CAPÍTULO 61: Temor.

 

 

 

 

 

 

Quando deu 09:30 da manhã o interfone tocou fazendo que Manuela acordasse, mas com preguiça não quis levantar, resmungou até que Rachel despertou tentando entender porque de tanto barulho.

Sua atenção foi chamada para Manuela que estava se encolhendo na cama e cobrindo-se com o lençol até a cabeça.

Um sorriso brotou nos lábios de Rachel que beijou os ombros de Manu.

Porém o interfone tocou novamente atraindo a atenção da garota de cabelos castanhos, que levantou indo atender quem chamava uma hora daquelas.

 

Assim que atendeu liberou a subida dos moveis que tinham comprado noite passada.

Se apressou para ir ate o quarto de Júlia e lá bateu forte afim de acordar a loira.

 

-- Entra – a voz sonolenta de Júlia disse e Rachel abriu a porta com tudo.

-- Júlia levanta, os entregadores chegaram com os móveis, me ajuda porque eu ainda não posso pegar peso.

-- Eles não viriam só de tarde? – perguntou coçando os olhos tentando se situar ainda e espantar o sono.

-- É mas parece que se adiantaram, vai levanta logo, vou atender a porta, vamos ter que tirar essa cama dai.

-- Ok, ok, vai lá.

 

E a garota de cabelos castanhos saiu indo abrir a porta para os entregadores.

Sem duvida os rapazes deviam ter tido problemas para subir com o sofá, mas estavam ali carregando.

 

Entraram levando o sofá até onde Rachel indicou logo depois desceram para buscar a cama.

Em instantes todos os móveis que compraram e deixaram para ser entregues estavam ali no enorme apartamento.

 

-- Cadê a Manu? – Júlia perguntou bocejando e esticando seu corpo, para se jogar no sofá.

-- Ela tá dormindo, prepara o café pra gente que eu vou acordar ela.

-- Espera!

-- O que?

-- Eu não sei preparar café, nunca fiz isso – disse em uma careta fazendo a outra rir.

-- Pra tudo sempre tem uma primeira vez, se vira – piscou-lhe se afastando e deixando Júlia resmungando.

 

Sem duvidas se divertia com aquela garota, e percebeu que agora que ela moraria só iria se divertir bem mais as suas custas, como poder tirar sarro dela ao café da manhã por ela não saber preparar.

Já estava até pensando nas piadas que faria quando entrou no quarto e seguiu ate a cama para acordar Manuela, mas parou quando tropicou na cama, batendo seu dedinho do pé nos pés da cama a fazendo choramingar e praguejar de dor.

 

-- Ai caralh*! Que merd*! – dizia com a voz sofrida e sentou-se na beira da cama despertando Manuela.

-- O que foi? – a outra perguntou com a voz rouca fazendo com que Rachel prendesse outro palavrão devido a dor. – O que aconteceu?

 

Manuela se levantou assim que viu o semblante dolorido de Rachel, e se aproximou engatinhando de joelhos na cama.

 

-- O que houve linda?

-- Eu bati meu dedinho – disse em voz baixa em espécie de choramingo.

 

Manuela decidia se ria ou se ficava com dó da carinha e voz sofrida que a outra fazia, e optou por fazer os dois.

Abriu um sorriso delicado em seus lábios e se aproximou mais da garota de cabelos castanhos, sentando-se direito.

 

-- Oh meu amor, vem cá – chamou lhe esticando a mão.

-- Você esta zoando de mim!

-- Não estou bebê, vem cá – chamou novamente e viu a outra se render aproximando-se, então a envolveu em um abraço – Ta doendo amor?

-- Pra caramba – fungou a espécie de um choro e Manuela se afastou para ver se era realmente verdade.

-- Oh meu deus que menina manhosa gente – sorriu lhe beijando o rosto, pescoço e ombros.

-- Não é manha, ta doendo mesmo.

-- Quer ir no hospital ver se quebrou? – perguntou olhando dentro de seus olhos.

-- Será que é preciso?

-- Não sei amor, deixa eu ver – pediu se afastando e pegando o pé da outra – Ta doendo?

-- Ta.

-- Tenta mexer pra eu ver.

-- Dói – disse movimentando um pouco os dedos.

-- Amor você ta mexendo, acho que não quebrou, mas se inchar e continuar doendo nós vamos ao hospital, ok?

-- Ta bom.

-- Ótimo – se levantou deitando um selinho na boca da outra.

-- Isso foi praga da Júlia.

-- Por que praga dela? – perguntou rindo da feição da outra.

-- Porque eu estava zoando ela por não saber fazer o café da manhã

-- Mas gente, vocês acordam logo cedo já se alfinetando?

-- Pra não perder o costume – sorriu fazendo a outra rir e se aproximar.

-- Hum, é mesmo? E que tal não perder o costume de outra coisa? – perguntou segurando-lhe o colarinho da camisa e fazendo a outra exibir um sorriso safado.

-- Esse eu não perco nunca, mas é sempre bom praticar!

 

Puxou-lhe pela nuca beijando-a e começando uma pequena pegação, que só não tomou outras proporções pois ambas ouviram um barulho vindo da cozinha e acharam melhor irem até lá para que Júlia não a destruísse.

 

-- Esta tudo bem ai? – Manuela chegou abraçada a Rachel, vendo toda a bagunça que a loira tinha feito.

-- Ah tudo, só estou tentando fazer... isso!

-- Acho que você vai precisar de uma empregada Júlia – Rachel riu da bagunça e da expressão da loira.

-- Jura? Eu nem tinha percebido – revirou os olhos contrariada.

-- Ai Júlia abre espaço ai pra mim que eu vou te ajudar antes que morremos de fome ou você exploda a cozinha – se desgrudou de Rachel e se aproximou da loira que estava emburrada – Vê se aprende gatinha – piscou-lhe tento a loirinha lhe mostrando a língua, o que causou riso nas outras duas.

 

Pouco tempo depois estavam comendo as três entre conversas leves e planos de arrumarem os moveis de outra forma para que ficasse aconchegante o novo lar de Júlia.

Após comerem Rachel foi sentar-se no sofá enquanto Júlia tinha ido pro quarto.

Manuela se aproximou beijando-lhe o rosto e sentando-se.

 

-- Ta doendo ainda o pé bebê? – perguntou acariciando a perna da outra que vez um bico de manha.

-- Muito.

-- Vamos pro hospital então – abaixou-se pegando a perna de Rachel para por em sua coxa observando onde a outra tinha batido.

-- Não precisa

-- Você disse que ta doendo...

-- Só ta dolorido, deixa eu fazer um pouco de dengo – respondeu sorrindo e viu Manuela estreitando os olhos.

-- Você ta de manha então?

-- Só um pouquinho – disse arregalando os olhos quando a outra se levantou com uma expressão não muito boa – Foi brincadeira Manu.

-- Vou te ensinar a brincar.

 

Ao terminar de falar a puxou pela camisa logo levando uma mão para sua nuca entrelaçando em seus cabelos e a puxando para um beijo com mordida nos lábios e risos abertos.

Ambas gostavam daquela intimidade que tinham, era espontâneo sem pressão.

 

 

Pouco tempo depois Júlia apareceu já tirando seu costumeiro sarro das duas.

 

 

 

...   ...   ...   ...   ...

 

 

 

 

Dois dias após a mudança definitiva de Júlia a mesma recebeu um convite no tanto irrecusável.

Pensou em recusar, quis recusar, mas sua avó não lhe deu alternativas usando até mesmo de chantagem emocional.

Tentava agora se preparar para encarar de frente aquele convite.

Estava tensa, claro.

Iria passar o natal com os Lancaster a pedido de dona Cecília.

Isso esta a atormentando, porém não podia desapontar a sua avó.

 

 

Manuela foi designada a missão de lhe ajudar a se preparar tanto psicologicamente como com os presentes, afinal seria natal e não poderia aparecer de mãos abanando. Na verdade o pavor estava a dominando, pois por mais que participasse das festas natalinas dos San’Germany agora era diferente.

Agora seria algo mais real, mais família.

 

Os San’Germany sempre buscavam fazer de eventos que são considerados familiares, eventos de grande porte, com diversas mídias sempre apostos. Fazendo-os assim posar como a família feliz que não eram.

 

Parecia que com os Lancaster seria no mínimo diferente.

Tinha que saber como agir.

 

 

-- Tem certeza que você vai comprar presentes para todos? – Manuela perguntou ao sentarem em um dos bancos de uma praça de alimentação do enorme shopping que estavam.

--Bom eu não sei como agir, e acho que seria grosseiro da minha parte levar presente apenas para minha avó sendo que vou entregar na frente dos demais.

-- É seria chato mesmo, ainda mais se eles te derem presentes e você ficar de mãos abanando.

 

Um tempo depois as duas entravam e saiam de lojas, pois Manuela acabou por também comprar presentes para seus familiares já que o natal passaria com eles, provavelmente viajando para o interior na casa da avó.

No final Júlia estava igualmente Manuela com os três presentes comprados e faltava um.

 

Manuela observou a inquietação da amiga enquanto escolhia o último presente.

Era visível o nervosismo da loirinha.

 

 

 

 

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Rachel tentava ligar para Manuela precisando falar a mesma e não conseguindo.

Estava nervosa, irritada, queria explodir, então a primeira coisa que lhe veio a cabeça para lhe acalmar era conversar com Manuela.

Ela sempre lhe trazia paz.

Porém sua intenção estava se tornando fracassada, o que a deixava mais nervosa.

 

Mais cedo havia tido uma discussão seria com seu pai.

Alberto de alguma forma tinha descoberto os planos da filha e também soube que quem iria ajudá-la seria Rosa.

 

No mesmo dia ele tomou sua atitude chamando Rosa até seu escritório e a tratando da forma mais rude que podia.

Rachel que descia as escadas escutou a voz alta do pai e seguiu ate seu escritório não gostando nada do tom que estava ouvindo, ainda mais quando o ouviu pronunciar o nome de sua babá.

 

Assim que entrou no escritório do pai viu uma cena que fez sua cabeça fervilhar.

Rosa sendo acuada em um canto  da sala por seu pai que demonstrava agressividade, com seu costumeiro copo de uísque na mão.

 

-- Ei ei ei! O que você pensa que esta fazendo?! – exclamou seguindo apressada para o canto que os dois estavam.

-- Ora, ora – debochou Alberto rindo de lábios e bebericando sua bebida – Sua protegida veio lhe salvar Rosa.

-- O que você pensa que esta fazendo? – perguntou novamente irritada – Ficou louco?

--Não, louco não, e tão pouco burro sabia? – riu mais uma vez debochando e de repente ficando serio e pegando no braço de Rosa apertando com força – Eu descobri que essa velha esta tentando te ajudar nessa idéia estúpida sua!

-- Solta ela! – gritou se aproximando mais e puxando o pai, logo se posicionando no meio dos dois o empurrando mais para trás. –Não encosta nela!

-- E você vai fazer o que? Vai contar pra mamãezinha ou chorar para a babá?

-- Eu acabo contigo!

-- Nossa como ela é perigosa – riu mais uma vez em deboche.

-- Eu não estou brincando senhor Lennis, eu dou um telefonema, e várias entrevistas vão surgir, eu gravo vídeos, jogo na internet revelando como você é um péssimo pai, sem escrúpulos. Tenho certeza que ninguém vai confiar ou querer alguém no poder do qual a própria família o expõe dessa maneira.

 

Observou os ombros do seu pai se tencionar assim como seu corpo.

 

-- Você não é louca!

-- Me desafie ai você verá se eu sou ou não capaz!

 

Alberto a pegou pelos ombros com força a empurrando contra a parede e logo uma de suas mãos estava no pescoço de Rachel.

Ele demonstrava sinais de completo descontrole e nervosismo.

 

-- Se você ousar a falar uma letra sequer para a impressa eu juro que te mato!

-- Larga ela seu Alberto! –Rosa tentou se enfiar no meio o fazendo largar sua menina porem foi empurrada pela outra mão do homem que estava livre.

-- Você me ouviu garota?!

-- Você sempre... disse, que nós dois... éramos, iguais – falava tentando tirar a mão de seu pai que apertava seu pescoço, conseguindo quando pegou um dos dedos dele torcendo e fazendo-o solta-la – Acho que você tem razão, nós somos iguais, e não duvide da minha coragem em fazer algo.

-- Eu acabo com você!

-- Vamos ver quem acaba primeiro com quem – Rachel desafio o fazendo se irritar mais.

 

Pegou o copo da bebida que estava na mesa e jogou na parede descontando toda sua ira.

 

-- SAIAM! – gritou irritado com o rosto vermelho de raiva.

 

Rosa assustada com toda a situação puxou Rachel para fora do escritório do pai.

Foi caminhando até o quarto de Rachel a puxando nervosa com tudo que tinha acabado de acontecer.

Assim que entraram no cômodo a garota de cabelos castanhos começou andar de um lado para o outro querendo poder descontar sua raiva, mas se controlando por sua babá que estava ali.

 

-- Se acalme menina!

-- Me acalmar? Como você me pede para me acalmar depois do que acabou de acontecer babá! – exclamou irritada com a respiração forte.

-- Rachel pare! – exigiu a mais velha parando em sua frente – Onde esta sua bombinha?

-- Ali – apontou para a gaveta da cômoda ao lado de sua cama.

-- Ótimo, agora vá até lá e use antes que você tenha uma crise.

-- Rosa...

-- Rachel eu disse para usar a bombinha, e eu quero que use agora! – falou mais firme fazendo a garota atender seu pedido.

 

 

Um tempo do ocorrido viram pela janela do quarto de Rachel, Alberto saindo.

Minutos depois Rosa voltou aos seus afazeres, deixando Rachel ali nervosa e agitada.

 

As diversas ligações que fez para Manuela deram todas em caixa postal.

Não sabia o que fazer para aliviar seu estresse.

Sentia como se pudesse explodir.

Se tivesse a chance sem duvidas quebraria a cara de seu pai, e este pensamento também lhe fazia mal, pois apesar de tudo ele era seu pai.

 

Tentou mais duas vezes ligar para Manuela sem resultados, e quando pensou em desistir no ultimo toque sua ligação foi atendida.

Mas não era o que esperava...

 

-- Alô... Rachel? – a voz do outro lado foi ouvida trazendo decepção para a garota de cabelos castanhos.

-- Oi Júlia, a Manu ta ai?

-- Ela ta sim, é que ta ocupada por isso que eu atendi, mas espera só um minuto, vou chamá-la – e Rachel esperou e ouviu a outra gritar e receber um grito de volta de Manuela – Manu a Rachel quer falar com você, anda logo!

-- Diz pra ela que eu ligo mais tarde Júlia, agora estamos ocupadas! – a voz de Manuela vou escutada e Júlia nem precisou falar mais nada.

-- Rachel ela disse que...

-- Eu ouvi Júlia – a cortou –Boa tarde pra vocês. – encerrou desligando sem sequer esperar resposta da outra.

 

Não adiantava.

Júlia sempre teria atenção de Manuela sendo sua prioridade, estando sempre em primeiro lugar para a morena.

 

Apertou os olhos tardando aquela vontade de chorar que estava devido ao nervoso, por tudo, e suspirou forte fazendo menção de largar o celular, e logo o jogando em qualquer canto de sua cama, assim como também se jogou levando os braços ate seu rosto e respirando fundo sem saber o que fazer.

 

Mesmo sem ter a intenção Rachel esperou.

Esperou, e esperou a ligação que Manuela disse que retornaria, mas não retornou.

As horas passaram, e nenhum sinal da garota de cabelos escuros.

Ainda mandou mensagem para ela, porem não obteve resposta.

Até que desistiu.

 

Seu ego se feriu com aquilo.

Era como se estivesse correndo atrás da garota e ela nem sequer mostrava se importar um pouco que seja consigo.

Seus sentimentos estavam abalados, era impossível evitar ficar sensível, mesmo ela negando a si mesma aquela sensibilidade e aquela tristeza latente.

 

Já era bem tarde da noite quando Rachel quando recebeu uma mensagem.

 

O toque do celular sinalizou o recebimento da mensagem e ela de imediato correu ate o aparelho se jogando na cama com ele.

Mas não era o que ela esperava.

Não era o que imaginou.

Deu um suspiro cansado e abriu a mensagem.

Assim que leu pensou “Por que não?”.

Respondeu para depois se jogar na cama respirando fundo.

 

 

 

 

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As compras das garotas demoraram mais do que o esperado fazendo com que as garotas se perdessem no tempo.

Como de costume que a loirinha tinha nos San’Germany ela comprou um agrado em forma de lembranças aos empregados dos Lancaster.

E isso acabou tomando grande parte do tempo das garotas sem que nem elas percebessem.

E quando perceberam já era tarde da noite.

Iria dar 23:00 horas quando foram comer juntas e Manuela percebeu ligações perdidas de sua mãe, provavelmente ela devia estar querendo lhe matar e preocupada.

Viu também a mensagem de Rachel, mas não visualizou, preferiu ligar para seus pais e ouvir a bronca assim como tranqüilizá-los.

 

E como esperava ouviu muito de sua mãe que beirava ao desespero de preocupação. Porque Marcela era assim, se preocupava ao extremo com suas filhas.

Depois de ouvir as broncas prometeu que dormiria em casa aliviando mais sua mãe.

E assim as duas seguiram.

 

Manuela seguiu para sua casa depois de um dia agitado com sua amiga.

E Júlia foi para seu apartamento o encontrando terrivelmente silencioso.

A loirinha estava preparada para tudo, mas não tinha se preparado para a solidão que seria morar sozinha.

Sempre rodeada de pessoas, mesmo que fossem empregados, sempre tinha gente, mas agora se deparava com outra realidade.

O silêncio de voltar para casa.

 

E mais ainda, respirava fundo durante um banho quente pensando como seria o próximo dia, que seria a véspera do Natal.

Teria que enfrentar todos os Lancaster num mesmo ambiente.

Ainda não sabia o que era pior e o que lhe dava mais aflição a deixando inquieta, se era encontrar Olávo e ter de permanecer no mesmo ambiente que ele durante longas horas, ou encontrar Amanda.

 

Tentou esquecer esse assunto por um tempo deitando-se no sofá e assistindo televisão até altas horas da madrugada, até receber uma ligação.

 

 

 

 

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Quando já beirava a meia noite um carro esporte preto com três integrantes parou na frente da residência Lennis.

Dele saiu dois rapazes bem apresentáveis que pareciam até ser modelos de revista.

Saiu junto deles também uma garota com traços orientais, cabelo longo, jaqueta de couro e uma maquiagem que fazia destacar ainda mais sua beleza.

Rachel já sabia e esperava por eles.

 

Andou até o carro os encontrando já do lado de fora para cumprimentá-la.

Abraçou os dois rapazes os beijando no rosto e em seguida foi puxada pela garota que todos chamavam de japa, sendo apertada em um abraço forte e recebendo um beijo na lateral de seu queixo.

 

-- Senti saudades gatinha – Allyson disse com um sorriso no mínimo sacana, despertando outro riso de lábios na garota de cabelos castanhos.

-- Também senti a sua Ally.

-- Bom o que temos pra hoje com duas gatas lindas Nando? – perguntou um dos rapazes e o outro riu de canto para responder.

-- Vamos curtir a noitada em uma das melhores baladas, e a primeira rodada de bebidas eu pago pra essas moças lindas.

 

As duas riram dos garotos galantes e entraram no carro com os dois rapazes atrás e as duas moças na frente, já que Ally era quem dirigia.

 

 

 

Um tempo depois chegaram a uma balada que tinha a decoração meio psicodélica, dando uma viagem só de olhar as paredes, e Rachel imaginou quem estivesse bêbado e dançando com toda certeza veria aquelas paredes se mexerem.

E hoje era o seu dia.

 

O dia de descanso e de tentar recuperar um pouco de sua velha Rachel de ser.

Ter demonstrado mudança não lhe trouxe nada de bom, pelo contrário, parecia que quanto mais baixava sua guarda, mais se ferrava.

Estava cansada disso.

 

Queria voltar a ser como antes, sem arrependimentos, sem demonstrar sentimentos.

Sempre se divertiu quando saia com seus amigos e ia para as baladas e festas, precisava disso, sentia saudades disso.

Em todas as vezes curtia horrores assim como ria e até dançava quando o efeito da bebida já dominava seu sangue.

 

E então a festa começou.

 

Como os garotos prometeram a primeira rodada de bebidas foram toda por conta deles.

E logo os quatro tomaram outra, e mais outra e então mais outras.

Porem Ally percebeu que por mais que Rachel estivesse se esforçando para se manter animada, algo não estava certo.

Como dizem a teoria dos bêbados existem vários tipos: Os felizes que curtem como senão houvesse o amanhã e os tristes que agarram a famosa depre/depressão.

Rachel estava se esforçando ao máximo, mas não estava conseguindo entrar no clima que queria.

 

Nando um dos rapazes quando percebeu perguntou para Allyson e a mesma disse ter notado.

Então ele aguardou.

 

No outro copo de bebida que a garota de cabelos castanhos bebia como se pudesse afogar suas magoas, já nem lembrava de quantos copos de diversas bebidas já havia tomado.

A percepção lenta começou e o rapaz viu a hora de agir.

 

Já conhecia a garota de outras baladas que foram juntos e sabia muito bem o que a garota topava e o que não topava, sabia que ela não achava certo.

Sabia também que seu momento não parecia bom pois nunca tinha visto ela beber tanto para tentar entrar no clima, ela geralmente se mantinha no quarto copo.

 

Aproximou-se de Rachel que por instantes parecia perdida e cochichou algo em seu ouvido o que a garota de cabelos castanhos não foi capaz de entender e até riu desse fato.

Logo depois o rapaz pegou algo e colocou em sua boca gritando em seu ouvido para que ela entendesse seu comando.

 

--Mastiga! – exclamou se afastando e olhando se ela fazia o que ele mandava.

 

E ela não entendeu, já não distinguia o que acontecia ao redor e aquelas paredes realmente faziam efeito em seu cérebro bêbado.

Então ela obedeceu e mastigou fazendo uma careta pelo gosto amargo, mas ainda assim continuou o fazendo dar risada.

 

E um tempo depois o que ela mastigou começou a fazer efeito.

Seu coração começou a bater forte e rápido no peito causando-lhe uma sensação estranha.

A boca começou a ficar seca e sentiu seu corpo agitado, era um ânimo que ainda não tinha experimentado, e por mais que estivesse quase bêbada aquilo conseguiu fazê-la dar uma acordada de seu estado alcoólico para um estado de extrema agitação.

 

Allyson ao voltar do banheiro viu a garota de cabelos castanhos mais anima e não entendeu.

A encontrou dançando junto de mais três pessoas que julgava ser desconhecidos.

Se aproximou e foi enlaçada pela cintura tendo o corpo da outra grudado ao seu e aquilo era bom. Rachel sempre fora saída e atrevida, Ally gostava disso.

 

Dançaram e a energia da outra parecia não terminar.

Alguém esbarrou nelas duas e a garota de cabelos castanhos agiu com extrema grosseria querendo até partir para a briga e sendo segurada por Allyson, fazendo esta achar completamente estranho.

 

-- Rachel?! – gritou a chamando e segurando no seu pulso fazendo-a virar para si a encarando.

 

Pupilas dilatadas e olhar meio vidrado ao mesmo tempo desconcertado.

 

-- Ah não Rachel! – exclamou irritada segurando o rosto da outra – Quem te deu drogas Rachel?!

-- Me solta Allyson, me deixa! – pediu afastando seu rosto das mãos da outra.

-- Porr* Rachel como você tomou essa porcaria?! Quem te deu?!

-- Sai! – falou em tom grosseiro se afastando.

 

Então ela se perdeu no meio da multidão, dando trabalho para Allyson encontrá-la.

A achou junto de Nando que pareceu esfregar algo na boca dela, mais precisamente na gengiva assim como despejando o restante em um copo.

Copo esse que Rachel bebeu o virando e só não conseguiu beber tudo pois Ally se aproximou rápido dando um tapa em sua mão fazendo com que o copo caísse no chão.

 

-- Caralh*! – Rache exclamou irritada e Allyson não lhe deu ouvidos indo para cima de Nando.

-- Porr* Nando você enlouqueceu?! Por que deu drogas pra ela?!

-- Ei calminha ai Japa, ela precisava relaxar, tava estressada – ele disse rindo feito bobo e levando um tapa da outra – Que isso Allyson?!

-- Pra você aprender a parar de ser imbecil, acha que ela estava estressada antes? E agora?!

-- Agora eu acho que é você quem ta precisando! Quer um doce?

-- Que porr* de doce Fernando! Eu quero saber exatamente o que você deu a ela! Fala logo, desembucha!

-- Calma Ally ela não vai morrer, não sei pra que tanto estresse.

-- Fala logo Fernando!

-- Dei bala pra ela – falou a contra gosto com a atitude da amiga.

-- E agora aqui você estava dando o que pra ela? Responde droga!

-- Eu dei um pouco de speed, mas ela nem chegou a tomar tudo porque tu derrubou a bebida relaxa.

-- Tu esfregou na boca dela também que eu vi! Fernando eu juro por Deus que se algo acontecer você ta ferrado!.

-- Allyson ta me ameaçando por que? Isso é falta de dar, vai la procurar a gostosa da Rachel e trans*r loucamente com ela porque ela ta no ponto e você ta querendo isso faz tempo que eu sei!

 

E outro tapa Ally deu no rapaz e foi procurar Rachel que já tinha sumido.

Encontrar a garota de cabelos castanhos não era tarefa fácil em uma balada de três andares com a iluminação escura e piscante, repleto de gente bêbado e drogados dançando e se esfregando uns aos outros.

Mas não demorou muito a achar quando perto da saída encontrou um burburinho de pessoas amontoadas e algumas tentando separar o que parecia ser uma briga.

Se aproximou mais e bingo!

Lá estava Rachel sendo segurada por duas pessoas que deduziu um ser segurança assim como um rapaz também era segurado.

 

-- Droga – disse se aproximando.

 

Varias pessoas filmavam a cena, percebeu que devia ter no mínimo dez pessoas que estudaram com elas e algumas delas também filmavam.

O segurança que segurava o rapaz arrastando ele para fora.

Ainda pode ouvi-lo dizer “Filha de político corrupto!”

 

Se aproximou antes que eles arrastassem sua amiga e disse que já estavam indo, tendo então a amiga de cabelos castanhos solta das mãos das duas pessoas que a seguravam e as pessoas ainda filmavam

 

 

-- Vai babaca! Meu pai é corrupto sim! Ele é um péssimo pai, se eu fosse vocês nunca votaria nele! É uma porcaria como ser humano! – disse gritando para o rapaz e depois se virando para os demais que a olhavam e alguns ainda filmavam –Ta filmando? Joga na internet: Filha de Alberto Lennis, sim eu, Rachel Lennis, por mais que você não aceite papai eu sou lésbica, eu sou tudo o que você odeia! Mas não faz mal, pois você também é tudo que eu odeio!...

-- Chega Rachel, vamos embora! – Ally se aproximou pegando-a pelo braço e puxando.

-- Não votem nele! Ele é um péssimo exemplo, péssimo pai, se nem a família votaria não merece o voto de vocês! – exclamou ainda ao ser puxada.

 

 

Com dificuldade Allyson conseguiu tira-la de dentro da balada e foi a empurrando para o carro abrindo a porta de trás para por a garota.

 

-- O que você tem na cabeça?! Além de droga é claro! Cara não acredito que você fez isso!

-- Não me empurra! – falou em tom agressivo, porem Ally estava muito nervosa para notar.

-- Entra na merd* desse carro agora Rachel!

-- E se eu não quiser?

-- Se você não quiser eu vou ligar pro seu pai!

-- Você não é louca! Sabe do que você precisa? – perguntou a virando de repente de encontro ao carro – Disso aqui.

 

Terminou de dizer e a puxou para um beijo forte e violento.

Ally queria, mas não naquelas condições, era errado.

Foi sendo empurrada para o banco de trás do carro com Rachel que parecia que a devoraria inteira.

Não pode evitar de sentir desejo, vontade, de seu sex* pulsar, e assim que a garota de cabelos castanhos fechou a porta Ally a deteve.

 

-- Rachel para, você não esta afim disso, e eu não estou afim de ficar com você assim, não desse jeito...

-- Qual é Ally é tudo o que você queria – respondeu apertando o corpo da outra e beijando seu pescoço.

-- Sim era, para Rachel! – se afastou – eu quero, mas não você drogada – a empurrou com mais força a fazendo se afastar – vou te levar pra casa.

 

Pulou rapidamente para o banco da frente e ligou o carro.

Rachel não colocou o sinto de jeito nenhum e se projetava para a frente ligando o som do carro e mudando de musica.

Estava agitada e dançava no banco de trás.

Sentiu seu coração batendo mais rápido, e um suor crescente escorrendo pelo seu corpo, sentia como se tivesse energia para correr uma maratona.

Queria trans*r, e essa vontade lhe arrebatou a deixando com um tesão fora do comum, e não entendeu muito bem, poderia ter insistido com Allyson, sabia que ela queria o mesmo, mas algo dentro de si dizia que não era ela a pessoa que acabaria com seu desejo.

 

-- Manu – disse baixo sem percebeu sequer que tinha pensado na garota de pele pálida e cabelos completamente escuros.

-- O que disse?

-- O que?

-- Chamou alguém? – Ally perguntou a observando do espelho do carro.

-- Não disse nada – rebateu irritada.

 

Allyson tinha ouvido bem, só queria ter certeza.

 

Rachel se recusou a ir para sua casa, e Ally já não sabia mais o que fazer, olhou para o lado e viu o celular da amiga jogado no banco, o pegou pensando o que fazer até que uma idéia lhe surgiu.

Acendeu a tela do celular torcendo para que não tivesse senha, e aquele parecia seu dia de sorte.

Desbloqueou o aparelho deslizando a tela e buscou o numero que desejava enquanto Rachel estava entretida ao gritar no carro vendo a paisagem na janela.

Sempre que passavam próximo de pessoas ou outros carros a garota xingava um palavrão.

 

-- Alô – uma voz sonolenta atendeu e ela agradeceu por isso.

-- Oi, é a Manuela?

-- Sim quem fala? – Manuela perguntou despertando por completo, pois jurava que tinha atendido a ligação de Rachel e olhou na tela para se certificar.

-- Aqui é a Ally, Manuela a Rachel precisa da sua ajuda.

-- Minha ajuda? – perguntou em um tom desgostoso e a outra percebeu.

-- Olha Manuela eu sei que ta tarde...

-- Sim esta, já passa das três.

-- Eu sei, mas olha, a gente veio curtir na balada...

-- Bom divertimento pra vocês! – falou irritada em menção de desligar, não era possível Rachel ir pra farra e ainda ter a ousadia de deixar a outra lhe ligar de seu aparelho.

-- Não desliga Manuela! – pediu rápido percebendo as intenções da outra – Escuta, ta ouvindo os gritos? Alguém drogou a Rachel, eu preciso da sua ajuda, ela não parece bem.

-- Alguém o que?

-- Manuela deram drogas pra ela, e ela te chamou, eu preciso que você me ajude!

-- Onde vocês estão? – perguntou se levantando da cama em um pulo.

-- Estamos andando de carro sem parar...

-- Ta, eu preciso que você vá para tal endereço e eu te encontro lá – pediu em seguida passando o endereço.

 

Correu para seu guarda roupa, trocou-se e escovou seus dentes rapidamente para sair apressada, chamou um taxi por aplicativo.

E fez uma ligação.

 

-- Júlia preciso da sua ajuda...

 

 

 

 

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Não demorou muito tempo e Júlia abriu a porta de seu apartamento para as duas garotas subirem.

Nunca tinha visto a garota com traços orientais, não que se lembrasse, mas a acho incrivelmente linda.

Junto dela estava uma Rachel agitada dizendo que não queria estar ali e tentando ir embora sendo segurada por Ally que praticamente a arrastou para ali.

 

-- O que aconteceu? – a loira perguntou as outras duas fechando a porta.

-- Drogaram ela.

 

Assim que fechou a porta Manuela que já tinha a entrada liberada na portaria chamou, assim que abriu a porta novamente a garota de cabelos escuros entrou como um furacão indo até Rachel.

 

-- Manuela – disse um tanto espantada.

-- O que você pensa que esta fazendo?! – perguntou com a voz alterada e nervosa – O que tem na cabeça pra usar essas porcarias?!

 

As duas começaram a discutir e Júlia junto de Ally acharam melhor não se meter.

A garota com traços orientais se afastou junto com a loira e ficou observando as outras duas. Sem dúvidas Manuela sabia dominar Rachel que apesar de aparentar irritação estava controlada com ela.

 

-- Ela é brava –comentou com Júlia e esta até riu.

-- Sim ela é, e eu nunca a vi assim com ninguém a não ser com a Rachel – disse sorrindo de canto – Ela é um doce, mas quando se trata de Rachel ela consegue se tornar uma fera.

-- Ela põe ela nos eixos –disse ainda olhando-as.

-- Acho que isso é gostar, e acho que elas ainda não perceberam e nem admitiram, mas se gostam e não é pouco.

 

Allyson ignorou aquela informação e continuou entretida com a discussão que se desenrolava um pouco distante delas, próximo a porta.

 

 

 

 

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E Manuela não aliviou, a discussão com palavras duras deixando Rachel mais agitada, pois se fosse outra pessoa ali ela já teria avançado para cima.

De repente tudo o que seu pai sempre falava para si veio como avalanche em sua cabeça, e algumas palavras que Manuela usava se assemelhavam ao jeito de Alberto.

 

-- Me deixa em paz! – exclamou irritada tentando tira-la da frente e abrir a porta afim de sair, queria ir embora o mais rápido possível.

-- Rachel você não vai sair.

-- Manuela não enche o saco! – falou mais alto a pegando firme pelo braço a puxando da frente da porta – Você se importa tanto que tua prioridade sempre vai ser a loira aguada, me poupe, SAI!

 

Júlia e Allyson se aproximaram com receio de violência física, mas antes que dissessem algo, Manuela resolveu.

 

-- Seu problema é esse? Vamos conversar então!

-- Eu não tenho mais nada pra conversar com você, me esquece!

-- Você não tem mas eu tenho, vamos pro quarto, anda! – cuspiu as palavras a puxando de repente com tanta força que nem ela sabia que tinha.

 

E assim arrastou a garota de cabelos castanhos até um dos quartos de Júlia, fechando a porta.

 

-- Você fez isso tudo por que eu não tive tempo pra você, é isso mesmo que eu entendi?

-- Ta se achando demais, eu quero que você e aquela idiota se explodam!.

-- É isso mesmo que você quer? Prefere ficar se drogando? Você é uma idiota! Faz tudo errado!

-- Cala a boca!

-- E eu pensava que você tinha realmente mudado, eu estava me entregando a essa coisa que temos e você estragou tudo! Você sempre estraga tudo Lennis!

-- Eu falei pra você calar a boca! – se aproximou com agressividade a prensando contra a parede e segurando firme por baixo do maxilar, deixando sem intenção um arranhão forte. – Eu disse pra você calar essa maldita boca!

-- Ta me machucando, me solta!

 

Mas Rachel não soltou, a puxou para um beijo forte exigente, a apertando contra si, a empurrando para a cama.

Manuela já podia perceber o quanto a garota e seu corpo estavam agitados, agora comprovava tendo-a agarrada a si.

Foi jogada na cama com brutalidade, e teve a outra por cima, tentou sair, mas a outra impunha força dificultando sua saída.

 

-- Rachel para! Sai, eu não quero.

-- Qual é Manuela, eu to afim de trans*r com você – dizia entre beijos no pescoço da outra enquanto ela se remexia.

-- Eu falei que eu não quero! –a empurrou com um pouco mais de força dando em seguida um tapa na outra que parecia cair na realidade apesar do nervosismo.

 

Rachel semicerrou o maxilar contendo aquela irritação que desconhecia, e foi empurrada por Manuela que a fez sair de cima dela.

Se levantou e seguiu para a porta abrindo-a.

 

-- A onde você vai? – Manuela chamou antes que saísse.

-- Vou pro inferno! Me deixa!

 

E saiu batendo a porta com força.

Seguiu para um dos banheiros de Júlia antes de sair do apartamento.

Queria esquecer, precisava esquecer, mas sua mente não lhe dava folga.

Se sentia mal, como se tudo o que seu pai falasse fosse realmente a verdade, era um lixo.

 

Retirou do bolso um pequeno pacote, e despejou o conteúdo na boca, sem sequer se importar de por o pequeno envelope no lixo, deixou ali mesmo na pia do banheiro.

O corpo exaltado pedia para liberar a energia, deu alguns pulinhos dentro do banheiro tentando se acalmar e não soube dizer quanto tempo se perdeu ali por dentro.

 

Saiu do banheiro dando de cara com Júlia e Allyson que a olhavam.

Podia ouvir seu coração batendo, as pulsações do corpo, boca seca, um eco na mente.

Foi caminhando até a porta e ao abrir se escorou nela fechando com o peso de seu corpo.

 

 

 

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Ao verem a porta bater com o corpo da garota que se escorava nela, Júlia e Allyson perceberam que algo não estava bem.

Correram até ela a apoiando e percebendo a leve tremedeira que a outra tinha no corpo.

Os dentes da garota de cabelos castanhos estavam rangendo, seu maxilar meio trêmulo, e a respiração começou a pesar.

 

-- Rachel? Rachel! – Ally a chamou segurando seu rosto fazendo-a olhar.

-- Ela não ta bem – Júlia disse a sentindo suando, estava gelada.

-- Eu... – ela tentou dizer com a boca e garganta seca, seu coração começou a galopar dentro do peito de forma mais rápida, a dor em seu peito começou lhe atingir dificultando a respiração – Meu peito...

-- Manuela! – Júlia gritou vendo Rachel querer perder os sentidos – Rachel olha pra mim! – pediu balançando o rosto da outra para que continuasse entendendo, e gritou novamente – MANUELA!

 

Em instantes ao ouvir a gritaria Manu apareceu vendo a cena de Rachel já escorada em Júlia junto da outra garota.

Correu até elas encostando na garota de cabelos castanhos e a sentindo gelada.

 

-- Que droga! Onde ta seu carro?! – perguntou a garota oriental.

-- Está lá embaixo perto da esquina.

-- Me da a droga das chaves e levem ela pra baixo! – pediu no desespero.

-- O que você vai fazer?

-- Ela vai ela ao hospital! Me da logo!

-- Ela não pode dar entrada em um hospital assim, vão fazer varias perguntas e...

-- Ela pode ta tendo uma overdose, eu não vou deixar ela morrer por medo seu, se você deu essas merd*s pra ela se prepare, porque se acontecer alguma coisa com ela eu vou matar você!

-- Não fui eu!

-- Me da a porcaria das chaves!

 

Ally entregou e Manuela se ergueu para sair enquanto Júlia conversava com Rachel para a manter consciente.

 

-- Manu... – Rachel chamou com temores em seu corpo a fazendo voltar e agachasse para ficar na mesma altura que a garota caída.

-- Eu to aqui amor, vai ficar tudo bem, me espera um pouco – pediu beijando-lhe a testa que apesar do suor estava gelada – Levem ela pra baixo!

 

Correu para fora do apartamento sem ter paciência de esperar o elevador, correndo então para as escadas e nem soube como desceu aqueles degraus todos em uma rapidez incrível sem sequer tropeçar.

 

Pegou o carro de Allyson e colocou na frente do prédio e se deparou com as garotas que escoravam a outra.

Desceu do carro ajudando as duas garotas a carregar Rachel, abrindo a porta de trás.

 

-- Manu... – Rachel a chamou novamente sendo posta dentro do carro.

-- Eu to aqui meu bem...

-- Fica com ela Manuela, deixa que eu dirijo – Júlia disse e viu o receio da amiga – Eu vou dirigir o mais rápido que eu puder prometo.

 

Manuela entregou-lhe as chaves e entrou no carro no banco de trás acomodando a cabeça de Rachel no colo, e Allyson entrou no banco da frente junto de Júlia.

 

-- Rachel olha pra mim – conversava tentando manter a garota consciente e a viu começar a ranger os dentes de forma mais forte e revirar os olhos com uma dificuldade visível para respirar – Não, não, não Rachel, não revira os olhos amor, ei meu amor olha pra mim, não vira os olhos! – pediu em leves tapinhas no rosto a outra posicionando o rosto da garota de cabelos castanhos a olhar o seu.

-- Me... desculpa...

-- Para amor, vai ficar tudo bem, ok? Olha pra mim meu bem, olha.

 

E Júlia viu toda a cena pelo espelho retrovisor, acelerou o carro de tal forma que no mínimo teria infringido no mínimo cinqüenta infrações.

Chegaram até o hospital mais próximo, e Júlia junto de Allyson entraram explicando o que acontecida e de quem se tratava.

Por sorte pegaram o hospital vazio naquela madrugada.

Socorristas foram até o carro onde as outras duas garotas estavam e começaram os procedimentos.

 

-- O que ela tomou? – perguntou um dos socorristas.

-- Ecstasy e anfetamina –Ally respondeu.

-- Vamos rápido!

 

A mão de Rachel segurava forte a de Manuela não querendo largar, Júlia se aproximou afastando sua amiga, deixando mais espaço para que os profissionais agissem.

 

 

 

 

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Júlia permaneceu com Manuela que estava nervosa e chorosa.

Ally estava mais afastada com a cabeça a mil.

 

A demora estava torturando a todas, e um bom tempo depois conseguiram ter informações de como a garota de cabelos castanhos estava.

Explicaram todo o procedimento feito para o quadro de Rachel que foi denominado como overdose, perguntaram as garotas se ela era usuária, entre outras diversas perguntas.

Manuela e Júlia deixaram Ally explicar.

 

As informaram também que Rachel não sairia agora e que demoraria bastante para ser liberada. O dia já estava quase amanhecendo.

 

-- Júlia vai pra casa – Manuela disse olhando o relógio na parede do hospital.

-- Não vou deixar você aqui Manu...

-- Vai meu bem, você já fez demais, desculpa te enfiar nesse rolo.

-- Ei para Manu, eu estou aqui para qualquer coisa que precisar

-- Eu sei meu anjo, mas vai, amanhã... quer dizer hoje, você tem um compromisso importante, precisa estar descansada.

-- Eu posso ficar...

-- Eu sei que pode, mas eu quero que você vá, por favor.

 

Júlia observou o semblante abatido da amiga e ficou em duvida se realmente devia acatar o pedido.

 

-- Se precisar você me liga?

-- Ligo sim, obrigada por tudo Júlia.

-- Não tem de que – beijou-lhe o rosto se levantando – Manu...

-- Sim?

-- A gente não sabe bem o que aconteceu pra Rachel usar essas coisas, eu não acho que ela tenha o perfil de quem usa isso por diversão, procura não julgá-la antes de saber – pediu vendo a amiga a encarar e por fim concordar com a cabeça – Bom eu vou indo, qualquer coisa me liga.

-- Esta bem

 

A loira se afastou indo até a porta do hospital e encontrando Allyson ali que lhe ofereceu para deixá-la em casa, então assim o fez.

 

Horas se passaram e depois de muita insistência deixaram com que Manuela entrasse para ver a garota de cabelos castanhos.

 

E assim que entrou e a viu seu coração se acalmou.

Ela estava de olhos fechados, deitada com a respiração que já parecia normalizada.

Aproximou-se e beijou-lhe os cabelos suspirando e tentando conter o choro, pois se tinha algo que ela estava com vontade era de chorar desde que viu Rachel daquela maneira.

 

-- Me desculpa o susto – Rachel falou ainda de olhos fechados, já sabendo quem era.

-- Não faz mais isso comigo, por favor – pediu com a voz embargada e teve sua mão segurada pela garota que estava deitada.

--Não chora por favor...

-- Você sabe o nervoso que eu passei? Como eu fiquei preocupada com você? Eu quase morri do coração quando vi você revirando os olhos Rachel!

-- Eu sei meu bem, eu sei, me perdoa, eu não vou mais fazer isso, te juro, me desculpa... não chora.

-- Não faz mais isso...

-- Não faço, te prometo.

 

A garota de cabelos escuros balançou a cabeça de forma positiva e se aproximou deitando um beijo no rosto da outra que já não estava tão gelado como antes.

 

-- Esta sentindo alguma coisa?

-- Só minha cabeça que parece estar flutuando.

-- Tenta descansar um pouco.

-- Eu não consigo, estava tentando quando você entrou, mas meu corpo ainda esta agitado, minha garganta ta seca e ao mesmo tempo que minha cabeça parece leve, ela parece pesada.

-- Eu não vou poder ficar muito tempo com você, me liberaram só por alguns minutos.

-- Não me deixa não – pediu apertando a mão que estava entrelaçada na sua – fica aqui ate te expulsarem, quem sabe eles não esquecem – pediu fazendo a outra sorrir – por favor...

-- Tudo bem, eu fico até me expulsarem.

 

E ela ficou.

E pareceu que os funcionários realmente esqueceram dela.

Tanto que o sono lhe dominou fazendo que acabasse por cochilar com a cabeça e os braços apoiados no leito onde Rachel estava deitada, e esta ficou fazendo carinho nos cabelos escuros em forma de cafuné, velando o sono da garota.

 

 

 

 

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Júlia dormiu assim que deitou em sua cama, estava preocupada com Rachel e com Manuela, mas seu corpo estava cansado que nem percebeu a hora que caiu no sono.

Acordou já era quase três horas da tarde.

Viu que lá fora o tempo esta completamente nublado de um cinza que trazia uma chuva forte.

Olhou seu celular para ver se encontrava mensagens de Manuela e não viu nada.

Decidiu ir tomar seu banho para depois buscar notícias de Rachel.

 

 

Assim que falou com a amiga recebeu a notícia que a garota de cabelos castanhos estava bem e fazia pouco tempo que tinha sido liberada, a deixou na porta de casa e seguiu para a sua, deixando assim a loira mais tranqüila.

 

E as horas passaram rápidas, quando percebeu já era 19:00 horas do dia 24 de dezembro.

Terminava de se arrumar respirando fundo.

Quando já estava pronta solicitou um taxi para a deixar na mansão dos Lancaster, pensou até em ir de moto na noite anterior, mas agora que estava chovendo não teria condições, sem falar do tanto de presentes que estava levando.

Assim que o taxi chegou desceu com as varias sacolas que foram acomodadas pelo motorista no porta malas.

Não demorou muito e os dois chegaram a mansão, a entrada do carro foi liberada fazendo com que o motorista do taxi entrasse e assim não se molhassem pela grossa chuva.

Pegou todas as sacolas e foi recebida por um dos empregados que a ajudou acomodando os presentes em um canto da sala.

Entrou encontrando sua avó que lhe deu um abraço apertado.

Na sala bebendo e conversando alegres estavam algumas pessoas que Júlia não conhecia, eram os sócios de Olávo, poucos amigos chegados do casal.

Sua atenção foi para um senhor de cabelos ruivos, junto de uma senhora elegante, os achou extremamente familiar, mas pensou que fosse coisa de sua cabeça.

Logo encontrou seu pai que lhe abriu um sorriso orgulhoso por ter sua filha ali e poder exibi-la a seus convidados, mas antes que ele se aproximasse e fizesse isso a loirinha deu um jeito de escapar indo até a cozinha cumprimentar alguns empregados.

Assim que colocou os pés na cozinha deu de cara com Regina que lhe sorriu indo abraçá-la.

 

-- Que bom que veio!

-- Olá Regina – deu um sorriso fraco – Não podia fazer essa desfeita com minha avó.

-- Fico feliz que tenha vindo Júlia.

 

A loirinha concordou com a cabeça meio sem jeito  e pediu licença indo cumprimentar alguns dos empregados que trabalhavam aquele dia.

Um tempo depois quando já beirava perto das onze e meia da noite, não pode evitar mais de se esquivar dos demais e compareceu até onde os demais estavam.

Cumprimentou as pessoas que ali conversavam, alguns bebendo licor, outros outra bebida que ela não soube distinguir, até que sua atenção assim como as dos demais foram atraídas para o topo da escada, de onde surgia descendo uma ruiva que estava extremamente bonita.

 

Foi então que o coração de Júlia deu indícios de que estava ali vivo, pois começou a bater descompassado, sentiu suas mãos soarem e seus olhares enfim se cruzarem...

 

 

 

 

Fim do capítulo