- Uau! Isso foi... Incrível – Júlia ofegante escolheu com cuidado uma palavra que definia o que estava sentindo. – Você ainda me conhece como ninguém. E sabe exatamente o que fazer para me deixar sem ar.

As duas estavam deitadas na cama agora desarrumada de Júlia, as roupas jogadas no chão se misturavam as pétalas de rosa que Natasha espalhara pelo quarto.

- Esperei tanto por isso – Alex com os olhos fechados alisava o longo cabelo de Júlia. Sua respiração também era urgente. – Não consigo acreditar que você está aqui de verdade. Ainda acho que estou sonhando.

- Foi como nos seus sonhos? – Júlia segurou o rosto de Alex entre as mãos e colou seus corpos, acabando com a pouca distância que ainda havia entre elas.

- Não – Alex abriu os olhos e se deparou com os olhos azuis da cor do céu lhe encarando. – infinitamente melhor.

- Fico lisonjeada em saber que não perdi a prática – Júlia piscou com um sorriso safado.

- Você deve ter dito muitas oportunidades para aperfeiçoar o seu desempenho. Ouvi muitas histórias sobre como as atletas se distraem entre um jogo e outro durante as viagens para campeonatos.

- Te garanto que as histórias que ouviu não são nem a metade do que realmente acontece.

Alex fechou os olhos novamente e respirou fundo. Não tinha motivos para ter ciúmes do que havia acontecido. Afinal, estavam separadas e solteiras.

- Não que isso seja da minha conta, mas...

- Você tem razão – Júlia interrompeu Alex. – Não é da sua conta, mas eu vou te dizer assim mesmo. Não houve ninguém depois de você que pudesse me mostrar o que eu já havia sentido. Houve outras pessoas, eu me diverti com algumas delas, mas não passou disso. Meu coração estava machucado demais para me permitir ir além. As histórias são verdadeiras, mas posso dizer que nenhuma delas é sobre mim. Não sou exatamente a pessoa mais popular do time.

- E usar essa aliança não deve ter ajudado – Alex segurou a mão de Júlia e observou atentamente a aliança que contrariou as expectativas e marcou o fim do relacionamento. Ainda se lembrava com clareza daquele dia, os gritos dos torcedores no ginásio ficariam gravados para sempre em sua memória.

- É verdade, ela afastava as pessoas – Júlia explicou com um leve sorriso. – Talvez no fundo essa fosse minha intenção. Afastar tudo e todos para nunca mais sofrer. Mas algumas pessoas foram bem insistentes e tive alguns momentos...

- Posso te pedir para tirá-la?

- Não sei, Alex. Sinto como se ela já fizesse parte de mim, tirá-la seria como apagar o passado, e não sei se estou pronta para isso. De certa maneira a dor do passado ainda me mantém viva.

- Eu entendo – Alex suspirou. Ela sabia que apesar da ligação que havia acontecido entre elas, ainda não era o suficiente para reconquistar a confiança de Júlia. – Queria que não fosse assim, mas eu entendo, Júlia. Quero te reconquistar, viver e estar com você outra vez. Você acha que isso será possível?

- Eu quero ficar com você, me diverti muito hoje. Adorei tudo o que você fez aqui. Por alguns momentos foi como se esses anos ruins nunca tivessem existido. O que eu sinto ao seu lado me deixa mais feliz do que aquela medalha de ouro na minha mochila, quando te vejo é como se um imã me puxasse para mais perto. Com você eu volto a ser aquela adolescente frenética que sonhava em ganhar o mundo, quando você me toca eu sinto que sou mesmo capaz de conquistar qualquer coisa. Quando você me olha nos olhos eu me perco, me confundo, me embaralho. Me entrego. Eu quero Alex, mas eu não sei se estou pronta para viver isso outra vez. Quando penso no que aconteceu e naquela maldita carta eu sinto um frio na barriga que me faz querer vomitar. Um sentimento de autopreservação grita e me manda ficar longe de você, me diz que não devo me entregar e passar por tudo outra vez. Entregar-me outra vez é ficar vulnerável em suas mãos e isso é um risco que não sei se estou pronta para correr.  Não posso mais te dar esse poder sobre mim. Eu me recuso a passar novamente pelo inferno que passei quando fiquei sem você.

- Juh – Alex começou a dizer, mas sabia que não tinha palavras que poderiam curar instantaneamente as feridas da garota. Tudo o que lhe restava era provar que estava ali e que dessa vez seria diferente.

- Eu sei Alex, sei que eu não fui a melhor namorada – Júlia interrompeu o silêncio reflexivo de Alex. – Eu assumo que também tive culpa no que aconteceu. Eu deveria ter sido mais corajosa, deveria ter terminado com o Gustavo assim que me apaixonei por você, eu sei disso. Mas eu era praticamente uma criança, e estava assustada. Você chegou, revirou minha vida e bagunçou meus planos de uma maneira linda. Eu me desfiz de tudo o que havia sonhado para estar ao seu lado. Eu te amo, Alex. Sempre amei. Mas ainda há muita mágoa em mim, se vamos tentar mais uma vez eu preciso que seja devagar. Preciso aceitar a sua presença na minha vida outra vez e não posso fazer isso agindo como se nada tivesse acontecido.

- Temos muito tempo – Alex respondeu com um aperto no coração, mas decidida a reconquistar o amor de Júlia. Dessa vez para sempre.

- Ok, vamos mudar de assunto, estou curtindo estar aqui com você agora. Vamos deixar para pensar nessas coisas em outro momento, concorda?

- Concordo. O que você quer fazer agora?

- Eu quero continuar me divertindo, acho que preciso me lembrar de algumas coisas – Júlia com um movimento rápido sentou-se no colo de Alex e a beijou suavemente.

- Lembrou?

- Ainda não – Júlia respondeu e fazendo graça puxou Alex para mais um beijo. – Acho que vou precisar de muitos desses para me nunca mais esquecer o gosto da sua boca.

- Adorei essa ideia.

As duas ficaram ali noite adentro trocando beijos e carícias. O vazio e a dor que Alex sentia o tempo inteiro já não lhe incomodava mais. Ela se perdia no sorriso gostoso de Júlia e naquele momento aquilo era tudo o que ela precisava.

Fim do capítulo