Mari estava com ares de riso, como se fosse dona da situação o pior de tudo é que era. Como argumentar algo que você não tem nem ideia que aconteceu.

-Bom deixa eu ir que Felipe e Carine devem estar preocupados. Bernardo preciso tomar um banho! - meu amigo mostra a porta do banheiro a ela. Se levanta indo direto para a porta indicada mas antes de entrar tira a blusa que usava ficando apenas de duas peças, meus olhos não conseguiam se desviar daquele corpo, ela se vira olhando diretamente pra mim-olha bem, pois é a única coisa que vai fazer! - entra no banheiro sem comentar mais nada.

Minha cabeça dava mil voltas naquela noite e nada de lembrar dos acontecimentos. Estava tão distraída que quase não escuto a voz que me chamava insistentemente.

-buongiorno, um quarto por favor! - quando vejo de quem se tratava quase caiu pra trás, minha aflição se tornou maior quando vejo a Guia chegando.

-o que essa mulher está fazendo aqui?

A tal Pietra olha Mari como quem não se lembrar de quem se tratava, vira novamente em minha direção. Acho que só agora me reconhecendo.

-hola mia belle, você sumiu na boate!

Eu olhava da italiana para Mari, que estava bufando de raiva. Nunca imaginei viver uma situação daquela, ainda por cima ali na Ilha onde as únicas pessoas que sabiam de minha Bissexu*l*idade eram Bernardo e agora Mari. Estava sem saber o que fazer com as duas mulheres a minha frente.

-não me diz que trabalhas aqui? - balanço a cabeça em afirmativo, tenho a certeza que se me atrevesse a falar algo minha voz falharia- você é ainda mais bela a luz do dia.

-o que você quer? Amália não é para seu bico!

-ela é sua namorada? - pergunta Pietra para a guia que parecia ficar mais vermelha a cada palavra da italiana.

-eu não tenho namorada, muito menos namorado! - já estava ficando estressada com aquelas duas falando de mim, eu estando na frente de ambas- e você quer um quarto? -pergunto para Pietra que ainda encarava Mari, como se não houvesse me escutado-pra quantos dias?

-quero sim! Ainda não sei quantos dias irei ficar- vira-se pra mim olhando-me dos pês a cabeça-você irá me mostrar meu quarto.

-Não! temos uma pessoa que trabalha aqui exclusivamente para isso- Mari mais uma vez toma minha frente, não quis me iludir, mais parecia que a guia estava com ciúmes, nunca tinha visto ela implicar com alguém, principalmente se fosse mulher e linda como a tal Pietra.

-uma pena, mais não irá faltar oportunidade para estarmos juntas- não sabia se a hospede falava a sério ou simplesmente queria implicar com Mari.

-eu sou a guia aqui, então se quiser conhecer alguma coisa na ilha posso ajudar- a guia falava friamente.

-Temos chalés Pietra , se não queira ficar aqui na pousada!

-prefiro quarto, assim fico mais próximo de você- estava sentindo que ia ter problemas com aquela Italiana, ela me cheira confusão.

-o que está acontecendo aqui?

-Ivan que bom que chegou- respiro aliviada- preciso de seus documentos dona Pietra.

-por favor Ragazzia só Pietra , afinal já estivemos bem próximas-eu só faltei me afundar naquele chão, quando Ivan me olhou com um olhar desacreditado. Ela me entrega seus documentos para cadastra-la. Mari continuava ali com um olhar de raiva para o lado da hospede-Pietra Agarelli a seu dispor- toma minha mão a beijando.

Puxo minha mão pegando seus documentos, ficamos os quatros mudos enquanto cadastrava a hospede, Ivan analisava a moça detalhadamente. Com certeza depois ia escutar suas gracinhas.

Antes de sair com Ivan a seu encalço, a italiana vira em minha direção e pergunta:

-A Giulia está hospedada aqui?

Será que ela era amiga de Giulia? quem não vai gostar nada disse vai ser Sabrina, pois a mulher era linda, mas parecia uma modelo!

-porque quer saber? você conhece a Giulia de onde?

-somos velhas amigas!

Da um sorriso malicioso, desconfiei que o tempo ia esquentar na ilha com a nova hospede.

Ainda olhava por onde Pietra havia sumido com Ivan, quando sinto a guia segurar meu braço.

-Fica longe dessa mulher, ela cheira a confusão!

-e quem disse que não quero um pouco de confusão na minha vida?

-Então você não se importa com que as pessoas vão pensar, quando descobrirem que gostas TAMBEM DE MULHER- friso bem as últimas palavras.

--nenhum pouco! Nunca dei certo com homens, quem sabe com mulher tenha mais sorte!

Ela solta meu braço com força e segue pra fora da pousada, me deixando com um sorriso no rosto. Com toda certeza aquilo que presenciei foi ciúmes.

...

P/ MARIANA

Sai pisando firme, fui direto para a trilha que me levaria a praia das rochas meu lugar preferido, pelo menos pra pensar. Ainda não acreditava que aquela garota estava ali na ilha, não gostei dela desde o dia que a vi com Amália na boate se beijando. Não gostava nem de lembrar do episódio, que me dava ânsias de esganar a recepcionista.

Passei anos tentando esquecer aquele maldito beijo, ficando com várias mulheres tentando tirar Amália da cabeça, sempre falando pra mim mesma que ela não era lesbica que gostava e muito de homens, e sábado na boate foi uma total surpresa ao vê-la agarrada aquele fulana.

Chego a praia e me sento em uma daquelas enormes pedras olhando o mar, desde pequena aquele ritual me acalmava. Ver o balanço das aguas era como uma terapia.

Desde o primeiro momento que vi aquela moça um mal pressentimento me assolou, não foi somente por tê-la visto com Amália! Não queria nem pensar no que tivesse acontecido se não estivesse ido a boate com Felipe.

Lembro do dia seguinte ao acordar com o olhar de Amália sobre mim, a princípio percebo seu olhar admirado ao me ver, parecia estudar minha face, pra logo em seguida me tratar como sempre fazia.

Brinquei com ela quando percebi sua falta de lembrança da noite anterior, não que não fosse verdade o fato que ela ter me abraçado, eu poderia tê-la afastado durante a noite mas não consegui, a estrei mais em meus braços aspirando seu perfume. Minhas mãos brincava em seu corpo, corria os dedos por seus traços desenhando cada centímetro de sua anatomia. Várias vezes tive que controlar a vontade de toca-la mais intimamente e o mais longe que fui, foi tocar seus seios que sempre foram meu alvo de visão, quando a via somente de biquíni na praia.

Fecho os olhos lembrando do momento em que meus dedos tocavam sutilmente seus seios, mesmo ela dormindo percebo seus arrepios com meus toques. Dormi com uma sensação de bem estar em tê-la em meus braços.

A enxurrada de perguntas que tive que aguentar assim que entro no apartamento de Felipe foi hilária, ele e Carine queriam saber tudo o que havia ocorrido pra eu não ter voltado naquela noite. A noite nos despedimos com a promessa dos dois irem me visitar na ilha em alguns dias.

Retorno pra pousada próximo a hora do almoço, pela tarde teria que acompanhar alguns hospedes que queriam conhecer um pouco mais daquela adorável ilha. Quando entro no restaurante a primeira pessoa que avisto foi a outra Italiana, ela falava no celular e parecia bem ríspida com a pessoa do outro lado, mas não fiquei ali pra saber o desfecho daquilo.

Quando entro na cozinha Berta comentava com Aline sobre a segunda Italiana, já estava cansada, por onde ia aquela mulher parecia me seguir, sendo com sua presença ou alguém falando a seu respeito.

-ela é linda, mas não como a Giulia! - Aline comentava- e ela me pareceu muito narizinho em pé, parece pisar em ovos.

-menina já te falei pra parar de julgar um livro pela capa.

-Não Berta, a Aline tem razão não gostei nada dessa tal Pietra, tem alguma coisa nela que não me agrada.

-viu Berta não sou só eu que não gostou dela. E olha pra Mari não gostar de uma mulher! E porque alguma coisa não está no seu eixo.

Começo a rir das palavras de Aline, as vezes a menina parecia completamente sem noção, todos ali desconfiavam que ela era apaixonada por Ivan, mais nunca havia chegava muito perto a fim de se declarar!

-como foi o final de semana na capital minha filha? - Berta me pergunta- a Amália também foi pra lá com Bernardo- quase coloco todo o suco que estava tomando pra fora, quando escutei aquilo. Se Berta soubesse o que a filha andava aprontado na capital, com certeza ia ter um ataque, pois Amália mal tocava em bebida ali na pousada.

-fui encontrar Felipe, ele está de namorada nova e dessa vez acho que é sério.

-que bom, já estava até pensando que ele jogava no mesmo time do meu filho, pois nunca parava com ninguém- rir a valer com esse comentário, os pais de Felipe conheciam Berta a bastante tempo, logo que seu marido a abandonou ela se virava cozinhando pra alguns fazendeiros ali na ilha isso antes de Felipe nascer, até que o senhor Sandro e a mãe de Sabrina a contratarem.

-gostei de sua namorada, ela me parece bem diferente daquelas que ele costumava namorar-estava tão entretida na conversa, que não percebo Amália parada na entrada da cozinha a nos observar. Ela parecia centrada a me observar eu a olho intensamente, primeiramente nos olhos para logo em seguida passar a observar seu corpo, o que me remete ao dia em que dormimos juntas. Aquilo fez com que meu corpo aquecesse e meu coração batesse em um ritmo mais acelerado.

Ela me olha parecendo relembrar aquele momento. Nos encaramos por algum tempo até que Berta quebra aquela magia.

-Minha filha, já Almoçou? - ela olha a mãe negando com a cabeça- senta ai com A Mari, vou já servi vocês!

Depois daquela noite eu sentia que alguma coisa havia mudado, os olhares de Amália pra mim, não eram mais de implicância e sim de desejo.

...

Quando saímos do banco resolvemos almoçar ali mesmo pois Geovane ainda teria que resolver algumas coisas ali na cidade.

Nossa conversa com Miguel foi bem produtiva, Sabrina quitou a promissória que estava atrasada e ainda a convenci a quitar outra a vencer. Na hora de voltarmos a ilha estávamos cansada pois passamos praticamente o dia a resolver algumas coisas pendentes, eu estava louca por um banho e de preferência com Sabrina, só de imaginar a cena meu corpo se aquecia.

Estávamos na estrada retornando pra ilha, Giovane era o mais falante não parava de elogiar Miguel, notei uma admiração fora do normal por sua parte.

-Miguel não mudou nada desde a última vez que nos encontramos- falava empolgado.

-Giovane! mal saiu de um roubada e já quer se meter em outra, sabe que Miguel e hetero de carteirinha, sempre fugiu de suas investidas quando éramos mais novos-Sabrina o advertia.

-ah sapata deixa eu sonhar um pouco com aquele bofe lindo! Sonhar não paga imposto!

Eu estava concentrada na estrada, ria do jeito de Giovane falar. Lembro da conversa com minha tia mais cedo, falei para ela o que estava acontecendo. Ela queria pagar o valor que Sabrina estava devendo ao banco, mais fui bem incisiva recusando, já ia ser complicado quando essa soubesse que sua mãe estaria bem perto em alguns dias, imagine se soubesse que o dinheiro usado para quitar sua dívida houvesse vindo dela. As poucas vezes que Sabrina tocara no nome da mãe, pude perceber magoa em sua voz. Eu ia insistir naquela noite mesmo com minha tia sobre conversar com ela, pelo menos iniciar essa conversa que tenho certeza não será nada fácil pra nenhuma das duas.

Minha preocupação maior era de Sabrina me culpar de alguma forma, só de pensar que ela poderia se afastar de mim quando soubesse a verdade, doía meu peito.

Tia Vivian teria que ser bem convincente, quando resolvesse contar toda a história de sua vida para a filha, Sabrina tinha uma visão muito deturpada da realidade, não somente ela mas todos ali na pousada! Acho que somente Berta Sabia o que realmente havia acontecido,  para que sua tia houvesse abandonado tudo e ter “partido”.

-no que está pensando? - Sou pega de surpresa, estava tão distraída pensando nos acontecimentos que decorreram durante aquelas semanas, que não havia percebido os dois me olhando com curiosidade.

-Nada de mais Amore mio.

-AH sapinha acho tão lindo como tu falas, da ate vontade de voar pra Itália e arrumar um Deus Grego pra mim- venho Sabrina revirar os olhos antes de rebater.

-Você não quer dizer, voar pra Grécia?!

-Ah Sa tanto faz, com tanto que seja “moreno, alto, bonito e sensual”

Giovane era muito engraçado, fazia coreografia de uma música que a muito não escutava. Sabrina ria do amigo esquecendo do que havia me perguntado.

Quando chegamos a ilha já era quase noite, queria que Sabrina fosse para o chalé comigo mais não sabia se ela iria concordar, afinal ainda era dia e as pessoas circulavam pelo local e na praia próximo ao chalé onde estava hospedada.

No estacionamento da pousada me despeço de Giovane que entra assim que estaciono. Sabrina me olhava de uma forma nova pra mim, um carinho em seu olhar que me confortava.

-vou com você pro seu chalé! - lhe dou um sorriso que me vem da alma, ela parecia adivinhar minhas vontades.

-Tem certeza? está claro ainda e as pessoas podem falar!

-depois do que ouvi de Berta e Aline pela manhã, percebi que não adianta tenta me esconder. Mais cedo ou mais tarde as pessoas iram comentar, por que não começar por agora!

Ela se achega me abraçando pela cintura de maneira discreta, como me dando um abraço amigável. Eu estava exultante, nunca gostei de me esconder, mas por ela acabei concordando. Aquilo significava que ela estava disposta a assumir nossa relação.

Fomos até meu chalé, tomamos um banho gostoso juntas. Meu corpo se acendia a cada toque de suas mãos! Aquele sentimento sem sombra de dúvidas já estava encravado em meu peito.

Próximo do horário de irmos à praia, ela foi a sua casa trocar de roupa e marcamos de nos encontrar no local marcado. Combinamos de aos poucos darmos a entender as pessoas que realmente estávamos juntas.

Estávamos reunidos na praia Giovane, Amália e Mari, havia um clima entre as duas últimas que não consegui definir. Não era o clima de sempre de provocações, alguma coisa nova no ar e Sabrina também percebeu, pois olhava insistentemente para Amália que procurava desviar o olhar.

Meu sangue gela, ao ouvir a voz que vem de trás de mim e Sabrina.

-Ora, ora até que enfim te encontrei Amore mio.

Fim do capítulo