Capítulo 8 - (Pura Tolice)
Capitulo 8
(Pura Tolice)
O sorriso com covinhas, de Carol, fazia o coração de Anna-Lú bater aceleradamente, mas o jeito preconceituoso e totalmente agressivo com o qual se referiu à moça que a própria filha namorava não a agradara de jeito nenhum. E não estava disposta a se envolver nesse emaranhado. Isso mesmo, não se envolveria, foi o que decidira enquanto tomava seu café na lanchonete do pronto-socorro. Não passaria por uma situação assim novamente, envolver-se com alguém que além de ser hétero, é preconceituosa.
Ao voltar para sala de espera Anna-Lú encontrou Carol e Miguel conversando, Carol estava de costas. Novamente sem o terninho executivo, apenas de camiseta com os ombros totalmente aparentes, os longos cabelos loiros agora presos num rabo-de-cavalo. Ao se aproximar Anna-Lú cumprimentou-os com um "Olá" e Carol virou-se para responder e, ao virar-se para ela, os cabelos presos movimentaram-se de forma impertinente, as covinhas enquanto ela sorria um pouco triste, os olhos azuis tão límpidos e cheios de preocupação e, ainda assim, bem atentos. Fizeram a respiração de Anna-Lú ficar presa na garganta.
- Oi, e o café, estava bom? - perguntou Carol sem saber o que dizer ao certo.
- Hmhm - Anna-Lú soltou o ar - "caramba preciso parar de sentir essas coisas perto dessa mulher" – pensou antes de responder - sim, estava ótimo. E você não vai querer um cafezinho também? Ou um suco, água? - indagou.
- Não, agora não, talvez mais tarde - respondeu.
- Vais ficar? – Anna-Lú continuou a perguntar.
- Sim, não vou sair daqui - respondeu Carol decidida.
- Certo. Então, agora que você já está em boa companhia eu vou para casa, pela manhã ligo para saber da menina, está bem? - disse Anna-Lú. Carol suspirou com algo no olhar que Anna-Lú não soube decifrar.
- Sim... Sim, claro, ainda tens que ir a agência e vou ausentar-me...você já sabe...
- Ah claro... Claro que sei - interrompeu Anna-Lú - não se preocupe com isso.
- Certo - disse Carol meio decepcionada por Anna-Lú estar indo embora e desajeitada estendeu a mão - então, até mais.
- Sim... Claro... Até mais - Anna-Lú pegou a mão que Carol lhe oferecera, sentindo ao mesmo tempo tanto a firmeza do aperto de mão quanto à suavidade da pele. Anna-Lú sabia que estava segurando a mão de Carol por tempo demais, mas não conseguia se mover, "mas que droga Anna Luiza, o que pensa que está fazendo?" era só o que conseguia pensar, e quer saber Anna-Lú não queria mesmo soltá-la, olhou-a no rosto e nos profundos olhos azuis. Jamais esteve em seu pensamento deixa-la ali, mas sabia que não teria sentido se ficasse, não um convincente o bastante, que não fosse a verdade. A verdade que ela não queria admitir.
- Hmhm - grunhiu Carol - agora pode soltar-me, se não se importa? - perguntou estranhamente constrangida.
Anna-Lú afrouxou o aperto, mas Carol ainda deixou-se demorar ali mais alguns momentos, sentindo calafrios apenas com aquele toque. Soltaram as mãos e Anna-Lú despediu-se de Miguel, então num lampejo entre a vontade e a dúvida, Carol se inclinou para frente e depositou um beijo suave no rosto de Anna-Lú e sussurrou um “Obrigado mais uma vez", esta apenas assentiu e virou-se para sair. Quando Anna-Lú chegou a casa já passava de 2h da manhã, totalmente cansada. E os pensamentos? Em Carol como sempre nos últimos dias, queria tira-la do pensamento, mas há pensamentos que são como os pernilongos impertinentes, mesmo que os sacudam eles voltam e pousam novamente, então, por mais que tentasse desvia-los para outra coisa não conseguia. Tomou banho e vestiu-se com uma camiseta e uma calcinha box, penteou os cabelos de forma a amanhecerem não muito embaraçados e ficarem menos parecidos com os de Johnny Depp em Edward Mãos de Tesoura, deitou-se querendo dissipar o sentimento confuso. Inquieto. Vago. Que doía e fazia bem. Que dava vontade de estar perto de Carol para ampara-la, protegê-la mesmo que não precisasse, e ao mesmo tempo dava vontade de esquecê-la, arranca-la da memoria, não podia se envolver, não queria, não admitia. E foi nesse turbilhão que Anna-Lú adormeceu pisada pela fadiga.
- Nossa! Você está horrível, parecendo que saiu de um dos episódios do The Walking Dad de tão destruída, só que um pouco mais fashion – disse Marina entre gargalhadas, logo que entraram na sala da presidência.
- HA...muito engraçado, obrigada, por isso você é minha melhor amiga, pra me dar esse tipo de apoio moral, não sei nem o que dizer de tão emocionada que fiquei com suas palavras – respondeu Anna-Lú irônica, recostando-se em sua cadeira.
- Não precisas dizer nada, amigas são para essas coisas, pra falar a verdade, quero dizer – retrucou Marina sorrindo zombeteira.
- Besta – respondeu revirando os olhos.
- Hey, besta não, até porque não sou eu quem está com a cara de ontem, mas me conta aí, você não tem jeito mesmo não é? Mais uma noitada? Ainda nem é sábado!! Sabes pelo menos o nome da garota desta vez? – perguntou Marina.
- Por quem me tomas hein? Mas, é claro que sei e eu estava sóbria, ou quase, duas taças de vinho não conta ou será que conta? Ah, mas também não importa e pra sua informação eu estive com a Carolina na noite passada – disse dando de ombros.
- COMO-É-QUE-É?! – espantou-se Marina – amiga você não conhece mesmo o que é perder tempo hein? – caçoou abrindo um largo sorriso.
- Deixa de ser besta. Não é assim, como você está pensando – respondeu Anna-Lú imediatamente, torcendo a boca.
- E como é então? Explica-me?
- Ontem fomos ao meu apartamento, como você sabe. Para decidir sobre as ilustrações e caiu àquela chuva torrencial, nós pedimos uma pizza, e então faltou energia e ai rolou um clima, não ria ou te jogo essa caneta – Marina mal segurou o riso – posso continuar? – Marina assentiu – Então, a luz voltou e cortou o clima e ela também recebeu um telefonema do pronto-socorro avisando que a filha dela sofreu um acidente...
- Nossa! E como ela está? A senhorita Vandré deve estar muito mal não é? Meu Deus!! – Marina interrompeu Anna-Lú.
- Ela está bem, apesar de ainda estar desacordada, agora não me interrompa! – respondeu Anna-Lú.
- Ok! – foi tudo que marina disse levantando as mãos em sinal de rendição.
- Pois, continuando, a Carolina ficou muito abalada, como você pode imaginar e então me ofereci para leva-la, esperamos a cirurgia acabar e o médico vir falar com ela, e... hmhm – clareou a garganta - ...e eu fiquei com ela até que Miguel chegasse. É isso, fui pra casa já de madrugada e mal dormir já acordei pra vir trabalhar, por isso a cara de zumbi. Entendeu?
- Hm... Acho que entendi, mas... – Marina pareceu analisar Anna-Lú.
- Mas? Mas, nada! Sei o que você está tentando fazer – retrucou Anna-Lú.
- Que foi? Não estou tentando fazer nada, mas vamos combinar que eu te conheço muito bem, não é Lú? Conheço esse olhar perdido de quem omitiu alguma parte nesta história. Agora desembucha vai! – ordenou Marina.
- Caramba Mari! Não estou omitindo nada – Anna-Lú levantou-se repentinamente e visivelmente inquieta.
- Então, porque está nervosinha, hein?! – retrucou com a nítida certeza que havia algo a mais.
- Não estou não! – Anna-Lú respondeu tentando convencê-la.
- Ah, está sim! – objetou Marina não se dando por satisfeita.
- O quê mais você quer saber Mari?! - perguntou Anna-Lú irritada com a insistência de Marina.
- Você sabe muito bem o que quero saber! – respondeu sem se importar com a irritação da outra.
- Ai...está bem...você venceu - rendeu-se Anna-Lú.
- Yes! Eu sabia que tinha mais alguma coisa - comemorou Marina.
- Chata pra caramba, você! - revirou os olhos - Nós nos beijamos... satisfeita?! - disse Anna-Lú sentando-se novamente e cruzando os braços sobre a mesa.
- UAU! Por essa eu juro que não esperava... tudo bem que você seja uma pegadora de carteirinha, mas eu achei que a Vandré iria demorar mais um pouquinho pra cair na sua rede - comentou Marina zombeteira - Enfim, e aí...ela beija bem?! - perguntou interessada.
- Ai Mari - suspirou apoiando o queixo - e como... Quer dizer... E como eu vou saber...ne..ne..nem deu pra saber ao certo oras...que pergunta Mari! - Anna-Lú abriu os braços e tentou parecer indiferente.
- Vixe! É mais grave do que eu pensava - concluiu Marina.
- O que é mais grave Marina?! - perguntou Anna-Lú pausadamente, já prevendo que Marina percebera algo.
- É... E não tem mais jeito viu! – emendou Marina.
- O que não tem mais jeito Marina? Dá pra parar com esse suspense e falar de uma vez que ideia absurda você já pôs nessa cabeça dura?! - exigiu Anna-Lú contrariada.
- Tá apaixonada - respondeu enfática.
- Quem está apaixonada?! E por quem? Posso saber? - disse Caio ao entrar.
-Adivinha?! - falou Marina abrindo um sorriso. Caio olhou de Marina para Anna-Lú e depois, de volta para Marina.
- NÃO?! - disse incrédulo.
- Pois sim meu querido, nossa amiga está apaixonada, e por falar nisso você está me devendo, já que perdeu a aposta - respondeu Marina entre risos.
- Menina tô bege! - caçoou.
- Deixem já de palhaçada as duas moças! - exclamou Anna-Lú fazendo sua voz subir algumas oitavas. Marina e Caio não puderam se conter ao ver o desconforto de Anna-Lú e puseram-se a rir deixando-a totalmente contrariada.
- Ai amiga, desculpa, mas você apaixonada é pior do que eu e a Mari juntos! - disse Caio depois que parou de rir por um momento, mas sem tirar o sorriso zombeteiro do rosto.
- Ah...cala a boca bicha...ninguém te chamou pra conversa, e EU NÃO ESTOU APAIXONADA! Ok...acabaram?! - disse Anna-Lú irritada.
- Está bem dona irritadinha... Paramos. Não desconta em mim, afinal foi você quem beijou ela! - Marina respondeu.
- Como é? Já rolou beijo?? – disse Caio espantado.
- Caramba Mari, você e sua boca grande! - reclamou Anna-Lú.
- Ih... Caio depois te conto, porque se não a Lú me esgana agora mesmo. Mas falando sério, Lú você já falou hoje com a Carolina, pra saber da menina quero dizer? - perguntou Marina.
- Fiquei de ligar...mas não sei... - suspirou.
- Não sabe? Claro que tens que ligar! - disse Caio, que já havia sido informado do acidente.
- Concordo Lú, até porque tu a acompanhaste até o hospital é uma questão de educação também - incentivou Marina.
- Acompanhaste a Carolina até o hospital? – perguntou Caio surpreso.
- Sim Caio e eu sei Mari, mas as coisas não são assim, tão simples - apontou Anna-Lú.
- São simples sim e ela deve está precisando de um ombro amigo neste momento, é uma boa oportunidade para se aproximar, investir...que tal? - tentou Caio.
- Que ideia bicha...eu não vou usar um momento como esse pra pegar uma garota, e antes que vocês deem mais ideias absurdas, vou logo adiantando que ela é hétero, isso ela já deixou bem claro, e é preconceituosa, então não vai rolar. E por último, mas, não menos importante... vou repetir... NÃO ESTOU APAIXONADA! – falou Anna-Lú de uma só vez.
- Agora não entendi mais nada! Como assim preconceituosa? - perguntou Marina.
- É? Se ela te beijou?! Também não entendi - Caio também ficou confuso.
- É, pois, é isso mesmo, mas não estou a fim de falar sobre isso, agora se mandem... Vamos trabalhar que o tempo está correndo! – Anna-Lú valeu-se de sua pose de ‘chefona’.
- Ok chefe! - disseram juntos e se retiraram deixando Anna-Lú com seus tempestuosos pensamentos.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Val Maria
Em: 29/07/2017
Quando a estória é apaixonante eu amo comentar.
Eu estou apaixonada pela Carol.
Val Castro
Resposta do autor:
Então posso dizer que esta estória é apaixonante?! (risos)
Bem, acho que a Ann-Lú pode ficar um poco encimuada se souber de sua paixão pela Carol....kkkk
Há braços
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