Melissa havia feito uma fogueira, estava sentada, assando marshmallow e milho verde.

 

-- Esse milho vai queimar se continuar pensando nos astros do céu infinito.

 

-- Fala uma coisa assim na frente de Júnior e ele é capaz de esticar o tapete vermelho pensando que está na calçada da fama. – respondeu sem muita empolgação.

 

-- Cris, você falou e depois ficou calada, pensativa, e voltou a falar, mas não disse nada a respeito disso. – abriu os braços e olhou em volta.

 

-- Disso o que Enrico?

 

-- Sexta à noite, vir para cá sozinha, acender uma fogueira para assar milho e marshmallow. Seria normal ter a companhia da sua “quase” esposa. Por que não cuidam dos preparativos? Faltam três semanas. – ela deu de ombros e respondeu olhando para a fogueira.

 

-- Ela não quis vir por escolha própria.

 

-- Vamos lá, o que está acontecendo? – Melissa contou toda a história para Enrico, ele ficou desconfiado com alguns detalhes, mas achou melhor conversar com Isadora e tentar descobrir o que estava se passando. Quando o moreno fez menção em ir buscar outra garrafa de vinho, percebeu a loirinha chegando, imediatamente inventou uma desculpa e saiu. Melissa olhou na direção que o amigo havia tomado e viu Isadora se aproximar.

 

-- Olá! – disse sem jeito.

 

-- Oi. – respondeu com frieza.

 

-- Posso sentar para conversarmos?

 

-- Como chegou até aqui? – perguntou levantando a cabeça para olhá-la.

 

-- Bruna e Júnior. – sentou no mesmo tronco de árvore cortado em que Melissa estava sentada – Posso comer um pouco deste marshmallow?

 

-- Claro – pegou o espeto improvisado de bambu e entregou.

 

-- Bom! – viu a expressão séria da morena – Mel, melhor do que esse doce, só seus beijos. – brincou – Sinto falta deles, será que não mereço um? Pode ser rápido e casto, só para não esquecer o sabor. – continuou brincando, mas Melissa permanecia séria. Ela a olhou nos olhos e se aproximou, a puxou pela cabeça e lhe beijou. O que havia planejado ser um beijo rápido se transformou em um beijo quente, impetuoso, cheio de saudades.

 

-- O que está acontecendo, meu amor? Eu conheço você, alguma coisa está preocupando estes olhinhos verdes. – perguntou com os lábios colados e fitando as lindas esmeraldas.

 

-- Não fala nada, apenas fica aqui, pertinho de mim, sentindo seu calor... – pediu um pouco emocionada – Quero sentir seus beijos... – voltaram a se beijar – Quando brigamos, ou ficamos neste clima dói muito Mel, porque você é minha razão de viver, e isso me machuca.

 

-- Então desabafa comigo, não me deixe louca imaginando qual pode ser o motivo da sua dor.

 

-- Só me abraça e deixa sentir você. – as duas estavam na beira da fogueira, sentadas em um velho tronco de árvore cortado. Isadora colocou a cabeça apoiada no ombro da morena, e ela inclinou um pouco o rosto e esticou a mão para acariciar os lindos cabelos loiros. Ficaram em silêncio, curtindo a noite e o calor dos dois corpos. – Eu te amo Mel.

 

-- Também te amo Isadora. – as duas se amaram com calma, em um absoluto silêncio, queriam apenas fundir seus corpos um ao outro, e pediram para que aquela noite não acabasse mais.

 

 

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-- Então resolveu ser uma boa filha e agir com sensatez? – perguntou em um tom sarcástico.

 

-- Eu só quero que você honre sua palavra e segure o prazo para depois da minha formatura. – pediu com tristeza, os olhos cheios de água e uma expressão muito abatida.

 

-- Certamente, sou um homem de palavra. – riu – Aqui tem um dinheiro e...

 

-- Não vou precisar – respondeu com orgulho.

 

-- Ah vai sim. – completou com uma voz autoritária – Para onde você vai irá precisar de dinheiro e emprego, para não correr o risco de voltar, e lógico, para o caso de Melissa Cristina descobrir, ela vai ver que você já tinha um emprego nas mãos antes mesmo de se formar.

 

-- Isso é ridículo! Tenho o direito de escolher para onde vou. – gritou irritada.

 

-- Psiu! Não sou surdo ainda. – reclamou com sarcasmo - Este emprego fará com que ela perceba o quanto foi burra, e você tinha um plano armado. – sorriu enquanto observava a dor da loirinha – Ela vai pensar que no mínimo foi usada por você.

 

-- Ela não vai acreditar... – começou a chorar e se odiou por isso, chorar na frente da pessoa que estava lhe prejudicando e sabotando sua felicidade.

 

-- Vai sim, ela é toda amorosa com você. – riu – Depois de juntar as peças vai lhe odiar de um jeito... – sorriu mais – Ela vai lhe tratar igual, ou pior que um inimigo. Sabe o melhor disso? Você a conhece bem, e sabe como ela agirá.

 

-- SEU LOUCO! – gritou novamente.

 

-- Aqui está às passagens, endereço do local onde ficará nos primeiros meses e onde irá trabalhar. – ignorou o grito e os soluços da loirinha.

 

-- Você tinha tudo planejado... – esmurrou o homem – Seu crápula! Sempre soube de tudo, e fingiu que não.

 

-- Pare com isso ou perco minha paciência. Só uma pobre coitada como você imaginaria Melissa Cristina casada com uma mulher, pior ainda, com você. – empurrou novamente à loirinha quando saiu em direção à porta – Não esqueça, ela não pode sonhar com esta nossa conversa, ou seu papaizinho pagará caro. – saiu.

 

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Isadora acordou agitada, Melissa a abraçou e pediu calma.

 

-- Shiii... Foi apenas um sonho meu anjo. – beijou-lhe o rosto enquanto a acalmava. Isadora sabia que não havia sido sonho, aquela cena tinha realmente acontecido. – Quer falar sobre isso? – pediu com uma voz suave.

-- Melissa, eu amo você mais do que a mim mesma, nunca, por hipótese alguma, NUNCA esqueça isso. – beijou todo o rosto da morena e voltou a fita-la nos olhos – NUNCA esqueça, mesmo que pareça outra coisa óbvia, nunca esqueça. – caiu no choro.

 

-- Não esquecerei meu anjo... Não esquecerei – “O que será que está acontecendo? Será que vovô tem alguma coisa com isso?” – pensou segurando sua raiva. Meia hora depois, Isadora voltou a dormir. Melissa a segurava forte entre seus braços, mas, não sabia com quem lutar ou o motivo da luta.

 

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Isadora havia resolvido curtir seus últimos dias com a mulher que amava, e afastou qualquer tipo de preocupação ou sentimento ruim da cabeça, apesar da imensa dor em seu coração. Queria aproveitar ao máximo os segundos ao lado do seu amor. No dia da sua colação de grau estava linda em uma saia preta, uma camisa branca com bordados e para completar, sapatos altos. Melissa entrou no quarto, enquanto ela terminava de colocar os brincos, com os cabelos já escovados e ficou admirando-a, sem ser percebida, aproximou-se por trás e lhe beijou o pescoço com cuidado para não suja-la de batom.

 

-- Será que posso oferecer um presente a formanda mais linda do curso de jornalismo?

 

-- Só do curso de jornalismo? – brincou, enquanto a observava pelo espelho.

-- Teria que experimentar as outras – respondeu displicentemente.

 

-- Experimente Melissa Cristina... – ameaçou com os olhos quase fechados e com um brilho perigoso. Percebeu o sorriso sexy de lado, uma das particularidades da morena quando tinha algum tipo de pensamento obsceno.

 

-- Não vou experimentar, tenho meu tesouro bem diante de mim e a certeza de que nenhuma dessas mulheres que estão lá fora se compara a ela. – os olhos verdes ficaram úmidos ao perceber o presente. – Amor, um anel de formatura não é um simples acessório, é o símbolo de anos de luta, batalha por um sonho... É o pedaço de tudo isso e o marco do inicio da nossa vida profissional, por isso, eu não deixaria que faltasse um para você. – ela retirou da caixa, beijou e colocou no dedo de Isadora – Esse beijo é para dar sorte na sua vida profissional e este – deu outro beijo na boca da loirinha – é só para constar que estarei sempre aqui. – percebeu que Isadora estava sem voz e os olhos mais úmidos, então resolveu brincar para quebrar a tensão do momento. – Até mesmo quando uma das suas reportagens investigativas lhe causarem danos e você for presa, estarei lá para ser sua advogada, e quando nada mais funcionar... – sorriu - Poderei seduzir o delegado, ou delegada. – piscou e sorriu.

 

-- Eu te amo, e você sempre vai ser meu anjo sua bobona. – pulou no pescoço da morena e novamente se beijaram.

 

As duas chegaram juntas e de mãos dadas ao local da colação. Todos olharam para as duas: alguns com inveja, outros em admiração, pouquíssimos com preconceito. Isadora era uma pessoa querida pelos professores e colegas de curso, da turma inicial, muitos desistiram e outros mudaram de turno ou faculdade, os que restavam, todos em unanimidade, gostavam da loirinha, e a escolheram como oradora do grupo e seu discurso foi comovente. Ela abrangeu o medo da mudança do colégio para faculdade, o entrosamento com novos amigos, de diferentes classes sociais e idade. Falou do sonho de cada um e ansiedade em ter um emprego e ser bom naquilo que escolheu. Ela conseguiu, rapidamente, falar de todos os colegas de turma, e ao término do discurso, todos, sem exceção, levantaram-se para abraça-la. A homenagem ao melhor aluno da turma, também foi para ela. Infelizmente, Júnior não havia conseguido se formar com a mesma turma, seu trabalho de conclusão de curso havia sido reprovado na apresentação.

 

Terminada a solenidade, com todas as fotos feitas, todos seguiram para casa de Ester, ela ofereceu um coquetel em comemoração à vitória da sua nora.

 

-- Homenagem de melhor aluna, não é para todo mundo não. – Melissa brincou sussurrando no ouvido da loirinha.

 

-- Comporte-se mocinha. – advertiu sorrindo.

 

-- Estou comportadíssima, armazenando energias para depois. – balançou as sobrancelhas e saiu sorrindo.

 

-- Está gostando Isa?

-- Ester, não precisava se dar ao trabalho, amanhã ainda tem o baile.

 

-- Ei, desta culpa sou inocente! – afirmou levantando as mãos. – Isso foi coisa do Daniel. Fiquei admirada com a empolgação dele, nem na formatura de Cristina estava nesta festa. – olhou ao redor –  Ele disse que você tem mais amigos, e como gosta de casa cheia... – deu de ombros e sorriu. Isadora abriu a boca, mas foi interrompida por uma voz rouca ao microfone.

 

-- Aos futuros jornalistas… – olhou para a banda e fez um gesto, quando começaram os acordes dos instrumentos, a voz da morena saiu – “We are the champions, my friends / And we'll keep on fighting / 'Till the end / We are the champions / We are the champions / No time for losers / 'Cause we are the champions of the world…

 

-- Isadora, rápido, eu tenho certeza que colocaram requeijão estragado nos salgados de Cristina. – Ester disse após ver a filha tão civilizada e social. Isadora riu com a sogra, ela era muito divertida.

 

-- Sua bobinha, ela está apenas se divertindo, afinal não é todo dia que sua esposa se forma. – Daniel brincou após se aproximar das duas mulheres – Aceita me acompanhar na primeira dança após o rock da minha filha?

 

-- Oh, certamente senhor. – sorriu. Melissa acabou a música e deixou que a banda continuasse, ficou de longe, observando seu pai e sua pequena dançarem e um sorriso insistiu em permanecer em seu rosto com a cena.

 

-- Seu pai é lindo não é? – suspirou Ester vendo os dois dançarem.

 

-- Estou mais admirada com a minha loirinha. – sorriu olhando-a – Mãe, você nunca me imaginou casada com uma mulher tão linda assim?

 

-- Nunca lhe imaginei casada, mas ai veio o Joaquim e lhe imaginei cometendo uma sandice, agora que Isadora apareceu, eu tive que agradecer a Deus. – mãe e filha se abraçaram e sorrindo.

 

-- A senhora me concede esta dança?

 

-- Não pergunte duas vezes senhor Eliezer. – respondeu aceitando a mão do homem mais velho. Daniel chamou a filha e lhe entregou aos braços de Isadora, enquanto ele mesmo tirou Rute para dançar.

 

-- Sua maluca, que coisa mais... – gargalhou – mais Queen foi aquela?

 

-- Somos todos campeões, não somos? – sorriu e beijou os lábios da loirinha.

 

-- Hum... – lambeu os lábios - Gostoso isso, não tem mais lá dentro?

 

-- Pode ser lá no meu antigo quarto? Ou prefere chegar ao nosso apartamento? – olhos verdes brilharam com malícia.

 

-- Desde pirralha sonhava com isso naquele seu quarto.

 

-- Isso o que Isadora? – sorriu balançando as sobrancelhas

-- Em comer você naquele quarto. – admitiu baixinho, após puxar a cabeça da morena próxima a sua boca.

 

-- Estamos esperando o que? – saíram sem pensar se estavam sendo discretas ou não, queriam apenas ficar sozinhas e se amarem.

 

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O baile de formatura não poderia ser diferente. Na apresentação dos formandos antes da dança principal, Isadora estava nervosa, seu avô iria lhe guiar na primeira dança, mas seu desejo era ter Melissa ao seu lado. Os olhos verdes procuravam os azuis durante sua entrada no salão, mesmo a distância, Isadora percebeu as lágrimas rolarem pelos olhos da morena.

 

“Que mulher linda!” – Melissa pensou ao ver a sua baixinha entrar ao lado do avô – “Linda! Eu te amo minha Isadora”. – deixou suas lágrimas rolarem pelo rosto. Isadora fitou os lindos olhos azuis e viu um beijo assoprado em sua direção. Ela levantou a mão como se pegasse algo no ar e colocou no coração, em seguida, pronunciou um “eu te amo” que foi recebido com um lindo sorriso. Após o baile, Melissa levou Isadora para passar a noite no apartamento, no outro dia iriam para o haras, onde começariam suas vidas.

 

-- Semana que vem, nós teremos uma nova festa. – Daniel disse a Eliezer que lhe sorriu.

 

-- Finalmente essas duas oficializam de vez o óbvio. – respondeu sorrindo.

 

-- Exigi um neto o quanto antes. – Ester ouviu e bateu de leve no marido, o que fez Eliezer rir.

 

-- Deixe-as curtir mais.

 

-- Quero netos! – disse emburrado.

 

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A festa continuou no apartamento. Melissa pegou um balde de gelo com uma garrafa de champanhe e duas taças, servindo-as em seguida.

 

-- Um brinde ao amor da minha vida. – Melissa disse erguendo a taça.

 

-- Um brinda a minha vida. – uma música suave de fundo, falava de amor e reencontro. A morena pegou as taças e colocou sobre um móvel, e a retirou para dançar.

 

-- Esta é a dança que nos foi furtada no baile. – as longas mãos de Melissa puxaram o corpo menor para perto, quase colando ao seu. Isadora a envolvia pelo pescoço, e acariciava com os dedos os fios negros que caiam displicentemente do coque já desarrumado. Ela encostou a cabeça ao tórax de Melissa, e ouviu seu coração.

[1]Oh - thinkin' about all our younger years

Pensando nos nossos tempos de juventude

There was only you and me

Só existia eu e você

We were young and wild and free

Éramos jovens, selvagens e livres

Now nothin' can take you away from me

Agora nada pode lhe manter longe de mim

We've been down that road before

Já passamos por isso antes

But that's over now

Mas agora já acabou

You keep me comin' back for more

E você continua me chamando pra mais

And love is all that I need

E amor é tudo o que eu preciso

And I found it there in your heart

E encontrei em seu coração

It isn't too hard to see

Não é tão difícil de ver

We're in heaven

Que estamos no paraíso

 

-- Como você consegue sempre escolher as músicas certas para as ocasiões mais do que especiais?

 

-- Simples, concentro-me na pessoa que amo e tudo o que faço sai perfeito... – olhou rapidamente os olhos verdes – Ou apenas beirando a perfeição... – beijou a loirinha - Um passe de mágica: só pensar em você. – dançaram mais algumas músicas, mas Melissa tinha urgência. Carinhosamente ela afagou o corpo menor, beijando-lhe a nuca, o colo, o pescoço, o rosto, enquanto suas mãos descia o zíper do vestido, expondo a pele alva de penugens loiras – Tenha certeza que se você não fosse minha mulher, eu a tornaria agora. – sussurrou após ver seu vestido cair.

 

-- Eu preciso de você dentro de mim, agora. – pediu com uma voz rouca e sensual.

 

-- Vem aqui. – beijaram-se novamente, e se amaram ali mesmo, na sala.

 

 

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[1]  Heaven – Brian Adams

 

Fim do capítulo