Manu estava indo em direção a elas quando sentiu sua mão ser segurada por Félix. Dani que observava tudo mais afastada levou as crianças para longe. Os convidados que não entendiam o que estava acontecendo recuaram, mantendo-se afastados.

- Malvina o que está fazendo aqui?

- Francisco... Parece que você já tem novos amiguinhos! – Olhou para Robert e Samira com deboche.

- Malvina, por favor... Solta a minha filha...

- Agora você está me dando atenção Samira? Que engraçado! Ela poderia ter sido a nossa filha! – Falou com fúria - Eu deferia estourar a cabeça dela agora... – Félix teve que segurar Ana também – Mas a diversão acabaria...

 Um silêncio momentâneo se fez. Mas de todos, Carol, era a que aparentava estar mais calma, talvez por ter visto Dani levar as crianças, e sabia, que a pirralha pediria por ajuda.

- Viu só Samira, o que você me fez fazer? Tá contente? – Malvina sorria perdida em seus devaneios.

- A Carol não tem culpa disso... Porque ela? Porque você transformou a vida delas num inferno? – Falou uma Samira angustiada.

- Por quê? Porque quanto mais eu tentava separa-las, mais essa fedelha lutava por elas! Parecia que eu só fazia aumentar esse amor... Eu a odiei no dia que vi o olhar do Robert nos olhos dela, o mesmo jeito alegre e brincalhão! Tão estupidamente feliz – a mulher sentia dor das lembranças ao mesmo tempo em que cuspia as elas – como se nada pudesse afeta-la!

Carol sorriu de leve com as palavras ditas por Malvina, olhando fixamente para Manuela... Esperava que Dani fosse muito rápida... “Tempo”, pensou ela.

- Malvina... – Carol falou calma.

- Vai implorar por misericórdia? – Apertou o revolver contra a lateral do corpo da jovem. Robert deu um passo em direção a elas. – Não queira bancar o herói! – Hellen não deixou que o homem prosseguisse.

- Se você e minha mãe tivessem ficado juntas... – Malvina a olhou surpresa – Então eu seria sua filha também? – Foi como um soco no estômago da mulher – Você teria criado Manu como sua irmã... E no final... Nós acabaríamos juntas...

O sorriso de Carol para Manu era radiante. Todos sentiram aquela frase, como se tivesse penetrado em suas almas.

Malvina olhou para as lágrimas que escorriam do rosto de Manuela, como se brotassem. Sem se dar conta soltou o corpo de Carol, parecia ser tão natural o movimento involuntário que fez.

Com o corpo solto, mas ainda muito próximo de Malvina Carol virou-se de frente para a mulher.

- Você é tão insuportável... – Malvina falou ao perceber que os olhos de Carol estavam na mesma entonação que os de Samira.

- E você não soube se deixar ser amada... – Nessa hora Carol viu os policiais que chegavam cautelosos.

- Porque você não desistiu dela? – Era como se Malvina tentasse entender.

- Pelo mesmo motivo que você não esqueceu a minha mãe... Porque eu a amo! Mas você Malvina, em algum momento, deixou esse amor perder o sentindo...

Malvina pela primeira vez em anos encheu os olhos de lágrimas.

- Manuela não merece você! Primeiro acreditou em minhas mentiras! Depois ficou anos sem saber que você existia e quando você contou a verdade só te desprezou! Isso é amor? – Perguntou aos gritos!

- Eu não posso responder pelos sentimentos de Manu, Malvina... – Foi interrompida pela mulher.

- Você é uma fedelha irritante! – Malvina secava as lágrimas com as costas da mão esquerda.

- Foi difícil, mas com o tempo e com a ajuda de pessoas sensacionais... – Carol olhou para trás fazendo referência a quem estava presente – Eu entendi – voltou-se para Malvina – que o amor é livre Malvina... É um sentimento que não podemos controlar, mas devemos respeitar... Pois um somente não pode amar pelos dois...

Malvina gargalhou alto!

- Eu não vim aqui pra escutar conselhos, nem receber sermão! – Deu um passo para trás e apontou a arma para o peito de Carol. – É tarde para mudar fedelha...

Uma lágrima solitária escapou do olho esquerdo de Malvina. Dois tiros ecoaram pelo enorme terreno da mansão.

A última coisa que Carol ouviu antes do tiro foi Manuela gritando desesperadamente por seu nome.

Ana correu socorrendo a amiga. Rapidamente tirou o blazer para ajudar a estancar o sangue, mas ver Carol desmaiada não estava ajudando em nada... Mais que depressa olhou para Malvina. A mulher possuía um ferimento de bala na perna, mas nada grave.

Os policiais atiraram para conter a mulher, logo após ela ter disparado contra Carol. Algemando-a em seguida.

Manu estava ajoelhada ao lado oposto de Ana.

- Dani! Daniela! – Ana gritou até a irmã aparecer e se juntar a ela.

- Calma Ana! Liguei para o hospital assim que terminei de chamar a policia... Eles devem estar chegando...

- Ela tá perdendo muito sangue Dani... – Aninha não conseguia ser profissional... Não naquele momento.

- Olha pra mim! – Dani segurou o rosto da irmã – Se existe alguém no mundo que pode salvar ela é você! Ana! Agora seja a médica incrível que és!

Era tudo que Ana precisa ouvir...

§

∞ - Porque nós não casamos mesmo? – A pergunta foi seguida por um leve sorriso.

- Por que o nosso amor é em outra forma... E vem de muitas vidas... – Respondeu olhando para aquele belo par de olhos castanhos que continuava os mesmo de quando eram crianças.

- Parece que a minha loira vai casar com o engomadinho... – As risadas eram divertidas.

- E você tem que voltar... Tem alguém lhe esperando... ∞

- Volta Carol! Carolina não ouse! – O som dos batimentos cardíacos voltou ao normal. Ana respirou fundo, mesmo sabendo que poderia perder a licença, não deixaria Carol nas mãos de outro.

- Acorda bela adormecida...

- Hum... Pra que toda essa euforia...

Carolina olhou ao redor e visualizou as pessoas que amava.

- Eu disse que era uma ingrata! Não vou mais querer você no meu hospital... – Ana brincou, sabia que a amiga ainda estava se recuperando, mas receber o carinho das pessoas que lhe amavam era o melhor remédio. – Que foi achou que tivesse morrido?

- Tive absoluta certeza que estava viva... Quando ao invés de ver um anjo me olhando... Tinha um dragão encima de mim... – Carol sorriu para a amiga.

- Sabe que te amo... Mas se me fizer te operar novamente... – Carol mais que rápido completou a frase da amiga.

- Eu sei que você me salvará... – Era a vez de Ana finalizar:

- Sem pensar duas vezes! – Ana terminou de falar a frase sorrindo.

- Eu disse! Depois de receber umas gotículas do meu sangue tudo se transforma! – Hellen brincou com os demais. – Já tá até dando em cima da Ana como de costume...

- Que isso velhota, quer dizer que você doou sangue? – Carol perguntou emocionada.

- Daria minha vida por você é minha neta predileta...

- Sou sua única neta... Velhota! Ana porque você me deu o sangue velho dela, não tinha alguém mais jovem?

As pessoas naquela sala eram só sorrisos. Como era bom ver Carol, mesmo um pouco abatida, Brincando com todos.

- Não foi isso que eu vi na Espanha...

- Quer dizer que você aprontou na Espanha? – Manuela aproximou-se. Estava linda com os longos cabelos que lhe moldavam o corpo.

- Bom isso depende... Se a doutora se apresentar, quem sabe não lhe convido para um café? – Manuela sentiu o corpo contrair-se só em imaginar que Carol não lhe conhecerá, olhou para Ana assustada. – Aí Aninha! Eu estou de recuperação...

- E vai ficar com mais hematomas pelo corpo se continuar brincado! Fica tranquila Manu... Essa dai só esquece de tomar juízo mesmo.

Manuela olhou para Carol com um olhar assassino.

- Com você me acerto mais tarde...

- Ei eu só estava flertando com a minha noiva... Não se pode mais querer apimentar a relação? – Carol olhou dengosa para Manu.

- Não adianta fazer essa carinha... – Manu estava muito próxima de Carol – Como eu amo essa carinha!

Manuela tomou os lábios de Carol com delicadeza, mas com toda a saudade e medo que sentiu... Aos poucos todos foram saindo da sala com calma, restando só as duas.

- Nunca mais me de um susto desses... – Manu sussurrou.

- Acho que estamos quites amor...

Manu sorriu lindamente.

- É estamos.

- Manu... O que ouve com a Malvina?

§

- Fedelha, você por aqui? Achei que estaria morta ou coisa parecida... – Disse irônica assim que Carol sentou ao seu lado no banco.

- Olá, para você também Malvina.

- Então veio pregar a palavra do Senhor?

- Vim saber o motivo... – Carol a encarava.

- Que motivo? – Malvina desconversou.

- Você estava com a arma apontada bem no meu coração... Mas assim que viu a policia, pois eu vi que você os viu de canto de olho. Você desviou a arma... Ana disse que eu dei muita sorte, pois a bala não atingiu nenhum órgão, mas eu sei que não foi sorte...

- Fedelha... Está brincando com a sorte... – Malvina sorriu.

- Bom... Eu contei minha história para alguém... E ela quer lhe ver...

Malvina visualizou a bela mulher que vinha sem pressa em sua direção.

- Acho que vocês tem muito que conversar... – Carol sentiu sua mão ser segurada.

- Obrigada...

Aquele obrigada de Malvina tinha muitos significados e Carol conhecia todos eles.

Carolina seguiu para a saída da clinica psiquiátrica. Sabia que possivelmente Malvina nunca mais pudesse conviver fora dali, em função de seus transtornos. Mas isso não a tornava Malvina menos humana.

Ao entrar no carro pensou em quanta sorte teve por ter pessoas que lhe apoiassem dando todo o amor e carinho do mundo. Não sabia dizer como estaria sua alma se não fosse os cuidados de seus amigos e familiares. Lembrou-se de como tinha vontade de jogar tudo para o alto... De ir por caminhos escuros.

No momento em que Malvina desviou a arma e atirou em um ponto neutro, sabia o que aquela mulher queria... Morrer! Mas sem demonstrar que uma parte de si havia se encontrado.

§

- Pedro e Maria! – Gritou a bela mulher.

- Calma amor, a Alfa vai trás deles rapidinho! Né Alfa... – Carol olhou para a cadela que já estava com doze anos.

- Carol a Alfa não pode mais bancar a babá... Né minha menina. – Manu fez carinho nela que parecia concordar.

- Eu queria saber o motivo do Félix e Ana viverem deixando as crianças aqui? – Falou Carol pensativa.

- Talvez porque somos as madrinhas dos gêmeos? – Manu a repreendeu.

- Como as crianças crescerem rápido... – Comenta Bianca ao se aproximar com o pequeno Francisco nos braços.

- Realmente, aqueles pestinhas ali já estão com seis anos! – Brincou Miguel – E o Francisco já vai fazer três... Papai ficaria muito emocionado em saber que colocaram o nome dele no filho de vocês...

- Eu sei meu amor, mas onde quer que ele esteja, tenho certeza que está muito feliz pela família que temos! – Manu beijou o sobrinho com todo o amor. Sem esquecer do seu amado pai, que acabou por sofrer um infarto dois meses antes de Manu ter o bebê.

Samira e Robert apareceram com a pequenina Hellen nos braços. As duas crianças tinham um ano de diferença, já que Carol engravidou um ano depois de Manu.

Eram nove horas da noite e a família toda estava reunida na área de lazer da bela casa rustica de madeira.

Félix e Carol conversavam divertidos e pela cara deles, Ana e Manu sabiam que estavam falando de safadezas. Carolina acabou arrancando de Félix o porquê das crianças viverem lá, não que ela não amasse ter seus afilhados por perto, mas a sua curiosidade falava mais alto. Só que para o azar de Félix, Carol começaria a usar a mesma tática!

Dani não podia perder a oportunidade... Toda vez que via Carol era só cantadas! Manu achava divertido como Carol não perdida o rebol*do e ganhava todas da garota. Como ela amava aquela mulher! Mas o mais interessante da reunião era ver Marta e Hellen em um papo muito suspeito.

- Cuidado Martitha a Velhota aí adora aventuras! – Carol passou brincando e recebeu um olhar avassalador de sua avó.

Assim que notou que todos estavam mais que distraídos e as crianças na cama. Manuela levou Carolina para o jardim em meio às longas árvores.

- Está tudo bem Manu?

- Bom isso depende... – Carol não estava acompanhando o raciocínio.

- Do que?

- Você vai ter que se aventurar pela cidade durante a madrugada atrás das minhas vontades... Vai ouvir eu me queijar que minhas roupas já não cabem mais... Terá mais noites de insônias com projetos sendo pausados... E provavelmente terá que comprar uma fábrica de fraldas...

Carolina estava com os olhos marejados.

- Não vai dizer nada meu amor? – Manu perguntou preocupada, pois ela e Aninha queriam fazer uma surpresa para Carol. Mas assim que sentiu seu corpo ser envolto pelos braços acolhedores de Carol, já sabia a resposta da jovem, que já estava com trinta e dois anos.

- O que você acha de Bernardo? – O sorriso de Carol iluminou o ambiente.

- Nosso Bezinho... Amei amor, mas como pode ter certeza que serás um menino? – Perguntou Manu divertida.

- Eu não sei...

Carolina tomou Manuela pelos lábios e mais uma vez, sem que pudessem ver, uma belíssima estrela cadente cortou o céu.

 FIM.

Fim do capítulo