Aquela semana passou rápido pois a garota estava trabalhando de manhã e à tarde, quando saía do serviço comunitário encontrava os meninos ou treinava muay thai ou então simplesmente ia para casa capotar na cama.

Para a mulher mais velha não foi diferente, estava muito cansada pois estava preparando as festas de fim de ano da Apae.

Já era sexta a tarde, o combinado era Melanie e ela irem para a chácara no dia seguinte, mas até então não tinham estruturado nada, por isso foi surpreendida ao sair dos seus devaneios logo com a ligação de Beatriz.

- Alô – Atendeu Ju.

- Oi Ju, como está?

- To bem, Bia e você?

- Bem também. – Respondeu a amiga calmamente. – Melanie me contou que amanhã irá pra chácara da sua família com você passar o fim de semana.

- (...) – Ju ficou em silêncio, não sabia o que dizer e Mel não tinha contado a ela qual mentira tinha inventado dessa vez, queria matar a menina por coloca-la naquela situação.

- Amiga, tá tudo bem. Eu sei que a Melanie quando quer algo fica enchendo o saco, você não tinha que ter comentado que na chácara da sua família tinha rio, ela é apaixonada por água, deve ter te incomodado muito até você convidá-la. – Explicou a amiga entendendo errado o silêncio de Ju.

- Ai amiga, eu já tinha planos de ir pra lá mesmo, vai ser tranquilo.

- Eu sei que ela insiste muito quando quer algo, mas você pode dizer não, não tem problema nenhum.

- Então, eu sei. Mas, você sabe como minha mãe é, ela vai adorar receber visitas e a Melanie é toda despojada.

- Isso é verdade, mas amiga e se ela der trabalho? – Bia estava realmente preocupada com isso.

- Eu peço pro meu irmão levar ela para ter um “dia de roça”, tirando leite de vaca, arrumando cerca, limpando horta, que aposto que ela não terá forças pra dar trabalho. – Disse a professora tentando se passar por indiferente e louca para a mentira colar.

- Até estou imaginando a cena – risos – é amiga, você tem um ponto e ela tem melhorado muito desde que começou o trabalho voluntário, e tem outra, no meio do mato ela fica longe de brigas.

- Como eu disse aquele dia pro Heitor, basta conversar com ela. As coisas que ela faz 90% é pra chamar a atenção dele e 10% é da idade.

- Concordo contigo, nem sei como agradece-la – disse em um tom que realmente expressava gratidão, fazendo com que aa professora sentisse uma pontada de culpa por toda a situação.

- Que isso amiga, o que eu puder fazer pra te ajudar, farei. – disse Ju sincera.

- Amiga, vamos caminhar hoje? Precisamos alinhar sobre nossa viagem, a Fer vai passar aqui as 18. – Falou em tom inquisitivo não deixando Ju ter como recusar.

- Nossa! É mesmo. Está chegando né? – disse tentando se esquivar.

- Sim, duas semanas. Te espero as 18 também, beijo beijo. – E desligou o telefone, deixando Ju pasma, olhou no relógio 16hs, “Excelente! Melanie ainda está aqui, ela me paga”.

Pegou o telefone e discou.

- Victória, você pode achar a Melanie e dizer que preciso vê-la URGENTEMENTE? Por favor.

- Sim, senhora. Ela aprontou o que dessa vez? Poxa, ela estava indo tão bem, todos adoram ela aqui, sacanagem, mas também 15 anos e aquele pai, quem não surta. – Começou a tirar conclusões a secretária efusiva.

- Ela não fez nada e eu disse urgente, agora! – Disse Ju já estressada com a intromissão da garota.

- ok ok ok – disse a garota finalmente desligando.

A garota entrou sem bater, toda sorridente.

- Diga meu amor, acho bem selvagem a gente se pegar aqui, bem excitante na verdade. – disse a menina se aproximando.

- Quem falou em pegação, aqui?

- Pra me chamar com tanta urgência só pode ser saudade – disse a garota se desviando da mesa e se aproximando mais da professora que estava em pé atrás, já ia beijá-la quando Ju interrompe o ato.

- Pode parar. – Falou colocando a mão na frente, empurrando a menina. Que história é essa de você contar pra sua mãe e não me falar nada?

- HAHAHAHAHA – garota começou a rir. – Ela te ligou? – Perguntou na maior cara de pau.

- Engraçadinha, eu estou realmente brava com você, imagina Beatriz me ligando e eu nem sabia o que você tinha dito, quase morri do coração! – Desabafou a mulher – e ela ainda me intimou pra caminhar hoje, ou seja, vou ter que sustentar a mentira pessoalmente. – falou a professora nervosa.

- Meu amor, - falou a menina calmamente abraçando-a – não se preocupe com pouca coisa, você não vai mentir, eu vou pra chácara contigo porque amo tomar banho de rio e minha mãe sabe disso, aliás que horas nós saímos amanhã?

- Ai menina, só você mesmo! O que acha de sairmos as 7?

- É quanto tempo daqui?

- 40 minutos.

- Pode ser, você me pega lá em casa?

- Claro.

- Certo, posso ir? Quero passar no Mauricio agora, acho que ele e o Renato tiveram uma discussão. – pediu a menina.

- Claro! Até amanhã minha linda! – falou a professora dando um selinho nela.

Ju estava um pouco ansiosa, resolveu mandar mensagem para Renato.

“Ai amigo, estou ansiosa com a Melanie conhecer minha família, isso quer dizer que está ficando sério? ” (Ju)

“Amiga é sério desde o primeiro beijo de vocês! Relaxa, vai ser maravilhoso, tenho certeza. A Mel é toda despojada e sua mãe é uma querida. ” (Renato)

“É mesmo, elas vão se amar! Amigo, me conta do Mauricio. Mel comentou que vocês discutiram. ” (Ju)

“Não é nada demais, nós logo vamos nos entender. ” (Renato)

“Se precisar, estou aqui. ” (Ju)

“Obrigado e boa sorte amanhã. ” (Renato)

“Vou precisar, obrigada. ” (Ju)

Ju estava pontualmente as 18 hs em frente à casa que antes era indiferente e agora fazia seu corpo tremer, mas apesar da pontualidade as amigas já a esperavam.

- Meninas estou pontualmente, nem venham com sermões. – Falou Ju em tom de brincadeira.

- Eu é que cheguei mais cedo, relaxa. – Respondeu Fernanda com um olhar diferente.

- Vamos? – Intimou Beatriz.

Durante o caminho decidiram detalhes da viagem, fofocaram sobre as pessoas da pequena cidade. Mas, Beatriz reparou como sua amiga estava inquieta.

- Fernanda, está acontecendo algo contigo? – Perguntou Beatriz.

- Não. Está tudo bem, por que? – Respondeu insegura.

- Você pode enganar qualquer um menos a gente. – Complementou Ju.

- Ok, eu conto. – disse aliviada. – Eu e Joaquim estamos em crise, pronto, falei.

- Mas, vocês sempre foram tão apaixonados, o que houve? – Perguntou Ju.

- Aí, então já faz um tempo que o sex* não está bom, aliás quando existe, ele anda sem paciência comigo e eu também. Hoje em dia, discussões que resolveríamos em 10minutos, duram 2 dias e nem resolvemos, estou cansada, sabe? É um homem diferente pelo qual me apaixonei, talvez eu seja uma mulher diferente também. – Desabafou Fernanda.

- Amiga, o nome disso é casamento mesmo, no começo é tudo às mil maravilhas, mas com o passar dos anos as coisas mudam, é uma fase, tenho certeza. – disse Bia.

- Sim, mas contigo e o Heitor nunca teve isso, né?

- Aí que você se engana, tivemos sim, senhora. Não foi a crise dos 7 anos de casamento, foi dos 7 anos de Mel. Brincadeira. Mas, foi nessa época, nosso casamento deu uma esfriada, foram mais ou menos 6 meses, eu não sei como começou, mas foram tempos extremamente difíceis. Realmente achei que fossemos nos separar.

- E o que fizeram vocês reatarem? Voltar a ser como antes? – Perguntou Fernanda interessada.

- Por isso brincamos que foram os 7 anos de Mel. Ela tinha acabado de aprender a andar de bicicleta e saiu escondida para “treinar” acho que ela queria deixar Heitor orgulhoso e foi pra a rua, um carro a atropelou e ela quase morreu. Ficou dias internada.

- Que horror! – expressou Ju interessadíssima na história.

- Sempre atentada. – completou Fernanda.

- Sempre. – concordou Beatriz – então, com a possibilidade de perder a Melanie, nos reaproximamos como nunca, e não tivemos mais crise. Quando isso aconteceu, a gente percebeu o quanto nos amávamos e sempre procuramos conversar para resolver as coisas entre nós. – Concluiu Bia, falando em tom apaixonado.

- Que lindo amiga. – disse Fernanda – mas, me fala uma coisa, você nunca se sentiu atraída por outro? Nunca cogitou trair o Heitor?

- Nunquinha. Até acho alguns homens bonitos, porque não sou cega, mas desde que conheci o Heitor sabia que ele era o homem da minha vida, mesmo nesse tempo de crise, não desejava ninguém, posso parecer boba, mas se existe alma gêmea, ele definitivamente é a minha. – declarou Bia.

- UAU – disse as duas amigas juntas.

- Que lindo amiga! Vocês realmente são um exemplo e inspiração. – disse Ju pensando que ela descreveu como se sente em relação a Melanie, “será que vai ser pra sempre? ” Se perguntou mentalmente, espero que não, melhor nem pensar nisso agora, se alfinetou.

- Eu não sinto isso tudo. – disse tristemente Fernanda – Amo o Joaquim, mas sinto desejo por outros homens. – “Na verdade por um especifico” pensou Fernanda.

- Amiga, eu realmente acho que no seu caso é só uma fase, acho que logo logo vocês se entendem e vai ser melhor do que antes. – Afirmou Beatriz.

- Você realmente acha isso, amiga?

- Acho. – respondeu Bia segura. – E você Ju? O que acha?

-Ah, vocês sabem, que eu nunca fui casada, então creio que nesse tópico não posso opinar com integridade, mas amiga segue seu coração e tenha paciência. – disse Ju, logo refletindo que esse era ao conselho que ela mesma deverá seguir.

- Por enquanto não é casada, mas logo vamos arrumar um partidão para você. – disse Bia com convicção.

- Ai Bia, não começa! – falou Ju tentando sair pela tangente.

- Eu tenho as melhores mesmo! Não liga pra ela Ju, você vai achar quando for a hora, muito obrigada pelos conselhos meus amores. – agradeceu Fer, aliviada em partes.

Continuaram a conversar com assunto amenos, no final Beatriz apenas confirmou com Ju se haveria problema de a garota ir pra chácara com ela e alertou que se ela se comportasse mal que a avisasse. Ju ficou aliviada pela conversa não ter se prologado a esse respeito.

 

***

                Melanie foi deitar ansiosa naquela noite, por mais que demonstrasse ser durona e não se importar, estava nervosa por conhecer a família de Ju, no fundo sabia que aquele passo era importante para o “lance” delas.

                Diversas vezes pensara em pedir a mulher mais velha em namoro, mas tinha medo de assusta-la. Decidiu que esperaria o “lance” se fortalecer, ou pelo menos os sentimentos de Ju por ela.

                Sábado amanheceu com um lindo sol, Melanie acordou, ou melhor, mal conseguiu dormir à noite, tamanho era sua ansiedade, quando o sol começou a entrar no quarto mandou mensagem para Ju.

                “Bom dia, senhora. Já está pronta? ” (Mel)

                “Mel, são 5h40 da manhã, nós combinamos as 7hs, vai dormir! “ (Ju)

                “Poutz, nem tinha olhado a hora, tá, mas não enrola! “ (Mel)

                “Eu lá sou mulher de enrolar? Abusada! “ (Ju)

                “Tá” (Mel)

                A garota levantou, tomou um banho gelado, se vestiu com sua roupa tradicional: short jeans, camiseta baby look preta e um chinelo havaianas preto. Arrumou algumas roupas na mochila, afinal, voltaria só no dia seguinte.

                Nem acreditava que iria passar o fim de semana todo com a mulher mais velha, estava exalando alegria.

                Olhou no relógio e ainda eram 6h30, estava agoniada já. Desceu as escadas correndo e assoviando, ao chegar na cozinha encontrou Zu fazendo café.

                - Nossa Zu, você chegou cedo hoje. – observou a menina.

                - Bom dia, menina. – cumprimentou abraçando a senhora. – É que hoje vou sair mais cedo, já que todos vão me abandonar.

                - Ué, por que?

                - Seu irmão está no Rio. Seus pais vão para Cuiabá, tirar uma folga de vocês e você vai pra chácara.

- HÁ HÁ HÁ – imitou uma falsa risada – Eles vão ficar triste sem a gente lá pra poder agitar a vida deles, isso sim.

- Hahahaha – Zu realmente riu de Mel – Menina, você dá muito trabalho e sabe disso. Marcelo tudo bem, é quietinho, só estuda, apesar que ... – Se calou rapidamente uma Zu entregando algo, que não passou despercebido por Melanie.

                - Apesar do que, Zu? O que você está sabendo que eu não? – Perguntou a menina intrigada, realmente o irmão andava diferente nos últimos dias, ela achava que tinha a ver com a menina com qual ele estivesse saindo, mas pra Zu falar daquele jeito, deve ser encrenca -concatenou a menina.

                - Ai menina, você faz eu falar cada coisa, melhor eu ir trabalhar, você está me atrasando. – disse a Senhora saindo.

                - Pode parar por aí Zu, quero e tenho o direito de saber o que está acontecendo com o Marcelo. Ele é meu irmão e você sabe que eu guardo segredo como ninguém. – Afirmou a menina toda orgulhosa de si.

                - Ai menina. – Disse Zu pensando na possibilidade. – Tá bom, eu sei que você guarda segredo e eu não aguento mais.

                - Conte me – disse a menina feliz de ter conseguido o que queria.

                - Eu acho que o Marcelo está saindo com alguma dessas mulheres da vida, sabe? E ele está apaixonado. – afirmou a mulher fazendo mistério. – É realmente ele está apaixonado. – enfatizou lembrando de algo.

                - Capaz, Zu. Coisa da sua cabeça. Marcelo jamais sairia com uma prostituta e ainda mais se apaixonar, ele é todo certinho, da onde você tirou essa ideia absurda?

                - Você sabe que eu não sou de ser xereta né? Não fico fuçando nas coisas de vocês, mas também tem coisas que esses ouvidos aqui não estão tampados quando alguém diz. – começou se justificando.

                - Zu, chega de drama a gente sabe o quanto você é integra, mas se as pessoas falam alto a gente ouve, natural. Fala logo o que você ouviu mulher. – falou a menina impaciente.

                - Ai menina, tá. Eu estava na sala da frente limpando e seu irmão estava na frente com o Rafael conversando. E o Rafael dizia assim “Cara, larga disso já falei pra você que ela não vale nada, essa mulher da vida vai acabar te colocando em confusão. Daqui a pouco vão te pegar na rua e ai sim você vai ver esse amor todo ai. ” – disse Zu tentando imitar a voz grossa do melhor amigo de Marcelo.

                - Tem certeza que ele falou mulher da vida? – Perguntou a menina intrigada.

                - Certeza absoluta e tem mais – disse Zu. – Seu irmão respondeu “Cara, mas eu estou alucinado nela, ela é experiente, sabe? Com ela é diferente o sex*, as conversas, é tudo diferente. Tô apaixonadão, cara. ” E o Rafael sensato e responsável como é disse “ Marcelo, presta atenção, você vai pro Rio de Janeiro esse fim de semana, presta seu vestibular naquela cidade maravilhosa e come a mulher que quiser, come todas as putas da cidade, come tudo, mas esquece essa mulher e toca sua vida. Você merece mais, meu amigo.”

                - Ele é um tanto nojento e machista, isso sim. – comentou Melanie. – até parece que o Marcelo vai sair fazendo isso, e ainda se diz o melhor amigo do meu irmão. Enfim, não podia deixar de comentar, prossiga Dona Zu. - revoltou-se a menina.

                - Ai ele falou, “ Cara, você tem um pouco de razão, eu vou tentar esquecer ela.”  e o Rafael respondeu “É só tesão cara, isso você arruma por outra qualquer, vai por mim.”

                - E que mais, Zu? – perguntou a menina ainda curiosa e estranhando aquela conversa sem pé nem cabeça.

                - Aí eu terminei de limpar a sala e fui pra cozinha. – Falou Zu como se fosse o óbvio.

                - Uai, e não ficou pro desfecho? – perguntou a guria indignada.

                - Já falei que eu ouvi por acaso, não é do meu feitio menina e você sabe disso. – afirmou a mulher séria.

                Ouviu uma buzina de carro.

                - Salva pelo gongo, Dona Zu. Deve ser a Ju, deixa eu ir. Até mais. – disse a menina saindo.

                - Espera, você acabou nem comendo, pelo menos leva uma fruta pra comer no caminho. – falou a mulher preocupada.

                - Verdade, você me contando fofocas quentes até esqueci de comer. – falou a menina para alfinetar.

                - Fofoca nada, para com isso. Também não te conto mais nada. – falou a mulher emburrada e ouviram outra buzina.  – Melhor você ir logo.

                - Ai Zu, to brincando. Deixa um beijo pra Dona Beatriz, ela acorda muito tarde. Beijinho beijinho tchau tchau.  – disse a menina saindo com duas bananas e uma mexerica na mão.

                - Juízo! E vê se volta inteira! – alertou a mulher que via a menina quase como filha.

                Melanie saiu de casa e ao ver o carro de Ju, não sabia se estava mais nervosa por poder passar o fim de semana todo ao lado da mulher que tanto dominava seus pensamentos e emoções ou se pelo fato de conhecer a família dela. Por mais que elas fingissem o quanto aquilo era corriqueiro, ambas sabiam o que significava. O “lance” delas estava criando forma.

                - Bom dia, minha menina. – Cumprimentou Ju com um selinho, assim que Melanie entrou no carro.

                - Assim, que eu gosto. Bom dia, senhora. – Retribuiu a menina.

                - Coloca o cinto. – Alertou a mulher, dando partida com o carro.

                - Você é muito chata. – Provocou a menina, começando a descascar a mexerica.

                - Mal começou o fim de semana e você já está malcriada. – Disse Ju entrando na brincadeira.

                - Você não viu nada. – Respondeu a menina em tom malicioso, mal sabia ela que só aquela frase causou um arrepio gostoso na mulher mais velha.

                - Mudando de assunto, pronta pra conhecer sua sogra e seus cunhados? – Perguntou a mulher um pouco ansiosa.

                - Nasci pronta. – Disse a menina tentando demonstrar uma segurança que não existia nela.

 

 

******************

Spoiler

 

 

                Os irmãos Correia estavam sentados perto do trilho. Melanie olhou pra dentro do via duto e viu aquela frase que a tanto fizera feliz agora denegrir seu coração. Estava despedaçada por dentro, o irmão apenas a abraçava. Já estavam ali fazia uma hora, em que ela chorou constantemente, agora sem mais lágrimas, precisava distrair a cabeça se não faria alguma loucura.

                - Marcelo, me distraía se não sou capaz de arrancar meu coração pra parar de doer. – disse a menina com uma sinceridade sombria que o irmão nunca tinha visto, a tristeza que via nos olhos da irmã era algo de partir o coração de qualquer um.

                - Certo, tem algo que preciso te contar. Algo que eu sempre escondi de você e agora acho que você só não tem maturidade suficiente para saber como também vai entender um pouco meu lado. – Disse Marcelo sério e realmente conseguiu tirar a menina dos seus devaneios.

                - Hum, como assim? Você tem um segredo em que você nunca contou pra sua fiel escudeira, no caso eu? – Brincou.

                - Você nunca tinha me contado de você e da Ju. – Disse o rapaz.

                - Mas, não foi por falta de confiança. Eu tinha medo, medo da sua reação, medo de você achar que eu tivesse traindo a mãe, que eu fosse louca ou qualquer outra coisa, não tinha medo de me assumir lésbica pra você, mas era realmente com “quem” eu estava. Ah, você sempre foi tão certinho Marcelo. – Tentou justificar a menina. – Mas, não teve um dia se quer que eu não pensei em te contar. – Complementou a menina com sinceridade.

                - É, acho que você vai entender então porque eu nunca te contei. – Disse o garoto. – E também não vai me achar tão certinho assim.

                - Conta logo. – animou-se a menina.

                - Antes de eu ir embora fazer faculdade, eu tive um caso com uma mulher casada, durou uns 6 meses mais ou menos. – contou o menino.

                - Uauuuuu ... por essa eu realmente não esperava, nossa agora faz sentido uma coisa que a Zu me disse um tempão atrás. – lembrou a menina.

                - Que coisa? – Perguntou o rapaz um pouco aflito ao cogitar que mais alguém sabia.  

                - Mas ela entendeu errado. Foi quando eu ia conhecer a família da Ju – lembrou a garota e tentou afastar a lembrança daquele fim de semana mágico. – Enfim, antes dela chegar eu e a Zu estávamos conversando e ela disse que ouviu “sem querer” você e o Rafa conversando e que ele tinha dito que você estava com uma “mulher da vida” e que aquilo ia dar muita confusão e ela estava toda preocupada com você estar com uma prostituta.

                - HAHAHAHAHA – riu o menino. – essa Zu, é porque o Rafa gesticulou zuando “essa mulher da sua vida” o sua ele só mexeu a boca e fez aspas com a mão, acho que ela não estava vendo a gente. Porque eu tinha acabado de falar pra ele que estava apaixonado e que ela era a mulher da minha vida e mais velha e mais experiente.  – ri o menino de novo – é faz sentido ela ter pensado isso.

                - Nossa, realmente se encaixava direitinho.

                - E por que você nunca me perguntou?

                - Ah, irmão. Logo você mudou pro Rio de Janeiro e eu estava muito preocupada com outras coisas naquela época e acabei deixando quieto. Mas, me conta, eu conheço ela? – perguntou a menina lembrando que poderia conhecer.

                - Aí é que mora o problema, é em quem é ela. – falou o menino misterioso.

                - E quem é ela? Fala logo guri! – falou Melanie ansiosa.

                - Fernanda. – disse de uma vez.

                - Que Fernanda? Não conheço. – falou a menina e de repente caiu a ficha. – A FERNANDA AMIGA DA MÃE??? – gritou a menina.

                - Grita mais alto, talvez o carro que passou ali por cima não ouviu.

                - Caralh*, o Mauricio sabe? E o Joaquim? A mãe sabe? – perguntou a menina ansiosa e chocada com a notícia.

                - Mel, ninguém sabe. E nem podem saber, foi diferente do que você teve com a Ju, nós tivemos um tesão violento, ficamos por uns 6 meses, eu estava bem apaixonado por ela. Mas, não ia dar em lugar nenhum e ela realmente quis tentar de novo com o Joaquim, e passou. Foi algo maravilhoso e não me arrependo nenhum pouco. Mas, foi momentâneo. Tipo aquelas paixões avassaladoras, que você não pensa em mais nada durante um tempo mas depois se pergunta como pode gostar tanto. – descreveu Marcelo.

                - Uau, eu estou em choque. Deve ter sido horrível pra você guardar esse segredo tanto tempo. – falou a menina.

                - Você sabe bem como foi. – lembrou o irmão.

                - Nossa, a mãe ta meio mal de amigas, né?! – comentou Melanie zuando.

                - Acho que ela está super bem, amigas que cuidam tão bem dos filhos dela. É o que todo mundo quer né? – entrou na brincadeira.

                - Não precisava ser TÃO bem, Marcelo. Que loucura, estou pasma. – afirmou Melanie.

                - Desculpa de verdade não ter te contado antes, mas eu tinha medo da sua reação. – confessou o menino.

                - E estava certo em não contar, acredito que naquela época eu teria ido atrás dela e dado uns tapas por machucar o Mauricio, meio hipócrita da minha parte, mas eu teria. – Afirmou Mel rindo ao imaginar como seria.

                - Mas, o Mauricio nunca soube. – Disse Marcelo sem entender o comentário.

                - Eu teria contado se fosse naquela época, não iria aguentar. Eu ia ficar numa situação foda, os dois homens que mais me importo são vocês. E teria traído sua confiança. Eu ia ter ficado malzona.

                - Ainda bem que não contei. – Disse aliviado Marcelo.

                - Ainda bem mesmo. – Confirmou Melanie.

                - Você mudou né, Mel?! Está mais madura, menos impulsiva. – Observou o irmão.

                - Eu li esses dias que uma pessoa só muda verdadeiramente por duas razões: pelo amor ou pela dor. – disse Mel com o olhar triste.

                - No seu caso foi pela dor ocasionada de um amor, ou seja, duplamente mudada. – Brincou o irmão como eles sempre adoravam tirar sarro de situações ruins.

                - Bem isso. – sorriu Mel. – Ai como dói!

                - Vem cá. – disse o irmão e a puxou para um abraço em que a menina sentiu-se completamente protegida.

 

                - Mas, me conta como aconteceu tudo. Quero todos os detalhes. – disse a menina tentando realmente deixar uma história apagar um pouco seus pensamentos e sentimentos.

Fim do capítulo