Onze

 

Numa quarta-feira, no dia que completamos três meses de namoro, comecei um novo ciclo, 38 anos. Yara acordou primeiro e preparou um café da manhã delicioso. Ainda pela manhã, uns quinze minutos depois que cheguei ao consultório, um funcionário de uma floricultura me entregou um vaso lindo de orquídea, acompanhado de um cartão.

 

Meu amor, feliz aniversário!

O primeiro de muitos que passarei ao seu lado.

Escolhi orquídeas vermelhas, pois sei que é a sua cor favorita. Amo você! Yara.

 

E aquele não foi o único presente que recebi da minha namorada, também jantamos juntas e ainda ganhei um vestido lindo, todo colorido.

Na sexta à noite viajamos para Joanópolis e levamos a Nina conosco. Quando chegamos minha mãe já estava finalizando o jantar e para a minha alegria ela tinha feito nhoque. Yara adorou meus pais. Jantamos todos juntos. Quando minha mãe foi mostrar a casa para a minha namorada, meu pai me perguntou:

 

- Minha filha, você está feliz?

 

- Sim e muito.

 

- Que bom! Ela é mais nova que você né.

 

- Bem mais nova papai.

 

- Só não quero que ninguém machuque seus sentimentos novamente.

 

- Nem me fale. Sabe Pai, no começo tive muito medo e até hoje tenho inseguranças. São dez anos de diferença de idade e isso é um pouco perturbador. Mamãe me aconselhou muito.

 

- Filha, se ela tem maturidade, a idade é o de menos e de qualquer forma sempre vou me preocupar contigo, pois te amo!

 

- Também te amo muito.

 

Minha mãe e a Yara se deram muito bem e se tornaram amigas rapidamente. O nosso final de semana foi muito agradável, passeamos juntos e aproveitamos bastante.

 

- Amor, adorei seus pais (Yara falou quando entramos no carro).

 

- Que bom! Eles também gostaram muito de ti.

 

- Obrigada pelo final de semana, foi maravilhoso.

 

- Não precisa agradecer.

 

- Nesta semana começarei a colocar em prática um novo projeto.

 

- Qual?

 

- O Digo tem um imóvel grande e desocupado no Guarujá, vou visitar nesta semana. Tenho interesse em continuar com a sociedade, pois é rentável e pretendo inaugurar um colégio só meu.

 

- Nossa, sério? Que legal.

 

- E para não ter concorrência, minha ideia é abrir em outra cidade e como tem a balsa, consigo dividir um turno para cada colégio.

 

- Você é competente e dedicada. Tenho certeza que será um sucesso.

 

- Linda! Seu apoio será muito importante.

 

- Conte sempre comigo.

 

- Você também, meu bem.

 

Durante toda a viagem conversamos sobre os planos da Yara. Tivemos uma semana intensa, minha agenda lotada e ela fechando tudo sobre o novo empreendimento.

Quando o último mês do ano chegou decidimos planejar sobre as festas de fim de ano e também sobre as nossas férias. Natal combinamos de passar em Joanópolis com meus pais. Ano novo com os meninos no Guarujá e para janeiro fechamos um pacote com uma agência de viagens.

Numa quinta-feira à tarde, enquanto eu esperava uma paciente que estava atrasada, meu celular tocou e estranhei, era Alejandra.

 

- Alô!

 

- Flor, tudo bem?

 

- Sim e você?

 

- Também.

 

Ficamos alguns segundos em silêncio.

 

- Você está no consultório?

 

- Estou sim. O que você deseja? (Perguntei estranhando a ligação).

 

- Liguei para saber se você está bem.

 

- Eu estou.

 

- E também porque quero te encontrar. Precisamos conversar.

 

- Não temos mais nada para falar, tudo já foi dito.

 

- Por favor!

 

- Minha paciente chegou, preciso desligar (menti).

 

- Quando puder me encontrar me avise.

 

- Ok!

 

Desligamos e fiquei sem reação. Após oito meses de separação, do nada ela me liga querendo conversar e me deixando toda apreensiva. Trabalhei até o final do dia, fui para casa cuidei da Nina e fiquei esperando a Yara chegar. Naquela noite comemos esfihas.

 

- Amor, tudo bem? Você está toda pensativa.

 

- Tudo sim e a reforma como anda?

 

- Vai bem, mês que vem entregam tudo e te levarei até lá.

 

Brincamos um pouco com Nina e Yara, sempre muito observadora voltou a indagar.

 

- Tem algo que você quer me dizer?

 

Fiquei na dúvida, mas decide contar para ela.

 

- Yara, hoje à tarde a Alejandra me ligou.

 

- Sua ex?

 

- É.

 

- O que ela queria?

 

- Não entendi nada. Tem oito meses que nos separamos e hoje do nada ela ligou dizendo que queria saber como eu estava. Também falou que precisamos conversar.

 

- Depois da separação, vocês não voltaram a se encontrar?

 

- Não. Eu a vi certa vez, com outra mulher, mas nem nos falamos.

 

- Devo temer ou me enciumar com esta reaproximação?

 

- Nem um pouco. Eu te amo!

 

- Eu sei. Só que ela não sabe e é melhor você o dizer.

 

- Como assim?

 

- Florência, eu sou ciumenta, mas também sou extremamente realista. Uma hora ou outra vocês vão acabar se encontrando, será inevitável. Então é melhor que seja o quanto antes, deixe claro que você superou a separação e que está feliz ao meu lado.

 

- Yara, o que te aconteceu? (Perguntei surpresa).

 

- Deixei meu ciúme de lado e coloquei a maturidade em primeiro plano.

 

- Você é incrível.

 

- Ela vai pedir outra chance (falou fazendo careta).

 

- Traição não tem perdão.

 

- Nunca se esqueça de tudo que ela fez.

 

- Não esquecerei.

 

- Depois de tudo que minha ex-namorada aprontou, ela ainda correu muito atrás de mim, pediu desculpas, queria outra chance, sugeriu começar tudo de novo, ou seja, toda ‘Madalena arrependida’. Esta tal: Ale sei lá o quê, demorou para dar valor a quem ela perdeu.

 

- Yara, cada dia que passa me apaixono mais por você.

 

- E eu por ti. Você vai deixar ela vir aqui?

 

- Não. Ela nem conhece aqui e nem faço questão que conheça.

 

- Gostei. Marque com ela e resolva o quanto antes isso.

 

Peguei meu celular, procurei o contato dela no whats app e enviei uma mensagem.

 

Ale, boa noite! Podemos conversar qualquer dia destes, quando eu sair do consultório.

 

Flor, boa noite! Muito obrigada! Amanhã por volta das 17h passo no seu consultório.

 

 

- Marcou?

 

- Sim, ela disse que passa no meu consultório amanhã às 17h (falei mostrando o celular).

 

- Pelo visto agora ela está com pressa (reclamou).

 

- O que faremos no final de semana? (Perguntei para mudarmos de assunto).

 

- Não sei e já vou indo estou cansada (falou desanimada).

 

- Por que? Fica aqui em casa comigo (pedi).

 

- Hoje não, te espero amanhã à noite na minha casa.

 

- Não faz assim. Fica comigo (insisti).

 

Desta vez, Yara não atendeu ao meu pedido e foi embora. Tive uma noite difícil, pensando na minha namorada e insegura sem saber como seria a conversa com a Ale no dia seguinte.

 

Fim do capítulo