Capítulo 34
Melissa voltou para casa já era madrugada, e encontrou a loirinha deitada, encolhida no sofá. Aquela cena tocou seu coração. Ela se abaixou, e observou a expressão angelical da mulher a sua frente. Viu os traços ainda de criança que ressaltavam no lindo rosto redondinho. Lembrou-se da primeira vez que seus olhos viram aquele verde esmeralda, havia sentido algo de diferente e não sabia muito bem explicar, mas agora, podia afirmar com toda certeza: estava caída de amor por Isadora e faria de tudo para vivê-lo. – “Pequena, eu imagino como o vô Eliezer sofreu sem o amor da minha avó. Agora entendo quando ele me explicou como seu mundo ficou cinza.” – pensou enquanto a observava - Permaneceu admirando suas curvas, pernas grossas e a barriga que estava um pouco descoberta – “Como posso ter tanta sorte assim? Amar e ser amada por um anjo lindo como você?” – sentiu as lágrimas rolarem. Ela a envolveu entre seus braços, e a levou até a cama.
-- Mel amor, é você? – perguntou sonolenta após ser colocada sobre a cama.
-- Shiii... Está tudo bem, volte a dormir. – caiu novamente na cama e voltou a dormir – “Não tem tempo ruim para você comer ou dormir Isadora.” – pensou sorrindo.
No outro dia cedo, Isadora pulou sobre Melissa, fazendo-a acordar com o peso do seu corpo. A morena abriu os olhos, e sentiu uma língua ousada invadir sua boca, pedindo passagem. Um beijo lento e preguiçoso, mas atrevido, levou-a gem*r baixinho. Sem saber como se segurar, Melissa inverteu as posições, colocando-se por cima da loirinha, aumentando a pressão do beijo. Suas mãos percorreram o corpo menor, apertando o contato entre as duas, separando-se quando sentiram a necessidade de respirar. Seus olhos se encontraram, e só então percebeu o sorriso infantil no rosto de Isadora.
-- Estou empenhada em manter este ritmo e acordar desta maneira todos os dias. – manteve o sorriso enquanto sentia os pequenos dedos da loirinha passeando por todo o contorno do seu rosto.
-- Fiquei tão preocupada com você ontem. – confessou encarando-a com carinho e desejo. – Não queria esconder nada, pretendia apenas evitar uma discussão entre você e seu avô, e óbvio seu pai. – enquanto se explicava, contornava o rosto moreno com seus dedos, como se quisesse decorar cada traço.
-- Todas as vezes que você me poupar de alguma coisa, fornecerá mais armas para o senhor José.
-- Mel isso não é uma guerra, não precisamos nos preocupar com ele. – Melissa mudou sua expressão para uma de surpresa, e suas sobrancelhas se encostaram.
-- Não acredita realmente nisto que você acabou de falar, não é mesmo?
-- Mel, eu quero evitar brigas. – revelou cansada – A sua relação com seu pai é o que há de mais lindo em sua vida, e sei que uma discussão com seu avô afetaria diretamente neste relacionamento.
-- Isadora eu faria qualquer coisa para preservar minha relação com você, até mesmo romper com meu pai se precisar. Eu o amo, mas não vou admitir que alguém atrapalhe a minha felicidade. – beijou os macios lábios de Isadora – O que tem de mais lindo em minha vida é você.
-- Oh Mel! – puxou o corpo de Melissa contra o seu.
-- Será inevitável um rompimento se ele resolver nos afetar.
-- Desculpa amor. – estava arrependida por ter omitido o fato da caixa de rosas.
-- Tudo bem. - lançou um olhar malicioso pelo corpo menor - Agora vou terminar o que você começou.
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No dia seguinte, à tarde, Melissa apareceu na universidade, surpreendendo Isadora. As duas saíram para verificar o andamento da construção da casa. Na verdade, ela pretendia fugir um pouco da cidade e refletir sobre os rumos que sua relação familiar estava tomando. Ester lhe contou sobre a conversa dura entre seu pai e seu avô, expondo a posição de Daniel no caso de uma possível interferência de José no relacionamento da neta. Ele concordou em não se meter nas escolhas da neta quanto a Isadora, assim iria evitar o rompimento com seu filho e com a pessoa mais importante em sua vida, Melissa Cristina.
-- Pai, eu não vou mais conversar sobre isso com o senhor, e se for preciso, ficarei ao lado da minha filha.
-- Daniel, meu filho, não vê que esse relacionamento arruinará com a vida de Cristina?
-- Ela a ama...
-- Que história é essa? – gritou interrompendo-o – Seja homem! Sua filha diz amar outra mulher e você acha isso normal? – Daniel se ergueu da poltrona e ficou em pé, aproximou-se do pai, encarando-o.
-- Homem eu sou, e muito. – declarou em um tom de voz baixo. – Mas não queira testar a dosagem de masculinidade que circula em meu corpo. Por minha família eu sou capaz de muitas coisas, até mesmo esquecer que o senhor é meu pai. – José de Alcântara nunca tinha visto o filho agir daquela forma, ele sentiu as pernas fraquejarem, e resolveu voltar a sentar.
-- Eu... – foi interrompido por um par de olhos azuis que pareciam refletir fogo.
-- O senhor não vai se meter no relacionamento ou na vida de Cristina, pense bem sobre isso ou a conversa será bem diferente desta. – foi em direção à porta e parou olhando-o. – Darei o seu recado de que não irá interferir em sua vida. – saiu antes de qualquer resposta. José se sentiu, pela primeira vez em sua vida, sem opções. Resolveu não se meter mais nessa história, até encontrar alguma saída.
-- Maldita loira! – praguejou – Deveria morrer.
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As duas passaram horas sentadas às margens da nascente. Conversaram sobre coisas do dia a dia de ambas, e Melissa aproveitou para contar sobre a conversa com Ester. Isadora estava preocupada, com receio que pai e filha brigassem, mas preferiu não comentar. Ela se envolveu ao corpo maior, e ficaram em silêncio, curtindo o som da água que corria até adormecer com a cabeça apoiada no peito da morena.
-- Mel, eu estou com fome, podemos voltar? – choramingou após acordar.
-- Apenas mais alguns minutos. - respondeu com os olhos voltados para um ponto imaginário no céu, estava gostoso ficar ali, e ela queria prolongar ao máximo.
-- Mel você falou isso meia hora atrás.
-- Isadora, meia hora atrás você estava dormindo.
-- Não estava. – espreguiçou-se. – Não consigo dormir sem uma cama macia. – olhou para os seios da morena e concluiu. – Apesar desses airbags fofos. – Melissa revirou os olhos e concluiu.
-- Podemos ir a um restaurante próximo, vai ser rapidinho. – passou a mão pelo cabelo loiro. - Estou só pensando um pouco na vida.
-- Rapidinho? Pensando? Estou com fome. – puxou a morena pela camisa. - Não pode pensar em uma mesa com bastante comida? - balançou as sobrancelhas.
-- Isa...
-- Mel... – fez uma expressão triste franzindo o nariz e piscou os olhos várias vezes, inocentemente.
-- Tudo bem Isadora. – respondeu vencida – Você está novamente no controle.
-- Isso eu sempre estive. – sorriu e puxou sua mão.
-- Isadora, não sonha... - falou com desdém, mas logo foi interrompida.
-- Não sonho? Quem vive dizendo: “O que Isadora quer, Isadora consegue”?
-- Tudo bem. – demonstrou seriedade com a situação – Vou deixa-la sonhar mais.
-- Quer outra prova irrefutável? – se insinuou com um sorriso e as mãos sobre as coxas da morena, em sinal de mais provocação.
-- Pequena... – retrucou – Você estava com fome, vamos embora ou ficaremos aqui de vez e não conseguirá me convencer do contrário.
-- Viu como você não é imune a mim e ao meu charme? - piscou com os olhos verdes, novamente, fingiu inocência com uma expressão infantil. Melissa sorriu e beijou o topo da cabeça loira após ajudá-la a se levantar.
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-- Isa, eu tenho realmente medo do seu apetite. - a loirinha já havia comido quase toda a travessa de nhoque recheado com queijo ao molho branco. Melissa havia deixado um pouco de comida no prato, mas, logo foram “resgatados” pela loirinha.
-- Não podemos desperdiçar comida com tanta gente passando fome.
-- Estou vendo, da maneira como você come, deve ter reservatório para mais cinco reencarnações. - observou com uma expressão séria, mas Isadora sabia que estava brincando.
-- Reclamações... Meu bebê é uma velhinha! – sorriu e esticou a mão, para alisar o braço da morena. - Pelo menos eu me resguardo, enquanto você não sobreviveria a uma reencarnação se quer. - mais uma vez sorriu, e estirou a língua para Melissa.
-- Não faça isso novamente - advertiu séria e pausadamente.
-- Ou?
-- Ou não responderei por mim. - segurava o sorriso.
-- Mais uma vez com promessas... Sempre promessas. - pegou a taça de vinho e bebeu o líquido observando-a pedir a conta. - Por que tanta pressa? - Isadora sabia que havia provocado Melissa, e percebeu a necessidade urgente, despertada na outra mulher, de estarem sozinhas.
-- Faço apenas promessa não é? Agora você conhecerá a minha “ira”. – advertiu em tom malicioso.
-- Estou contando com isso Melissa Cristina. – respondeu com uma expressão moleca e lançando aquele olhar inocente, piscando diversas vezes.
Isadora saiu na frente, andando de forma cadenciada e sensual, despertando ainda mais os desejos da morena que vinha logo atrás, deliciando-se com o rebol*do da sua amada. Quem observasse bem a cena, perceberia Melissa, babar literalmente, com o jeito da loirinha. - "Ela faz de propósito! Deus, como resistir? Esta baixinha me quebra por completo... Estes olhos verdes me convencem que inverno é verão com a maior facilidade" - Chegaram ao carro, e quando Melissa abriu a porta para Isadora, encostando seu corpo contra o dela, sentiu uma mão em seu ombro, segurando-a, antes mesmo de verificar quem seria ela pegou a mão desconhecida, e virou-se, voltando-a contra a pessoa que a segurava, levando-a para trás, movimento que quase acarretou em uma fratura. Ela só aliviou a pressão após perceber quem era.
-- Nunca, nunca mais faça isso, eu poderia ter lhe machucado. - advertiu irritada.
-- Desculpe, é que eu as vi e não resisti. Queria cumprimentá-las, apenas. O que fazem aqui? - Joaquim perguntou após sacudir e massagear o braço na tentativa de aliviar a dor.
-- Acredito que o mesmo que você. - Melissa respondeu.
-- Jantar de negócios? - ainda alisava o próprio braço.
-- Não deixa de ser um negócio o que nos trouxe. – olhou rapidamente para Isadora e deu aquele sorriso torto e moleque, perceptível apenas a loirinha.
-- Que tipo? - lançou um olhar inquisidor em direção a Melissa e depois para Isadora. – “Este deve ser o caminho para casa que estão construindo”. – pensou enquanto observava à loirinha – “O velho José disse que ficava nestes arredores, preciso ver onde é precisamente”.
-- Não acha que está sendo um pouco mais que curioso?
-- Ahã? - estava analisando minuciosamente Isadora e perdido em seus pensamentos, por isso não havia entendido de imediato a indireta da morena - Ah, sim... Quer dizer, não. Quero pedir desculpa novamente, melhor ir embora.
-- Também acho. - respondeu com um tom de voz áspero e um olhar frio.
-- Desculpe Cristina, mas não precisa ser indelicada.
-- Concordei com a parte de que precisamos ir embora.
-- Tudo bem. - aproximou-se e lhe deu um beijo em cada bochecha, olhou para Isadora e apenas acenou com a cabeça. A loirinha ficou observando todo o acontecimento em silêncio, e logo que Joaquim se afastou, Melissa sondou o clima.
-- Meio confuso. - falou sem jeito.
-- O que é meio confuso?
-- A forma como ele lhe trata. - percebeu uma pontada de ciúme por parte da pequena que a encarava com uma expressão fechada - Joaquim tem muitos defeitos, mas, sempre foi um cavalheiro, e agora, com você...
-- O que tem? - o tom de voz estava diferente.
-- Isa, ele não sabe nada sobre nós. – olhou dentro dos olhos verdes - Amor, ele nunca nos viu em situações que deixassem a mostra nossos sentimentos.
-- Isso lhe incomoda? – tentava avaliar a situação.
-- Não me incomoda por completo. - olhou para o céu - Acho que o tempo vai fechar melhor voltarmos antes que caia esta chuva.
-- O tempo começou a fechar faz “algum tempo” Melissa. - disse ao entrar no carro - Como você explica esta sua afirmação: "não me incomoda por completo" - pediu com uma voz irônica.
-- Amor, isso não me incomoda se ele sabe ou não. – ligou o carro e saiu do estacionamento, pensando em como montar seu raciocínio. - Na verdade é o que menos importa... - olhou rapidamente de lado enquanto dirigia - A vida é minha e ninguém tem direito de opinar, e se o fizer, vai ser desnecessário.
-- Então o que lhe incomoda. - usou um tom menos agressivo.
-- O fato dele não saber e, de repente agir como soubesse.
-- Como é isso? – olhou para a morena que dirigia tranquilamente - Pode se explicar melhor?
-- Ele age como se você não existisse, ou como você fosse um rival.
-- Vai ver ele desconfia... - olhou pela janela a chuva que começava a cair - De alguma forma ele já deve saber... - colocou a mão na coxa da morena – Mel, ele sempre nos pega juntas.
-- Qualquer pessoa nos veria sempre juntas desde nossa adolescência. - colocou a mão por cima da menor que permanecia apoiada em sua coxa.
-- Estava insegura... – pensou alto
-- Não precisa se sentir insegura, eu amo você Isadora, e apenas você desperta os meus desejos. – beijou a mão menor.
-- Não gosto dele. – disse baixinho. Respirou fundo soltando depois de uma vez a respiração - Acredita em energias que não se batem?
-- Tipo "não vou com sua cara" ou "nossa fuça não se bate"? - usou um tom zombeteiro e beijou novamente a mão que estava em sua coxa.
-- Acho que os dois tipos. - sorriu - No final eles possuem o mesmo significado.
-- Então eu acredito, acho que muita gente... – pensou e se corrigiu - Uma grande parte da população mundial sente-se assim comigo. - as duas caíram em gargalhadas.
-- Mel, é sério - afirmou sorrindo.
-- Também é séria e verdadeira minha constatação sobre o amor que as pessoas sentem por mim. – fez uma careta.
-- Não discuto com vossa sapiência. - permanecia sorrindo.
-- Ei, essa é a parte que você fala: "não querida, as pessoas que pensam assim não lhe conhecem bem". - olhou para a loirinha novamente e com uma careta que se desfez em um sorriso cheio de cinismo - Depois você me afaga e enche meu ego.
-- Vai pensando... - sorriu - Não sou previsível assim.
-- Acredite amor, você é. - recebeu um beliscão na barriga - Au! Isso doeu sua psicopata de barrigas.
-- Querida, estou falando sério, nossa energia não bate... - ficou pensativa por alguns segundos - Como se fosse uma premonição, uma prévia do que poderá acontecer a qualquer momento.
-- Nem fala nisso porque agora vamos passar perto de Congonhas. - quis brincar com a situação. Melissa pretendia chegar bem ao ponto que incomodava Isadora, e não obteve muito sucesso. – Lembra-se do filme?
-- Melissa, o avião explode no ar... - enfiou o indicador na cintura da morena - Assim que levanta voo, ainda sobre a pista, e não na rua sua espertinha. - outro beliscão.
-- Au! Ai! - tentou encolher seu corpo contra a porta - Minha lutadora de MMA. – fez uma careta.
-- Hum, acho que você entendeu meu alvo. - constatou que a morena pretendia pescar além dos seus pensamentos e não havia obtido o resultado desejado.
– Os sobreviventes são perseguidos pela morte, que não os deixa cancelar o bilhete de ida para casa de Hades.
-- Quantas vezes você assistiu a este filme? – sorriu com a pergunta.
-- Muitas vezes, ele é um clássico. – fez uma risada de terror.
-- Boba. – alisou o braço da morena.
-- Isadora, eu tenho certeza que Joaquim sabe sobre nós, e não me surpreenderia em descobrir que aquela caixa foi coisa dele, com meu avô. – a loira não tinha o que falar, apenas observou e pensou sobre a conversa.
Fim do capítulo
Meninas, desculpem a demora, mas vamos retomar os capítulos e superar o atraso. Beijos e boa semana!
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