Capítulo 23
Melissa havia escutado o início da conversa, e deduziu que a insegurança que Isadora apresentou no dia anterior, seria em decorrência do encontro entre as duas. A loirinha sentiu um frio no estômago, tudo o que ela menos queria era uma cena entre Roberta e Melissa, não só pelo local em que estavam, como, também, pelo medo de que a morena não a ouvisse e “imaginasse coisas irreais”.
-- Olha Melissa eu não quero discussão, estou conversando com ela, – apontou para baixinha - e você não tem o direito de impedir... – Isadora olhava de uma para outra, não sabia o que falar, ou até mesmo se conseguiria falar, ela se colocou entre as duas mulheres.
-- Eu não tenho? – falou com um tom de voz baixo e calmo - O que acontecerá se eu disser que tenho todo o direito do mundo? - perguntou colocando a chave do carro no bolso para logo em seguida esticar a mão e pegar a de Isadora, puxando-a para o lado.
-- O que é? Quer discutir comigo? Sabe que se entrar nessa a “dondoquinha” – fez aspas com os dedos - vai sair com uma bela surra não é? – gritou, chamando a atenção das pessoas que transitavam pelo corredor naquele momento – Vai apanhar e voltar chorando para casa: "vovô, apanhei de uma menina mais forte, quero que mande dar um jeito nela”... - sorriu - depois o vovozinho vai mandar me matar ou dar uma surra? Ele faz isso sempre que se sente contraria... – não chegou a terminar a frase, Melissa em um golpe rápido e rasteiro de capoeira, derrubou a mulher no chão, colocando em seguida a sola do tênis em sua garganta.
-- Eu não preciso de vovô para me proteger. - forçava mais o tênis contra a garganta da mulher caída - Quando eu quero, faço na hora e não espero ninguém. – mirou bem os olhos da garota que estavam assustados e vidrados naquele azul gélido. Um sorriso irônico, e, amedrontador surgiu naquele rosto lindo de pele morena, tornando-a irreconhecível. – Nunca mais fale da minha família ou chegue perto de Isadora, fui clara? – pisou com mais força, quase sufocando a mulher que mal conseguia respirar, mas, com muito esforço esboçou um leve aceno de cabeça, em sinal de completa rendição. Melissa se abaixou e com apenas uma mão, puxou a garota, retirando-a do chão – Agora vá antes que me lembre da vontade que estou em quebrar o pescoço de alguém para animar mais meu dia – ordenou falando próximo ao rosto da mulher, em um tom de voz e um olhar jamais visto por Isadora. Era um olhar frio, imparcial, um pouco sádico. Roberta saiu em disparada, tropeçando e levantando-se em seguida. Jurou a si mesma que nunca mais iria cruzar com Isadora ou aquela mulher louca.
-- O que? Me... Melissa o que foi isso? – Isadora não sabia explicar o que havia acontecido tudo tinha passado muito rápido.
-- Cala essa boca e vem comigo. – ordenou. Isadora permanecia assustada, mas achou melhor segui-la, afinal, todos naquele corredor haviam presenciado a discussão, e para um bom entendedor, seria o suficiente para escancarar a relação das duas.
-- Por favor, quer andar mais devagar? Não consigo lhe acompanhar neste ritmo. – pediu ao perceber que estava quase correndo.
-- Não tenho muito tempo, meu horário é corrido. – foi irônica.
-- Acha que o meu não é? – chegaram ao carro, à morena entrou e ficou esperando Isadora fazer a mesma coisa, era a primeira vez desde que começaram a namorar que Melissa não abria a porta para ela. Resolveu entrar e ficar em silêncio. A morena ligou o carro e saíram em direção ao parque onde costumavam ir. – Vai ficar muito tempo em silêncio?
-- O que aquela mulher queria com você? E por que não me falou que vocês se encontraram ontem? - perguntou sem se importar com a pergunta anterior.
-- Acho melhor você permanecer em silêncio mesmo. – cruzou os braços - Qualquer coisa é melhor do que sua desconfiança. – respondeu com ironia – Eu não planejei o encontro ontem, nem o de hoje.
-- Foi casual? - olhou rapidamente de lado - Oh, que coincidência não é? - falou com deboche.
-- Ela ontem... - tentou se explicar - resolveu assistir a mesma aula que eu iria assistir. – estava nervosa – Mel, eu sai de lá e deixei sozinha. Você mesma ficou surpresa em me ver ali no seu bloco, no meu horário de aula.
-- Mesmo? – perguntou com ironia após estacionar o carro - E por que veio tomar satisfação, hoje? – desceu e foi pela trilha que haviam se acostumado a fazer.
-- Mel, eu não sei. – estava cansada – Quer parar de andar assim? Suas pernas são maiores, tenho que correr para lhe acompanhar.
-- Vem aqui. – puxou a loirinha pela mão, quase a arrastando até o local mais fechado e próximo a nascente, a mesma que costumavam ficar para namorar. Ela parou e soltou a mão de Isadora.
-- Nu...nu...ca mais – estava ofegante com as mãos apoiadas as pernas, mal podia respirar – fa...faça is...so. – Melissa se abaixou, e retirou um lenço do seu bolso, em seguida afundou na nascente e deixou ensopar, retornou até Isadora, passando-o com delicadeza em seu rosto e colo.
-- Consegue respirar agora? – perguntou olhando as esmeraldas – Melhorou?
-- O que está acontecendo Melissa? Quase mata uma pessoa, chama a atenção de meia universidade, depois vem aqui correndo e ainda... – “permanece linda” – pensou em falar quando levantou a cabeça e se deparou com aqueles lindos olhos azuis que expressavam preocupação – ainda quase me mata com falta de ar.
-- Quero que você olhe ao redor. – abriu os braços.
-- O que tem? - permanecia com as mãos apoiadas aos joelhos e a cabeça baixa, ainda ofegante.
-- Sinta o cheiro do mato, o barulho da água. Ouça o bem-te-vi... - "Em definitivo a Mel hoje não está legal." - Isadora pensou ao perceber o momento contemplativo da namorada - o canto de outros pássaros. – sorriu - Olha ali um beija-flor! – apontou em direção a uma planta.
-- Acho tudo isso lindo, tranquilo... Melissa, o que tem isso haver com nós duas? O que está acontecendo?
-- Isadora, eu sou isso. – disse erguendo o rosto da loirinha e olhando firme para os olhos verdes. – Todo este mato está arrodeado pela cidade, por esta grande metrópole. Essa é você – retirou uma mecha de cabelo que caia em frente aos olhos verdes – O povo desta cidade precisa deste mato para amenizar a temperatura, relaxar, e até mesmo respirar melhor. Esse mato precisa que o povo desta cidade o preserve, cuide dele, proteja-o. – abraçou o corpo menor e beijou a cabeça loura, apoiando em seguida seu queixo por cima dela – Assim somos nós duas: mato e cidade, proteção e necessidade. Eu não conseguiria viver longe disso, e sei que você também não conseguiria viver longe desta cidade. – voltou a beijar a testa da loirinha – Proponho ficarmos na cidade até a metade da semana, na outra metade ficamos no mato. – Isadora começou a chorar, sabia o sacrifício que era para Melissa morar em São Paulo, por mais que achasse fácil o acesso às coisas, ela sentia falta de correr em seu cavalo, tomar banho de rio e comer frutas diretamente do pé. Sabia também que aquela exposição de sentimentos não era comum para a morena, e isso, deixou-a penalizada. – Não precisa decidir agora, apenas pense nisso. Isa se você achar melhor eu... Nós duas poderemos voltar a ser apenas...
-- Mel... – silenciou a morena com a ponta do dedo, afastou-se do corpo maior e ficou observando-a, passou os dedos ao redor do seu rosto, contornou a boca, nariz, olhos e sobrancelhas, não tinha como expressar seus medos diante daquela declaração de amor e um pedido para ficarem juntas, bem ao modo Melissa de ser. – Eu lhe amo tanto e moraria com você até debaixo da ponte.
-- Por que não disse isso ontem? – observava o verde dos olhos de Isadora.
-- Estava assustada, com medo e receio.
-- Medo? Receio de que? – beijou de leve os lábios de Isadora – Eu lhe amo tanto que seria incapaz de lhe colocar em qualquer situação de perigo. – falou pausadamente e cheia de ternura – Eu lhe amo demais Isadora. – apontou para o coração – Quando passamos uma noite como esta última... – baixou a cabeça, os olhos começavam a se encher de água – longe uma da outra... – voltou a olhar os lindos olhos verdes – não me prive mais da sua companhia, eu não suportaria, acho que morreria... – foi silenciada com um beijo.
-- Mel, o seu avô ainda não sabe de nós duas, ele tem planos para você. – contornou os lábios da morena – Não vou mentir, o seu avô me causa medo, asco, repulsa um misto de tudo isso, e, imaginar que aquilo foi indiretamente conquistado com o dinheiro dele, e a qualquer momento poderia chegar a nossa casa nos apontando um dedo, obrigando a fazer as coisas como ele quer... Isso tudo me abalou. – ficou na ponta dos pés para beijar os lábios da morena.
-- Desculpa – pediu após envolver a mão menor e leva-la até os lábios para beija-la.
-- Por quê?
-- Por ter lhe pressionado, por não entender seu lado, e por chamar atenção do povo na universidade.
-- Só isso?
-- Queria mais?
-- Que tal se falasse assim: “e por quase asfixiar Roberta com meu pé” – tentou imitar a voz da morena.
-- Por esta parte não me arrependo, tenho certeza que agora ela pensará duas vezes antes de lhe incomodar. – respondeu com um olho fechado e o outro aberto.
-- Mel, agora todos ali no jornalismo sabem que somos um casal.
-- Não necessariamente. – pensou um pouco – Ninguém ouviu nada demais ali, só duas mulheres no barraco. – sorriu como uma criança travessa.
-- O que esta cabecinha está pensando? – perguntou também sorrindo.
-- Acredito que não só ela, mas um montão de gente ali, não vai mais olhar para você, viu as expressões de medo?
-- Melissa Cristina! Você vai ao prédio do meu curso, arma um barraco, e ainda fala de expressões amedrontadas, agora que não arrumo amigos mesmo.
-- Exato! Amigos só verdadeiros e sem segundas intenções. - sorriu
-- Tudo isso e não consigo ficar com raiva dessa carinha sapeca?
-- Gostei dessa parte. – esticou os braços para puxa-la e lhe deu um beijo. – Agora, responde uma coisa: foi só por causa do meu avô que não quis ficar naquelas terras? – Isadora a olhou nos olhos e baixou a cabeça.
-- Não. – Melissa a puxou para sentar – Então, o que acha se conversarmos sobre isso?
-- Mel...
-- Nada menos do nossa sinceridade de sempre.
-- Eu também pensei nas oportunidades profissionais que poderia perder. Quero muito vencer na minha profissão, ser reconhecida e boa naquilo que gosto. Não quero depender de você para tudo, além de viver. – Melissa sorriu e se beijaram. – Depois de ontem à noite, percebi que não consigo mais dormir sozinha, preciso do seu corpo para me encaixar. – Melissa voltou a sorrir – Durmo tão bem, agarradinha a você.
-- Isso é um...
-- Isso é um sim. Quero me casar com você, e dormir toda noite com agarradinha a este corpinho que me deixa louca.
-- Imaginei isso: tudo só para usar este corpinho. – declarou de forma brincalhona. Isadora a empurrou com o corpo, mas a morena a agarrou e beijou.
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-- Melissa, você só pretende morar ali depois de nos formarmos não é?
-- Isa, eu terminarei antes de você, posso muito bem começar a tocar o projeto. – passou a mão pelo rosto molhado da namorada – Construir nossa casa, montar um local legal para vivermos...
-- Mel, eu preciso lhe ajudar, não acho justo e nem correto você bancar tudo. – interrompeu com um ar preocupado.
-- Amor, – enlaçou o corpo menor pela cintura, deixando que água do chuveiro caísse sobre elas – vamos começar uma vida, ou seja, teremos anos pela frente, até ficarmos velhinhas caducas.
-- E acha que só vou ter condições de ajuda-la quando ficar velhinha? – perguntou enquanto acariciava os seios eretos de Melissa.
-- Não, falei isso... – sentiu o carinho - Ah Isa, assim não consigo raciocinar! – a pequena acariciava um seio, enquanto ch*pava o outro. Isa... Amor... – a loirinha parou e sorriu franzindo o nariz e esperou que Melissa concluísse – Estou tentando explicar que temos uma vida toda pela frente para curtir, viajar e uma ajudar a outra a crescer. – estava difícil de falar com todas aquelas carícias – Você ainda vai ser a melhor jornalista do País, e publicar todas as suas histórias.
-- Histórias que falam, indiretamente, da nossa vida e da nossa relação. – concluiu interrompendo-a. - Vamos sair? Esse negócio de você gostar de água “natural” ainda vai me matar de gripe ou pneumonia.
-- Exagerada! Pois saiba que ela está meio termo: nem “fervida” como você adora, e nem natural como eu gosto. - beijaram-se novamente – Vem, não quero ser a responsável por sua morte por gripe.
-- Iria morrer de remorso e saudades. – brincou enquanto saia do chuveiro.
-- Na verdade, pensei nas despesas com o velório. – viu a expressão de surpresa de Isadora e logo em seguida uma careta.
-- Irritante como sempre. – constatou jogando os ombros.
-- E você ainda me ama, mesmo assim. – sorriu para a loirinha e logo em seguida foi beijada.
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-- O senhor está propondo que converse com a minha filha sobre um possível relacionamento com o homem que o avô dela escolheu?
-- Não é assim, também. – levantou-se da poltrona e foi pegar um pouco de bebida. - Daniel, você é tão dramático, nem parece meu filho.
-- Às vezes, eu também acho difícil tê-lo como pai. – pensou alto e viu o velho lhe oferecer um copo com bebida que recusou. – Eu não vou mover um dedo para ajuda-lo. – o velho sorriu com sarcasmo e bebeu tudo o que havia no copo.
-- Vai me contrariar? – Daniel se levantou e encarou o pai.
-- A minha filha é sagrada, não admito que a envolva em seus negócios.
-- Seja homem. Sua esposa e filha mandam em você.
-- Eu sou homem, e por minha família sou de homem a um leão. – saiu encerrando o assunto.
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-- No que você está pensando? – perguntou após observa-la por alguns minutos.
-- Na vida. – estava com os braços apoiados por baixo da cabeça e olhava o teto - Tem tanta coisa ainda para vivermos e conhecermos. – virou o corpo de lado, apoiou a cabeça na mão e ficou de frente para Isadora. – Esse apartamento, eu quero um maior e com uma imensa banheira de hidromassagem, sinto falta destes confortos.
-- Como nunca tive, não sinto. – sorriu e concluiu - Vamos conquistar as coisas aos poucos, sempre dentro das nossas possibilidades. – passou a mão pelo rosto da morena, que fechou os olhos para sentir melhor o carinho. – Agora somos iguais, nada de querer um padrão superior ao que podemos.
-- Eu sei Isa, mas é impossível ficar assim, sem pensar que a partir de agora somos realmente um casal e que vamos construir nossas vidas juntas. – beijou-lhe com carinho - Quero lhe oferecer todo o conforto do mundo.
-- Vamos aos poucos, concorda? – sentiu o dedo indicador de Melissa percorrer seus lábios.
-- Ainda sente medo?
-- Sinto. – pensou por segundos - Meu pai e seu avô. – respirou fundo – Não sei explicar, mas às vezes chego a visualiza-los tentando nos separar.
-- Mulher de pouca fé. Só irão nos separar se não confiarmos uma na outra e compartilharmos tudo.
-- Acha que isso é o suficiente? Melissa eles são... – não achava palavras – Não se importam com os nossos sentimentos.
-- Sim. Confiança e sinceridade fecham as brechas por onde os ratos e baratas usam como passagem. – voltou a deitar como antes, observando o teto e pensando – Não podemos deixar brechas amor. – Isadora também deitou e ficou olhando o teto, pensando nas festas de final de ano, e resolveu, então, mudar o assunto.
-- Mel, já reparou que o Natal está chegando? Próxima semana nós entraremos em férias, e ainda não planejamos como faremos nas férias.
-- Realmente não pensamos. – mentiu – Na verdade ficarei trabalhando, não sei se teremos tempo para alguma coisa. – teve vontade rir imaginando a expressão da loirinha - Acho até uma boa você ir para casa da sua mãe. Próximo ao Natal enviarei seu presente e...
-- Melissa Cristina, diga que está brincando ou nunca mais falarei com você. – ameaçou após bater em seu ombro e pular para cima do corpo maior.
-- Na verdade eu não... – falou com o semblante sério, queria continuar a brincadeira, mas, com aqueles olhos verdes tão próximos, não resistiu e se rendeu aos seus encantos. – Falei a verdade. – declarou sorrindo – Agora, você teria coragem de não falar mais comigo?
-- Sim, se insistir nessa ideia. – segurou o rosto da morena e beijou com ternura. – O que pretende fazer? – abriu um lindo sorriso que foi retribuído.
-- Agora? – sussurrou no seu ouvido.
-- Não sua palhaça insaciável. Estou falando nas férias. – estava se divertindo com a expressão da morena.
-- Tudo bem. Eu sei quando perdi uma boa cantada. – recebeu uma tapa – Ai! - alisou o braço - Pretendo passar as festas de ano na casa do meu avô, e metade das minhas férias. – declarou observando-a – Aposto como o vô Eliezer vai adorar minha companhia para organizar aquela confusão lá no sítio - viu os olhos verdes mudarem de tonalidade.
-- Está falando sério? – sorriu.
-- Nunca falei tão sério em minha vida.
-- Mel será nosso primeiro Natal juntas. – gritou – E eu com medo de passarmos separadas. – falou de uma vez, até ser calada com um beijo.
-- Vamos ficar juntas nas festas e por um bom período, curtindo o vô Eliezer.
-- Não está brincando?
-- Quer apostar?
-- Lembre-se que a última aposta eu ganhei, e você ainda me deve.
-- Quer que comece a lhe pagar os juros agora?
-- Quero.
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-- Jú, próxima semana começam nossas férias, eu e Mel vamos viajar. – resolveu explicar enquanto tomam o café da manhã – O que pretende fazer neste período?
-- Não sei Isa. – ficou pensativo – Meu pai não tá aqui, tá ligada?
-- Para onde ele foi agora?
-- Foi com a esposa e o filho dela para os Estados “reunidos”. - explicou com tristeza.
-- Jú, eu sei bem o que você está passando. – lembrou-se da indiferença dos pais – Se quiser ir conosco para casa do meu avô, tenho certeza que ele vai adorar.
-- Oh Isa, só “tu mermo tá ligada”? – abraçou a loirinha. Isadora adorava o amigo, mas, só depois do convite lembrou que não havia comentado nada com Melissa, e o medo de que ela ficasse chateada surgiu como um clarão. – Isa, cadê a gostosa?
-- Respeita ai cara. – jogou um pedaço de pão no amigo - Aquela lá tem dona. – brincou.
-- Eu não sabia que as mina tinha tanta resistência assim.
-- Como assim resistência? – comia tranquilamente.
-- Assim né Isa, você tá ai, baixinha, “mais menor” que a Mel, tá ligada? E ai você consegue dar conta daquela mina toda, e olha que ela é grande, deve de ter um monte de carne para ser apreciada...
-- Conclui logo João Matias. – começava a se irritar com as observações sobre Melissa, o monstro do ciúme mostrava sua face.
-- Ai você vem e “pá”! “Tem de ter uma resistência, tá ligada”? Tem muito “muleque” ai que não tem resistência pra segurar “suas mina”.
-- João, eu agora fiquei na dúvida. – constatou observando-o e tentando compreender sua explicação - Você quer dizer resistência ou competência? – bebeu um pouco do suco.
-- Oh Isa, todo mundo sabe que você não tem competência, até porque você não compete com ninguém, a Mel é “amarradaça” em você, tá ligada? É só tu na fita da gata. - a loirinha quase cuspiu o suco fora.
-- Júnior... – foram interrompidos por alguém na porta – Quem será a essa hora? O porteiro nem nos avisou...
-- “Deixa eu ir ver que pode ser um netuno querendo assaltar”. – levantou-se da mesa.
-- Gatuno Júnior – corrigiu.
-- Gato também “rodopeia” as coisas dos outros? – perguntou abrindo a porta e se deparando com o pai de Isadora.
-- Bom dia! – disse o senhor parado a porta vendo aquela cena e imaginando coisas onde não havia. – Isadora...
-- Papai? – levantou-se surpresa da mesa e só então decifrou a expressão de repreensão do seu pai. Ela estava vestida apenas com um camisão velho de Melissa e o rapaz de bermuda de pijama.
-- Este é seu namorado? – perguntou antes de qualquer coisa.
-- Não... O senhor nem fala isso, ou eu serei um cara morto, antes das doze marteladas do hino. Mel é fogo e me mataria se... – adiantou-se em se explicar antes mesmo de Isadora intervir.
-- O que? – o homem gritou interrompendo-o – Quem é esse palhaço Isadora?
-- Pai, esse é João Matias Júnior, nosso amigo que divide apartamento comigo e Melissa. – olhou o rapaz e viu que ele quase havia lhe entregado – Ele é filho de um deputado, o senhor deve conhecer: João Matias. – percebeu os olhos do pai brilharem - Jú, você pode dá licença? – virou-se para o pai – Meu pai quer conversar comigo.
-- Oh Isa, onde você guardou isso? Você sempre pede por coisa difícil – concluiu coçando a cabeça.
-- Vai lá dentro e procura no seu quarto, e só apareça depois de achar. – disse baixinho ao amigo.
-- Que idiota é este Isadora?
-- Pai, ele só estava brincando. – tentou disfarçar – O que lhe traz aqui? – cortou o assunto.
-- Vim resolver alguns problemas em São Paulo e bateu saudade. – beijou a testa da filha – Onde está à neta do senhor José?
-- Melissa foi no escritório, ela tinha uma reunião com o pai.
-- Ela está assumindo os negócios, é filha? – puxou a baixinha para sentar no sofá e começou o interrogatório sobre Melissa. Timóteo encheu a filha de perguntas sobre a morena, sem imaginar que eram namoradas. Isadora explicou e respondeu a tudo com muita paciência.
-- E esse daí? – apontou para o quarto do rapaz – Ele saiu de qual circo?
-- Papai, João é filho de um deputado federal, como já falei, e veio morar aqui, conosco, a pedido do próprio pai dele. – achou melhor omitir as verdadeiras circunstâncias pela qual o rapaz foi morar com elas.
-- Deputado Matias? – abriu um sorriso. – Não conheço.
-- Eles não são daqui, e sim de Goiás.
-- Filha, esse rapaz é ótimo partido para você.
-- Papai, eu vim para cá apenas para estudar, e não arranjar casamento.
-- Pode unir o útil ao agradável. – olhou em direção ao quarto – Chame-o aqui, quero conhece-lo melhor.
-- Papai, não acho uma boa ideia, teremos prova amanhã, ele está estudando.
-- Bem, sendo assim, ele realmente precisa estuda. – olhou o relógio – Tenho uma reunião agora, mas passo aqui depois. O que acha de almoçarmos juntos?
-- Tenho essa prova amanhã, e no primeiro horário da tarde, apresentação de um trabalho. – na verdade, Isadora havia combinado com Melissa de passarem a tarde juntas, fazendo as compras de Natal, já que iriam viajar no final de semana e antes disso não teriam mais tempo para compras.
-- Assim mesmo, depois que os filhos crescem, esquecem-se dos seus pais. – pegou a mão da loirinha – Pelo menos já combinei com sua mãe, você passará Natal comigo na casa dos Alcântara Peixoto e festa de ano, com ela.
-- Espera ai, desde quando vocês combinam as coisas sem me consultar? – perguntou se levantando do sofá e caminhando para longe do pai.
-- Não precisamos consultar. Somos seus pais, eu pago por seus estudos, e decido onde você passará as férias.
-- Pai, o senhor está equivocado, passarei o Natal e festas de ano onde passei nos últimos dez anos da minha vida, ou seja, com meu avô.
-- Aquele velho perdedor? O que ele pode lhe oferecer? Além do mais, na casa dos Alcântara Peixoto tem sua amiga, ela certamente poderá apresenta-la, a um daqueles fazendeiros da vizinhança com quem tem amizade.
-- Pai, Melissa vai viajar, não estará na casa do avô. – Isadora se segurava para não perde a paciência.
-- Viajar? Para onde ela vai?
-- Acho que para Europa, não sei. – mentiu mais uma vez.
-- Deve ser na companhia de Joaquim de Aquino Souza. – sorriu ajeitando as calças - O avô dela tem sido um grande incentivador na relação dos dois, semana passada mesmo eles saíram juntos. O velho anda em uma felicidade só.
-- Quem saiu com quem? – Isadora não entendia o que pai havia falado.
-- Joaquim e Melissa. Minha filha, esse sim seria um grande partido para você: rico, jovem, filho único e herdeiro de uma grande empresa do ramo de importação e exportação.
-- O senhor José lhe disse que eles saíram juntos? - neste momento foram interrompidos pelo telefone, e antes que Isadora levantasse para atender, Júnior saiu gritando que atenderia.
-- Oh Isa, é a sua morena, a gata – gritou.
-- Morena gata? Sua? Quem é? – perguntou sem entender.
-- Pai é assim que ele chama a Mel – viu a expressão do pai e resolveu completar – Ele diz “sua” por ela ser minha amiga. – disfarçou e pegou o aparelho respondendo com indiferença. – Oi.
-- Nossa, que frieza! Antes era “meu amor, tudo bem?” Agora um simples “oi”.
-- Sempre será como antes Melissa, não se preocupe. – olhou para o pai – Agora vêm as respostas. – pensou na última informação obtida.
-- Ahaaa... – sorriu - Agora você acalmou meu coração, pensei que estava correndo algum perigo. – sorriu - Amor, passo ai ao meio dia para almoçarmos. O que acha de comida japonesa?
-- Meu pai está aqui, veio me visitar. – queria avisa-la sobre a visita repentina.
-- Ele vai ficar muito tempo?
-- Ainda não sei. – observou o pai que estava atendo a conversa – Ainda não terminei o trabalho por completo, e esta apresentação de hoje à tarde vale pontos preciosos na final. Eu não posso sair, preciso de boas notas ou rodo na disciplina. – era a forma que encontrou de se livrar do pai e comunicar a namorada do grande problema que estava enfrentando com a visita.
-- Mas você não tem aula hoje e... – parou e pensou melhor – Ah, entendi! Ele no mínimo quer sair com você, não é? – não conseguiu disfarçar o incomodo em imaginar aquele homem da estirpe do seu avô interrogando sua baixinha. – Caso resolva almoçar comigo, ligue-me depois. – Isadora percebeu a mudança no tom de voz, e mais do que nunca, precisava se livrar da visita e sair com Melissa, pois aquele seria um almoço especial, aniversário de namoro, “mesversário”, como elas chamavam, e comemoravam todos os meses, desde que começaram a relação.
-- Ligarei sim. Obrigada e não se preocupe, assim que terminar eu retornarei para lhe avisar o resultado. – concluiu antes de desligar.
-- Minha filha, você está com algum problema? – sua preocupação era muito mais com o relacionamento entre as amigas, do que com sua filha. - Senti uma tensão no ar...
-- Não pai, apenas nervosa, preciso de uma boa nota hoje, ou poderei perder a matéria.
-- Desde quando você precisa de nota, Isadora?
-- Papai – passou as mãos pelos compridos cabelos loiros – Agora estou na universidade, o volume de matéria e leituras são maiores do que na escola, tenho sim algumas dificuldades, às vezes.
-- Bem, então não quero atrapalha-la, voltarei para casa depois de resolver tudo. – fez menção em se levantar – Ah, sua mãe lhe falou que pretende vender o sítio do seu avô?
-- Como é? Que história é essa? – ficou indignada.
-- O velho Eliezer não tem mais idade e saúde para morar sozinho, ela conversou comigo e decidi que seria melhor vender aquele monte de terra sem utilidade.
-- Papai, o senhor decidiu? Acredito que vocês esqueceram o mais importante: aquela é a casa do meu avô e ele cuida dali com bastante zelo, quem deve decidir ou não é ele.
-- Não é bem assim, minha filha. Seu avô tem uma idade avançada, posso entrar com um pedido para interdita-lo caso ele se oponha. – beijou a cabeça da filha - Estamos fazendo tudo pelo bem dele, mas não quero conversar sobre isso agora, você ainda tem uma visão romântica e saudável dele, não temos tempo para conversas longas.
-- Vovô é um homem saudável, lúcido e muito trabalhador.
-- Depois falamos sobre isso, preciso ir. – saiu, deixando-a sozinha com seus pensamentos.
“Ela nunca teve tempo para ele, ou para ninguém” – Isadora pensou e quase respondeu ao pai, mas achou melhor não entrar em detalhes, depois pediria a Melissa para ajuda-la a retirar essa ideia da cabeça da sua mãe.
Assim que seu pai se retirou, ela ouviu a voz de Júnior comunicando que também sairia.
-- Oh Isa, eu vou para minha aula.
-- Aula? Qual aula garoto? – estava distraída, pensando em todas as informações repassadas por seu pai.
-- Minha aula de direcionamento. Olha, eu acho que semana que vem, consigo marcar a prova, quem sabe eu não vou até o sítio dirigindo meu próprio “carango”?
-- Oh, que bela notícia! – disfarçou o medo que sentiu com a nova informação.
Isadora ligou para Melissa e combinou o horário do almoço, depois tomou banho, e tentou relaxar um pouco, estava preocupada com a notícia sobre a venda do sítio e intrigada com a informação de que sua namorada havia saído com Joaquim. Ao meio dia em ponto Melissa chegou para pega-la.
-- O que há pequena? – perguntou enquanto dirigia, sentindo a namorada um pouco quieta.
-- Estou pensando no que meu pai me falou.
-- Segredo de família? – brincou.
-- Só se for da sua família. – respondeu com ironia.
-- Minha família? O que tem ela? – colocou a mão na coxa da loirinha, acariciando-a.
-- Melissa Cristina, você saiu com Joaquim semana passada? – apertou a mão que acariciava sua coxa.
-- Co... Como? Quem lhe falou isso Isadora? – sentiu o aperto da loira em sua mão.
-- Seu avô disse ao meu pai. – observou a namorada que permanecia dirigindo – Ele estava feliz porque a neta iria sair com o rico e herdeiro da empresa de importação e exportação. – falou com ironia e foi interrompida por Melissa.
-- Ei, espera ai mocinha, eu não sai... – olhou rapidamente para a namorada – Ele veio falar comigo na universidade, fez o convite e me pediu para, ao menos, acompanha-lo no almoço, e, eu me neguei.
-- Negou Melissa? – passou a mão pelo rosto – E por que não me contou?
-- Sei lá Isadora, achei desnecessário. Eu falei com ele por educação, apenas isso.
-- Achou desnecessário? Fez aquele escândalo com Roberta e achou que não precisava falar sobre seu “deus grego”. Casal lindo este, o deus com a deusa grega... – permanecia em tom de ironia.
-- Isadora, a situação com Roberta era beeeemmmm diferente, lembra-se que as duas eram namoradas? Ela ainda insiste para isso voltar a ser uma realidade.
-- Joaquim nunca foi seu namorado e não insiste para isso? – retrucou irritada.
-- Ele sabe que não o quero mais, já deixei isso claro. Quanto à “inha”, eu também fui obrigada a explicar para ela que havia terminado tudo.
-- Olha Melissa, eu não vou responder a este argumento, mas quero aproveitar a “clareza” do momento para jogar um pouco mais de alvejante sobre você: eu não quero sonhar que Joaquim veio falar com você ou lhe convidar para alguma coisa. – estava sendo autoritária. Melissa achou engraçado o tom de voz da namorada, era nítido seu ciúme, mas, por medo de aumentar a discussão, preferiu fazer de conta que não estava gostando da conversa.
-- Como vou proibi-lo de se aproximar de mim Isadora?
-- Imaginação você tem Melissa Cristina, ou não teria afastado Roberta.
-- E...
-- Sem “e”, “mas”, “porém” e “no entanto” Melissa, será assim, ponto.
-- Isadora, eu lhe amo e...
-- Não tem Isadora, eu quero assim. – foi firme e encerrou o assunto. – Outra coisa que me incomoda. – comunicou observando-a, ela havia parado em um sinal e lhe lançou um rápido olhar, que por alguns segundos, pareceu se divertir com a situação.
-- Sim.
– Minha mãe resolveu vender o sítio do meu avô.
-- O que? – perguntou com uma expressão preocupada.
-- Isso mesmo. – colocou a mão sobre a coxa da morena – Mel, nós podemos fazer alguma coisa? Meu pai pensou até em interdita-lo com a desculpa de que ele era um velho inválido e sem condições de viver sozinho.
-- Desculpa Isa, mas teus pais parecem que fizeram aulas práticas e teóricas com meu avô.
-- Pensa que não sei? – falou com pesar, o que foi percebido pela morena.
-- Desculpa amor, apesar de tudo, eu tenho que agradecer aos seus pais. – apertou a mão da loirinha.
-- Agradecer? A que?
-- Por ter colocado no mundo a pessoa que mais amo, a minha pequena alma gêmea. – apertou mais a mão da loirinha e sorriu - Pequena, vamos nos divertir, depois falamos sobre isso, afinal, hoje é o nosso dia, e ainda quero que minha gatinha venha miar e ronronar para mim.
-- Tudo bem Mel, você tem razão. – apertou a coxa da morena.
-- Sempre tenho razão, minha pequena. – esticou-se e beijou o seu rosto. Ela lhe olhou com um sorriso triste. – Esqueci-me de falar uma coisa séria...
-- O que? Chega de notícias bombásticas hoje.
-- Só queria dizer que amoooooo muito você, minha linda pequenina.
-- Sabe que não conheço essa tal pequenina? – respondeu fingindo indignação.
-- Não? Ela hoje estava na minha cama, morrendo de preguiça para se levantar, fora o tempo que gastei para despertá-la.
-- Ela é dorminhoca assim?
-- Oh sim. – olhou para loirinha rapidamente e sentiu, novamente, a mão sobre sua coxa, apertando-a – Descobri uma fórmula secreta para desperta-la e fazê-la levantar em minutos.
-- Verdade? Que formula é essa? – permanecia sorrindo e apertando a coxa da morena.
-- Café da manhã. Digo a ela que o café está pronto, e em questão de segundos ela está pronta na mesa.
-- Ei, estou com pena desta sua “pequena”, ela já foi mal falada no tamanho, chamada de dorminhoca e agora comilona.
-- Mas ela é linda, maravilhosa e irresistivelmente gostosa. – concluiu sorrindo e recebendo um beijo no pescoço.
-- Tenho certeza que hoje ela vai ronronar no seu ouvido. – completou em sussurros deixando-a arrepiada.
Fim do capítulo
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Alexia
Em: 16/06/2017
Olá! Rafa, bom dia!
Que bom que Mel e Isa se entenderão muito feliz por elas amei a rasteira que a Mel deu na "inha' rs é uma pena no mundo existir pessoas que nem o calhorda do Joaquim e companhia torcendo pelas meninas pois daqui a pouco entramos na reta final né! q triste
Melhoras bjs até o próximo capítulo!
Resposta do autor:
Oi Alexia, infelizmente no mundo existem muitos Joaquins e "inhas". mas encara assim: faz parte da nossa evolução! Infelizmente, essas histórias traduzem um pouco da nossa realidade, principalente no que diz respeito ao preconceito. Vai perceber isso no próximo capítulo (se não estou enganada). O "amor" de uma vida que nossos familiares dizem sentir, foge com uma rapidez, e ficamos só no vácuo.Não posso falar muito ou acabo entregando a história. kkkk... Beijos. Minha voz já tá voltando, e a tosse sumindo. Obrigada querida!
Suzi
Em: 15/06/2017
Gente essas duas estão terríveis. Kkkk
Até que enfim não brigaram, conseguiram antes de tudo conversar..
Ufaaaa esse? pai da Isa, credo.
Resposta do autor:
A tendência vai ser diferente, aguarde! Chegaremos a um ponto "de partidas" sem retornos.
Beijos e até o próximo capítulo.
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