Capítulo 1 - " O grande dia"
Fazia muito frio naquela noite na pequena West Will, todas as famílias encontravam-se em suas casas temendo a eminente guerra, pronta para estourar, a nação do oeste queria tomar as terras do leste.
O motivo eram as constantes mudanças ideológicas que vinham ocorrendo no leste, o povo do oeste temia as influências do comportamento libertário dos nascidos no leste, previam uma revolução que tomaria não somente sua cultura, mas suas terras e ancestralidade, então as famílias mais tradicionais juntaram-se e declararam guerra.
A verdade por trás desse "temor" era o fato que o povo do oeste não tinha mais pra onde crescer, não conseguindo impor suas leis tradicionais e comércio aos seus vizinhos, viram-se barrados. Como a ganância do rei e dos nobres era tamanha, ficou decidido em reunião com os conselheiros, tomar as terras do leste usando o apoio e costumes tradicionalistas/nacionalistas como força, depois de anos planejando, após o estopim chamado de "o grande dia" a guerra iniciou.
Os Stuarts (eram uma das famílias mais influentes na região leste) se encontravam na lareira, Charlie, o patriarca e marido de Rose, pai de Joanne e Julie, explicava para a família que seriam os primeiros a sofrerem o ataque, já que para chegar à capital era necessário passar pelo vilarejo que protegia as fronteiras do leste, o exército inimigo tomaria recursos para a próxima batalha e dizimaria o local para que marcassem a vitória.
Rose estava triste com o fato de ter que explicar isso a suas filhas, mas como mulher guerreira que sempre fora entendia a necessidade daquele momento, era evidente que estava em seus últimos momentos de vida, naquela noite se despediria de suas pequenas, seus maiores amores.
Joanne a filha mais velha tinha olhos verdes, pele queimada do sol num tom quase dourado e cabelos encaracolados castanhos na altura do ombro, tinha dez anos, era forte, valente, corajosa e sempre cuidava de todos ao seu redor, principalmente de sua irmã caçula.
Julie a filha caçula era linda, parecia um verdadeiro anjo, cabelos loiros ondulados compridos que caiam pelas costas, olhos azuis da cor do céu em dia ensolarado, pela branca como papel, carinhosa, meiga, tinha quase quatro anos (não entendia nada do que estava acontecendo, apenas tinha medo).
O patriarca resolveu revelar a família a pura e cruel verdade:
--Rose, é necessário que elas escutem e você também... -- Charlie nunca fora homem de meias palavras ou de esconder a realidade, mas sentia em seu íntimo que não tinha muito tempo.
--Temos menos de uma hora até o primeiro ataque. Irão atear fogo nas casas, matarão... -- Engoliu a seco e continuou... – Matarão as meninas, para que não haja um futuro para nossa pátria e manterão os meninos para os trabalhos forçados, eu e sua mãe protegeremos vocês minhas pequenas...
Julie chorava sem entender muita coisa, enquanto era abraçada por Joanne, juntamente com Rose, que abraçava também o marido sentindo o pouco tempo que restavam aos dois, e talvez a sua família.
-- Meus amores, minhas pequenas, nunca esqueçam o amor que sinto por vocês, não esqueçam que sempre estarei com vocês por onde forem. Uma mãe não deixa seus filhos, estarei sempre aqui dentro de vocês. – Disse apontando para o peito das duas, em direção ao coração.
Charlie saiu do abraço acordando pra realidade, abriu um baú, pegou quatro armas, duas entregou a mulher (que entendia exatamente o que deveria fazer) e as outras duas ficariam com ele defenderia a família com a vida.
Tirou do mesmo local, duas mudas de roupas masculinas e de frio, entregou a suas filhas que por ordem da mãe logo se trocaram, Charlie pegou as roupas que as meninas acabavam de tirar e jogou na lareira, como já tinha feito com todos os pertences de criança que havia na casa, se livrando das provas com fogo, agora a casa parecia ser morada apenas do casal, nenhum porta retrato se quer com foto das meninas havia sobrado.
Rose cortou os cabelos da filha mais velha, curtos como de um garoto e a levou até Charlie para conversarem enquanto cortava os lindos cachos loiros de sua caçula tão curtos quanto o da irmã.
Na sala da casa havia só Joanne e seu pai.
-- Minha querida Joanne, preste muita atenção no que vou te dizer, prometa antes mesmo que eu fale que irá decorar absolutamente tudo o que será dito, mas que não contará a ninguém. Agora prometa!
- Pai, eu prometo que guardarei tudo que me disser.
- Filha, tudo que há de mais importante para que você e sua irmã mantenham viva nossa família enviei ao Dr. Arthur na cidade, ele é meu melhor amigo desde que eramos crianças, nossas famílias tem se protegido há mais de 20 gerações, somente nele você deve confiar, todas nossas riquezas estão com ele e se algo acontecer comigo e sua mãe, deve respeitá-lo como a um pai.
(Charles sabia que algo aconteceria, como guerreiro/soldado experiente ele podia sentir o cheiro da morte o espreitando, respirou fundo e continuou):
- Há segredos que somente o filho primogênito dos Stuarts pode saber.
- Como nunca tive um filho homem irei quebrar a tradição e passarei pra minha primogênita, portanto pra você, guarde esses ensinamentos:
- 1. É sábio entender o valor da tradição, mas sábio ainda é perceber quando renová-la.
- 2. A família e a continuação da mesma deve ser sua prioridade sempre!
- 3. Tudo que viver deve ser escrito, tenha sempre um diário e o mantenha longe de seus inimigos.
- Eu devia ter mais tempo de ensinar os outros lemas de nossa casa, mas não tenho,guarde esses e aprenda os outros em meus diários.
- Filha não importa o que aconteça você deve voltar pro nosso lar, todos de nossa família devem ter as mortes honradas na nossa cripta é lá que guardei outros segredos.
Dito tudo isso apenas para Joanne, levantou-se buscou a esposa e a outra filha no quarto e continuou dizendo:
- Joanne você agora será John e Julie você será Julio. Se alguém perguntar a vocês, esse serão seus nomes, entenderam?!Prometam que não revelarão a ninguém que são meninas até o fim da guerra ou até estarem em um local seguro!
As meninas balançaram a cabeça positivamente, Julie chorava muito porque sempre gostará de ter o cabelo comprido como a mãe, agora se agarrava a ela, num instinto Julie correu em direção ao pai que a apertou contra os braços, levantou-a e beijou seu rosto. Joanne via tudo se fazendo de forte, mas assim que viu o pai deixar a Irmã no chão correu de encontro a ele, que a abraçou e disse em seu ouvido:
-- Nunca esqueça o tamanho do meu amor por vocês! Garanta que Julie quando maior saiba disso também.
Charles finalizou dizendo: -- Cuide dela, pois ela só tem a ti, minha pequena Joan...
Não deu tempo para um último abraço, os guardas já invadiam a casa, espalhavam o fogo, enquanto Charles e Rose tentavam proteger as filhas. Ela ordenou: - Corram agora!
As meninas correram em direção à mata conforme Charles tinha instruído naquela manhã de “preparativos”, a mais velha segurando a menor pelos braços, podiam ouvir muitos tiros, quando Joanne olhou pra trás tudo estava encoberto pela fumaça.
Ouviu-se o grito de guerra da mãe e um barulho de corpos batendo no chão, pistolas disparando, outros corpos caindo e por fim não se ouvia nada, um silêncio pairava naquela madrugada congelante, apenas a respiração das duas no meio da escuridão na mata era possível escutar, naquele dia nenhum homem, soldado ou guerreiro saiu daquela casa vivo, para procurar elas, nem mesmo Charles ou Rose...
Fim do capítulo
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