Capítulo 25
-- Você o que Isadora Marcondes? – parou de trocar a roupa, encarando-a.
-- Calma Melissa pensa bem... – afastou-se um pouco, estava com medo da morena - Onde ele iria ficar neste período? Nem dinheiro para viagem até a casa dos familiares, ele tem.
-- Isso eu daria um jeito. – foi à única coisa que conseguiu falar.
-- Não fica emburrada... – tentou se aproximar - Amor, ele disse que o pai e a madrasta estão nos Estados Unidos e passarão o Natal lá. – beijou seu rosto. – Meu espírito Cristão falou mais alto, meu potinho de mel.
-- Estou muito puta! – declarou pausadamente, encarando-a - Não é suficiente ter que me controlar, para não pegá-la a hora que quero em minha própria casa? Agora essa de suporta-lo no sítio, ainda mais quebrado. Nem nossos banhos, teremos mais.
-- Mel, meu avô mora lá, lembra-se? Não é assim de pegar em qualquer lugar. – brincou, mas Melissa não cedeu.
-- Adoro o Júnior, mas minha vontade, quando voltei para São Paulo, era morar sozinha. – passou a mão pelo rosto - Isadora, você sabe muito bem disso e...
-- E eu atrapalhei primeiro vindo para cá, e depois trazendo meu amigo. – completou com tristeza.
-- Não fala isso. – a silenciou com o dedo - Você trouxe luz para essa casa. – acariciou o rosto da mulher mais baixa. – Quantas vezes eu me toquei ali na sala, ou aqui mesmo na cama, pensando em você? Desejando que estivesse, pelo menos, no mesmo teto que eu? – beijou seus lábios – Eu lhe amo... Você é minha vida, como eu poderia suportar viver longe da minha vida? Isso é, no mínimo, redundante.
-- Tenho tanto medo de ser um fardo... – acariciou o rosto da morena - Uma carga morta para você. – os lindos olhos verdes encheram de água. – Por isso tenho meus medos, em começar uma vida, onde só você está investindo.
-- Só existe uma de nós investindo, Isadora? O que faço é material, o principal é você quem assume, sendo essa mulher determinada, e cheia de amor, que a cada dia me ensina um pouco mais da vida. – beijou os olhos marejados. – Antes de você, eu era uma pessoa beeeemmm difícil, e hoje até beijo! – falou como se aquilo fosse uma grande façanha.
-- Boba! Mesmo assim, eu deveria ter falado com você sobre o Júnior.
-- Isso é verdade. – voltou a ficar seria - Tenho certeza que vô Eliezer irá adorá-lo. – completou com ironia.
-- Fala isso porque sabe o quanto vocês dois têm em comum.
-- Mesmo? – perguntou teatralmente. – Nunca havia percebido isso.
-- Não seja dramática, Melissa Cristina.
-- Não serei desde que, você brinque de casinha comigo. – fez uma cara de inocente.
-- Meu amor. – sussurrou após beija-la. – Brincar de casinha? Não somos velhas para isso?
-- Minha vida, – respondeu de forma teatral. – lógico que não.
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-- Eu acho essa foto tão linda! – Francisco declarou, admirado com a imagem da jovem com vinte anos. - Você estava tão feliz, seus olhos brilhavam. – sorriu - Seu rosto era tão redondinho, parecia uma criança sapeca. - Isadora parou de arrumar a mala para observar a foto e lembrou que havia sido feita pela única morena que amou, no primeiro Natal que passaram juntas no sítio do velho Eliezer. – Cabelo grande, com franjinha. Isa, eu pagava para ter conhecido esse seu lado meigo, sabia? Não consigo lhe imaginar doce e bobinha.
-- Esse lado deixou de existir faz tempo, Francisco. – respondeu com pesar, olhando para foto.
-- Quantos anos você tinha aqui?
-- Uns vinte anos. – respondeu dando de ombros, demonstrou desinteresse na conversa. Na verdade, ela não queria lembrar aquela época, a companhia de Melissa, e como estavam felizes. – Vamos encerrar essa conversa, ou perco o avião.
-- Melhor perder o avião, do que a vida. – a loira parou para observa-lo.
-- Não fale sobre algo que não tem conhecimento.
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-- Oh Isa, seu avô vai gostar de mim? – foi à pergunta feita por Júnior antes de entrar no carro com a ajuda de Isadora.
-- Acho que sim Jú, vovô adora casa cheia.
-- Melissa você não “tá” com raiva de mim? – olhou para a morena que se aproximava do carro, cheia de malas e sacolas. Ela olhou para Isadora e concluiu com ironia.
-- Não Júnior, até porque ainda estou no trigésimo sétimo artigo da Lei de Murphy: “As seis fases de um projeto: entusiasmo; desilusão; pânico; busca dos culpados; punição dos inocentes; glória aos não participantes”. – voltou a observar a loirinha que lhe lançou um olhar de censura.
-- Ei, eu vi esse cara ontem na televisão, ele tem um programa, e a namorada dele é aquela porquinha cor de rosa. – pensou um pouco – Não lembro o nome do programa, mas era legal. Mel, eu pensei que isso fosse “fricção”, tá ligada?
-- Isadora, agora eu tenho a certeza que lhe amo mais do que a mim mesma, porque se não fosse assim, já a teria arremessado com seu amigo pelo Tietê. – afirmou enquanto colocava as malas no carro, estava de costas para loirinha.
-- Mel... – virou-se, e recebeu um rápido beijo – Eu lhe amo. – Isadora foi agraciada por um lindo sorriso.
-- Estou começando a gostar da porquinha Pink e do sapo Caco. – sussurrou voltando a beija-la.
-- Eu acho que vou me “digerir” nesse passeio, com estas gatas se pegando, “tão” ligadas? – Melissa olhou para o jovem que parecia muito empolgado em vê-las se beijando.
-- Vai amar, ainda mais quando conhecer a minha faca de caça que adora cortar “bolas de bichos” intrometidos. – Isadora bateu de leve em seu ombro.
-- Nada de caçar bichinhos, isso é feio!
-- Não falo de bichinhos da natureza, só os metidos que se armam fácil. – apontou com dois dedos para os lindos olhos azuis e depois para Júnior. – “Tá ligado?”
-- Oh Isa, tô com medo do seu potinho de mel.
-- Agora tô bem ligada, Júnior. – respondeu olhando de um para outro. – Deus dê-me uma chance dessas férias ainda prestarem. – pediu em prece.
-- Essa gata é fodastica: ela ainda fala com Deus! – Melissa não resistiu e bateu na cabeça loira do jovem, quando tentou repetir, Isadora a puxou pela mão, e a guiou até a porta do motorista.
-- Vamos, minha deusa.
-- Não posso.
-- Por quê? Está sentindo alguma coisa.
-- Ouvi tanta asneira que fiquei com azaleia.
-- Então se prepara, porque você tem alergia aspiro tinta. – piscou para morena e sorriu cruzando os braços.
-- Você me paga!
-- Conto com isso. – voltou a responder com malícia e um sorriso de lado.
Saíram em direção ao sítio, seria uma nova experiência para os três. Uma música começou a tocar na rádio, e Melissa sorriu apertando a coxa de Isadora. Ela entendeu de imediato a letra, retornou o sorriso e aumentou um pouco o som.
“No, I've never felt like this before (Não, eu nunca me senti assim)
Yes I swear it's the truth (Sim, eu juro é verdade)
And I owe it all to yo ( E devo tudo a você)
'Cause I've had the time of my life (Pois eu tive as melhores horas de minha vida)
And I owe it all to you (E eu devo isto a você)
I've been waiting for so long (Estou esperando há muito tempo)
Now I've finally found someone (Agora finalmente encontrei alguém)
To stand by me (Que fique ao meu lado)
We saw the writing on the wall (Vimos tudo bem claro)
As we felt this magical fantasy… (Ao sentir esta fantasia mágica…)
... Just remember (... Apenas lembre-se)
You're the one thing (Você é a única coisa)
I can't get enough of...[1] (Da qual nunca me canso...”)
-- Ah, vocês só “sabe” cantar música importada? “Devia” cantar em brasileiro. – reclamou emburrado - Assim ninguém entende nada.
-- Jú, essa música é linda e traduz o momento que estou vivendo, com meu “potinho de mel”. – Isadora sorria de uma forma encantadora. Melissa estava completamente boba com suas palavras, e quando a ouviu responder isso, não parou mais de sorrir, esqueceu até da forma como a loirinha havia lhe chamado na frente do amigo.
-- Mas não tem pagode não? “Segura o tchan, esfola o tchan, mata o tchan e manda o tchan, tchan, tchan...” – cantava e sacudia as mãos.
-- Eu disse que este energúmeno estava no artigo trigésimo sétimo e que neste momento eu passo pela quarta fase? – estreitou os olhos contra Isadora que a intimidou com um sorriso. A loira beijou a ponta do seu dedo indicador, e levou-o até os lábios de Melissa, que o devorou, ch*pando-o e mordendo de leve.
-- Oh Isa, o que é ener...ener... número? – estava coçando a cabeça. – Deve ser número em americano, não é?
-- Não Jú, é uma planta linda que tem uma rosa branca. – tentou acalmar os ânimos, principalmente um, em especial, da mesma pessoa que dirigia, com uma expressão safada e vestida para deixar qualquer um de boca aberta. – Melissa, por que vestiu esta roupa, para viajarmos?
-- O que tem esta roupa? – olhou para si mesma e depois, rapidamente para a loirinha.
-- Essa é fácil, eu respondo Mel! – riu alto - Tem que se Isa não colocasse essa cara de eu vou lhe “destelhar”... – respondeu com um ar de quem sabia de tudo - Eu continuava sem ação, “patinando”, tá ligada? – concluiu rapidamente, sem dar chances para Isadora interromper. Melissa olhou para Isadora, sem entender muito.
-- Posso pedir tecla “SAP”?
-- Oh Melissa, você gosta de sapo né? Primeiro o Caco agora esse ai, que num sei onde Isa guardou para apertar... – pensou um pouco – num deveria ser perereca?
-- JÚNIOR, ELA NÃO GOSTA DE SAPO! – gritou – Melissa Cristina, ele quis dizer a verdade: que se eu ameaçasse esgana-lo só com o olhar, ele continuaria paralisado olhando seu corpo dentro desta roupa, tá ligada? – passou a mão pelo cabelo – Melissa esta... Esta coisa é muito justa ao seu corpo.
-- Uma simples malha Isa e uma camiseta, mas se você preferir, eu posso jogar, um camisão por cima.
-- Seria bom. – respondeu balançando a cabeça demonstrando um sorriso irônico.
-- Não. – Júnior interrompeu – Oh Isa, se a Mel não lhe amasse, eu “encoxava” ela. – Melissa caiu na gargalhada, enquanto Isadora fechou o cenho cruzando os braços.
-- É meu amor, seu “irmão” é um grande galanteador. – concluiu entre sorrisos – Você tinha razão, vai ser bem melhor com a companhia do “coitadinho do Jú”. – foi irônica se divertindo com a situação.
-- Estou morrendo de rir. – concluiu irritada.
-- Morre não! Mel, ela tá passando mal. – disse desesperado. – Faz alguma coisa Melissa.
-- Júnior, isso é uma hipérbole. – respondeu ainda mais irritada.
-- Estaciona Mel, ela pode morrer. Isso é contagioso! – Melissa estava rindo, não conseguia se controlar, e para piorar, olhava para Isadora que estava vermelha.
-- Eu vou parar mesmo, para não causar acidentes. – estacionou e segurou a barriga rindo. Isadora a olhou e se virou para olhar o jovem que não entendia porque Melissa estava rindo.
-- João Matias Júnior, a mulher em questão já tem dona e eu proíbo qualquer pensamento obsceno com ela, entendeu? – olhou para trás e depois para a morena que permanecia rindo. - Não quero mais um pio aqui dentro, e também acho melhor viajarmos em silêncio.
-- É Isa, como diz aquele “viado”: “cartela e canja de galinha não enjoa ninguém”. – pensou uns segundos olhando para fora - E olha só isso Isa, as cenas dos meus pensamentos com Melissa são só “incandescente” quando ela tira a roupa. – foi à conclusão inocente de Júnior. Melissa batia na direção de tanto rir, estava chorando.
-- Calado João Matias. – olhou de lado – E você, fique quietinha, eu não vou repetir. – ameaçou, mas logo em seguida ficou surpresa em ver Melissa retirar os óculos escuros e enxugar os olhos com a camisa.
-- Estou passando pela sua hipérbole, quase morrendo de rir.
-- Viu? Passou doença pra ela, e agora? Como vamos chegar na casa do nosso avô?
-- Cala a boca Júnior. – ordenou pausadamente. Melissa a puxou para um beijo de tirar o fôlego, e deixar o jovem passageiro em silêncio.
-- Isso é para mostrar que eu lhe amo, e nada, e nem ninguém, faria pensar em outra coisa, além da minha pequena loirinha ciumenta dos olhos cor de mato... – voltou a beija-la. - Os mais lindos olhos que já vi. – Isadora por pouco não perdeu o fôlego.
-- UAU! – Júnior gritou. – Ah, faz de novo, foi bom demais “véio”.
-- Quieto! – gritaram as duas após se separarem.
-- Minha faca pode cortar seu brinquedo de armar. – Melissa ameaçou mais uma vez.
-- Isaaa, olha ela!
-- Fique quieto. Assim ela não corta. – Melissa o olhou pelo retrovisor, com o olhar ameaçador, levando-o a ficar quieto.
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-- Oh Isa, seu avô é brabo que nem o de Melissa? Daqueles que faz filme de “farinha” no oeste?
-- Júnior, o senhor José é avô da Mel, um pouquinho de respeito não faz mal a ninguém. – repreendeu.
-- Desculpa Melissa! – pediu um pouco sentido.
-- Tudo bem João, o meu avô não chega aos pés do vô Eliezer. – olhou em direção ao rapaz, retirando mais uma mala de dentro do carro – Ele sim é um grande homem.
-- Mesmo assim Júnior, bom evitar falar dos familiares alheios, isso é feio. – repreendeu novamente, após perceber a voz da sua morena, enfraquecer com a constatação de que seu avô era realmente um homem frio, capaz de matar por dinheiro ou por vingança.
As duas mulheres deixaram as malas fora do carro e caminharam para a grande varanda da casa.
-- Oh de casa! – Isadora gritou, vendo logo em seguida Mercedes sair em sua direção com um imenso sorriso.
-- Minha menina. – abraçou a loirinha e depois a olhou bem – Acho que você está mais magra.
-- Mais magra? Mercedes, ela só não comeu os móveis do apartamento porque não deixei. – apontou para o estômago da namorada. – Isso que ela tem na barriga é um monstro em desenvolvimento, e precisa ser alimentado a cada hora.
-- Não tenho culpa se meu metabolismo é mais rápido do que o seu, Melissa Cristina. – as duas começaram a discutir, alegrando a velha cozinheira. Acabaram esquecendo Júnior no carro.
-- Meninas, o seu Eliezer espera vocês duas ainda para segunda, e ai vêm à surpresa. – foi à vez de olhar Melissa – Olhem só para essa menina: linda, mais linda do que aquelas modelo das revistas das “estrangeira”. Aquele menino, filho do vizinho, Anderson, vive perguntando por você. – neste instante, o monstrinho do ciúme de olhos verdes, e cabelo loiro se manifestou, aguçando seus sentidos e, imediatamente, ligando o radar. A morena apenas olhou de lado para namorada, esperando o momento da explosão, tentou mudar o assunto educadamente.
-- Mercedes, vovô saiu? – interrompeu, mesmo assim sabia que aquele comentário seria lembrado pelo resto das férias, por sua baixinha.
-- Não minha linda, ele foi ao galpão pegar um material. – olhou para o carro e viu uma mão acenando – Meninas tem mais alguém dentro do carro?
-- Tem sim. – Melissa respondeu olhando para trás – Ele é o...
-- Namorado de Melissa. – Isadora concluiu com um sorriso malicioso e um brilho diferente nas esmeraldas.
-- Namorado? – Melissa e Mercedes perguntaram ao mesmo tempo.
-- Meu namorado? – viu o olhar ameaçador de Isadora e concordou - Ele é sim, meu namorado. Vou ajuda-lo.
-- Ele não pode vir andando?
-- Sofreu um acidente de carro, e machucou uma perna, mas eu e a Mel o ajudaremos.
-- Ah tadinho! Vou preparar um lugarzinho para ele ali na sala. – saiu quase correndo para arrumar o sofá para o rapaz.
-- Isadora que conversa é essa de namorado?
-- Foi à única saída para manter aquele intrometido longe. Por um acaso se lembra do tipo dele? Agora veja o de Júnior.
-- Por um acaso, viu a inteligência que irei desfrutar em minha companhia, e ainda carregando título de “MEU NAMORADO”?
-- Estarei ao seu lado para apoia-la. – respondeu sorrindo entrelaçando os dedos na mão maior.
-- Imagino o que você irá apoiar. – foi sarcástica.
*************************
-- Melissa, minha querida, não tem mesmo solução, irei à cidade comprar mais peças e outro suporte, talvez assim consiga posicioná-la e pegar algum sinal.
-- Vô, eu tentarei antes. – pediu olhando a estrutura a sua frente.
-- Meu amor, isso é muito pesado.
-- Isso não é problema vovô. – respondeu após dar uma imensa gargalhada. A morena pegou o suporte de ferro e, aos poucos, subiu a escada que levava até o telhado da casa. Repetiu o gesto mais três vezes, até manter todos os ferros no mesmo local, onde começou a monta-lo com cuidado e habilidade. Após um tempo, ela desceu e explicou ao velho homem que realmente precisaria de algo mais forte que segurasse a estrutura de ferro à base, para evitar que o vento ou uma chuva o derrubasse novamente. – Irei à cidade vô.
-- Espere, também quero ir, além do mais, Mercedes fez uma lista de coisas para comprar. – olhou para a morena com um jeito jocoso – Ela pretende fazer todos os pratos que Isadora aprecia. – sorriu – Acredita na possibilidade de fazê-la engordar. – foi a vez dos dois sorrirem.
-- Vai fazer a minha pequena feliz? Concordo com tudo. – concluiu sorrindo.
Os dois saíram em direção à cidade. Melissa deixou o recado com Júnior, para avisar Isadora.
-- Vovô, eu... Preciso confessar uma coisa ao senhor. – Melissa falou com uma voz fraca.
-- Alguma coisa com minha neta? – o velho homem a olhou com uma expressão de preocupação.
-- Não vô. – adiantou-se em esclarecer – Na verdade é sobre minha família.
-- Entendo... Seus pais dizem aceitar vocês, e não é bem assim?
-- Não! – novamente adiantou-se – Meus pais são dez, o problema é meu avô, e o que ele fez a minha avó.
-- Do que você está falando, Cristina? – percebeu o engano em trocar os nomes – Desculpe Melissa, mas às vezes você é tão, irremediavelmente, parecida com ela que não tem como não confundir.
-- Vô, eu achei as suas cartas para vovó e as que ela escreveu para o senhor e nunca enviou. – sentiu a tristeza do homem mais velho, ela resolveu encostar o carro e descer para conversarem ali, longe de todos. Melissa confessou a curiosidade em ler as cartas e conhecer um pouco mais da avó. Relatou a tristeza da mulher nos últimos meses de sua vida e do quanto o seu verdadeiro avô era culpado e cafajeste. Explicou como descobriu sobre o passado em comum com seus avós.
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-- Jú, cadê o meu avô e a Mel? – Isadora estava sonolenta, com o cabelo completamente desarrumado.
-- Eles “foram na” cidade, tá ligada? “Tavam” lá em cima num lance ai da antena “paranoica” que não pegava.
-- Tô ligada. – foi à vez de Isadora falar como o rapaz. – Mercedes está lá na cozinha?
-- Ai, “não chama ela não”. – pediu com uma voz amedrontada.
-- Por quê? – parou na metade do caminho.
-- Ela toda vez que vem aqui, quer enfiar comida “cela” a baixo, tá ligada? “Tô” até com “enchente” na barriga.
-- Tudo bem. Eu não vou deixa-la vir aqui. – saiu em direção à cozinha. – Mercedes... – abraçou-se a mulher mais velha -... Estou com fome – falou cheia de manha.
-- Hum, está vendo? Você não come direito na cidade grande, não tem ninguém que se preocupe... – beijou o topo da cabeça loira – agora vou cuidar direitinho.
-- Mel cuida de mim assim como eu cuido dela. – respondeu.
-- Falo de gente que cuida realmente, não de amigas. Acredito na amizade de vocês. Vi você crescer e aquela menina virando mulher, mas são apenas amigas. – recomeçou a mexer a panela – Isadora, essa menina é linda, rica, e vejo-a aqui arrumando a antena do seu avô. – parou e olhou para a pequena – Como ela consegue ter tanta força? Acredita que pegou aquele monte de ferro, sozinha? Deve ser por isso que Anderson ainda suspira por ela.
“Meu Deus, tomara que Melissa não ouça nada disso.” – pensou enquanto a mulher falava, mas, depois de ouvir o final da frase, sentiu o monstrinho do ciúme reaparecer.
-- Mel desde pequena acompanha o pai, ou Enrico na lida da fazenda, além de praticar capoeira e outras artes marciais. – suspirou – Ela é ótima em tudo a que se coloca a fazer.
-- Mulher precisa arrumar um namorado e casar, quem vai querer ela assim, mandona?
“Eu” – pensou sorrindo. – Ah Mercedes, que conversa mais sem sentido, parece meu pai falando com aquele ar machista.
-- Menina, você ainda é uma criança, mas ela, já tem idade de casar.
-- Pois saiba que Mel não é tão velha, além do mais, aquele ali fora é namorado dela, e acho que pretendem se casar.
-- Melissa e aquele menino? Isadora, eles não enganam ninguém. – a pequena ficou pálida, seria descoberta em sua mentira – Ela nunca ficaria com um homem com o juízo quebrado como aquele ali.
-- Oi povo. – Melissa falou se anunciando. Beijou a cabeça da loirinha, trazendo-a para junto do seu corpo, mas, logo foi repreendida por um par de olhos verdes.
-- O namorado ela não beija assim, viu o que falei? – Mercedes observou para logo depois sair.
-- Melissa!
-- Desculpa amor, foi automático. – tentou se defender, mas foi interrompida pelo velho.
-- Na minha casa, vocês não precisam esconder o amor que sentem uma pela outra, conversarei com Mercedes, e sei que ela não fará objeções.
-- E se ela fizer vovô?
-- Era porque ela não deveria estar aqui, Isadora. – beijou a neta e saiu.
-- Acho que ele tem razão amor. – olhou dentro dos olhos verdes - Agora vem cá, passei muito tempo sem beijos, e isso é meu oxigênio. – declarou envolvendo-a em seus braços. Melissa beijou a boca da sua pequena com fome, desejo e muito amor, até serem surpreendidas por um barulho.
-- Que pouca vergonha é essa? – Mercedes gritou após deixar uma bandeja cair. – Imagina se seu avô aparece aqui e vê uma coisa dessas, ele morre do coração. – advertiu olhando para Isadora – E você sua desavergonhada? Uma menina que sai de casa cedo para morar sozinha e ainda coloca um homem para morar junto, só pode ser desavergonhada. – disparou irritada. – Saia de perto da minha menina – puxou Isadora, separando-as.
-- CHEGA! – Eliezer gritou, irritado com a situação.
[1] I've had the time of my life - Bill Medley, Jennifer Warnes
Fim do capítulo
Serio isso produção? Poucos comentários? Será que desistiram de ler? Ou desistiram de comentar? Como saberei se a paradinha tá boa? Como diz o Júnior: tá ligada? Aguardo vocês. Beijos e bom domingo.
Comentar este capítulo:
Alexia
Em: 18/06/2017
Olá! Rafa, boa noite!
"Tá ligada" que horrível a reação da Mercedes ainda bem que vo Eliezer vai coloca lá no seu devido lugar que triste nossa Isa vivendo só de lembranças espero que logo elas se acertem estou na torcida!
Parabéns Rafa pelo primeiro lugar mais do que merecido vc escreve com sentimentos e conseguimos nos colocar no lugar dos seus personagens não deixe que ninguém te diminua vc é uma autora excelente, espetacular gente sem talento e preconceituosa sempre vai existir mais sabe como vc vai da a resposta pra cada um deles escrevendo seguindo em frente e encarando a vida igual a sua personagem em erros e recomeços que deu a volta por cima e deixou a tristeza de lado força Rafa nós leitoras estamos contigo no que precisar e possivel pra te apoiar! Bj! e até o próximo capítulo!
Resposta do autor:
Tô ligada sim! Kkkkkkk... Ele coloca, não sei se ela ficará lá. As lembranças, isso talvez traga a velha Isadora de volta, quando passar o tempo, vai ficar mais clara as mudanças que ela terá.
Obrigada querida! Meu objetivo, realmente é este. Não quero ter uma escrita perfeita, quero apenas transportar as leitoras para dentro da história, assim como gosto de viajar com uma boa leitura. O resto, o tempo me ensinou a deixar para lá, e pegar apenas aquilo de positivo. Beijos e obrigada pelas palavras. Boa semana.
Mille
Em: 18/06/2017
Kkkkkkk tô ligada, poxa ri com a Mel que fiquei com os olhos marejados, junior é uma peça.
Mercedes soltando seu preconceito e com certeza não ficará na casa será mais uma a ir para os lados dos sem escrúpulos.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
A Mel não é essa pessoa dura que todos pensam, a vida faz ela ficar assim. Jùnior será um irmão para as duas. Tomara que não fique, gente assim não faz falta.
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