Me despeço de Gino, com uma vontade de ir a Itália e lhe dar umas boas palmadas. Quando tudo parecia estar se ajeitando, meu passado parece ter desmoronado em minha cabeça. Eu sabia estar gostando de Sabrina e não queria que nada atrapalhasse aquilo, sobre o fato de não morar no Brasil pra mim aquilo era apenas um detalhe.

Minha outra preocupação naquilo tudo era Tia Vivian, não sabia porque mais desconfiava que a ligação dela com Sabrina era bem maior que ela dava a entender.

A passos largos retorno para meu chalé, eu precisava resolver aquele assunto o mais rápido possível, até porque não queria começar nada com mentiras. A primeira coisa que faço ao entrar no chalé é ligar pra Itália.

-Oi minha filha! adivinhou meus pensamentos, ia te ligar- mal tia Vivian responde, disparo a falar.

-Tia Vivian, qual sua relação com a Sabrina- sinto do outro lado sua respiração alterar, mas eu precisava ir até o fim- Estou apaixonada por Ela!

Ouvi do outro lado da linha, um barulho como o de um objeto caindo. Com certeza era o celular de minha tia que ia ao chão. Passaram-se alguns segundo antes de ouvir sua voz outra vez.

-como assim apaixonada! Você ficou maluca Giulia, minha filha não é lesbica- para de falar abruptamente, apesar de minha desconfiança jamais poderia imaginar algo daquele tipo.

-Sua filha! - Eu estava pasma, sem ação- Como assim sua filha?!

Minha tia parecia atordoada do outro lado, respiro fundo até mesmo pra enfrentar o que vinha pela frente.

-ela é minha filha Giulia, minha filha!

-meu Pai sabe disso tudo? - queria saber todos os detalhes.

-Sabe, ele conheceu Sabrina ainda bebe- era muita informação pra um dia só, olha que eu ainda estava digerindo sobre Sabrina ser filha dela- agora me conta essa história sobre você está apaixonada por ela? Ela não tinha um namorado?

-Ela terminou com Ele.

Narrei pra minha tia tudo o que havia acontecido desde o dia que cheguei a ilha até agora. Logico que não contei os detalhes íntimos, apesar de não ter segredo com ela, saber que Sabrina era sua filha me travava.

-como assim ele foi bruto com ela?

-digamos que ele não aceitou muito bem o termino do namoro! -apesar de estarmos conversando sobre minha história com Sabrina, não saia de minha cabeça o porquê ela ter deixado ela pra trás, quando resolveu seguir com meu pai- Tia! - faço uma pausa organizando meus pensamentos-porque a senhora abandonou Sabrina? porque não a levou para Itália?

A escuto suspirar como o que estivesse por vim soltasse fantasmas adormecidos.

-E uma longa história!

Tia Vivian narrava sua história, ou seja a da família da mulher que eu estava apaixonada. E a cada passagem me espantava mais e mais. Aquilo não era bem a história que haviam me contado desde que cheguei a ilha.

Agora conseguia entender um pouco sua Tia, apesar de não querer fazer parte daquela confusão toda, eu já estava envolvida até a alma.

-só te peço que não fale nada Giulia, Na hora certa irei ai conversar com minha filha!

-o que a senhora está me pedindo é um pouco complicado. Estarei mentindo pra ela e quando souber vai me odiar!

-você não estará mentindo, só irá omitir! - na minha cabeça está escondendo fatos do passado dela, era o mesmo que estar mentindo. Apesar de não concordar, levei em conta todo o sofrimento de minha tia até ali-Giulia só te peço uma coisa...Não faça minha filha sofrer! Ela já sofreu muito, não só com minha ausência em sua vida como a de Sandro agora.

-Tia estou completamente apaixonada por ela! Eu tenho medo de sofrer mais uma vez, por tudo que estar por vim- Pensei se deveria falar de Pietra , de uma forma ou outra ela iria saber, então achei melhor eu mesma contar. -Tem mais uma coisa que precisa saber! - aquilo era uma situação que estava fora do meu controle- a Pietra sabe onde estou, tenho a certeza que aparecera por aqui mais cedo ou mais tarde.

-Mas como ela soube, nem eu, nem seu pai comentamos nada- Fiquei calada por instantes, ela parece refletir do outro lado- GINO! Não acredito que ele falou depois de tudo que conversei com ele!

-pois falou e Agora ela sabe onde estou!

Minha tia falava a todo instante que ai puxar a orelha de seu filho pra deixar de ser fofoqueiro, eu ria aliviando um pouco a tensão que me encontrava por tudo que estava a acontecer, mais fazer o que! o estrago já tinha sido feito, agora era torcer pra que Pietra desistisse de qualquer intensão que tinha em relação a mim.

...

Depois da saída intempestiva de Mari fico ainda algum tempo pensando, em como aquela mulher conseguia fazer com que perdesse totalmente a compostura. Era mais forte que eu! antes conseguia usar de sarcasmo para com ela sem que me afetasse tanto, mas seu interesse pela Italiana despertou algo em mim que não conseguia explicar!

Eu precisava sair, ver gente, me divertir pra tirar aquela garota da cabeça. E só tinha uma pessoa que poderia me ajudar e que conhecia meus sentimentos contraditórios.

-oi sapinha encubada, nos vimos ontem já está com saudades!

Odiava quando ele me chamava assim, pra minha sorte isso só acontecia quando estávamos a sós.

-quer para de me chamar assim! Quer ver como conto seu segredo!

-você não teria coragem, tem muito mais a perder que eu!

Eu caio na gargalhada, ele tinha a perder tanto quanto eu. Em uma de nossas saídas descobri em um porre de Bernardo sua paixão por meu irmão, esse só faltou me pedir de joelhos quer nunca comentasse o ocorrido, por medo de perder a amizade de Giovane.

-estou afim de sair esse final de semana. Talvez uma boate! O que acha?

-que tal no sábado! Vou pedir para Melissa cuidar do bar pra mim- Melissa era irmã de Bernardo, ela mantinha um namoro a três anos com Jaime, praticamente moravam juntos, e as vezes que precisava se ausentar, os dois cuidavam do Bar- o que aconteceu? Geralmente sou eu a convidar.

-eu preciso respirar outros ares!

-é a Mari?

-essa mulher me tira do sério! Vive agora que nem cão sem dono atrás da Giulia!

-isso é muito tesão, muita vontade de dar a perseguida pra ela- sinto arrepio pelo corpo ao escutar aquelas palavras. Penso em algo que a muito não pensava...o gosto do beijo de Mari, que apesar do tempo passado não saia de minha mente- se ficou calado é sinal que acertei.

-ficou maluco Bernardo!

-eu não! Você que fica se fazendo de difícil, ao invés de agarrar a devastadora pelo pescoço e leva-la pra sua cama.

-vou logo avisando, não quero nenhuma menção do nome da Mari esse final de semana!

Bernardo gargalha, antes de comentar.

-até parece! Quando fica porre não para de falar: ah Bê como ela beija bem, ah Bê como ela é linda- fala imitando minha voz- Só falta falar agora: Ah Bê como ela fode bem, mais isso acho que vai demorar um pouco a escutar.

-No dia de São nunca, você vai escutar isso de mim!- Bernardo ria tanto que soluçava.

-acho que esse dia está mais próximo do que imaginas!

-aff não dá pra conversar a sério com você, deixa voltar ao trabalho!

-e quem disse que não estou falando sério?

Eu nem respondo, me despeço com a promessa de entrar em contato antes de nossa ida para a Capital.

Estava conversando com Ivan, pedia a ele para entrar em contato com os meninos que geralmente iniciavam nosso rotineiro luau a noite, e com Mari também pois não queria entrar em contato com ela pra evitar de me aborrecer pois Havia chegado um grupo de jovens de São Paulo para conhecer a ilha, falei pra eles a respeito de nossas trilhas, grutas e praias espalhadas por toda a ilha. Em nossa conversa Perguntaram se tínhamos guia para os acompanharem, meu primeiro pensamento foi de que a guia ia adorar, pois tinha três moças lindas integrantes do grupo, era sempre assim ficava imaginando cenas que muitas das vezes não sabia se eram verdadeiras.

-Amália, se alguém me procurar diz que tive que ir a Cidade!

Estranhei o comportamento de Sabrina, ela parecia nervosa, preocupada.

-aconteceu alguma coisa?

-Ainda não sei! O gerente do banco me chamou, disse que precisava conversar comigo.

Não entendi muito sua preocupação, pelo que eu sabia o prazo de pagamento do empréstimo feito a dias atrás, ainda estava longe pra vencer. E os mais antigos estavam em dias.

-estou com mal pressentimento!

Vejo minha amiga seguir, como se tivesse caminhando para furiosa tempestade.

...

Aquele telefonema não atendido de Giulia me deixou desconfiada. Depois de me despedir de Giovane sigo para meu escritório, mas antes de entrar resolvo ligar pra Italiana. Queria tirar a limpo aquela dúvida!

Tentei ligar três vezes e todas dava sinal de ocupado, o que só fez meu ciúmes e incertezas aumentarem. Entro e pego algumas contas que queria colocar em dias, uma tentativa em vão, pois mas meus pensamentos estavam em conflitos.

Sinto o vibrar do meu celular olho o visor e mais que depressa atendo.

-boa tarde amore Mio! Estava me ligando- me arrepio com sua voz e pela forma que sou tratada.

--estava sim, mais estava ocupado! – mais que depressa completo a frase, não queria dar a entender que estava desconfiada -quero conversar contigo, pode ser hoje à noite?

- Claro que pode, eu estava falando com minha madrasta- aquele comentário aliviou mais minha angustia. Mas sua atitude durante nossa conversa anterior não saia de minha cabeça.

-Vai ter Luau hoje à noite Você sabe que preciso participar, pode ser depois?

-estarei lá também, depois daremos uma volta pra conversar, tudo bem pra você? - confirmo que sim e antes de nos despedirmos a ouço falar- já estou com saudades sua.

Aquelas palavras aliviaram minha alma, apesar das dúvidas e incertezas que tinha em torno desse relacionamento, era muito bom saber que não era a única a ter aquele sentimento de falta da pessoa.

Passo pela recepção deixando recado para Amália, se acaso alguém me procurasse. Estava com mal pressentimento em relação ao que seria dito pelo gerente de seu banco!

Já estava a horas conversando com Miguel, minha cabeça parecia pesada de tanto tentar entender o que acontecera.

-Mas Miguel, eu mesmo dei o dinheiro para o Leo pagar a promissória, a duas semanas atrás!

-Sabrina não estou duvidando de você. Deve ter acontecido alguma coisa pois ele só pagou a promissória de sua loja.

Me calei no momento que escutei aquilo. Quando pedi para Leonardo ir no banco quitar a promissória, o mesmo alegou que não tinha o dinheiro que devia para quitar a sua.

Estava p. da vida e muito decepcionada com Leonardo, pois tinha a certeza que esta usara o dinheiro da pousada para quitar sua dívida.

-Miguel vou resolver isso, só te peço um prazo! você sabe que nunca atrasei minha dívida com o banco.

O gerente balança a cabeça confirmando.

-Sabrina só posso te dar alguns dias, daqui a pouco vence a outra que você fez e não vou ter como te ajudar!

-obrigada Miguel, deve ter tido algum mal-entendido, vou resolver com Leo- apesar da raiva que estava sentindo, Sabrina não queria comprometer seu ex, junto ao gerente do banco, pois eram amigos de longa data.

Sai do banco com a promessa de retornar em alguns dias, minha cabeça estava estourando! preferi não ir na loja de Leo pois sabia que íamos discutir, ia aguardar ele aparecer na pousada, que eu tinha a certeza não demoraria!

No retorno a ilha o única lembrança que aliviava minha tensão era Giulia, queria muito estar em seus braços naquele instante. Queria ser abraçada e esquecer os problemas que me assolavam.

Como Leonardo pode fazer isso comigo! Ainda estávamos namorando na época. Será que ele não pensou que atrasando tanto dias, Miguel iria me chamar pra saber o motivo desse atraso?

Minha cabeça formulava mil perguntas e desculpas, pois eu não queria acreditar que ele utilizará de minha boa-fé ao lhe entregar o dinheiro da promissória, para que realizasse o pagamento. Minha raiva ultrapassava minha vontade de chorar, de desabar.

A pousada apesar de estar recebendo bastante hospedes, ficava complicado retirar novamente o dinheiro pra quitar aquela dívida, visto que havia outras contas para pagar. Fora os funcionários que não trabalhavam de graça!

Mal cheguei na pousada, Amália se aproxima com a cara não muito boa, imaginei logo que tinha problemas à vista.

-Sabrina o hospede do chalé 09 ligou avisando que tinha uma infiltração no banheiro e alagou tudo!

Sinceramente quando falam que desgraça não chega sozinha, com certeza era “fato”. Reviro meus olhos, eu queria que esse dia terminasse logo e com ele os problemas que ele acarretou. 

-conseguiu falar com Ivan?

Geralmente esse tipo de problema era o Ivan que resolvia, ou seja meu amigo tinha mil e uma utilidade. Quando o problema se tornava mais grave ai sim eu procurava alguém na ilha pra realizar o serviço.

-Já sim! inclusive ele está lá tentando resolver- só agora minha amiga percebe meu semblante cansado- aconteceu alguma coisa?

Sabia que podia confiar em Amália, mais eu não estava em condição de repetir tudo que já ouvira do gerente do Banco.

-depois conversamos! Você viu o Giovane, preciso conversar com ele-Giovane além de um ótimo amigo, também era um excelente conselheiro. Iria conversar com ele a respeito daquela situação, apesar do jeito estabanado, o amigo saberia o que fazer.

-ele estava conversando com um dos hospedes. Oferecendo seus serviços! -era isso que gostava em seu amigo, sempre gostou de vender seus serviços, e olha que ainda não havíamos planejado nada! ele até me deu uma ideia de fazermos alguns folhetos, oferecendo o serviço de massagens para os hospedes e deixarmos na recepção.

-Assim que ele aparecer, fala pra me procurar! Se acaso o Ivan aparecer aqui me avisa também. Preciso saber o que houve!

Vou para meu escritório, normalmente ia direto pra cozinha pra conversar com Berta, mas naquele momento preferia ficar um pouco sozinha, até porque não entendia o porquê daquele enjoo.

Praticamente desabo no sofá de meu escritório. Fecho os olhos tentando aliviar a dor na cabeça que insistia em incomoda-la.

-Sabrina você queria me ver?

Giovane entra sem ao menos bater, me causando um susto pois estava concentrada em meus pensamentos.

-Pela cara que esta é problema na certa!

-Senta Giovane, preciso dos seus conselhos!

Quando termino de narrar a Giovane o que descobri aquela tarde, meu amigo estava lívido, parecia estar se controlando pra não explodir em palavreados.

-ESSE CARA É UM DESGRAÇADO!

-Não fala assim Gio...

-e não o defenda, ele foi um tremendo filho da Puta contigo. Porr* sabendo por tudo que estas passando, das dificuldades em tens todos os meses pra quitar essas promissórias, e fazer isso!

Meu amigo estava bem exaltado, eu sabia que ele estava certo, pois Leo não havia pensado nenhum pouco em mim. Mas mesmo assim não adiantava perder a calma.

-olha Sabrina, quando você for falar com esse cafajeste vou contigo! Agora temos que encontrar um meio de levantar esse dinheiro, pois tenho a certeza que aquele Ladrãozinho não tem- olho para meu amigo assustada com suas palavras- e não adianta me olhar assim, ele te roubou sim, pois se não tivesse o feito teria tido a dignidade de te falar e não deixar você descobrir assim, sendo chamada por Miguel-Giovane também conhecia o gerente muito bem.

-mas como Giovane! Estou como minha cabeça doendo de tanto pensar no que fazer.

-vamos fazer o seguinte, amanhã tentamos resolver isso. Não adianta pensarmos em uma solução com a cabeça quente. Amanhã com mais calma resolvemos isso- seu olhar sobre mim era de conforto.

Ficamos conversando sobre outros assuntos, foi bom pois consegui relaxar um pouco. Queria encontrar com Giulia, mas precisava primeiro tirar aquela angustia de meu peito.

As 19:30 sai de casa e encontro Ivan, pra meu alivio meu amigo e funcionário tinha resolvido o problema da infiltração “menos um problema” penso a caminho da praia. Estava conversando com Giovane e Amália quando vejo a Italiana vindo em nossa direção, meu coração dava saltos em meu peito só de olha-la. Meus olhos em nenhum minuto perderam seus compassos, atitude minha notada não somente por meu amigo, mais também por sua irmã.

-Eta se soubesse tinha trazido um babador! A baba esta escorrendo!-Amália brinca.

-boa noite! - Giulia se aproxima, me olhando intensamente sem disfarçar. Seu sorriso se abrange ao chegar mais próximo.

Respondemos praticamente os três juntos. Minha vontade era de me jogar em seus abraços e receber seus beijos e carinhos.

Ficamos os quatro juntos boa parte da noite. Eu não via a hora de sair dali e ficar a sós com ela. As 22:30 resolvo me retirar, torcia para que Giulia entendesse que queria ficar a sós com ela.

-a conversa está boa, mais vou me retira. Tenho muita coisa pra resolver amanhã.

-eu também já vou me recolher, quero acordar cedo amanhã! Te acompanho até a entrada da pousada.

Amália ficou nos olhando com um sorrisinho sarcástico, não estava me preocupando com isso, só queria sair dali e me jogar nos braços da minha mulher. Pra minha sorte a ida até o chalé de Giulia era todo arborizado e quem estava na praia não conseguia ver a entrada.

Quando entramos, me surpreendi com que a Italiana fala, pois achei que estava agindo naturalmente, pelo menos tentei deixar os problemas de lado.

-Agora me fala, o que está acontecendo?

Ela me olhava com um ar preocupado, resolvo ser sincera com ela, já que ia cobrar sinceridade da parte dela.

Quando narro minha ida ao banco, a vejo ficar do mesmo modo de meu amigo. Ela parecia desacreditada.

-Como uma pessoa faz isso com alguém que diz amar, ele é um belo de um Idiota-acho que ela estava se controlando em suas palavras- o que você vai fazer?

Acho que meu olhar denunciava o que ia em minha alma, estava a ponto de chorar, desabar pelos acontecimentos do dia. Ela chega próximo me abraçando, estávamos sentada no sofá da sala. Me aconchego em seus braços suspirando.

-posso te arrumar esse dinheiro!

Fim do capítulo