Capítulo 3

 

Emily's POV:

 

Acordei com o coração acelerado, sobressaltada. Não conseguia exatamente me lembrar do sonho, mas pelo jeito que eu estava assustada, sabia que boa coisa não havia sido. Demorei alguns minutos para entender o motivo de estar no quarto da Ali.

 

Sabe quando você acorda sem saber quem é, onde está e como foi parar ali? Foi bem assim que eu me senti.

 

Quando reconheci o quarto e revivi aquela manhã em minha mente, lembrei de tudo. Virei de lado na cama que tinha o cheiro da Ali, embora eu fosse capaz de ficar ali, embriagando-me com seu perfume durante toda a tarde, eu sabia que precisava levantar. Quando sentei na cama, verificando o horário no celular, quase seis horas da tarde, constatei o quão cansada estava.

 

Levantei, sentindo o perfume da Ali em todo seu quarto e em cada célula minha, inclusive em meu cabelo. Definitivamente, aquele cheiro não me fazia bem, ou, fazia - bem demais. Caminhei até a penteadeira, onde uma folha de papel de carta com a Torre Eiffel em marca d'água chamou minha atenção. Sorri de canto, ao passar a ponta dos dedos pela caligrafia de Alison, sempre tão perfeita e arredondada, como se ela tivesse nascido com o dom para escrever. Sorri de canto, relembrando as inúmeras cartas que trocamos durante todos os anos, desde o momento que nos conhecemos. Eram, na grande maioria, cartas de adolescente, sobre assuntos de adolescentes, mas, aquela altura, significava tanto ter uma carta só da Ali, escrita especialmente para mim.

 

Reli três vezes. Ali estava mudada, embora vez ou outra, eu reconhecesse em seu olhar aquele jeito espevitado de garota poderosa que ela sustentara por tanto tempo. Quando encarei a cama, onde há pouco estava dormindo, pelo espelho da penteadeira, lembranças de nós duas tornaram-se ainda mais vivas:

 

- Ali, você está acordada? - Perguntei, enquanto meus olhos encaravam o teto. Meu coração estava acelerado, o fato de dividir a cama com Alison já era o suficiente para não fazer com que eu pegasse no sono.

 

Escutei sua respiração e me senti uma idiota, provavelmente ela estava dormindo. Toda a confissão que ela fizera mais cedo, sobre sentir algo durante os nossos beijos, fez com que eu passasse grande parte da tarde e da noite que passei com Paige, no colégio, pensando nisso. Porém, para minha surpresa, ela respirou mais fundo e vi seus ombros se moverem ligeiramente. Em alguns instantes, ela havia se virado. Deitei de lado também, ficando frente a frente com Ali. Havia um pequeno espaço entre nós, mas eu não podia mantê-lo, não com Alison ali, diante de mim, sorrindo e me encarando daquela forma. De todos os beijos que tivemos, eu nunca tivera tanta certeza que precisava beijá-la como precisei aquela noite. Diminui o espaço e a vi se aproximar também. Em um primeiro momento, nossos lábios se tocaram levemente, como se estivessem se reconhecendo. Mas nosso desejo ia além daquele beijo e no instante seguinte, nos beijamos com mais intensidade. Toquei os fios macios e loiros de seu cabelo, seu rosto, trazendo-a para mim. Para minha surpresa, a mão de Ali escorregou por baixo do edredom, tocando minha cintura. O espaço entre nossos corpos diminuiu ainda mais. Senti suas pernas encontrarem e se juntarem as minhas e nos beijamos com ainda mais vontade.

 

- Em...- Ela sussurrou, fazendo cada pedaço do meu corpo se arrepiar. Toquei seus ombros, braços até chegar em suas mãos. Nossos dedos se entrelaçaram, mas não permaneceram assim por muito tempo. Em instantes, Ali começou a levantar minha blusa e eu sabia que se ela continuasse, não teria volta. Eu já estava completamente entregue a ela.

 

- Ali, se você...- Comecei a falar, mas ela me silenciou, selando meus lábios.

 

- Shhhh, eu quero você, Em! Cada instante que eu fiquei longe, eu só conseguia pensar o quanto queria voltar para ter você...- Sua voz saiu rouca, ainda mais sexy do que eu costumava achar.

 

Puxei levemente a blusa de seu baby-doll rosa e Alison me ajudou a retirá-la. Fizemos o mesmo com a regata cinza que eu usava e, quando nossos corpos se encontraram, sem a parte de cima das roupas para nos separar, a explosão de desejos foi muito maior. Desci a mão por toda sua pele arrepiada, contornando sua cintura com a palma de minhas mãos.

 

- Você é tão linda...- Eu sussurrei, encarando o sorriso que Ali havia desenhado em seus lábios.

 

Ela não me respondeu, no lugar disso, beijou-me mais uma vez, deslizando as mãos por meus seios, abdome e coxas. Eu já havia feito uma vez om Maya e algumas com Paige, mas, estar ali com Ali, era como se eu não tivesse experiência alguma, como se cada toque dela em minha pele, fosse novo, trouxesse sensações novas. Ela era capaz de me excitar apenas com seu olhar e alguns sussurros e, quando Alison subiu por cima do meu corpo, prendendo-me na cama embaixo dela, eu sabia que seria capaz de qualquer coisa por aquela garota.

 

Já havíamos nos livrado de todas as peças, eu podia sentir que Ali me desejava tanto quanto eu a desejava. Mais uma vez suas mãos escorregaram por todo meu tórax e, quando ela inclinou-se para sussurrar em meus ouvidos, gemi baixinho, com a fricção que aquela inclinação causou em nossos corpos.

 

- Você é minha primeira, Em! - Ali sussurrou em meu ouvido, mordiscando o lóbulo de minha orelha.

 

Eu me lembrava perfeitamente de todas as vezes que Alison falara que ficara com garotos e sempre quando ela nos contava, fazia questão de dizer cada detalhe sórdido. Talvez eu não tenha conseguido disfarçar minha surpresa, por isso, ela fez questão de completar, enquanto tocava meu rosto e se mexia ligeiramente sobre meu quadril.

 

Fechei os olhos, sem conseguir pensar direito, mordi o lábio inferior, abafando o gemido. Somente quando tornei a abrir os olhos, ela continuou:

 

- Eu tinha uma reputação a manter. - A loirinha deu de ombros. - Mas eu sempre quis que a primeira...- Ali suspirou, levando levemente a cabeça para trás. Eu achei que jamais veria cena mais sensual do que aquela. Minha vontade de tê-la tornou-se ainda mais latente. -...que a primeira fosse com você...- Completou em um quase gemido e quando nos virei, trocando de posição com ela, eu sabia que aquela noite, Alison estaria sob o meu comando.

 

As lembranças daquela noite trouxeram um misto de arrepio e tontura. Segurei-me na penteadeira por um momento, quando a vertigem me atingiu. Desde então, tanta coisa havia mudado, tudo estava tão diferente, eu estava diferente, mas sentia que uma coisa não havia mudado: o que eu sentia por ela.

 

Antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, escutei a chave virando na fechadura no andar de baixo. Dois minutos depois, Alison estava ali, na soleira da porta.

 

- Pensei em te ver antes de fazer qualquer outra coisa, como está se sentindo?

 

Ajeitei o cabelo, escondendo minhas mãos na manga do moletom do colégio, ver Alison ali com aquelas memórias tão vivas em mim causou-me uma sensação ainda mais estranha. O que eu deveria responder que estava sentindo?

 

- Eu estou melhor...acho que precisava dormir!

 

- Viu como eu tinha razão, querida? - Ali indagou, mostrando-me as sacolas do supermercado. - Achei que quando eu chegasse aqui, você estaria com fome. Então, passei no mercado e comprei várias coisas gostosas para fazermos uma noite das garotas como antigamente...

 

Sorri mais uma vez de canto, desejando não transparecer o tipo de "noite das garotas" que eu tinha em mente.

 

- Ali, você realmente não precisa...

 

- Em, por favor, eu faço questão! - Ela insistiu.

 

- Se tem uma coisa que eu aprendi é, que quando você coloca uma coisa na cabeça, ninguém tira...- Revirei os olhos.

 

- Viu só como você me conhece! - Alison piscou.

 

- E então, você vai me contar sobre essa história de estar dando aula na Rosewood High? - Indaguei.

 

- Ahhh, você viu meu recado...- As bochecha de Alison coraram levemente e seus olhos ficaram com um brilho especial, completamente diferente desta madrugada.

 

- Claro que sim! Eu quero saber tudo! - Exclamei, mas, antes de descermos para a sala, pedi. - Só um instante, eu vou colocar minha roupa, porque...- Olhei para o moletom, além das roupas de baixo, ele era a única coisa que eu estava vestindo. Ele era extremamente confortável, mas eu não queria ser pega de surpresa por qualquer visita que a Ali pudesse receber.

 

- Você quer um shorts? - Alison perguntou. - Talvez, você fique mais a vontade...

 

Concordei com a cabeça e assim que vesti o shorts dela, descemos.

 

Na cozinha, preparamos alguns tacos, burritos e quesadillas caseiras. Além disso, Ali havia comprado um saco enorme de nachos e meu molho mexicano favorito.

 

- Você realmente sabe como me conquistar! - Brinquei.

 

- Isso é só o começo, Emmie!

 

Senti um breve arrepio percorrer meu corpo, toda vez que ela me chamava assim, cada célula se derretia.

 

- Alison, você será uma eterna "flertadora"...- Revirei os olhos.

 

- Talvez...- Ali sorriu de um jeito espevitado.

 

Quando a mesa já estava posta, levei as cervejas geladas e nos acomodamos na enorme mesa dos DiLaurentis.

 

- Eu recebi um convite para dar aula em Rosewood High como professora substituta. Nunca foi meu sonho ser professora...- Ela deu de ombros, quando começou a contar tudo o que havia acontecido. - Mas eu sentia que precisava fazer algo, manter minha cabeça ocupada e, venhamos e convenhamos, sem uma faculdade de fato ou um futuro encaminhado, como o da Spencer, seria difícil. Então, comecei a me especializar em Inglês e...aqui estou eu, em meu primeiro ano como professora.

 

- Sabe, se há alguns anos atrás eu tivesse que apostar que uma de nós ficaria em Rosewood, eu nunca apostaria em você. - Confessei, comendo um dos nachos.

 

- Nem eu, Em, nem eu. Não é como se eu sentisse que aqui seja o meu lugar, mas, também, eu não posso simplesmente abandonar Charlotte. - Ali suspirou pesadamente.

 

Falar em Charlotte era sempre um assunto delicado para mim. Apesar de não falar para ninguém, as torturas as quais fomos submetidas naquela casa de bonecas, ainda era uma lembrança viva em minha mente.

 

Limpei a garganta, antes de perguntar, nem um pouco confortável com o assunto.

 

- E como ela está?

 

- Ela...hm...- Alison pareceu hesitar e só o fato dela não responder prontamente, me deixou preocupada.

 

- Ali? - Arqueei uma das sobrancelhas.

 

Alison suspirou.

 

- Ela está melhorando, mas ainda tem bons e maus dias...- Ali engoliu em seco. - A última semana foi, particularmente, difícil...

 

- Difícil? O que você quer dizer com isso? - Perguntei, visivelmente preocupada.

 

- Eu acho que ela está apaixonada pelo Elliot...

 

Franzi o cenho, eu nunca havia ouvido falar em nenhum Elliot, mas não gostei dela pronunciando seu nome daquela maneira, como se houvesse qualquer sombra de intimidade entre eles.

 

- Elliot? - Indaguei.

 

- Ah, sim! - Alison corou. - Ele é o médico que está acompanhando-a. Charlotte só fala nele e, aparentemente, ela viu nós dois conversando do lado de fora do quarto e ficou com ciúmes, achou que pudesse estar rolando algo...

 

- E está? - Interrompi-a quase em um desespero.

 

Alison hesitou mais uma vez e me arrependi por ser tão afobada.

 

- Não, er, quer dizer...nós saímos uma vez...

 

- E? - Perguntei, mais irritada do que gostaria com aquela confissão.

 

- E nada, Em. Nós saímos, nos beijamos, mas...

 

- Mas? - Insisti e de repente aquela comida mexicana não me pareceu tão atrativa mais.

 

- Mas nada, não foi nada demais. Foi um beijo, eu disse para ele que estávamos confundindo as coisas, não significou nada. Eu acho que estava carente, por isso cedi na hora, mas...mas....eu não quero que isso se repita. A discussão com Charlotte foi o suficiente para eu ter a certeza disso.

 

- Mas você só teve a certeza por que discutiram? - Ela indagou.

 

- Em! - Alison pareceu cansada e nem um pouco a fim de falar sobre o assunto. - Eu realmente não quero que se repita, ele é um cara charmoso, mas...

 

- Mas?

 

Alison revirou os olhos e eu soube que ela havia perdido a paciência comigo, embora eu não pudesse evitar de continuar fazendo perguntas.

 

- Eu não sinto que é real, ok? Já faz um tempo que eu não consigo ficar com alguém e sentir que é com aquela pessoa que eu quero estar...- A confissão fez com que eu sorrisse por dentro, embora, por fora, eu apenas tivesse suspirado.

 

Não que eu desejasse a infelicidade da Ali, mas era difícil imaginá-la com qualquer outra pessoa.

 

- Eu meio que sei o que você quer dizer...- Confessei.

 

- Você não está saindo com ninguém?

 

Mordi o lábio inferior e neguei com a cabeça.

 

- Eu sai com algumas garotas na Califórnia, mas...nada demais...- Achei melhor não continuar naquele assunto. Ao menos, não naquele momento.

 

Alison riu.

 

- O que foi? - Tornei a perguntar.

 

- Você realmente tornou-se uma conquistadora...

 

Gargalhei e ela acabou rindo também. De repente a tensão na mesa aliviou-se. Mas, naquele instante, se eu tivesse coragem, confessaria que Ali era a única que eu de fato sempre quis conquistar.

Fim do capítulo