Papai pegou seu pedaço e foi para sala, alegando que iriamos tratar de assuntos de mulheres. Rimos com o comentário dele. Laura estava distante e mais calada que o normal, perdida em seus pensamentos.

-        O gato comeu sua língua, mocinha? - Mamãe perguntou em tom de brincadeira.

-        Desculpe dona Estela, ando preocupada com as provas de fim de ano. - Sabia que era mentira, mas resolvi ajuda-la nisso.

-        Nossa é mesmo, tem matérias muitos difíceis, mas creio que iremos tirar de letra, agora falta pouco para terminarmos. - Respondi gentilmente.

-        Filha, e aquela pôs graduação que você comentou conosco, ainda está interessada? - Gelei, esse era um terreno pelo qual não gostaria de ir nesse momento, afinal ainda não havia falado nada para Laura, esta por sinal me encarou com um ponto de interrogação enorme na face.

-        Ainda não sei, mamãe. Vamos esperar até mais próximo do fim da faculdade. - Respondi tentando ser o mais imparcial possível.

-        Mas não pode ser em cima da hora, temos que ter um tempo para ajeitar as coisas, uma vez que Londres fica do outro lado do mundo. - E ao meu lado ouvi Laura engasgar, corri para ajuda-la, bati em suas costas, levantei seus braços. Ela estava vermelha e com os olhos cheios de lágrimas, mal conseguia pronunciar uma única palavra.

            Mamãe foi até a cozinha buscar um copo de água para ela.

-        Quando ia me contar que pretende estudar em Londres? - Perguntou em um fio de voz.

-        Na verdade, Londres era uma válvula de escape. Pensava que o que sentia por você era errado e que não sentia o mesmo por mim, então falei para minha mãe que gostaria de ir. Mas agora as coisas mudaram, e não tenho certeza de que quero ir de fato. - Ela abriu a boca para questionar mais alguma coisa, porém foi interrompida por mamãe, que veio trazendo água para ela.

-        Tome filha, vai ajuda-la. - Mamãe era sempre muito gentil e atenciosa, e adorava Laura desde a primeira vez que a viu.

-        Obrigada, a senhora é um amor. - Pegou o copo e bebeu tudo de uma vez.

            O clima estava meio esquisito, mas mamãe não parava de tagarelar, contou sobre o dia no sítio, nos colocou a par das fofocas da vizinhança, e aos poucos a nuvem negra foi se esvaído. Quando percebemos a hora, já era tarde, e nós precisávamos dormir. O dia seguinte seria longo, ajudamos Mamãe com as coisas, dei um beijo de boa noite nela e em papai e fomos para meu quarto.

            Não fizemos amor naquela noite, Laura estava distante e eu não queria invadir seu espaço. Deitamos uma ao lado da outra, ela se aninhou em meu colo, fazendo carinho na minha barriga.

-        É tão bom ficar assim com você, me sinto segura e protegida -  Ela falava em um sussurro, mal dando para ouvir sua voz.

-        É maravilhoso estar com você, sonhei por diversas noites com esse dia. A única coisa que quero é que seja feliz, e se eu for o motivo dessa felicidade, será melhor ainda.  - Disse beijando o topo da sua cabeça. Ela sorriu, em meio ao um bocejo, estávamos cansadas do fim de semana mal dormido.

-        Boa noite minha linda. – E lhe dei um beijo carinhoso.

-        Boa noite, amor. - respondeu deitando de costas para mim. - Me abraça? - pediu e eu a abracei, ficando de conchinha. Não demorou e o sono nos venceu.

LAURA:

            O fim de semana estava sendo maravilhoso, aquela loirinha tinha o dom de me fazer sorrir facilmente. Ela era sempre tão prestativa e carinhosa, me pergunto por que demorei tanto em ter aceitado meus sentimentos por ela. Bastou um beijo para ter a certeza de que o que sentia não era apenas fantasia da minha mente. Há tempos sentia uma energia diferente quando estávamos próximas, nossos corpos se atraiam feito imãs. Muitas vezes me perdi admirando-a, e quando via seu olhar sobre mim, meu estomago se contorcia. E saber que ela iria embora me deixou abalada, a ponto de não saber o que falar. Sei que posso estar sendo precipitada, afinal ainda faltam alguns anos para terminarmos a faculdade, mas se ela assim o decidir, não posso me opor.

            Deitamos em sua cama, e eu apenas queria colo, queria sentir o calor do seu corpo junto ao meu e não pensar no amanhã. Trocamos algumas palavras, e com a desculpa de estar com sono me virei para não encara-la. Ela me abraçou e me puxou para bem juntinho, me deu um beijo carinhoso e deitou com seus braços ao redor da minha cintura afundando seu nariz na minha nuca, sua respiração era tranquila e em poucos minutos senti que ela havia pegado no sono. Fiquei um tempo ainda perdida em pensamentos, ate que o sono me venceu.

Fim do capítulo