendi.

 

- Essa mesma. Respondi meio seca.

 

- Ei, Kürbis o que está acontecendo?

 

- O que? Me fiz de desentendida.

 

- Você tá estranha hoje. Com a cabeça no mundo da lua e sem paciência. O que houve?

 

 

- Nada Júlia, só estou cansada.

 

 

- Meu bem, olha nos meus olhos. – Olhei pra ela – que continuou – Eu te conheço desde que a gente tinha três anos de idade e tu ainda tenta me esconder às coisas? Está perdendo seu tempo.

 

 

- Tá, tem algo acontecendo, mas hoje você dorme lá em casa que te conto tudo. Não quero falar sobre isso agora.

 

 

- Tudo bem, mais tarde conversaremos sobre o que está te atormentando e tudo ficará mais leve. Prometo! – Piscou pra mim. – Agora vamos voltar que achei Heitor um gato.

 

Era incrível como Júlia ia de psicóloga a menina boba em menos de um minuto.
Voltamos para a mesa com os meninos. Júlia engatou um papo com Hein e eles pareciam animados. Eu deitei no ombro de Mateus que beijou a pontinha do meu nariz.

 

- Tá desanimada hoje? Perguntou.

 

- Um pouquinho cansada. As coisas essa semana foram uma loucura.

 

 

- Nem me fala amor, acho que semana que vem terei que viajar para resolver umas coisas da empresa.

 

- Justo na semana do meu aniversário? Fiz cara de tristeza.

 

- Infelizmente sim. Mas até o sábado do teu aniver pretendo estar aqui para passarmos juntos. Dá tempo né? Duas semanas ainda.

 

- Claro que sim. E se você estiver fora da cidade no dia, eu vou entender.

 

- Além de linda você é compreensível? Eu estou muito bem, obrigado.

 

- Não melhor do que eu. Lhe dei um selinho.

 

Eu me sentia meio estranha falando essas coisas, mesmo elas sendo verdadeiras. Sabia que Mateus gostava de mim de verdade e não queria decepcioná-lo.

 

- Já sabe o que fará pro teu aniversário, Lari?
Jú Perguntou.

 

- Ainda não decidi.

 

- Mas amiga, faltam só duas semanas não deixa tudo pra última hora.

 

- Se você quiser Larissa, meus pais irão viajar no final de semana do teu aniversário e podemos fazer algo lá em casa. Heitor disse.

 

- Sim, Hein seria uma boa ideia. Mateus disse.

 

- Claro! Podemos combinar algo sim. Eu disse.

 

- Bom gente, o papo tá bom, mas amanhã eu trabalho cedo. Heitor disse.

 

- Sim nós também já vamos.
Dei tchau para Heitor que ainda conversava com Júlia.

 

- Então amor, nos falamos. Se cuida.

 

- Você também gatinho. Nos beijamos e segui pra casa.

 

Chegamos a minha casa e trocamos de roupa. Júlia sentou na poltrona em frente a minha cama e ficou me olhando.

 

- Eu sei que sou linda. Quer uma foto? Eu disse fazendo graça.

 

- Pode ser, mas primeiro quero que me conte o que está acontecendo.

 

Ela me olhava séria. Agora era minha amiga séria que estava ali, então eu contei tudo pra Júlia, até mesmo a parte do beijo que eu e Eduarda trocamos.

 

- Meu Deus, Kürbis. Retire tudo que eu disse naquele dia que você não se arriscava e tals.

 

- Pois é. Agora você sabe por que ando assim. Disse fraca.

 

- Sim, Lari. Eu imagino o quanto essa história de vocês é complicada e não é nem pelo fato dela ser uma mulher, mas sim por ser amiga do teu namorado.

 

- Você acha que eu não sei Jú. Isso me atormenta há meses, o fato de estar apaixonada pela melhor amiga do Mateus.

 

- E o que você pretende fazer em relação a isso?

 

- Na verdade, nada. Eu disse murchando.

 

- Como assim, Lari?

 

- O que eu posso fazer Júlia? Deixar o Mateus e ficar com ela? Tentar um relacionamento a três? Esquecer os dois? – eu não vejo alternativa a não ser esquecer essas paranoias.

 

- Larissa, sentimentos não são paranoias. E não é fácil esquecer uma pessoa que mexeu com as tuas estruturas. Você sabe disso, né?

 

- Mas eu vou ter que fazer isso. Você acha que depois do beijo eu não tive esperanças? Mas ela já falou que a amizade do Mateus é muito importante.

 

- E deve ser mesmo, afinal eles são amigos como nós duas, desde que nasceram.

 

- Pois é não tem muito a ser feito.

 

- Eu entendo que nada é fácil pra vocês, mas também não é justo com ele tu continuar esse namoro por comodismo.

 

- O problema é que eu gosto dele, Jú. Eu sei que ainda tem um espacinho que é dele aqui no meu coração. Eu disse isso e algumas lágrimas começaram a cair.
Júlia me abraçou e disse:

 

- Calma gatinha. E pensa sempre naquele velho ditado “Se for pra vocês ficarem juntas, vocês vão ficar, não importa quanto tempo passe.”

 

- Assim eu espero. Que tudo se ajeite.

 

~POV Eduarda~

 

Acordei e já eram 14h desci e pra variar só meu irmão estava em casa, meus pais haviam ido ao clube de tiro (sim a idade não vem sozinha, ela vem com a loucura na garupa).

 

- Desci sorrateiramente as escadas e me posicionei atrás de Heitor que estava concentrado jogando videogame.

 

- FALA MANINHO!! Gritei, eu queria causar mesmo. (e me vingar) E funcionou, Heitor parecia que ia enfartar. Achei muito engraçado.

 

- Você tá louca guria? Ele me olhava com ódio mortal.

 

- Haha Só se for louca por vingança, é bom entrar no quarto dos outros sem bater, não é?

 

- Vai ter volta, pode apostar. E jogou uma almofada na minha cabeça.

 

- Ai seu brutamontes. Fingi braveza.

 

- Senta ai, vamos jogar uma partida, faz tempo que não fizemos isso.

 

- Eu topo!

 

Como eu adorava fazer essas coisas com o meu irmão. Às vezes, com a loucura do dia a dia a gente esquece de que algumas coisas não tem preço.

 

- Preparada para perder, como sempre? Hein, perguntou irônico.

 

- Só que não. E não vale chorar.

 

Jogamos algumas partidas e Heitor jogava futebol melhor, eu até tentava, mas ele praticava desde os tempos que só existia winning eleven, ai ficava difícil pra eu ganhar.

 

- Pra variar você perdeu, mais uma vez.

 

- Também né, você tem cinco anos há mais de experiência, não é justo.

 

- Chora menos. Hahaha..

 

- É impressão minha ou o senhor está muito feliz hoje?

 

- E estou mesmo. Sorriu.

 

Eu conhecia meu irmão, sabia que estava acontecendo algo.

 

- Fala logo!

 

- Ontem sai com Mateus, você lembra né?

 

- Sim e o que tem? Nós sempre saímos juntos.

 

- Só que ontem a Larissa – meu coração deu uma pequena estremecida, disfarcei – levou uma amiga dela, Júlia o nome dela.

 

- A eu conheci a Júlia em uma tarde que eu encontrei com elas na cafeteria. – Lembrei-me.

 

- Pois é ontem conversamos bastante, e eu achei ela bem interessante e acabou que trocamos telefones e daqui a pouco vamos sair. Falou animado.

 

- Que bom, Hein. Fico feliz que você esteja dando um rumo na sua vida, depois da Giovanna.

 

Giovanna era namorada de Heitor, eles estavam planejando algo mais sério, mas no meio disso tudo surgiu uma vaga boa na área que ela estava se especializando e acabou que ela foi morar no Tocantins, ou seja, bem longe da nossa cidade que fica em Santa Catarina.
Eles até tentaram namorar a distância, mas isso abalou tanto o relacionamento que acabou não dando certo. Meu irmão sofreu pra caramba e vendo essa oportunidade com Júlia eu realmente fiquei feliz por ele.

 

- Bom maninha, vou me arrumar que logo ela chega aqui pra gente sair. Me deu um beijo e subiu pro quarto.

 

Fiquei mais um tempo ali jogando videogame, até que ouço a campainha.

 

- Poxa, não posso nem terminar a partida.

 

Abri a porta e não acreditei no que meus olhos viam. Larissa estava ali parada na porta da minha casa me olhando de uma forma indecifrável que quase me fez perder o ar.

 

 

- Oi Eduarda, o Heitor tá por ai? Júlia perguntou.

 

Só nesse momento me toquei que ela estava ali esse tempo todo.

 

- Ah claro, eu vou chama-lo. Entrem e sintam-se a vontade.

 

~POV Larissa~

 

Eu não queria aceitar o convite de Júlia para ir até a casa de Eduarda. Digamos que eu queria e não queria ao mesmo tempo. Mas resolvi ir.

Na hora que chegamos eu travei.

 

- Vamos, Larissa. Não vai ficar ai no carro né?

 

- O que eu vou falar pra ela? Perguntei.

 

- Nada ué. Estamos aqui por que você me deu uma carona, simples. Confia em mim.
Tocamos a campainha e depois de alguns instantes Duda abriu a porta.

 

E como ela estava linda. Com um short curtindo e uma camiseta do Mickey e com os pés descalços.
Simples e linda. Babei nela, eu confesso. Mas notei que ela também não desgrudava os olhos de mim. Aquilo me deixou sem graça de certa forma. Até que Júlia nos tirou do transe.

 

- Oi Eduarda, o Heitor tá por ai? Júlia perguntou.

 

Ela olhou desconcertada para Jú e disse.

 

- Ah claro, eu vou chama-lo. Entrem e sintam-se a vontade.

 

E subiu as escadas correndo.

 

- Sério Lari o que foi aquilo? Indagou.

 

- Aquilo o que? Não havia entendido.

 

- A Eduarda te comeu com os olhos.

 

- Não exagera Jú. Eu disse.

 

- Ata. Duvido que ela seja indiferente aos teus sentimentos. Pode crer que ali naquele corpo o desejo corre solto.

 

Essa Júlia era meio retardada, só pode. Fala cada coisa.

 

- Oi meninas. Hein disse.

 

- Olá! Eu disse e dei um beijo em seu rosto.

 

- Oi Heitor. – Júlia disse quase babando, depois fingi ser a independente, mas ta boba pelo meu quase cunhado.
QUE? Quase cunhado só que nunca, Larissa. Se toca.

 

 

- Duda vou indo e Larissa foi um prazer- revê-la.

 

- O prazer foi meu Hein.
Júlia me deu um abraço e sussurrou em meu ouvido.

 

- Vai fundo que ela tá babando no teu corpinho.

 

Era uma doida mesmo.

 

- Tchau Duda. Jú disse.

 

- Aproveitem. Duda disse se despedindo de ambos.

 

Ficamos nos olhando por uns segundo e ela falou:

 

- E ai, tudo certo com você?

 

- Tudo sim e tu?

 

- Tudo também. Ela disse me olhando com uma carinha fofa.

 

- Então eu vou indo, não quero atrapalhar teu jogo.

 

- Imagina. Eu já estava largando esse jogo.
Você quer tomar alguma coisa? Um suco?

 

- Se não for incomodo eu aceito água.

 

- Você nunca incomoda Larissa. Já volto.

 

Gente, ela era uma fofa. Pena que não era minha.
Fiquei ali na sala da casa da Duda, era uma casa de tamanho mediano e bem bonita. Os pais dela tinham bom gosto.

 

- Tá aqui a sua água.

 

- Obrigado. Resolvi puxar assunto – e ontem você não quis aparecer no Promenade?

 

- Na verdade a hora que Hein me convidou eu estava saindo pra uma festa com Murilo.

 

- Ah é, Heitor falou. Falei meio enciumada – e estava boa a festa? – Sério, não era da minha conta e eu gostava de sofrer né? Por favor!

 

- Sim, estava bem legal. Ela disse meio introvertida.

 

Eu estava meio desanimada, mas também não tinha esse direito.

 

- Eu posso usar seu banheiro?

 

- Claro. No corredor segunda porta a direita.

 

Lavei minhas mãos e molhei minha nuca. Eu estava nervosa. Precisava relaxar.

 

Quando sai do banheiro ouço uma voz conhecida chegar gritando de forma eufórica.

 

- Dudaaa, adivinha quem mandou mensagem e quer beijar minha amiga gata de novo? Isso mesmo a Brenda.

 

~POV Eduarda~

 

Enquanto Larissa foi ao banheiro, eu falei com Murilo pelo telefone e ele perguntou se eu estava sozinha em casa e eu disse que sim.
Então 1 minuto depois ele chega na minha casa animado, gritando:

 

- Dudaaa, adivinha quem mandou mensagem e quer beijar minha amiga gata de novo? Isso mesmo a Brenda.

 

Puta Merda! Larissa está aqui. Foi a única coisa que eu lembrei naquele momento.

Fim do capítulo