Dueto: perdurável

9º aniversário da Jeannine

Os filhos não vêm com manual de instrução e educar não é uma tarefa fácil, requer muita sabedoria. Não tem nenhuma receita pronta ou fórmula mágica e muito menos verdades absolutas. Na antiguidade, Pitágoras já dizia: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Vitória e Layza, são ótimas mães, zelam por Jeannine, educam, são disciplinadas, impõem limites e falam a mesma linguagem visando implantar regras para uma boa educação. Vitória tem pulso mais firme, é cautelosa com alimentação, é mais rígida e enérgica. Enquanto Lay é mais mãezona e toda super protetora.

Jeannine é um doce de criança, nunca deu nenhum show em shopping, nem esperneou em supermercados ou armou um berreiro em lojas, visando ter algum desejo realizado. Com ela o diálogo funciona muito bem e mesmo sendo filha única não é mimada, pelo contrário, ela é bem despojada.

As mães orientam a filha diariamente, auxiliam nas atividades escolares, conversam sobre tudo e não descuidam em momento algum. Ao menos duas vezes no mês, Jeannine faz acompanhamento terapêutico com Vinicius, o que é muito positivo para a criança.

Certa vez ocorreu um conflito no colégio, a coordenadora contou para as mães e alertou que não era necessário interferir, haja visto, que as crianças já tinham se acertado. Aos adultos, cabe ficar atento, monitorar e apoiar. Intervir constantemente nem sempre é o mais adequado, pois faz parte do crescimento saber lidar com os próprios conflitos. Naquele semestre Jeannine estava chamando a atenção mais que o habitual, com ótimas notas, se apresentando em pecinhas teatrais e ganhando gincanas. Um coleguinha incomodado com o destaque que ela vinha conquistando, resolveu provocar a garota chamando-a de filha de sapatão, visando defender a amiga, Yanna quase bateu no menino, contudo Jeannine a impediu e decidiu ignorar o garoto. Uma das professoras acompanhou tudo bem de perto e exigiu que o menino se desculpasse.

- Jeannine, desculpa!

- Professora, eu nem ligo e amo as minhas duas mães. Elas me adotaram, eu não tinha ninguém para cuidar de mim. No abrigo eu pedia para o papai do céu, para ter uma família e ele foi tão bom comigo que me deu duas mães. Também nem ligo, quando me chamam de queimada, eu sei que mesmo com estas marcas eu sou bonita. Yanna, vamos voltar a brincar?

- Sim! Vamos e você é muito bonita e a minha melhor amiga.

A professora não precisou dizer mais nada e Jeannine sabe se defender muito bem. Tirando este episódio, para Jeannine é incomum passar por preconceitos homofóbicos, além disso, ela tem todo o apoio e suporte familiar necessários para ser feliz; e o mais importante é que ela se sente amada, acolhida e cuidada.

É comum as pessoas leigas questionarem e perguntarem como funciona um núcleo familiar homoafetivo. O que precisa mudar é a mentalidade preconceituosa. Desde que haja respeito e cuidado, tudo bem perguntar como é e ter curiosidades de como a pessoa se sente. Mas acima de tudo devemos lembrar que o mais importante é que exista amor, independente de como a família é constituída. Alguns questionam sobre as consequências na personalidade, caso a criança seja criada por pais gays. Felizmente diversas pesquisas já apontaram que a orientação sexual dos pais não impacta na personalidade e nem no desenvolvimento da criança. Existem até alguns mitos relacionados a esta questão. Em pleno século XXI, ainda existem pessoas que perguntam: pais e mães gays, vão ter filho gay? Haja paciência, não é mesmo. As famílias homoparentais proporcionam para as crianças vivência com a diversidade, sendo assim elas sabem lidar melhor com todos os tipos de preconceitos e não percebem com estranheza um relacionamento homossexual. Algo que precisa ficar muito esclarecido é que a orientação sexual dos pais não interfere e muito menos define a dos filhos. Algo muito difundido pela sociedade é: toda criança precisa conviver com duas figuras importantes, a paterna e a materna. Nem sempre! Algumas pessoas, são criadas apenas pela mãe, por uma avó ou outro responsável. Os filhos de homossexuais não são os únicos que vivem sem a participação de um dos pais. Na certidão de nascimento e no RG de muitos adultos, aqui no Brasil e também no mundo, ocorre de constar só o nome da mãe, já que em alguns casos, os homens não assumem o papel de pai.

É complicadíssimo educar uma criança em uma sociedade machista, homofóbia, misógina e preconceituosa. Layza e Vitória estão se saindo muito bem.

- Ruiva, que tal levarmos a pequena para conhecer o aquário?

- Ela vai adorar. Podemos marcar para o próximo final de semana.

- Vamos contar para ela. Jeannine!

Uns minutos depois a criança apareceu na sala.

- O que você estava fazendo?

- Brincando com o Totó. A senhora me chamou?

- Chamei sim. Nós queremos te levar para conhecer o aquário daqui de São Paulo.

- É um aquário grande?

- Sim, por lá tem até urso.

- Vamos quando?

- No próximo final de semana.

- É mais legal que o zoológico?

- Boa pergunta. Depois que nós formos você me diz de qual gosta mais.

- Yanna pode ir junto?

- Pode né Vi.

- Claro, chama ela e amanhã depois da sua aula eu falo com a mãe dela.

No mês anterior, as duas visitaram o zoológico no passeio organizado pelo colégio e adoraram. Quando surgia a palavra passear, já estava se tornando habitual uma incluir a outra no passeio proposto. Elas amaram o aquário e Lay fez muitas fotos.

- Eu adorei a Aurora e o Peregrino (Yanna sobre os ursos polares).

- Eles são lindos. Eu também gostei dos pinguins e foi legal quando a sereia mandou beijos para nós (Jeannine destacou).

- Eu fiquei com medo dos tubarões.

- Grandões né. Eu fiquei com medo das cobras.

- Nossa verdade e o tamanho da boca do jacaré assusta.

- Os peixinhos são lindinhos.

- Também gostei da lontra.

- Eu também e do canguru.

Durante todo o retorno elas comentaram com alegria sobre o passeio.

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|9º aniversário da Jeannine| Todos fingiram esquecimento sobre a data e realizaram uma festa surpresa.

“Às vezes paro para pensar tanta coisa, e quando vejo o meu pensamento está sempre no mesmo lugar ou melhor com a mesma pessoa”. |Ana Carolina|

Fim do capítulo