Capítulo 34 (CAPITULO FINAL) Meu amor por... Marina! - "Amar é mudar a alma de casa." (Mário Quintana)
Capítulo 34
Um ano se passou desde nossa despedida no aeroporto. E um ano foi o espaço de tempo que precisei para entender que dedicação, amizade, compreensão e carinho são os mais belos sinônimos do amor.
Papai, contrariando os prognósticos médicos que lhe davam seis meses de vida a partir da descoberta de sua doença, viveu exatos oito meses. No nono mês, bastante debilitado e muito pálido, compreendemos que sua luta chegava ao fim. Ainda assim, pude, nesse tempo de sobrevida, dedicar-me de corpo e alma a ele. Afastei-me do trabalho, a princípio por algumas semanas, depois, contando com a dedicação e colaboração de Daniel, definitivamente, para realizar um antigo sonho de papai: viajarmos juntos.
Numa dessas viagens, fomos até o Reino Unido. Em Londres, Marina e Louise fizeram questão absoluta de nos hospedar, e o fizeram com tanto prazer que, por ocasião do término de nossa estada, fomos os quatro para o aeroporto com lágrimas nos olhos. Foram dias maravilhosos. Para meu coração esperançoso, momentos de extrema felicidade, mesmo não tendo tido nenhum contato mais íntimo com a mulher que eu amava, a não ser uns beijinhos roubados... Mas procurei cumprir com minha palavra e não forcei uma aproximação maior.
Ao retornarmos para o Brasil, papai se desligou completamente do STJ deixando as portas abertas para a nomeação de Roberto Siqueira Campos, o mais novo representante da família Siqueira Campos no grande Tribunal.
Com isso, meu irmão teve que abrir mão de sua parte no escritório de São Paulo, já que sua vida profissional se ampliava no Planalto Central. Sua vida sentimental também crescia, pois ficou noivo da filha de um ilustre político. Seu jantar de noivado foi uma cerimônia bastante íntima e discreta. Eu, mesmo contra minha vontade, compareci... E hoje compreendo que fazer parte daquele jantar e desejar-lhe toda felicidade do mundo foi meu primeiro grande ato de carinho e minhas primeiras palavras sinceras para com meu irmão mais velho. Isso fez um bem enorme para nossa convivência e um bem maior ainda para papai que realizava, assim, um de seus sonhos mais íntimos: ver seus três filhos unidos.
Guto e Suzana casaram-se cinco meses após a partida de Marina. A festa foi maravilhosa, grandiosa, com inúmeros convidados ilustres e muitos, muitos amigos do casal, outro desejo de papai, que Guto, apesar de preferir algo mais discreto, decidiu realizar. Marina e Louise vieram para a cerimônia. Amei vê-las novamente. Conversamos muito, muito, muito... rimos muito também. Mas novamente nosso contato não passou de beijos roubados. Eu, cada vez mais apaixonada, podia perceber que Marina me testava. Era o inferno, confesso... porém, cumpria minha palavra, apesar de odiar-me por isso.
Quanto à Márcia...
Bem, assim que deixei o aeroporto, naquela tarde, saí à sua procura pelos bares paulistanos. Não foi difícil encontrá-la, já que nossos lugares preferidos eram os mesmos. Difícil foi convencê-la a me escutar. Mas, mais uma vez, usei o poder de persuasão que eu sabia ter sobre a morena. E prometi para mim mesma: aquela seria a última vez que iria dispor dessa minha arma.
Márcia me deu uma nova oportunidade e eu não a desperdicei. Tentei mostrar a nova Valentina que nascia ali. A Valentina mais adulta, mais humana, mais decidida e totalmente apaixonada pela família e por Marina.
É claro que senti em Márcia, à medida que nossa conversa se desenrolava, uma espécie de amargura e muita dor pela desilusão de amar alguém que não se importava o mesmo tanto com ela. Confesso que tentei amar o ser humano fantástico, a mulher maravilhosa e linda, a profissional competente e brilhante que Márcia é, mas o amor é um sentimento que não escolhemos com a razão. Aliás, o amor nós não escolhemos, é ele quem nos escolhe, e pronto!
Nos dias que se seguiram dessa nossa conversa, ela ainda se mostrou bastante sentida e pouco me procurou. Mas, respeitando seu sofrimento, procurei não forçar nenhuma barra. Assim, ganhei a presença de Márcia ao meu lado nos melhores e piores momentos que tive com papai. E, dessa nossa nova forma de convivência, compreendemos que nossas almas vieram ao mundo para serem "amigas-irmãs".
Ah! Mas Márcia foi além...
A doutora Márcia Arantes tornou-se sócia do tradicional escritório de advogados "Siqueira Campos". Como? Pois bem: astuto como poucos de sua família, o grande Norberto resolveu quebrar a velha tradição e, enxergando um novo tempo, sugeriu que Roberto vendesse sua parte no escritório, já que não teria mais tempo para ele. Assim, em vez de fazer de Márcia um de seus herdeiros, deu o colar de presente para que ela pudesse vendê-lo e dispor da quantia desejada por meu irmão, pela parte que lhe cabia. Marina vendeu o colar para um milionário armador grego e isso rendeu à Márcia, além da parte na sociedade do "novo" escritório "Siqueira Campos & Associados", um amplo e bem localizado apartamento no Jardins.
Papai partiu numa manhã fria e cinzenta do mês de julho, há dois meses. Sua última semana foi muito dolorida para nós, pois ele já não nos reconhecia como filhos. Porém, se em algum momento o grande e poderoso Norberto Siqueira Campos errou em nossa educação, compreendíamos ali, ao seu lado, nós três abraçados, quando ele dava seu último e vagaroso suspiro, que pais acertam até quando erram!
Agora, aqui estou, dentro de um táxi que me leva para um lugar conhecido. Porém, o motivo oculto dessa viagem, descrito nestas poucas linhas deste bilhete estranho que seguro nas mãos, embora muito desejado, me deixa muito ansiosa.
É claro que Marina vai estar lá, afinal, ela não é mulher de brincar com os sentimentos alheios e isso ela me provou em cada encontro que tivemos, do nosso primeiro e desastroso encontro na praia até o último, no funeral de papai.
Só acho estranho que seja esse o lugar... Embora, originalmente, muito romântico, diga-se de passagem, suas palavras, no entanto, não trazem nada de romance. E é exatamente por esse motivo que estou tão apreensiva.
Durante esse tempo todo, embora eu tenha tido a intenção de ir ao seu encontro, como lhe prometi na nossa derradeira conversa, infelizmente as coisas não caminharam como eu desejei e, das poucas vezes que tivemos a oportunidade de nos encontrarmos, ocorreu exatamente como já contei. Porém, não houve um só segundo que meu corpo não desejasse o dela, que meu coração não se guardasse para ela...
Contei-lhe ao telefone, na semana passada, que após resolver todos os assuntos pendentes pretendia fazer uma longa e relaxante viagem pelo Caribe. Eu a convidei para vir comigo, pelo menos por alguns dias, já sabendo que esse é um período do ano de bastante trabalho para ela. Com mil desculpas, Marina disse não poder se afastar de Londres nesse momento... Mas que faria o possível para me visitar no Natal. Ela jogava ali um balde de água fria naquela espécie de prova que, certamente, vinha me submetendo.
Nunca me senti tão sozinha, mas, engolindo meu desejo de dizer que ela estava sendo demasiadamente dura com meus sentimentos, tão exauridos pelos acontecimentos com papai, calei-me e aceitei sua recusa.
Porém, dois dias depois recebi uma caixa com uma exótica rosa vermelha dentro e junto a ela um estranho bilhete:
"Valentina, encontre-me no endereço abaixo descrito, daqui a uma semana. Marina."
Nada romântico, não é? Chego até a duvidar de que seja mesmo Marina a autora desse bilhete curto e seco. De qualquer forma, continuo indo ao encontro do meu destino...
O táxi contorna a grande e vistosa praça e, ao estacionar em frente à suntuosa fachada, um homem elegantemente vestido aproxima-se para abrir a porta do carro.
- Grazie! - balbucio uma das poucas palavras que sei no idioma.
Entro no luxuoso saguão e caminho em direção ao balcão onde ficam os recepcionistas.
- Buongiorno, signorina! - a moça muito bem maquiada e com sorriso de creme dental me cumprimenta em seu idioma belíssimo.
- Buongiorno! - respondo com um tímido sorriso, desejando que ela possa entender o meu falho italiano.
- Per favore, la riserva è il tuo nome? - ela me pergunta ainda com o mesmo sorriso bonito.
- Ah! Sim... - balbuciei tentando compreender melhor o que ela dizia.
- A nome di Marina Cintra, signorina. - a voz suave e inesquecível soou às minhas costas num italiano perfeito.
Virei-me lentamente e quando meus olhos encontraram o abismo negro dos olhos de Marina, transportei-me para aquela manhã, quando eu voltava para aquele lugar, para devolver-lhe o dinheiro que havia me emprestado.
Está tudo aqui! A bela Marina, vestida num agasalho branco, que contrasta, sedutoramente, com seu tom de pele bronzeado. Os raios do Sol invadindo o grandioso hall de entrada, pessoas elegantes passando, algumas em direção à saída, outras em direção aos elevadores... Carregadores com os carrinhos carregados de malas, outros com os carrinhos vazios... Até o rapaz ao lado de Marina é o mesmo.
- Olá, Luigi. - cumprimentei-o com um sorriso nos lábios, de puro nervosismo.
- Olá, signorina Valentina. - sua bela voz deixa-o ainda mais charmoso.
- Olá, Marina. - cumprimentei-a, afinal.
- Seja bem-vinda a este hotel. - ela disse, linda, linda... - Podemos subir?
Não. Não estou sonhando. É tudo verdade! Estou ali, novamente, no saguão do Palazzo Regina, com as mesmas pessoas de quase dois anos atrás, e com o maior medo de estar "imaginando" ler nos olhos de Marina a mesma promessa que havia neles em nossa primeira noite de amor.
- Valentina? - Marina deu um passo em minha direção e segurando meu braço: - Está tudo bem com você? - havia preocupação em sua voz.
- Oh! Sim, claro! Está tudo bem... - disse sem muita convicção.
- Podemos subir, então?
Os olhos de Marina brilhavam tanto que eu... Bem, eu me sentia perdida neles e definitivamente perdida sem eles!
- Sim, podemos. - respondi simplesmente.
Caminhamos em direção ao elevador com Luigi e o carregador ao nosso lado. Assim que a porta se abriu, Luigi dispensou o carregador e, educadamente, nos acompanhou até a suíte. À porta de madeira escura e lustrosa do quarto, percebi o leve balançar de cabeça de Marina, no qual Luigi entregou-lhe as chaves e, com um sorriso polido, inclinou-se sutilmente para mim:
- Espero que sua estada aqui, signorina, seja muito prazerosa!
"É o que desejo, também!" - pensei, mas só retribuí o sorriso.
Luigi se foi... Marina se aproximou da porta, colocou a chave na fechadura e, girando-a, disse num tom de voz aveludado:
- Seja bem-vinda ao mundo que preparei para nós, daqui por diante... - e abriu a porta. Velas acesas dispostas em posições estratégicas e um tapete de pétalas vermelhas e brancas formavam o caminho de luz e cores até a cama enorme.
Entrei guiada por Marina nesse cenário incrível e sedutor. Um perfume desconhecido, mas muito excitante, pairava no ambiente.
- Lindo! Lindo! - era tudo o que eu conseguia dizer diante de tamanho cuidado e romantismo.
Marina sorriu, depois apertou os lábios numa tentativa de resistir às tentações que aquele cenário nos provocava... Então, afastou-se até a mesa, onde o buquê das apaixonantes e exóticas rosas vermelhas descansava a espera de ser, finalmente, entregue. Ela tomou-o nas mãos e voltando-se para me encarar, com as mãos trêmulas e a voz extremamente ansiosa:
- Estou pronta para você, Valentina. E espero que tenha cumprido com sua palavra e me esperado, porque... - neste momento, algo pareceu travar sua garganta. - Porque eu me guardei este ano todo para você.
Senti como se tivesse esperado este momento por toda minha vida, tamanha a emoção que explodiu em meu peito e escapou pelos meus olhos, em forma de lágrimas. Uma dorzinha gostosa palpitava nas profundezas do meu ventre enquanto embarcava, finalmente, nas fantasias audaciosas que tive nos últimos tempos... dia e noite. Estivesse dormindo ou acordada. É a castidade que me "impuz", para Marina, que tem, agora, cobrado seu preço. Então, sem perder mais tempo, aproximei-me rapidamente dela.
- Não diz mais nada, meu amor, apenas me beije! - quase implorei.
Vi Marina se desarmar pela primeira vez desde que nos conhecemos. Seu sorriso não é só de felicidade, ele também transmite o alívio que sente em poder se entregar sem mais reservas ao nosso amor. Seu suspiro é profundo, de quem saboreia cada partícula do ar...
- Temos que conversar sobre algumas coisas antes, Val... - ela diz, por fim, me abraçando.
- Não. Não temos! - cortei suas palavras decidida, afinal, TODO o resto pode ficar para depois. - Tem um ano que não faço sex* com ninguém...
Vejo sua sobrancelha arquear num gesto que conheço tão bem.
- Pois espero, mocinha, que você não faça sex* com ninguém mais nesta vida. - ralha comigo. - Porque de agora em diante, você só vai fazer amor e só vai fazer comigo, ouviu bem?!
Sei que Marina estava dando a essa frase um toque de humor, para aliviar sua ansiedade e esconder seu medo, mas conheço seu verdadeiro significado e pretendo lhe ser totalmente fiel.
- Sim, senhora! - resolvo também levar na brincadeira. E sem conseguir segurar, uma lágrima rola pelo meu rosto.
Marina, sedutora e suavemente, seca-a com um rastro de leves beijinhos.
- Oh, Marina! Você me faz tão feliz.
- E sempre chora quando está feliz? - ela quer saber.
Encaro aquele abismo negro, onde me senti perdida desde a primeira vez, colo meu corpo excitado ao seu corpo trêmulo, estreitando ainda mais o abraço, solto seus cabelos, presos num rabo frouxo e, juntando minha boca ao pé de seu ouvido, sussurro num tom tão provocante quanto desafiador:
- Fique comigo e descubra!
FIM
Fim do capítulo
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Thaci
Em: 02/11/2017
Que chato já acabou? Eu amei cada capitulo teve momentos que eu queria matar a Marina pra Val ficar com a Márcia. Mas,valeu apena esperar o final. Mais bem que você poderia fazer uma segunda temporada mesmo que curta contando depois como foi a vida,rotina delas juntas com filhos,cachorro,gato,papaio e etc. Por favor pensar com carinho. Nota mil.
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LeticiaFed
Em: 29/10/2017
Mas gente! Num sábado à noite, de repente, um capítulo e...o último!
Uau! Fico muito satisfeita em ver que fi-nal-men-te Valentina colocou a cabeça no lugar e tomou a decisão necessaria: quem amava de verdade. Mais importante, parou de magoar tanto Marina como Marcia. Meio subito o desenrolar, não sei se ja era o planejado, mas apesar de perder a paciência com Valentina la pelas tantas, pela dualidade eu gostei da história. Espero lhe ver novamente por aqui, você escreve bem!
Beijo grande!
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