Outra vez aquele nó se forma em minha garganta, a vontade de chorar se faz presente, mas não tinha mais lágrimas e nem força pra isso, a verdade era que minhas esperanças estavam se esvaindo junto com minhas esperanças.

-não fique assim minha filha, tenho certeza que ela irá entender!

-tomara tia, não sei o que vou fazer se perde – lá pra sempre.

-A Amália me falou que estavam aqui, acho que já podemos conversar- levamos um susto ao ver Sabrina entrando pela porta do quarto de tia Vivian, onde conversávamos, sua expressão era dura, mas alguma coisa mudou desde o dia em que saiu dali com a verdade em sua mente.

-minha filha, sente. Se aqui!- Berta aponta para um banco próximo a ela, Sabrina parecia indecisa se aceitava sentar perto da mulher que julgou traíra também.  Depois de alguns segundos ela se acomoda perto da senhora, que lhe criará como mãe.

- o que você tem a me falar, me explique, porque sumiu sem dar notícias por todos esses anos- ela se quer olhava em minha direção, tinha vontade de deixa – las a sós,  mas minha tia precisaria de mim, quando começasse contar sua história.

- eu nunca sumi Sabrina! Nunca te abando...

-como não, deixou meu pai sozinho a me criar, se não fosse Berta nem sei o que seria de mim.

-não exagere Sabrina o Sandro sabia muito bem cuidar de você sozinho!

- me deixa falar, se depois de escutar tudo que falei ainda quiser que vá embora e sumir de sua vida o farei.

Minha tia era personificação da derrota, parecia que havia enfrentado uma batalha que no final não teve sucesso.

-tudo bem,  me conte porque sumiu por todos esses anos.

-vou te contar o que aconteceu desde o início! Você sabe que seus avós, meus pais são pessoas bem humildes- ela confirma com a cabeça-  Bom seu pai me conheceu em um dia que foi visitar meus pais a fim de comprar suas terras, nos era novidade que o Sandro era bem mais velho que eu. Meus país estavam passando um momento difícil, sem ter até mesmo como sustentar a mim e seus tios -Sabrina só sacudia a cabeça pra afirmar que estava escutando a tudo, eu a olhava morrendo de saudades – de uma visita se tornaram várias,  um certo dia ele chegou com meu pai falando que queria casar comigo, já havia conversado com ele em uma de suas visitas , que queria terminar meus estudos mas tive que parar pra ajudar seu avô,  bom o certo é que ele propôs a seu avô que nos casássemos e em troca ajudaria meu pai, e eu estudaria, apesar de não amar seu pai , pensei na situação da minha família que passava por dificuldades e acabei aceitando- lágrimas caiam por seu rosto , ao lembrar do passado- mas não foi bem isso o que aconteceu!

-como assim!

- depois que nos casamos seu pai não cumpriu sua promessa de me ajudar a terminar os estudos, dizia que mulher dele tinha que ficar cuidando da casa...

-não acredito em você!

-sua mãe está falando a verdade Sabrina, eu tinha acabado de vim trabalhar aqui, e presenciei várias vezes seu pai a destratar.

- a coisa piorou quando fiquei grávida de você, pois ele não permitia nem que falasse com ninguém!-minha amada olhava espantada pra sua mãe. saber que o homem que a criou com tanto zelo fizera essas coisa, não sabia falar se estava realmente acreditando nas palavras da mãe- quando você nasceu, pensei em várias vezes fugir contigo, não queria cria – lá no inferno que vivia com Sandro, foi quando conheci Genaro , que veio passar férias aqui na ilha, bom foi amor a primeira vista , nos envolvermos e por várias vezes pedi o divórcio a seu pai, que negava. Pra encurtar a história, no dia em que seu pai descobriu, eu já estava preparada pra fugir com você pra Itália,  só que ele me ameaçou,  disse que me acusaria de sequestro, mas eu não aguentava mas viver aquela vida.

-porque não fala logo toda a verdade pra sua filha!- Berta incentiva a amiga.

-que verdade!- tia Vivian olhava com dor pra sua filha, um olhar perdido nas lembranças do passado, sabia que ela não conseguia ir até o fim da história.

-seu pai cansou de bater nela Sabrina – falei por impulso.

-mentirosa, meu pai jamais faria isso!

-mas fez minha filha, eu presenciei, e curei várias marcas que sua mãe tem pelo corpo- a mais velha olhava entristecida pra filha do coração,  mas precisava prosseguir- uma vez ela grávida,  ele a bateu só porque estava conversando com hóspede que queria informação.

-nesse dia em que me ameaçou, ele do não me bateu porque Genaro foi pra cima dele, nesse dia ele me convenceu a ir com ele pra Itália e contrataríamos advogados pra ter a sua custódia.

Faz uma pausa pra acalmar antes de prosseguir com sua narrativa.

-Quando chegamos na Itália, antes dos avós de Giulia resolverem desertar seu pai ,ainda voltamos três vezes aqui nos Brasil. Berta levava você pra que a visse e pedi o divórcio a seu pai, quando consegui pois o advogado achou melhor que tivéssemos casados antes de entrar com sua guarda, os pais de Gênero o renegaram quando souberam que íamos casar, ficamos sem dinheiro pra custear minhas vindas pra cá pra ver você- faz uma pausa – quando resolvemos tudo pois os avós maternos da Giulia nos ajudaram, aí resolvi vim aqui pegar você que já estava com 6 anos mas mais uma vez seu pai me ameaçou dizendo que se eu insistisse naquilo de te – lá de volta , sumiria com você e eu não teria mais notícias suas. Voltei pra Itália disposta a conversar com Genaro,  falar que voltaria pro Brasil pra ficar perto de você, foi quando descobri que estava grávida de seu irmão, aí as coisas se complicaram.

-não acredito que meu pai fez isso!

Tia Vivian levanta sua blusa e mostra a filha as marcas de seu passado, algumas delas nunca sumiram.

-essas são marcas que seu pai me deixou.

...

Não podia acreditar que meu pai, aquela pessoa tão carinhosa que sempre esteve comigo, fosse o monstro que aquela estranha que se dizia minha mãe, falará.

-eu nunca te abandonei Sabrina, como seu pai te falou , sempre estive presente.

-presente como?- nunca havia visto aquela mulher, então como estava presente em sua vida!

-com tempo seu pai perdeu praticamente tudo que conquistou, não tinha condições de te pagar Boas escolas, te dar a vida que teve, Berta me deixava a par de tudo. Quando soube, tentei falar com ele dizer que seria bom você morar comigo ,mas uma vez ele foi Grosso e me proibiu de te ver, você deveria ter uns 9 anos, então propus a ele de arcar com seus estudos, não sei que milagre ele aceitou, mas impôs uma condição de eu nunca falar a você sobre isso.

-não é possível! -eu estava espantada com que ouvi.

-sua mãe está falando a verdade, eu estava presente quando ele falou isso.

-quando você estava concluído o ensino médio e já  estava pronta pra entrar na faculdade, outra vez tentei me aproximar, foi quando Sandro descobriu estar doente, preferi me afastar pois se acontecesse algo com ele , você ainda me acusaria. Mas somente falei a ele que pagaria sua faculdade na França, pois Berta já havia me falado sobre seus planos.

O que aquela estranha a minha frente falava, me deixou com coração apertado,  não conseguia ver meu pai como o monstro que ela descrevia, ele sempre foi tão carinhoso comigo sempre fez todas as minhas vontades . Agora lembrava como ele ficou sem ação,  poderia até dizer triste quando lhe falei da minha intenção de estudar na França, mas na época achei ser por causa da saudade que sentiria ao me ter tanto tempo longe , jamais imaginei passar por dificuldades financeiras.

- não consigo acreditar, meu pai sempre foi carinhoso, sempre fazendo minhas vontades.

-muitas dessas vontades, era sua mãe que custava Sabrina- Berta fala, a olho como se pela primeira vez, não era possível que durante todos esses anos, tivesse contato com minha mãe e não ter me falado nada, tudo bem que nunca a vi falar algo que pudesse denegrir a imagem daquela mulher , várias vezes até me repreendeu por eu falar que aquela senhora não era nada pra mim, mas aí estar por trás de tudo , era difícil de digerir.

-você sempre foi amiga de meu pai Berta!

-minha filha, gostava muito e seu pai, ele me ajudou em um momento que, mas precisei, pois foi daqui que pude criar meus filhos. Mas não posso fechar os olhos pra tudo que aconteceu e que presenciei, iria contra tudo aquilo que prezo.

-Meu amor...

-não me chame assim- havia tristeza nos olhos da italiana, mas ainda estáva ressentida demais pra perdoa – lá.

-Sabrina, a Giulia somente soube de tudo quando já estava hospedada aqui, nunca falei nada a ela ou a Geno , somente Genaro que participou de tudo desde o início,  sabia. Então não a culpe de nada, se deve culpar alguém que seja eu, que não fui forte o suficiente pra te levar daqui, mesmo sobre as ameaça de seu pai.

-Não quero, mas saber dessa história,  eu peço que vocês deixem minha pousada o mais rápido possível, não acredito em vocês.

Doeu imensamente em meu peito, minhas palavras. Doía saber que não a veria mais, que não sentiria seus lábios,  seus toques , mas não conseguia perdoa – lá.

-enquanto ao empréstimo,  vou falar com Dayse ,a pousada está se reerguendo e depositarei o valor pra você- seu olhar  era de mágoa, não via o costumeiro brilho que tanto me encantava.

-tudo bem Sabrina, se é isso que você quer, iremos sair de sua ilha, fique com a verdade que sempre quis acreditar. Não precisa devolver o dinheiro, esse é mais um presente de sua mãe.

Sem esperar minha resposta sai porta afora, parecia estar chorando, pois enquanto caminhava passava a mão em seu rosto.

-não a culpe minha filha, ela te ama de verdade!

-que amor e esse que mente- falo friamente.

-ela não mentiu, sempre me pediu que contasse a verdade, mas também sempre achou que era um assunto que somente eu poderia começar – a senhora parecia triste e arrependida de ter escondido por tanto tempo a verdade- mas como falei quando iniciamos nossa conversa, vou respeitar sua vontade!

Ela levanta – se abraça Berta que tinha lágrimas nos olhos, coisa rara de se ver. Aproxima-se de mim e me beija o rosto e sai pelo mesmo caminho que a enteada.

-vai querer também que saia de sua pousada- até Berta parecia bem ressentida, mas o que elas queriam , que ficasse com a verdade delas – sua mãe sempre te amou, seu pai era um bom homem, pra muitas pessoas inclusive foi pra mim, mas com ela ele pecou muito, abra seu coração, não faça com ela o que seu pai fez em ações, feri – lá sem lhe dar uma chance.

Berta se retira sem ao menos se despedir, lógico que estava magoada com ela, mas jamais iria quere – lá afastada de mim.

-amiga que história e essa que Amália me contou – Geovane entrou afobado algum tempo depois- E verdade que a tia da minha Deusa e sua mãe? -sem emoção alguma, aceno com a cabeça- babado isso, como você descobriu.

Começo a narrar para meu amigo e irmão tudo que a senhora me contou desde a hora que descobri ser minha mãe,  enquanto narrava a imagem de Giulia saindo dali decidida não saia de minha cabeça, por mais que estivesse com raiva por ter me omitido  verdade, eu a amava demais.

...

Quando sai da cozinha da pousada, não olhei pra trás. Lagrimas banhavam meu rosto, estava em frangalhos tentando ser forte ,por mim e por minha tia que sabia iria precisar se apoiar em alguém depois da conversa, meu coração estava dilacerado com a rejeição e acusações feitas por aquela que eu amava de corpo e alma.

Estava na frente da pousada, olhando para o mar pra ver se acalmava as batidas de meu coração.

-me desculpe minha filha, você não sabe o quanto me arrependo de não ter dados ouvido a você e a Berta e contado logo toda a verdade.

-tudo bem tia, ela iria reagir da mesma forma, até mesmo se tivesse contado a verdade assim que chegou a ilha!-estava machucada, mas a dor que minha madrasta carregava  era bem maior, não ia jamais fazê-la sentir-se pior.

-apesar de querer ficar aqui e tentar fazê-la enxergar a verdade, prometi deixa – lá e é o que iremos fazer.

Só de imaginar me afastar, sentia um vazio tão grande em meu peito que chegava a sufocar.

-vou dar uma volta, fique um pouco com Geno, ele deve já estar sabendo e deve está preocupado, as notícias aqui correm muito rápido.

Ela acena concordando e pego o caminho das pedras até a praia, precisava ficar sozinha pra refletir.

Nunca na vida, me imaginária passando por essa situação, sabia eu que minha vida por algum tempo iria ser um completo vazio sem Sabrina, mas ia ser forte por meu irmão e sua mãe, mesmo que quando me encontrasse sozinha, desabasse em meu mundo solitário.

-enquanto caminhava, minhas lembranças se faziam presente. No dia do lago onde ficamos pela primeira vez, aquele dia me senti tão dela, naquele momento soube que ia ser diferente, na gruta quando ela achou que estivesse grávida, foi ali que percebi o quanto queria uma família com ela.

Sem me dar conta já havia caminhado por mais de uma hora, me sento na areia olhando o mar enquanto lágrimas ainda teimavam em cair.

-Giu estava te procurando a algum tempo!- com rosto ainda banhado por lágrimas olho Pietra que tinha o semblante preocupado – vem vamos voltar, daqui a pouco anoitece.

-ela não me quer mais Pietra ,a Sabrina nos me quer mais...

Meu choro agora era compulsivo, enquanto caminhava, amparada por ela contava tudo o que aconteceu. Já estávamos chegando quando vejo Geovane vindo em nossa direção.

-oh minha Deusa sinto muito tudo o que aconteceu, conversei com minha mãe e ela me falou tudo que aconteceu, já tentei fazer com que Sabrina entenda a dona Vivian, mas ela está decidida.

-tudo bem Geovane, apesar de achar que ela deveria pelo menos dar uma chance pra mãe, entendo o lado dela.

Ainda caminhávamos quando vejo um homem vindo em nossa direção, reconheci Leonardo, aquele homem que estava agora próximo da gente, nem de longe, parecia o homem que se envolveu com Sabrina.

Sem falar nada, o vejo pegar algo na cintura, quando percebi se tratar de um revolve já era tarde, sinto uma dor aguda em minha barriga, coloco a mão e vejo sangue nelas.

-Giulia!-Pietra e Geovane gritam por meu nome, meu último pensamento foi na mulher que amava.

Fim do capítulo