Vocês já devem saber que fui preso, né? E pra completar, ainda foi as vésperas do casamento da mãe Bárbara.

Loucura da minha parte eu sei. Poderia dizer pra vocês que eu não tive culpa, que fui enganando e me meti nessa roubada. Mas sou consciente da minha culpa e sei que não sou de todo inocente. Porque eu digo isso?

Vou contar pra vocês o que aconteceu do início. Alguns dos meus "amigos" foram me visitar lá em casa. E eu ainda estava na onda de matar aula e ser feliz da forma mais errada.

Daí eles me chamaram pra participar desse assalto. Eu imaginei que algo desse tipo pudesse acabar acontecendo, mas preferi acreditar que não era nada arriscado.

Duas semanas depois que eles foram lá em casa seria o assalto, eu já estava sem o gesso, tava apenas usando uma moleta como apoio.

Como minha mãe me deixou sem carro, aproveitei que ela e minha irmã não estavam em casa hoje e pedi aos caras pra passar lá pra me buscar. E assim eles fizeram. Seguimos pra joalheria. Enquanto eles entraram pra pegar o colar e os brincos, eu fiquei na porta.

Pro nosso azar, parou uma viatura bem na hora que estávamos saindo. Tinha mais dois rapazes comigo, eles correram e eu fiquei pra trás. Fui o primeiro a ser preso, burro que sou quase arrebento a perna novamente tentando correr.

Fui preso e a polícia queria que eu contasse quem eram os outros dois caras que participaram do furto, e em contrapartida seria solto no mesmo dia e a minha ficha na polícia não teria essa mancha.

Preferi não contar, e eles ligaram pra minha mãe. Me deu um frio tão grande na espinha quando me tiraram da cela pra falar com ela. Os olhos dela traziam um desespero, misturado com decepção e angústia.

Ela teve uma conversa comigo e no meio dela disse que esperava que quando eu saísse dali soubesse o que fazer da minha vida. 

Depois que minha mãe saiu fiquei pensando em toda merd* que estava fazendo nos últimos meses. Como é que eu seria feliz se estava fazendo as pessoas que mais amo na vida infelizes?

Decidi que aquela não era a vida que queria pra mim, precisava pensar e decidir o meu futuro da melhor forma.

E assim eu fiz, depois que sai da prisão minha mãe não tocou mais no assunto do que eu faria depois daquele dia.

No restante do tempo que passei de molho em casa conversei muito com a Anna e a Dona, e essa nos contou a barra que tinha enfrentado por ter se metido com pessoas do mesmo tipo das quais eu estava andando ultimamente.

Depois de uma dessas conversas fiquei pensando no olhar da minha mãe ao conversar comigo na delegacia e o quanto ela tinha mudado comigo. Eu sentia o amor que ela tem por mim, o carinho, o afeto. Mas tudo de forma bem contida, sabe?

Ela e a mãe Carla decidiram que seria melhor ela passar uns dias aqui no Brasil, ela chegou aqui uma semana antes do casamento.

Mas ela se manteve quieta, tava diferente. Tinha o ar de perua ainda, mas estava mais tranquila. Parecia ter entendido que a mãe Bah já tinha encontrado o amor da sua vida e estava seguindo em frente.

A mãe Carla passou a maior parte do tempo na minha companhia e na da minha irmã, se manteve afastada da mãe Bárbara e da Cléo.

Falando na Cléo ela me ajudou a dar o primeiro passo para a minha mudança, voltei a fazer terapia com a ajuda dela. Fiz a transferência de faculdade, deixei de lado as minhas "amizades" e resolvi me dedicar aos meus estudos e ao estágio.

Estava fazendo o que a mãe Bah mandou, indo de casa para a faculdade, de lá para o estágio e casa. Continuo sem carro, sem mesada e cartões. O estágio banca o meu transporte e pronto.

Soube que a dona Bárbara pediu que cortassem a minha bolsa de estágio na empresa. Então eles me pagam somente o valor referente ao transporte mensal. Eu não me chateei com isso. Sei que ela estava certa em ter tomado essa atitude. Fui eu que busquei perder a confiança da minha mãe, e como filho sei muito bem que pra reconquistar a confiança dela não é um trabalho nada fácil.

Estou tendo o apoio da Cléo, da mãe Carla, da Aninha e da linda Dona nessa minha mudança. Estou aprendendo a aceitar melhor a Cléo também, afinal daqui há alguns dias passaremos a conviver dentro da mesma casa todos os dias.

Porque eu disse que dividiremos a mesma casa? Minha mãe nos chamou há alguns dias para uma reunião de família. Nela estávamos os filhos eu, Anna e o Ju. E elas as mães dona Bárbara e dona Clarice.

O assunto da reunião era onde moraríamos após o casamento. A Cléo estava receosa em sair do apartamento dela por conta do Ju, questões ligadas a escola, amigos, judô, essas coisas. Mas o apartamento dela era pequeno e não caberia todos nós.

A Cléo até tentou encontrar uma saída, queria trocar para um apartamento maior no mesmo condomínio. Mas encontrar um apartamento maior assim as vésperas da mudança ia ser bem difícil. Então a ideia era que elas continuassem cada uma em suas respectivas casas até conseguirmos um apartamento maior para morarmos todos.

Minha mãe que até o momento estava calada enquanto conversávamos, resolveu falar o que achava.

– Se me permitem, não creio que seja necessário esse gasto e muito menos essa espera. Cléo você não quer me deixar comprar uma outra casa, mas quer comprar um novo apartamento. E pior, quer esperar vagar um maior no seu condomínio para morarmos juntas. Aqui dá para todos nós. Não vejo problemas em morarmos aqui.

– Amor – segurou a mão da mamãe. – Já conversamos sobre isso, lembra? As coisas do Ju são mais perto de lá de casa, sem falar nos amiguinhos dele.

– Ah, então a questão a ser resolvida é essa. Tudo bem. Ju, tem algum problema de fixarmos alguns dias pra você ir pra casa dos seus coleguinhas, ao menos até adaptarmos os nossos horários ou contratarmos um motorista para que você não precise ficar nos esperando sempre que quiser ir ao encontro deles? É que vocês virem morar conosco é mais cômodo no momento. – tentou falar apenas para o Ju ouvir. – É só até sua mãe me deixar comprar uma casa maior para todos nós.

– Amor – ela olhou seria pra mamãe. – Eu ouvi. Nada de comprar outra casa agora. Você alugou uma pousada inteira por dois dias em outro estado, isso lhe custou uma fortuna. Enquanto me lembrar disso, você não compra nem um alfinete. Quanto mais uma casa.

– Nossa. Em que momento você passou a tomar conta assim do dinheiro que eu gasto dengo? Foi baratinha a pousada, nada demais. – piscou pra ela.

– Me engana que eu gosto viu dona Bárbara.

– Não sou de enganar ninguém, e me declaro inocente até que provem o contrário dessa acusação – sorriu e todos acompanhamos. – Então Ju o que você me diz?

– Tia, pra mim não tem problema em vir morar aqui não, e a senhora e a mamãe decidem se será melhor fixarmos os dias pra brincar com os meus amigos ou contratar um motorista. Eu só quero que a nossa família fique junta após o casamento de vocês.

– Isso ai pequeno toca aqui – ele bateu a mão na minha.

– Boa escolha Ju, imagina os nossos campeonatos de vídeo game e tudo mais – minha irmã piscou pra ele que sorriu.

– Amor, tudo resolvido com o Ju. E você o que me diz?

A Cléo olhou pra nós, parecia escolher bem as palavras que usaria.

– Anna e Lourenço, sejam bem sinceros comigo, por favor! Pra vocês está tudo bem virmos morar aqui depois de casarmos? Não quero atrapalhar vocês.

– Ah Cléo para de coisa, você não nos atrapalha de forma alguma. – minha irmã segurou a mão dela.

– Cléo, sinta-se em casa desde já – levantei para abraçá-la - E desculpa pelo tratamento que lhe dei antes, sei que fui grosseiro contigo, perdão por isso. É totalmente visível o bem que você faz a minha mãe – ela beijou meu rosto e a Anna se juntou ao nosso abraço, assim como a mamãe e o Ju.

Terminamos a noite num clima bem animado. Uma conversa que começou meio desconfortável terminou muito bem.

Minha irmã me ajudou na escolha da roupa do casamento. Estávamos voltando a nos reconectar também. Eu tava bem animado com o evento. Minha mãe estava numa alegria contagiante.

Esqueci de falar pra vocês que estou apaixonado pela Dona. Ela é uma garota incrível, estou estudando o melhor momento para me declarar pra ela. Acho que ela também sente alguma coisa por mim.

O dia do casamento chegou, a cerimônia foi belíssima. Minha mãe e a Cléo estavam lindas. O amor delas estava estampado em seus rostos durante todo o evento. Minha mãe até cantou pra Cléo. Definitivamente, a minha madrasta despertava o que havia de melhor na minha mãe.

Aproveitei um momento em que a banda tocava uma música romântica e convidei a Dona para dançar, ela estava linda. No meio da dança, não resisti e lhe dei um beijo, no início ela parecia até ter gostado. Mas em seguida me afastou e saiu correndo.

Não entendi muito bem o que aconteceu. Tentei conversar com a Anna a respeito, mas ela estava estranha. Acho que tinha brigado com o Beto, tava numa agrestia enorme. Preferi não insistir.

Bom, a mamãe e a Cléo saíram da festa antes de acabar, elas tinham um avião rumo a Cancun para pegar. Nos despedimos delas. E fui pedir desculpa a Dona.

Aproveitei e contei pra ela dos meus sentimentos, ela disse que no momento não está com cabeça para ter um relacionamento. Acho que me apressei em falar do que sinto e em seguida pedi-la em namoro.

Mas não me arrependo de ter feito isso. Agora ela sabe o que sinto por ela, e creio que minhas chances de ficar com ela sejam altas.

Quando chegar em casa vou conversar com Anna pra me ajudar a conquistá-la da melhor forma. Nada melhor que ter a ajuda dela para isso, ela e a Dona são unha e carne, será bom contar com a ajuda dela nessa conquista.

Fim do capítulo