Capítulo 63.

 

Érika seguiu o rapaz até o carro dele. Logo reconheceu a moça que estava encostada no veículo. 

 

-- Não me diga que você também é uma traíra? - a médica falou irônica. 

 

-- Oi Érika... Sou não... Ele disse que tinha algo importante pra dizer. Imaginei que pudesse ajudar a Luiza e não pensei duas vezes e aqui estou. 

 

-- Certo, Karina. 

 

-- Entrem! - Fernando. 

 

As duas fizerem o que ele disse. Karina ia no banco de trás e Érika estava sentada no banco do carona, algumas vezes olhava na direção de Fernando, que estava bem diferente da última vez que havia o visto, seu cabelo dava na orelha e sua barba estava por fazer, parecia um cara comum no meio de tantos outros. Nada foi dito. Fernando não demorou a entrar num condomínio simples um pouco longe do centro da cidade. Entraram no apartamento em total silêncio. Ele tentou oferecer algo a elas, mas nem uma aceitou. 

 

-- Seja objetivo, Fernando! - Érika disse seca. 

 

O jovem suspirou. 

 

-- Ok, serei... Vocês duas foram as mais próximas de Daniela... Eu poderia não me meter nisso, poderia estar curtindo minha vida e tudo o que o dinheiro pode me dar, mas algo mais forte me trouxe aqui hoje, não sei explicar. Eu realmente não sei onde a Daniela está, mas pensei que vocês duas pudessem me ajudar a descobrir. 

 

-- Se eu soubesse onde ela está, já teria ido lá há muito tempo - Érika irônica. 

 

-- Guarde esse seu jeito ácido, maninha - debochou. 

 

Érika ficou séria. Fernando sorriu para ela.

 

-- Como podemos ajudar, Fernando? – Karina.

 

Ele encarou a loira. 

 

-- Seguinte... Daniela ficou furiosa comigo quando não aceitei ajudá-la... Me xingou muito, mas eu realmente não estava mais disposto a mexer no passado. Provavelmente ela está sendo ajudada pelo André. Ele é tão maluco quanto ela. Escutei eles conversando certo dia por telefone. 

 

Érika e Karina escutavam atentamente o que o jovem dizia. 

 

-- A Daniela falou sobre uma cabana... Ela disse que quando era mais nova ia lá para relaxar e... 

 

-- Aproveitar o momento... - sussurrou Érika. 

 

Fernando a encarou. 

 

-- Sim, Você sabe onde fica? 

 

-- Sim, eu sei... A gente sempre ia lá para relaxar, se divertir, esquecer algumas coisas... Aproveitar cada segundo daquele lugar... 

 

-- Pelo visto fica na nossa cidade - comentou o rapaz. 

 

-- Sim. 

 

-- Ótimo! Já sabemos onde ela está! 

 

-- Precisamos avisar a polícia! - a médica falou tensa. 

 

-- Não! 

 

-- Por que não, Fernando? 

 

-- A polícia não costuma ser tão discreta. A Daniela estava disposta a tudo. Ela não se importa com a própria vida, ela só quer se vingar. Se ela sequer suspeitar que a acharam, não pensará duas vezes em apertar o gatilho e matar a Ana Luiza. 

 

-- Meu Deus! O que faremos? – Karina nervosa.

 

-- Eu irei resgatá-la! Não tenho medo da Daniela! - Fernando falou decidido. 

 

-- Vou com você! - Érika disse  firme. 

 

-- Também vou! - Karina. 

 

Fernando observou as duas loiras. 

 

-- Não posso arriscar a vida de vocês. 

 

-- Eu vou de qualquer jeito, Fernando - Érika estava decidida.

 

-- Ok, irei precisar de ajuda mesmo, mas se tudo se complicar vocês fogem, entenderam? 

 

As duas concordaram balançando a cabeça. Fernando fez umas ligações e conseguiu um jatinho para levá-los a pequena cidade. 

 

-- Sairemos dentro de duas horas. Eu não quero que vocês comentem nada disso com ninguém – alertou.

 

-- Mas eu tenho que avisar as meninas - disse a médica.

 

-- No momento certo você fará isso. Sei o quanto mulheres são meio loucas e nervosas, vão fazer alguma besteira!

 

-- Mas elas estão preocupadas! – disse a loira angustiada.

 

-- Não faça isso... Quer colocar a vida de alguma delas em perigo também? – Fernando apelou.

 

Érika abaixou a cabeça. 

 

-- Você tem razão... - a loira pegou o celular - Preciso inventar algo pra Bia - disse se afastando e indo em direção a varando. 

 

A loira falou com Bia por alguns minutos. Disse que precisava virar a noite no hospital e assim que tivesse tempo entraria em contato. Sentia-se mal por mentir para a mulher, mas sabia que Beatriz teria uma síncope se soubesse de qualquer coisa e tentaria impedi-la de ir. só queria proteger a todas. Foi o melhor a se fazer. 

 

Érika aproximou-se de Fernando que fechava uma maleta. 

 

-- O que tem aí? 

 

-- Armas! - respondeu simplesmente. 

 

A loira sentiu um arrepio. 

 

-- Irei precisar delas - completou o jovem. 

 

Fernando pegou uma pequena maleta de primeiro socorros.

 

-- Pode ter certeza que vamos precisar - disse entregando a Érika. 

 

-- Acha que a Luiza ainda tá viva? - perguntou hesitante. 

 

-- Provavelmente... Se não a Daniela já tinha dado algum sinal de vida - colou uma mochila nas costas e pegou a maleta com as armas - Prontas? 

 

-- Sim - responderam juntas. 

 

Os três seguiram em direção ao jatinho que já esperava por eles. Durante todo o caminho ninguém ousou dizer nada. Todos estavam ocupados em seu próprio pensamento. 

 

******

 

-- O que você vai fazer? - André perguntou observando a morena. 

 

-- Brincar um pouquinho - sorriu sádica. 

 

-- Sabe que amanhã temos que acabar com isso. 

 

-- Sei sim, mas antes quero me divertir mais um pouco - disse pegando um copo com água e andando em direção ao quarto onde Luiza estava. 

 

Daniela observou a médica que dormia. Aproximou-se dela. Havia várias marcas de sangue pelo chão. A morena virou o copo cheio de água sobre a cabeça de Luiza, que despertou assustada. 

 

-- Aqui não é lugar para você ficar dormindo! 

 

Luiza sentia sede... Muita sede. Mal conseguia se manter acordada. 

 

-- Vamos dar um presentinho de despedida para sua amada - debochou a morena sacando o celular - Sorria minha querida. 

 

A luz do flash incomodou bastante Luiza. Que estava voltando a perder os sentidos. 

 

-- Aproveite - sussurrou a morena -  Amanhã será o grande dia. 

 

Daniela saiu do quarto voltando para a sala. Sentou-se na poltrona e analisou a foto que tinha tirado de Luiza. Sorriu e decidiu enviar para Rebecca. 

 

-- Quero só ver a sua reação... Senhorita perfeição... 

 

André apenas observava, não disse nada. 

 

*****

 

-- Que cara é essa, Bia? - Carol perguntou a encarando. 

 

-- Nada... É só a Érika que vai virar a noite no hospital. 

 

-- Normal, ofícios de ser médica. 

 

Rebecca estava com os olhos fixos para o nada. Seus pensamentos distantes. 

 

-- Ei ruivis, você quer comer alguma coisa? 

 

-- Estou sem fome. 

 

Carol aproximou-se da empresária. 

 

-- Você precisa se alimentar... Pode ficar doente assim. 

 

-- Não me importo!

 

-- Você precisa se importa sim! Tem a Emily, e a Luiza ficaria muito triste com você. 

 

Rebecca fez uma careta. 

 

-- Não apela. 

 

-- Apelo sim. 

 

-- Ok, Carol. Quero algo leve. 

 

As jovens decidiram jantar sopa, menos Carol que se recusava a comer algo do tipo. A jornalista preferiu comer cereal. Tentavam evitar falar sobre o que estava acontecendo para não perderem o apetite. 

 

Carol conversava com Vick. Bia estava quase dormindo no sofá. Rebecca observava a TV, mas não escutava nada. A ruiva sentiu o celular vibrar. Já passava das duas da manhã. Pegou o celular ansiosa. Vick, Carol é  Bia ficarem atentas. 

 

-- O que é? - Carol perguntou aflita. 

 

-- Uma mensagem - disse sem tirar os olhos do celular.

 

Bia se aproximou. 

 

-- Deixa eu ver primeiro, ruiva. 

 

-- Não! - Rebecca falou ficando de pé - Eu vejo. 

 

A ruiva mesmo hesitante abriu a mensagem. O choque foi imediato, seu celular foi ao chão e se Bia não estivesse perto, Rebecca teria desabado. Carol e Vick ficaram assustadas. Bia conseguiu deitar a ruiva no sofá com a ajuda de Carol. A jovem pegou o celular para ver a mensagem, ficou pálida. 

 

-- O que tem nessa mensagem, Bia?! - Carol falou nervosa. 

 

-- Acho melhor vocês não verem isso - sussurrou. 

 

-- Por que não? 

 

-- É uma foto, Carol. 

 

-- Da Luiza? - disse assustada. 

 

-- Sim... 

 

-- Deixa eu ver... 

 

Carol tomou o celular de Bia que tentou pegar de volta, mas a baixinha era mais rápida. Carol abriu a mensagem. 

 

-- Meus Deus... - sussurrou dolorosa - Meu Deus... 

 

A jornalista não conseguiu segurar o choro.  Vick ficou bastante preocupada. Carol estava descontrolada. A pediatra pensou em aplicar calmantes na jovem, mas Carol recusou imediatamente. Aos poucos foi ficando mais calma, mas seu olhar estava perdido em algum canto. Victoria tentava consolá-la, mas estava sendo difícil. 

 

Bia olhava pela janela e tentava distrair a mente. Victoria se aproximou dela.

 

-- O que tinha na imagem? 

 

Bia suspirou. 

 

-- A Luiza... Ela estava com o resto irreconhecível... É horrível, você nem imagina. Ela deve estar sofrendo muito...

 

-- Por isso as duas ficaram daquele jeito... – disse pensativa.

 

-- Como elas estão? 

 

-- Carol tá melhor, mas parece em choque... A Rebecca... Eu tive que aplicar um forte calmante... Ela vai dormir por algumas horas, mas sinceramente? Estou muito angustiada com tudo isso – confessou.

 

-- Eu também estou... Aquela imagem... É desumano. 

 

-- A Daniela fez isso para atingir a Rebecca. 

 

-- E ela não apenas conseguiu atingir a ruiva como a todos nós! 

 

-- Sim. 

 

-- Será que esse inferno nunca vai ter fim? – Bia perguntou angustiada.

 

--  Eu não me importo que demore, mas que seja o melhor possível.

 

-- Sim, Vick... Você tem razão. 

 

As duas não disseram mais nada. Victoria voltou para perto de Carol, que se deitou em seu colo. A médica fez cafuné na jovem. Bia decidiu se deitar um pouco e mesmo com alguns pensamentos feios, acabou apagando um tempo depois. 

 

******

 

Passava das nove da manhã quando Luiza foi acordada de forma brusca, sendo segurada pela camisa. 

 

-- Vamos dar uma voltinha, minha querida - Daniela falou debochada. 

 

Luiza não conseguia fica de pé, André teve que carregá-la até onde Daniela queria. 

 

-- O que vai fazer? 

 

-- Não é da sua conta! - a morena respondeu ríspida. 

 

-- Não mesmo, dando toda a minha grana o resto que se foda! 

 

Andaram por alguns minutos na mata fechada. 

 

-- Pode deixá-la aí. 

 

André jogou Luiza no chão sem nenhuma delicadeza. A médica gem*u de dor. 

 

-- Agora você pode ir, André. 

 

-- Ok - se afastou. 

 

-- Então Luiza... Tá sentindo esse cheirinho de mato... Gostoso né? 

 

Luiza não disse nada. 

 

-- Poxa, não consegue falar... Mas eu nem cortei sua língua ainda - disse pegando uma faca - Não te feri mais profundamente porque não queria que você morresse rápido, mas agora isso pouco importa. 

 

A médica permanecia no chão. Daniela olhava seu reflexo na faca brilhante. 

 

-- Eu e a Érika sempre vínhamos aqui para caçar, era muito bom essa época... Tão relaxante - suspirou - Mas ela decidiu deixar de ser minha amiga! Aquela filha da puta! Você sabe a verdadeira história dela, dos pais dela? Pois é... Fiquei sabendo há um tempo atrás, mas deixa isso pra lá... Vamos brincar! Caça ou caçador! Você precisa tentar fugir de mim para se salvar... Está livre! Pode ir pra onde quiser, mas não deixe eu te pegar, pois terei um prazer enorme em matá-la. Óbvio que não será tão fácil assim né - Daniela enfiou a faca na barriga de Luiza, que gem*u alto - Quero ver se você consegue sair viva dessa! 

 

Daniela tirou a faca sem cuidado nenhum, causando uma grande dor em Luiza. 

 

-- Vamos lá, minha querida... Tente fugir - zombou - Quero mais é que você morra! - disse cuspindo na jovem - Vou te deixar sozinha um pouquinho... Tente não morrer, não quero perder essa cena - falou se afastando. 

 

Daniela parou em alguns lugares, relembrando o passado junto com Érika. Sentia falta daquilo. Decidiu voltar para a cabana e depois acabaria com tudo. 

 

******

 

-- Parem de me sedar! - Rebecca estava irritada. 

 

-- Mas a gente só está tentando ajudar - Vick tentava argumentar. 

 

-- Não adianta! Isso não diminuiu em nada minha dor! – disse com os olhos vermelhos.

 

-- Calma, Rebecca - Bia interveio. 

 

-- Desculpa, mas eu não consigo ficar calma! Juro que quando eu pegar a Daniela... Eu vou matá-la e que se foda a lei! 

 

Vick e Bia ficaram espantadas. Rebecca não conseguia ficar quieta, se sentia presa e sufocada. 

 

-- Eu quero ver a foto novamente. 

 

As três escutaram a voz da baixinha. Que se aproximou delas. 

 

-- Deixa eu ver a foto -  estendeu a mão olhando para Bia. 

 

-- Acho melhor não - Beatriz falou hesitante. 

 

-- Nada do que eu vi será diferente - disse séria. 

 

-- Carol não é uma boa ideia - Vick. 

 

-- Deixa eu ver logo isso, Bia! 

 

Bia entregou o celular da ruiva para ela. Carol se afastou e sentou no sofá. As jovens se aproximaram dela. 

 

-- Vick olha isso... 

 

-- Ai Carol não quero ver não - disse nervosa. 

 

-- Não é nada demais... Só olha. 

 

Victoria encarou a imagem no celular. Apertou os olhos. 

 

-- Você lembra dessa janela? - Carol. 

 

Arregalou os olhos. 

 

-- Não pode ser. 

 

-- Sim, pode! Seria um lugar interessante para servir de cativeiro. 

 

-- Do que vocês estão falando? - a ruiva perguntou tensa. 

 

-- Se não estivermos enganadas acabamos de descobrir onde a Luiza pode estar.

 

Rebecca ficou surpresa e um brilho de esperança surgiu em seu olhar. 

 

-- Vamos! Temos que ser rápidas. Ruiva, você consegue arrumar um jatinho pra gente ir para "passos"? - Carol. 

 

-- Na terra de vocês? 

 

-- Sim! Temos que avisar a polícia de lá e vocês resolvem isso do avião. 

 

Rebecca era prática com o poder que tinha conseguiu um jatinho rapidamente, estariam na pequena cidade em  duas horas. A ruiva estava muito nervosa. Carol ligou para a polícia e rapidamente eles seguiram para o local indicado. 

 

-- Desculpa, mas como vocês sabem dessa tal cabana? - Bia. 

 

-- A Érika e a Daniela muitas vezes iam para lá... Caçavam e bebiam, um dia eu e a Vick a seguimos, por isso nós sabemos da cabana - Carol. 

 

-- Só de pensar que minha mulher já foi tão amiga desse monstro. 

 

-- As vezes o passado é horrível mesmo -  Vick. 

 

-- Cada um tem uma parte meio ridícula do passado - comentou Carol. 

 

-- Tudo que eu quero é que a Luzia esteja viva - sussurrou a ruiva. 

 

-- Ela está! - Carol falou firme - Eu sinto isso.

 

Rebecca conseguiu sorrir pela primeira em vez após dias. 

 

******

 

-- Eu não entendo porque a gente teve que esperar todo esse tempo para agir, Fernando! - Érika falou revoltada. 

 

-- Parece que você não conhece a Daniela né... Ela é astuta... Tá sempre um passo a nossa frente... Você sabe disso melhor que ninguém, a melhor amiga dela era você! - o jovem falou atento na entrada de terra. 

 

Érika bufou. Fernando tinha razão. Sentia náuseas quando lembrava que tinha sido melhor amiga daquela infeliz. Karina escutava tudo em silêncio. Não falaram mais nada. Érika só avisou quando eles chegaram. Estavam a alguns metros de distância da cabana. Não queriam chamar atenção com o barulho do carro. Fernando observou as duas meninas. 

 

-- Tudo que fizermos agora será arriscado. Eu vou lá... Qualquer coisa chamo vocês. 

 

-- Não! Eu vou com você! - Érika falou decidida. 

 

-- É muito perigoso, Érika! 

 

-- Não me importo! Eu vim aqui pra fazer alguma coisa e não pra ficar sentada. 

 

Fernando bufou. 

 

-- Ok, mas fica atrás de mim o tempo todo. Você tenta procurar a Luiza e eu distraio eles... Se tu ver que as coisas vão ficar complicadas, tu foge. 

 

-- Ok, Fernando. 

 

O rapaz encarou a loira que estava no banco de trás. 

 

-- Karina, seja corajosa - entregou a chave para ela - Daremos o sinal... Você é a motorista a partir de agora. 

 

-- Ok - falou nervosa.

 

-- Coragem - disse antes de sair do carro, sendo seguido por Érika - Agora é com a gente... Me leve até eles!

 

Érika concordou e correu na frente, Fernando vinha logo atrás. Pararam assim que enxergaram a cabana. Fernando colocou o dedo sobre os lábios. 

 

-- Tenta não fazer barulho - sussurrou. 

 

A loira concordou balançando a cabeça. Seguiram lentamente em direção a cabana. Érika atrás de Fernando. O jovem observou qualquer movimento, percebeu que não havia ninguém, decidiu entrar. Lentamente. Fernando segurava a arma firmemente, seus olhos atentos. Estavam caminhando em direção aos quartos, quando a porta foi aberta e André entrou e rapidamente avistou os dois, tentou sacar a arma, mas Fernando foi rápido e partiu para cima dele, não queria usar a armar, para não fazer barulho. Os dois travaram uma luta corporal. Érika ficou parada observando tudo. 

 

-- Érika vai procurar a Luiza! - Fernando falou em meio a luta. 

 

A loira correu em direção aos quartos. Não havia nada, mas percebeu que Luiza esteve ali antes, as marcas de sangue não enganavam. Ficou nervosa, dava para escutar o barulho que os dois faziam na sala. A médica correu em direção a cozinha e olhou em volta, nada. Escutou o som da arma sendo disparada, se assustou. 

 

Daniela estava voltando para a cabana, quando ouviu o som do tiro. Seu sexto sentido a alertou imediatamente e a morena voltou para o meio da mata correndo.

 

Não conseguiu ser tão rápida, pois Érika a enxergou pela janela da cozinha. A loirinha não se importou com nada e correu atrás de sua ex amiga. 

 

Daniela correu rapidamente e sacou sua arma. 

 

-- Merda! Esses malditos! 

 

Rapidamente chegou no lugar onde havia deixado Luiza.

 

-- Que merd*! Cadê essa vadia?!

 

Luiza havia juntado a pouca força que tinha e arrastou-se em direção a uma enorme árvore. Sentia dores intensas. Estava quase desfalecendo. Havia perdido muito sangue e ainda tinha o ferimento profundo na barriga. Suas forças estavam chegando ao fim, estava morrendo e sabia disso. 

 

Daniela seguiu as marcas que Luiza deixou pelo chão e a encontrou sobre a árvore. 

 

-- Olha só... Não sabia que você ainda teria força pra chegar aqui... Só voltei pra te dizer... Chegou a tua hora... Posso me foder toda, mas antes eu preciso ter certeza que acabei com sua vida! Te odeio, Ana Luiza! 

 

Luiza conseguiu abrir os olhos. Daniela sorriu e apontou a arma para ela. 

 

-- Diga Luiza... Quais suas últimas palavras.. Tô sendo amorzinho agora. 

 

A médica mesmo com a visão embaçada conseguiu enxergar a loira atrás de Daniela. 

 

-- Éri... Ka... - sussurrou sem forças. 

 

-- Érika? - disse sem entender - Mas... 

 

Não teve tempo de questionar. Érika avançou em cima dela e as duas foram ao chão. Érika ficou por cima e conseguiu acerta muito socos no rosto da morena. Daniela tentava se soltar, mas Érika estava com uma força gigante. 

 

-- Sua vagabunda! Cretina! Isso é por todas as pessoas que vocês fez mal! Por mim! - um soco! - Pela Luiza! - soco - pela sua mãe! - soco - pela Emily! - Pela Rebecca! - soco - e até mesmo pelo Fernando e por todos os outros - vários socos. 

 

Daniela usou toda a força que tinha e conseguiu escapar de Érika a empurrando com toda a força, se arrastou em direção a arma e quando Érika já se preparava para ir para cima dela novamente. Daniela apontou a arma em sua direção. 

 

-- Nem ouse chegar perto! - a morena falou limpando a boca. 

 

Érika não se importou e caminhou em direção  a Luiza. 

 

-- Luiza... Fala comigo... Diz que ainda tá viva... Por favor... - a loira percebeu o ferimento sobre a barriga da prima, seus olhos ficaram úmidos, afastou a mão da médica e viu que era um ferimento grave - Não morre, por favor...

 

Daniela levantou e observou as duas. 

 

-- Que lindo esse casalzinho - irônica. 

 

-- Você é um monstro! - Érika gritou. 

 

-- Você ainda não viu nada. 

 

-- Você merece a pior morte possível. Eu te odeio!

 

-- Bom, nesse momento as únicas que vão morrer são vocês duas.

 

-- Não tenho medo de você! 

 

-- Pois deveria ter! - gritou. 

 

-- Faça-me rir - a loira falou irônica. 

 

-- Não brinca comigo... - disse entre dentes - Você a ama tanto - encarou Luiza - Então farei o favor de matar vocês duas, quem sabe você não consegue conquista-la no além... Já que a Rebecca não estará lá.

 

Érika se pôs na frente de Luiza. 

 

-- Não me importo com suas palavras, Daniela. Se eu pudesse voltar no tempo eu nunca teria sido tua amiga! Eu nunca teria dado a ideia de você ficar com a Rebecca! – disse chorando.

 

-- O arrependimento te corrói né?

 

-- Você não imagina o quanto! Todos os dias da minha vida! Eu me sinto culpada! Me sinto um monstro! Eu era tão infantil... Não imaginei que essa história poderia chegar a esse ponto!

 

-- Poderia ter sido tudo diferente, Érika - cuspiu o sangue que acumulou na boca - Se você tivesse aceitado separá-las... Nós poderíamos ainda ser amigas. Você estaria feliz ao lado da Luiza e eu com a Rebecca. 

 

-- Eu nunca seria feliz dessa maneira! Nunca... Você não entende...

 

-- Claro que seria! Você é feliz com a idiota da Bia? 

 

-- Não fala dela assim! - disse revoltada. 

 

-- Fica calminha - debochou. 

 

-- Eu sou muito feliz com a Bia... Eu a amo! Muito!

 

-- Então você superou a Luiza? 

 

Érika encarou a prima e depois a ex amiga. 

 

-- Completamente... Hoje eu a enxergo apenas como amiga e prima.

 

-- Então por quê você está aqui hoje?

 

-- Porque eu precisava me redimir de alguma maneira. Afina, a culpa disso tudo é minha.

 

-- Não acredito em você! 

 

-- Não me importo!

 

-- Chega dessa conversa ridícula. Quais suas últimas palavras?

 

-- Espero que você se foda! 

 

-- Que palavras mais lindas... Até emocionei - disse destravando a arma - Boa sorte no inferno. 

 

Quando Daniela pensou em puxar o gatilho foi fortemente jogada ao chão. A arma disparou, mas o tiro foi para cima. Érika abriu os olhos que havia fechado e viu Fernando em cima da morena. 

 

-- Seu filho da puta! O que pensa que tá fazendo?! Inútil - a jovem estava completamente imobilizada. 

 

-- Daniela... Dorme um pouco - Fernando acertou com a arma na cabeça da morena que desmaiou.

 

O jovem se levantou e observou a irmã e a prima. 

 

-- Tá tudo bem Érika? - perguntou preocupado. 

 

-- Sim... 

 

-- Desculpa a demora, mas aquele desgraçado deu trabalho - disse se aproximando de Luiza e a carregando - Vamos temos que ser rápidos!

 

Érika correu na frente para avisar Karina. Fernando veio atrás segurando firmemente Luiza, que havia desfalecido. 

 

Érika chegou na estrada e chamou Karina, que ficou aliviada em vê-la. A loirinha estava morrendo de medo, pois tinha escutado os disparos. 

 

Fernando não demorou a chegar com Luiza no colo. Karina ficou assustada com o estado da médica. O jovem colocou Luiza no banco de trás do carro. 

 

-- Vão! Vocês tem ir o mais rápido possível! 

 

-- Mas e você? - Érika perguntou. 

 

-- Eu não posso, Érika... Tenho que acabar com isso. 

 

-- Fernando as coisas podem ser diferentes... Você pode se tratar... Tentar ser alguém melhor - os olhos da loira ficaram úmidos. 

 

-- Não posso, Érika... Infelizmente estou condenado. 

 

-- Não diz isso - falou chorando. 

 

Fernando a abraçou apertado. 

 

-- Doce Alice... Que um dia você encontre o seu país das maravilhas - disse se afastando - Seja feliz minha irmã...

 

Fernando correu de volta para a mata. Uma tempestade se anunciava. Érika entrou no carro e ficou junto de Luiza. 

 

-- Dirigi o mais rápido que você conseguir, Karina!

 

A moça balançou a cabeça e acelerou. O caminho era longo e a estrada não muito boa e piorou quando começou a chover forte. Érika tirou a blusa, ficando apenas de regata e pressionou sobre o ferimento de Luiza, que estava ardendo em febre. 

 

-- Vamos lá, Lu... Seja forte, lute! Não se entregue... Muitas pessoas precisam de você... Não é sua hora... Fica com a gente... - Érika sussurrava. 

 

Karina entrou na cidade e foi desviando de todos os carros possíveis, praticamente invadiu o hospital. 

 

-- Socorro tem uma moça muito ferida aqui! - gritou saindo do veículo. 

 

Não demorou para alguns enfermeiros se aproximarem entre eles estava Letícia, que se assustou com o estado da prima. Luiza foi colocada numa maca e levada as pressas. Érika tentou segui-la, mas foi impedida. 

 

-- Érika fica aqui e mantenha a calma... Você - Letícia falou encarando Karina - Cuida dela! Preciso operá-la. 

 

A médica sumiu hospital a dentro. Karina abraçou a loira que chorou bastante. Chorou por Luiza, Fernando e por tudo que tinha acontecido. 

 

*******

 

-- Como assim vocês não podem ir até a cabana? - Rebecca estava indignada. 

 

-- Senhora, está chovendo muito... A estrada fica bastante perigosa, temos que esperar o tempo melhorar. 

 

-- Acontece que tempo é uma coisa que a Luiza não tem! - disse descontrolada. 

 

Estavam na delegacia da cidade, haviam chegado há pouco tempo e ficaram sabendo que as buscas ainda não tinham começado. 

 

-- Você são um bando de... 

 

Bia afastou a ruiva de perto do policial. 

 

-- Rebecca isso não é hora de ser presa. 

 

-- É um absurdo isso tudo, Bia! Eu vou lá sozinha e que se dane! 

 

-- Vou com você, ruiva!

 

Carol falou decidida. 

 

-- Você não vai a lugar algum! - Pedro disse sério.

 

-- Mas pai... 

 

-- Não quero saber de mais uma vida em perigo! Pelo que eu sei, Daniela é uma mulher perigosa... Se vocês forem lá, não farão nada! Não deixarei mais ninguém se machucar nessa história! 

 

-- Mas pai... 

 

-- Ana Carolina! 

 

A baixinha bufou. 

 

-- Eu devia ter trago algum segurança... Nem pensei nisso, estava tão atordoada - a ruiva falou triste. 

 

-- Não se culpe minha filha... Nada disse é sua culpa - Rosana tentou consolar a menina. 

 

O celular de Victoria começou a tocar. 

 

-- Alô. 

 

-- Vick é a Karina. 

 

-- Oi Karina... Tudo bem? 

 

-- Vick, eu preciso que vocês venham para "passos". 

 

A pediatra estranhou. 

 

-- Para passos? 

 

-- Sim... A Luiza entrou na sala de cirurgia nesse momento. 

 

-- Ela está no hospital?! - falou alterada. 

 

-- Sim. 

 

-- Como? 

 

-- Longa história, quando vocês chegarem eu conto. 

 

-- Estamos na cidade e estamos indo. 

 

-- Ok, tchau. 

 

-- Tchau. 

 

Todos olhavam para Vick com uma interrogação. 

 

-- A Karina ligou e disse que a Luiza entrou na sala de cirurgia, vão operá-la, ela está no hospital, temos que ir para lá. 

 

-- Como a Karina sabe disso? - Bia. 

 

-- Não sei... Temos que perguntar para ela. 

 

-- Vamos logo! - Rebecca falou nervosa. Seu coração batia como um louco no peito. Pedia aos céus para que Luiza ficasse bem. Sentia um alívio por saber que sua amada não estava mais nas mãos de Daniela. Tudo que mais queria naquele momento era vê-la. 

 

******

 

Daniela sentiu os pingos da chuva molharem seu rosto. Abriu os olhos lentamente, sentia uma forte dor na cabeça. Sentou-se e percebeu que estava sendo observada. 

 

-- Seu lixo, olha o que você fez! - disse alterada sentindo a cabeça - Aiii que desgraça! Vai ficar me olhando com essa cara de retardado mesmo? 

 

Fernando se aproximou dela, que percebeu a arma em sua mão. A chuva estava forte. 

 

-- Lembra do nosso pacto? Pois é... Acho que chegou a hora de por um fim nele... 

 

Daniela percebeu que Fernando não estava em seu estado normal, parecia outra pessoa. 

 

-- Fernando para com isso... 

 

-- Eu vou te matar, Daniela... - disse friamente. 

 

-- Que merd*! - a morena tentou correr, mas sentiu o tiro em sua perna, desabou - Seu filho da puta! Maldito! 

 

Fernando aproximou-se rapidamente dela e encostou o cano do revólver em seu rosto. Daniela gem*u de dor. 

 

-- Mas antes de eu te matar... Vamos brincar um pouquinho... Sei que você adora esse joguinho - Fernando disse tirando uma faca que tinha em sua bota. 

 

Fez vários cortes por todo o corpo da morena. Arrancou sua roupa a deixando completamente nua. Daniela tentava se desvincular, mas Fernando era forte demais. Ele a arrastou pelos cabelos em direção a cabana, arrancando vários fios castanhos. Daniela gritava desesperada, mas quanto mais ela gritava, mais prazer Fernando sentia. Entrou na cabana e pegou uma garrafa de vinagre, jogou em todo corpo da morena, que estava todo ferido. Daniela gritava e chorava. 

 

-- Eu só não te estupro porque é capaz de você sentir prazer, sua vadia! Vamos ver o que nós temos por aqui.

 

Fernando vasculhou a cabana e acabou achando um maçarico. Sorriu maquiavélico. 

 

Os gritos de Daniela poderiam ser ouvidos de muito longe. Fernando fez um estrago nela. O cheiro de carne queimada estava forte naquela cabana. Daniela não tinha mais forças para lutar, já havia desistido. 

 

Fernando largou o maçarico e chorou compulsivamente. 

 

-- Eu não aguento mais essas vozes em minha cabeça dizendo que tenho que fazer coisas ruins! Eu queria conseguir controlar - ficou por cima de Daniela que respirava com dificuldade - Eu não aguento mais enxergá-las! - disse olhando em volta. 

 

Várias mulheres rodeavam os dois e encaravam apenas Fernando. Mulheres que ele havia feito muito mal no passado. 

 

-- Esse pesadelo não tem fim! Vamos acabar com isso! - destravou a arma e encostou na cabeça de Daniela – Estou dando a paz que as meninas tanto precisam. Você nunca mais irá perturbá-las!

 

A morena não tinha mais nenhuma resistência. 

 

-- Te encontro no inferno, Daniela! - disse dando um selinho nela e apertando o gatilho. 

 

Fernando ficou um tempo encarando o corpo sem vida de sua cúmplice. Suspirou. Colocou a arma na boca.

 

"perdão a todos, desculpa por tudo"

 

O som do disparo preencheu todo aquele lugar. Depois o silêncio voltou a reinar. Apenas os sons dos pássaros eram ouvidos. Fernando caiu sem vida por cima do corpo de sua eterna amante. O pacto de anos, havia sido rompido. Agora o que restava eram apenas dois corpos sem vidas. Fernando o quebrou, tentando dar a paz a ele e também a sua família. O menino que passou a vida inteira fazendo coisas erradas, finalmente decidiu fazer a coisa certa, infelizmente um pouco tarde para ele se redimir.

 

Daniela entretanto, nunca fez algo de bom. Talvez sua alma não tivesse a tão esperada salvação, pois não houve por o único segundo, um único sinal de arrependimento. Em seu coração não existia sentimentos bons, era a mais profunda escuridão. 

 

A tempestade passou e o céu voltou a ficar azul. Tudo era a mais profunda tranquilidade. A pior parte já havia passado. 

 

******

 

-- Vamos, Lu! Vamos , Lu... Resiste! Sei que você é forte! - Letícia falava com a prima como se ela pudesse ouvi-la. 

 

Luiza dormia o mais profundo dos sonos, não sentia mais nada. Estava em um lugar desconhecido. Será que havia morrido? Não sabia, realmente não sabia. Não conseguia abrir os olhos por mais que tentasse. 

 

-- Doutora estamos a perdendo! 

 

-- Não! Vamos Luiza! Seja forte! 

 

Os batimentos ficando cada vez mais fraco. 

 

-- Que droga! Não desiste, Luiza! 

 

Ana Luiza conseguiu mexer o seu corpo e finalmente conseguiu abrir os olhos verdes cheio de luz.

 

 

Fim do capítulo