Danielle
Sim, eu conseguia entender. Só não podia admitir, nem a ela nem a mim. Simplesmente, não podia! Esse sentimento de negação, era mais forte que eu.
O vento nesse momento se fez presente, bagunçando meus cabelos, e os delas. Tão ruivos, tão vivos. Seu rosto mostrava-se contraído, implorando por um momento de libertação. Seus olhos diziam-me que um momento a sós e as lágrimas sairiam como um rio de correnteza forte, intensa.
Observei essa dubiedade nela. Quem diria que aquela menina/mulher ao meu lado, fora autora de palavras tão decididas? E ao mesmo tempo, adoraria estar só para chorar até não haver mais nenhum sinal de lágrimas? Hanna, por quê? Não conseguia parar de pensar nisso, mas só consegui responder o que meu coração gritava a plenos pulmões em voz muda.
D - Eu não sei se vou conseguir.
H - Vai sim, você estar aqui prova que vamos conseguir.
D - É assim que acaba então?
Olhando o horizonte, percebi alguns barcos ao fundo. Homens pescando, procurando o sustendo da família, e eu querendo assim como eles, sustentar o amor que eu carrego dentro de mim. Sorri, ou melhor, um puxar de lábios, diante da humilde comparação. A eminencia do fim, esteve tantas vezes a nossa porta, mas era a primeira vez que ela entrava, fazendo-se presente. Retornei o olhar no mesmo instante em que seus olhos buscavam desvendar os meus.
H - Olha só o sol se pondo. Nossa história está sendo como ele. Por hoje, se encerrou uma etapa, mas você sabe que amanhã ele nascerá de novo, só que do outro lado. Vai brilhar intensamente, mesmo em meio as nuvens carregadas, mesmo em meio as pedras de gelo, ele continuará a brilhar e cada vez mais forte.
Acenei em concordância, sorrindo. Instantes atrás mantinha a imagem da adolescente mimada, com idéias firmes, porém com um medo enorme no olhar. Agora estava diante de uma pessoa madura, sabedora das suas fraquezas e defeitos, e com um brilho de esperança no olhar capaz de contagiar o mais ferrenho de todos os pessimistas.
D - Quando que você ficou tão sabia?
A sombra da noite começava a se propagar, não sem antes deixar-me aquela imagem de um sorriso tímido, cheio de afeto, tão característico seu. Sorrimos juntas. Não lembro qual foi a última vez que fizemos isso, desse modo, tão acolhedor. Olhado-a nos olhos, eu tinha a impressão de chegar em casa, depois de longos dias longe, num inverno rigoroso.
H - No momento que eu perdi você. No momento que percebi que caso não mudasse, essa perda seria pra sempre.
D - Você não me perdeu.
H - Não totalmente. Meu amor continua ai, mas a confiança, a lealdade, duvido muito que estejam intactos. Mas conquistarei de novo, pode ter certeza que eu irei.
Não consegui manter seus olhos nos meus e chorei como nunca me permiti em sua frente. Quem diria ser eu a desabar diante dessa conversa? Será que ela sabia todas as profusões de sentimentos que provocava em mim? Não havia metade, com ela que eu aprendi a ser completa. No entanto, olhando minhas mãos banhadas em lágrimas, percebia o quanto sua falta doía em mim.
D - Sabe o quanto eu queria acreditar nisso? Mas algo aqui dentro tem medo, muito medo, de que não seja verdade, que eu sofra de novo.
H - Eu sei. E é por isso mesmo que precisamos desse tempo, curar o que eu consegui machucar.
D - E ela?
Não sei como havia criado coragem de perguntar. O motivo inicial de toda essa história, do fim enunciado nas entrelinhas, o motivo dessa dor gritante em meu peito. Olhei o céu negro, com as nuvens agora encobrindo a lua, e senti como se fosse alguma estrela em uma galaxia distante, observando os acontecimentos, ainda assim, sem deixar de brilhar. Precisava estar preparada para ouvir a resposta da minha pergunta.
H - Não posso dizer que a esqueci, não tem como. Mas a paixão que ela despertou em mim se transformou em um grande carinho. No final das contas, ganhei uma grande amiga.
D - Ela aceitou fácil assim?
Ela suspirou. E então eu suspirei. Hesitação, foi isso que eu entendi com o seu suspiro, e com o meu, demonstrei minha decepção. Ela havia se apaixonado por outra, enquanto dizia amar a mim. Como ela pode fazer isso? Eu não sabia. E isso era engraçado. Você tentar evitar, fugir das lembranças, mas uma hora, elas acabam vindo ao seu encontro, e não há onde se esconder. E sem perceber o estado que encontrava-me absorvida em minhas mágoas, que eu a ouvi falar sobre ela.
H - Ela sabe tanto quanto você o quanto fui desleal, imatura, e de alguma forma, sem sentimentos. Mas também sabe que não foi planejado, somente aconteceu. Nossos caminhos se encontraram e fizemos parte da vida uma da outra, por um breve momento, mas significativo para ambas. Ela só precisa de um tempo pra me ver do mesmo modo que eu a vejo agora.
D - Não sei se quero continuar falando dela...
H - É claro. Desculpa, só quis responder a sua pergunta, quero esclarecer tudo entre nós. Quero estar limpa pro futuro.
D - Entendo.
H – Agora, eu também.
As nuvens agora davam visão da lua iluminando o mar, e consequentemente a nós. Era lua cheia, a lua do nosso primeiro encontro, que nos banhou desde o nosso primeiro olhar, até a nossa primeira entrega. Ela estava presente em tudo. Quis acreditar que era um sinal.
Seus cabelos agora ganharam um brilho especial, seus olhos, haviam tornado-se mais claros, e eu consegui lembrar com exatidão da primeira vez que havia visto essa cena. Foi numa feirinha, rodeada de pessoas, em um lugar que eu nunca havia visto na vida, que observei o encanto imaginário, tornando-se real. Toquei a sua mão como querendo confirmar isso, e ela entrelaçou seus dedos aos meus. Foi a primeira vez que acreditei em felicidade.
D - Vou embora amanhã...Eu vou voltar, tenha certeza disso. Enquanto o tempo faz as mudanças necessárias, saiba que nem por um segundo deixei ou vou deixar de te amar.
H - Eu sei. Tenha certeza que é reciproco. Eu te amo Daniele.
D - Eu te amo Hanna.
Nos olhamos, olhos nos olhos, sem ao menos piscar, agora frente a frente. E ela sorriu. Ela sempre sorria, e eu não pude deixar de sorrir. Era uma despedida, mas eu não conseguia pensar que amanhã não veria seus olhos tão vivos a iluminar os meus.
H - Promete que nossos caminhos vão se cruzar novamente?
D - Se o destino não fizer isso, providenciarei eu mesma isso.
H – Eu também.
Sorrimos e choramos juntas. Levantei e estendi minha mão a ela. Hanna olhou aquela mão estendida e parecia não entender o que ela significava. Mas eram tantas coisas. Enfim entendi o que ela quis dizer com depois... Precisávamos dele. No dia que ela entendesse esse gesto e tudo o que ele queria dizer, ela enfim, estaria pronta para mim. Para nós e o futuro que planejamos.
D - Preciso ir... Só passei aqui pra me despedir. Não poderia ir sem...
H - Eu sei.
D - Posso pedir algo?
H - Vem aqui...
Não precisei dizer o que meu corpo e minha alma gritavam por pedir. Seu corpo veio de encontro ao meu, como um imã atraído pelo metal. Suas mãos pegaram em minha cintura, fazendo um carinho de leve, enquanto as minhas, coloquei-as em seu pescoço, sentindo sua respiração na minha, antes de nossas bocas entrarem numa perfeita comunhão.
Sua boca tão doce, fez com que lembrasse de uma frase que até então achava-a mesquinha, mas agora comprovava ser verdadeira: “E se nos perdemos, o sabor é doce...” Era tão doce, o toque dos seus lábios, o aroma da sua pele, a textura dos seus cabelos.
Ficamos nesse carinho, nessa necessidade básica, até nossos pulmões implorarem por ar. Ficamos assim sem nem ao menos nos preocuparmos com o que as pessoas diriam, com que pudessem achar, só importava nós e o brilho da lua abençoando esse nosso momento.
Nos afastamos devagar, sem pressa, olhos nos olhos e sem quebrar o contato do seu corpo no meu. Sorrimos. Um sorriso banhado em lágrimas, cheios de alegria, de tristeza, de sentimentos profundos e intensos. Eu estava despedindo-me da mulher da minha vida, daquela em que planejei meu futuro junto ao seu, e eu sabia, que após virar as costas, teria que refazê-los todos, até o dia do nosso reencontro. Torcendo para em breve chegar.
D - Vou guardar esse...
H - Não diz isso. Isso é só um até breve e não um adeus. Não é nosso ultimo beijo, darei outros tão especiais ou melhores que esse.
Sorri da senhorita resposta para tudo. Até um momento como aquele, e ela não era menos que adorável. Por que tinha que ser assim? Eu não saberia dizer, mas tinha uma coisa comigo, que era tão verdadeira, como o brilho das estrelas no céu.
D - “A liberdade é a expressão máxima de uma vida, onde as escolhas...”
H - “... foram feitas de acordo com a vontade de quem as quis”. É... Eu sei.
D - Até breve.
H - Quem sabe, depois...
D - Quem sabe...
Ela se foi sem olhar para trás, sem nem ao menos ouvir meu ultimo sussurro. Mas eu sabia porque. Depois de tanto tempo juntas, eu não poderia culpar por não esperar o final acontecer, ao ver-me partir, indo embora. Se pudesse reteria na memória, só seus cabelos vermelhos brilhando intensamente, e seus olhos castanhos mostrando-me o caminho da luz, junto com sua pele alva que fazia um contraste magnifico com a minha. Disso eu não poderia culpá-la.
E foi assim que eu a vi pela ultima vez, banhada pela luz da lua, indo de encontro a saída do que ela chamava de “lugar especial”. E era mesmo, um lugar que agora, fazia parte de mim.
Ainda não houve nosso reencontro, mas também, ainda não aprendi todas as lições que a vida está disposta a me ensinar. Só falta isso para eu reencontrar a minha felicidade. Por agora não, quem sabe... Depois.
Fim!
Fim do capítulo
Espero que gostem.
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