No outro dia, logo cedo, Melissa saiu antes que a loirinha acordasse, e só retornou a noite. Isadora estava esperando-a deitada na cama. Melissa entrou, evitando fazer barulho e acorda-la.

 

-- Esperamos você para o jantar, não apareceu – apoiou a cabeça na mão – Quer que esquente alguma coisa?

 

-- Obrigada, já comi.

 

-- Estava na universidade? – era difícil de assumir, mas a loirinha estava morrendo de ciúme, além de triste, porque a morena estava visivelmente chateada.

 

-- Não. Sai com um amigo. – entrou no banheiro, retornando pouco tempo depois.

 

-- Amigo ou namorado?

 

-- Que diferença isso faz? Levo todos eles mesmo para cama, sou a filha do Papa como diz o Júnior. – disse um pouco magoada, procurando por alguma coisa no armário.

 

-- Mel... – segurou o braço da morena procurando chamar sua atenção - Eu não tive a intenção de ser leviana como aqueles idiotas da universidade.

 

-- Isadora não me importa o que eles pensam sobre o que eu faço da minha vida, a minha única preocupação é com o que você pensa a meu respeito e mais nada. – argumentou puxando o braço, deixando Isa sem ação.

 

-- Mel como eu já falei, ontem eu não deveria ter dito aquilo e eu também... – foi interrompida pela morena.

 

-- Isadora, por favor, podemos dormir? – estava arrumando seu lado da cama, acabava de pegar um lençol separado, havia resolvido não dormir no mesmo lençol e cobertor de casal que a loirinha usava.

 

-- Vamos. – respondeu com tristeza no tom de sua voz. Isadora se encolheu em um canto da cama e não suportou a indiferença. Ela começou a chorar bainho. Melissa percebeu, sentiu-se péssima e, em um ímpeto de proteção, virou-se para abraçar sua pequena, esquecendo-se de tudo.

 

-- Shiii... Tudo bem... Entendi que você não teve intenção. – sussurrava próximo ao seu ouvido. A loirinha se encaixou ao corpo da morena e permaneceu lá, curtindo os carinhos e atenção da amiga. Quando estava quase dormindo sussurrou algo que se Melissa não estivesse tão alerta, provavelmente não teria entendido. - “Mel, meu amor... eu te amo”. – Melissa abriu um grande sorriso e beijou a nuca da loirinha já adormecida.

 

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-- Júnior, eu preciso fazer essa gravação como se fosse uma entrevista. Mel interpretará uma empresária de sucesso e você será meu assistente, depois nós invertemos os papéis, assim fica mais fácil para apresentarmos o trabalho.

 

-- Entendi, mas onde você vai arrumar os “negócio”? – referia-se aos aparelhos de mídia.

 

-- Mel arrumou com o assessor de imprensa do pai dela. – ouviram alguém mexendo na chave da porta pelo lado de fora. – Olha, deve ser a Mel com o material.

 

-- Oi gente, peguei tudo, agora é só seguir o roteiro que você fez Isa. Carlos aprovou.

 

-- Ele achou legal então? – estava animada com a aprovação de um renomado jornalista da imprensa local e amigo da família de Melissa.

 

-- Sim, adorou suas perguntas, achou pertinente e pontual, sem aquela coisa invasiva de tabloides sensacionalistas. – estava empolgada com o excesso de elogios feitos a sua pequena – “Ela é maravilhosa em tudo” – pensava. Melissa abriu a mala metalizada que guardava o equipamento para filmagem – Vocês começam a montar, que eu vou me vestir de grande empresária. – saiu enquanto Isadora e Júnior começaram a retirar o equipamento da caixa.

 

-- Oh Isadora, isso é o microfone? – disse segurando um pequeno objeto que ficaria preso na camisa da loirinha.

 

-- Sim. – respondeu montando cada parte do tripé para câmera.

 

-- Oh Isadora, como esse negócio sem fio vai levar som até a filmadora? Você aqui e a câmera ali? – apontou a distância entre os objetos.

 

-- Ele é um microfone sem fio Júnior.

 

-- Oh Isadora, isso eu sei que é sem fio, você falou. Quero saber é como um microfone sem fio leva som para a filmadora? – continuava sem entender, só que desta vez examinava o pequeno aparelho em sua mão em uma inspeção minuciosa com a câmera e dois cabos.

 

-- Através de frequências, ondas sonoras... Sei lá explicar como a tecnologia funciona. – quis encerrar o assunto, ela terminava de se preparar.

 

-- Então não era “pra” gente ir lá “pra” praia?

 

-- Para que praia garoto? – perguntou cheia de dúvidas observando o amigo.

 

-- Não vai precisar de ondas? Na praia tem um monte, ai a gravação vai ficar show. – a loirinha batia a cabeça contra o móvel a sua frente desejando que Melissa chegasse o mais rápido possível, e parece que alguém lá em cima escutou suas preces, a morena, neste momento retornou terminando de se arrumar.

-- Preparados? – perguntou após entrar na sala, olhou em volta e só então percebeu a expressão da loirinha – O que foi pequena?

 

-- O Júnior quer fazer a filmagem em uma praia.

 

-- Aqui em São Paulo? Vai ser bem complicado. Por que não prosseguimos com a ideia inicial de fazer lá no escritório?

 

-- Explica para ela Júnior... Explica por que não pode ser no escritório.

 

-- Vai ficar melhor na praia por causa das “ondas mana”, “tá ligada”?

 

-- Que ondas?

 

-- As ondas que levam o som ao microfone sem fio, Isadora me explicou que precisa de umas ondas de não sei o que. – Melissa respirou fundo e olhou para a amiga.

 

-- Linda, pensa que poderia ser bem pior. – abraçou a loirinha lhe dando um beijo na testa – Vai ficar tudo bem, já passamos por coisas piores em nossa vida.

 

A entrevista acabou, apesar de passarem horas ajudando Júnior com a parte dele, os três terminaram exaustos.

 

-- Vou pedir alguma coisa para comermos. – disse Melissa indo em direção ao telefone.

 

-- Mel, eu deixei um jantar meio encaminhado, assim não precisamos perder tempo esperando.

 

-- Hum, adorei sua ideia pequena. O que fez? – sussurrou próximo ao seu ouvido.

 

-- Que tal uma lasanha? – respondeu sorrindo.

 

-- Amo sua lasanha. – respondeu com uma voz maliciosa e sorrindo.

 

“Meu Deus, por que ela faz isso comigo?” – Isadora pensou com os pelos do corpo eriçados.

 

-- Melissa qual é a comida mais difícil de você “distrair” da sua vida?Até agora lhe vi comer de tudo, até aquele bicho dos Smurffs, o cogumelo fedorento e mofado. – declarou displicentemente - Você diz: “eu amo lasanha”, ontem disse que amava sopa. – a morena foi até a cozinha e pegou uma garrafa de água e entregou ao rapaz.

 

-- Bebe isso que é bom para a saúde. – Isadora ouviu tudo, e percebeu quando a morena pegou a garrafa de água e entregou ao rapaz.

 

-- Mel?

 

-- Hum... – retornou até a cozinha para ouvir o que a loirinha tinha a dizer.

-- Qual a dieta que você “distrai” da sua vida? – provocou, querendo descontrair.

 

-- A dieta que distraio não sei, mas a que faço questão em ter, está na minha frente. – respondeu sorrindo, olhando entre a travessa de lasanha e uma loirinha ruborizada.

 

-- Por que eu provoco hein? Bem feito para mim, poderia ter ficado calada. – resmungou para si mesma, mas Melissa ouviu quando estava voltando para sala, deu meia volta, aproximou-se da amiga e lhe deu um beijo estalado no pescoço.

 

-- Isso é para que você não tenha dúvidas a qual dieta me refiro. – Isadora sentiu um arrepio pelo corpo e sua face queimar.

 

-- Melissa, qual o gosto daquela coisa mofada que você gosta? – Júnior perguntou entre um gole e outro de água, chamando atenção das meninas.

 

-- Qual? – perguntou retornando a sala.

 

-- A tal da trufa, quando você fez naquele dia.

 

-- Trufas negras são bem raras e caras.

 

-- Eu não como, dizem que aquilo faz mal à saúde. Os “mano” pode ficar doidão, dar barato, entendeu? Mas se você já se “intochicou”, tem que fazer aquele tratamento que lava a pessoa por semanas.

-- Melhor mesmo que não coma, assim sobra mais para mim. – respondeu quase sem paciência, mas Isadora veio ao seu socorro, mudando o assunto – Obrigada! – disse baixinho quando passou pela loirinha, recebendo como resposta um sorriso. – Vou pegar um vinho. Isa prefere um malbec ou sauvignon?

 

-- Massa com molho vermelho Mel, acredito que um sauvignon cairá melhor. – respondeu enquanto arrumava a mesa com pratos e talheres.

 

-- Oh Isadora, esse negócio de sauva e mel de não sei de onde, é o que hein?

 

-- Tipos de uvas com que são fabricados os vinhos. – lembrou-se que há um ano não se imaginava tão conhecedora assim de vinhos, e devia este crédito à morena que lhe ensinou as melhores coisas da vida.

 

-- Poxa, eu pensei que o vinho viesse mesmo do suco de uva e que tudo fosse igual, uva branca ou uva preta. – disse inocentemente.

 

-- Júnior, eu acho melhor você beber água, quer que eu pegue outra garrafinha? – Melissa perguntou retornando da cozinha.

 

-- “Melissa vive me empurrando água”, ainda vou ter aquele negócio que a gente viu na apresentação do André, aquilo da cabeça cheia de água, que parece com hidromassagem, você lembra? – perguntou enquanto terminava de guardar o material.

 

-- Hidromassagem? Cabeça cheia de água? Do que ele está falando Isa? – foi à vez de Melissa perguntar baixinho no ouvido da amiga.

 

-- Hidrocefalia, Júnior. – disse morrendo de ri da expressão de espanto de Melissa que quase deixou a garrafa de vinho cair, assim como seu queixo.

 

-- Isso mesmo, a Melissa ainda vai me matar de “hidro... hidro... ceifalido”, você vai ver Isadora.

 

.—Mel, estamos falando do Júnior – estava sorrindo – Vem me ajudar com a lasanha – puxou a amiga pela mão.

 

-- Pequena, acho que ele está comendo as minhas trufas negras escondido, e, de fato, estão fazendo mal, deixando-o cada vez mais doidão. – disse ainda assustada com as colocações do rapaz.

 

-- Semana que vem ele deve ir para outro lugar. – passou a mão pelo rosto da morena – Tem paciência vai.

 

-- Paciência eu tenho Isa, ele é gente boa, o problema é ouvir tanta coisa absurda saindo de uma cabeça só... – fez um sinal negativo – Isso não é contagioso? Pensei que isso só existisse em filmes, mas deixa isso para lá, quero meu jantar.  – puxou a loirinha pela cintura, olhando fixo nas esmeraldas - Estou com fome.

 

-- Ah, mas às vezes você morre de ri. – observou sorrindo, afagando o rosto da amiga e tentando dissolver o nervosismo com aquele contato cheio de malícia.

 

-- Quem não vai ri diante destes disparates? Viu o que ele me falou ontem quando disse que estava chateada com minha nota em Direito Penal?

 

-- Não. – respondeu morrendo de ri – Mas posso imaginar.

 

-- “Não esquenta Melissa, meu pai sempre diz que água dura em pedra mole, tanto bate até que suma.” – fez uma careta descrente com a situação. – Tem mesmo certeza que isso não é contagioso? – Isadora deu uma gargalhada.

 

-- Vai dizer que ele não de um novo sentido ao ditado? – Isadora morria de ri, com a expressão de espanto da amiga que ainda se assustava com as colocações do rapaz. – E por que você oferece tanta água para ele?

 

-- Quanto mais ocupada estiver aquela boca, menos disparates, eu ouvirei. Além do mais, ele fica indo ao banheiro. Assim acredito que litros de água fazem realmente bem ao corpo dele e a minha mente. – Isadora ficou rindo com as observações de Melissa, e de uma coisa estava certa: cada vez mais a amava.

 

*************************

 

Com a ajuda de Isadora, Júnior conseguia tirar boas notas nos trabalhos. O problema mesmo eram as provas individuais. Débora começou a ajudar o rapaz, que mais prestava atenção nela, do que nas aulas particulares.

 

-- Por hoje chega Júnior. Vamos, eu lhe levo até a casa da Isadora.

 

-- Nem precisa, hoje tenho aula de direção. Estou aprendendo a dirigir. – disse com orgulho.

 

-- Tem certeza?

 

-- Sim, a Melissa também me fez essa pergunta hoje. – ficou pensativo – Não sei por quê?

 

***************

 

-- Isa, eu cheguei! – Melissa gritou assim que entrou no apartamento.

 

-- Oi Mel. – respondeu após sair do quarto segurando um vestido. Aproximou-se da morena, deu-lhe um beijo na face e retornou ao quarto.

 

-- Que vestido é esse? – foi atrás da amiga observando-a encostada na porta com os braços cruzados.

 

-- Ah, comprei hoje, achou bonito? – perguntou com um lindo sorriso no rosto.

 

-- Qualquer coisa em você fica lindo, até mesmo um trapo. – aproximou-se da loirinha e lhe deu um abraço por trás. – Vamos sair hoje à noite para inaugura-lo?

 

-- Na verdade eu o comprei para isso, vou sair hoje com uma amiga. – a morena imediatamente soltou o abraço e se afastou, mudando a expressão. A loirinha percebeu, mas achou melhor fazer de conta que não havia percebido a súbita mudança.

 

-- Coisas da universidade? Algum trabalho? – perguntou com a cabeça baixa.

 

-- Na verdade vou sair com uma garota, a Roberta. Ela está terminando jornalismo, já nos conhecíamos, mas agora rolou uma oportunidade e eu a convidei para sair.

 

-- Foi você quem a convidou? – perguntou incrédula.

 

-- Sim, qual o problema? – na verdade, a cabeça da loirinha fervilhava de dúvidas quanto sua relação com Melissa. Em alguns momentos a morena demonstrava que queria algo mais, no entanto, logo em seguida recuava, deixando a entender que era uma heterossexual convicta e aquilo não passava de uma brincadeira. Isadora começou a sofrer com estas dúvidas e resolveu, após muitos conselhos da amiga Débora, dar um basta. Convidou uma garota do curso para sair, precisava urgentemente beijar na boca e fazer sex*. Não aguentava mais dormir na mesma cama que Melissa, sentindo seu cheiro e não poder tocá-la. Por outro lado, ela não imaginava que sua atitude fosse afetar tanto a morena, que emburrou a cara, após descobrir que o convite havia partido da própria Isadora. Melissa se trancou no escritório e não quis conversar com mais ninguém naquela noite, dormiu lá mesmo, para espanto de Isadora, que chegou de madrugada e não a encontrou na cama.

 

“Droga Mel, por que tem de ser assim?” – pensou após vê-la dormir no pequeno sofá com vários livros espalhados pelo chão e duas garrafas de vinho vazias.

 

-- Mel vem para cama... – chamou com delicadeza e aos sussurros para não assustá-la.

 

-- Sai daqui, eu não lhe quero. – empurrava o corpo menor.

 

-- Mel, você bebeu... Amanhã além de resseca vai ter dores pelo corpo.

 

-- Sai Isadora, quero ficar sozinha. – a loirinha ficou com o coração em pedaços, mas acatou o pedido da amiga. – “Será que ela está com ciúme? Será que Débora está realmente certa quando fala que Melissa só me tem como um brinquedo... bichinho cativo que ela não quer deixar ir?” – pensou ao observar a relutância da morena, em outro contexto, ela acreditaria ser ciúme, o mais puro e dolorido ato de se ter ciúme.

 

*******************

 

“Eu escuto ela dizer que me ama quando está dormindo... faço tudo para que ela repita acordada, mostro que realmente a amo e não quero só uma experiência, deixo de sair e fico às noites aqui, só desejando aquele corpo, e na hora de dar oportunidade, ela convida outra garota? O que fiz de errado? Será que me enganei? Ouvi errado naquela noite? Ela realmente me tem como uma predadora? Ah Isadora, quer guerra? Vai ter...” – bebeu o resto de vinho que havia na garrafa. – “Quer a antiga Melissa? Pois amanhã ela retornará e ai sou eu quem não vai mais lhe querer”. – pensou quando viu a amiga sair em direção ao quarto.

 

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No outro dia, antes de sair, a loirinha foi ao escritório, percebeu que a morena ainda dormia. Isadora ficou observando-a durante mais de meia hora, pensando no quanto ficaria feliz se Melissa sentisse alguma coisa por ela.

 

Ela passeava com dedos pelo corpo da morena, procurando alguma coisa que lhe dissesse que poderia ser correspondida se investisse um pouco mais. Júnior entrou de repente no escritório e viu aquela cena, que o deixou penalizado, parecia que mesmo na sua “limitação de raciocínio” ele havia percebido o amor da loirinha pela morena.

 

-- Vem Isadora, meu pai veio me pegar e ele já está chegando – puxou a garota pela mão.

-- Vai na frente Jú, acho que não vou assistir aula hoje. – enxugava uma e outra lágrima que insistia em rolar.

 

-- Não sou inteligente que nem vocês, mas ontem a morena gostosona ai enfiou várias “dose” daquele uísque pra dentro e mais uma garrafa de vinho que nem me pergunte o nome da uva que não sei. - coçava a cabeça - Depois pegou aquela – apontou – outra garrafa, e quando fui pedir que parasse ela me empurrou. – explicou para a amiga com uma voz embargada – Ela bebia na boca da garrafa mesmo, parecia um “canil”, ai depois disse seu nome um montão de "vez". Por que vocês não “se acerta” de vez? Vocês se amam, tá ligada?

 

-- Será Júnior?

 

-- “Meu, tá na cara! Se liga mana.” – fez um gesto dramático o que levou Isadora a rir. – Meu pai “tá me perando”, vou lá. – ela concorcou com a cabeça.

 

-- Júnior...

 

-- Oi

 

-- O que é canil? – perguntou já se arrependendo.

 

-- Oh Isadora, canil, aquelas garrafas que gente leva pra campamento de escoteiro. - fazia gestos levando a mão até a boca enquanto explicava.

 

-- Tudo bem, entendi. – concordou colocando a mão no braço do amigo e retirando-o do ambiente antes que acordasse a morena.

 

Melissa acordou passava do meio dia. Abriu os olhos e sentiu o peso da ressaca. Com muito sacrifício, tentando manter o equilíbrio e as dores que sentia pelo corpo, tomou um banho gelado, vestiu sua roupa, pegou uma muda e jogou dentro de uma mochila, foi até a cozinha e leu um bilhete deixado na porta da geladeira.

 

“Mel, sei que você deve ter acordado com dor de cabeça, deixei um remédio na bancada, próximo a uma garrafa, ali tem um chá ótimo para o que você tem. Chegarei mais cedo hoje, acredito que precisamos conversar. Isadora”.

 

“O que eu tenho? Tenho uma dor aqui Isadora”. – apontava para o coração enquanto falava para si mesma – “Eu lhe amo e você não percebe, só me tem como uma piranha, e agora quer curar minha dor com... Chá? Ela acha que tudo se cura com chá?”. – bebeu o líquido que ainda estava quente, pegou o remédio e tomou algumas gotas. Leu mais uma vez o bilhete e saiu, deixando-o no mesmo local como se ela não houvesse lido.

 

Isadora chegou quase no final da tarde, procurou a amiga constatando que ela não estava em casa. Foi até a cozinha, e viu que estava organizada: o líquido dentro da garrafa e o remédio na mesma posição que ela havia deixado. No impulso pegou a bolsa e saiu novamente, resolvida a achar Melissa, quando saia pela portaria central, encontrou-se com a amiga Débora e Júnior entrando no edifício.

-- Oi amiga, para onde você vai com essa afobação?

 

-- Preciso achar Melissa.

 

-- Pra onde a morena foi? – perguntou o rapaz.

 

-- Não sei. – respondeu com a cabeça baixa.

 

-- Ela ontem bebeu todas Débora. – falou em tom de brincadeira, mas foi repreendido.

 

-- Você não vai sair por ai procurando Melissa como se isso fosse à cidade de vocês Isa. – disse Débora empurrando-a para dentro do elevador.

 

-- Preciso encontra-la.

 

-- Mas o que aconteceu? – a ruiva entendeu quando a amiga a olhou – Vamos lá para cima, poderemos conversar melhor. – Débora pediu licença a Júnior, e ficou conversando com a amiga. – O que exatamente aconteceu Isadora?

 

-- Eu me encontrei com aquela garota. – começou a chorar – Quando Melissa chegou e me viu animada para sair, ela ficou feliz, até me chamou para ir com ela... – evitava os soluços – Quando eu disse que iria sair com uma garota ela ficou furiosa, emburrou para meu lado.

 

-- Ela é engraçada. – levantou-se e começou a andar em círculo gesticulando com a mão - Você está toda noite disponível, faz comidinha e tudo mais... Depois lhe deixa sozinha e vai pegar todos os homens disponíveis que acha pela frente, mas, quando rola o contrário ela age como uma criança que perdeu o brinquedo preferido? – perguntou em tom de acusação – Brincadeira essa daí!

 

-- Ela não agiu como uma criança, ela se recolheu. – pegou um lenço e passou pelos olhos – Júnior disse que ela repetia meu nome enquanto bebia... Ela nem sai mais à noite, fica o tempo todo comigo.

 

-- Não venha defendê-la Isadora. – permanecia andando em círculo pela sala, pensando na situação – Isa, você confia em mim?

 

-- Confio. – respondeu um pouco assustada.

 

-- Então vai lá dentro, toma um banho, tira essa cara de choro, e arrume-se... – passou a mão pelo cabelo da loirinha – Fique mais linda do que é, hoje nós vamos sair.

 

-- Não Débora. – respondeu em tom de derrota – Vou ficar e esperar a Mel.

 

-- Isadora confie em mim. – pediu segurando a amiga pelo ombro e olhando-a bem dentro dos seus olhos.

 

-- Tudo bem.

 

-- Com quem você saiu ontem?

 

-- Roberta.

 

-- Ela é linda. – constatou a ruiva – Beija bem?

 

-- Sim. – esboçou um fraco sorriso.

 

-- Foi uma ficada apenas ou ficou uma brecha para algo mais em outro encontro?

 

-- Fiquei tão mal com a expressão da Mel que devo ter sido uma péssima companhia.

 

-- Pois liga agora para ela, iremos pegá-la. Eu sei para onde nós vamos. – havia um brilho naquele olhar que realmente assustou a jovem loira.

 

-- Para onde? – estava com uma expressão de derrota e insegurança.

 

-- Eu tenho meu palpite aonde Melissa irá hoje à noite e você... – apontou para a amiga – trate de ficar linda e loira. Deixe o resto comigo.

*************************

 

Às onze horas da noite Débora chegou a uma das mais badaladas boates de São Paulo. Isadora não conhecia o local e ficou pasma em saber que a morena era figurinha VIP ali.

-- Tem certeza que Melissa frequenta este lugar? – Isadora estava admirada com tudo o que via, era um local luxuoso, apenas pessoas selecionadas tinham acesso ao interior da casa. Não era qualquer um, vestido de qualquer forma que conseguia passar pelo crivo dos seguranças e staffs.

 

-- Acha que aquelas fotos em colunas sociais são de onde? – viu a expressão de espanto de Isadora - Lá vem a Roberta, vamos lá e não abaixe esta bola amiga.

 

-- Só tem um detalhe Débora... – segurou o braço da ruiva - Como vamos entrar ai dentro? Não somos da sociedade e nem temos estes papeizinhos ai que eles pedem na entrada.

 

-- Não tem problema, não precisamos de fly quando estamos com um campeão estadual de jiu-jitsu e filho de deputado. – apontou para Júnior.

 

-- Você já esteve aqui Júnior?

 

-- Já, mas aqui só tem mina fresca. – reclamou o rapaz coçando a cabeça e olhando em volta.

 

-- Você não veio para cá atrás de minas Júnior, estou aqui, esqueceu? – repreendeu Débora.

 

-- Não amor, “tamo” junto, é “nois” – segurou a mão da namorada.

 

Os quatro entraram no local, Isadora não acreditava que ainda existissem segredos entre ela e Melissa. Muitas perguntas vieram a sua cabeça, e só então ela percebeu a diferença de mundos entre uma e outra.

 

“O que uma mulher como Melissa, rica e cheia de pretendentes ricos iria querer comigo?” – estava envolvida em seus próprios pensamentos quando sentiu a mão de Roberta em seu ombro.

 

-- Vamos Dorinha, os meninos estão lá dentro. – saiu no automático, guiada por sua mais nova amiga.

 

 

O interior da casa ainda não estava muito cheio, Júnior havia conseguido uma boa mesa, em um local mais estratégico, todos que entrassem naquela área VIP poderiam ser vistos daquele local. Roberta chamou Isadora para dançar, a princípio a loirinha relutou, mas, com a insistência da amiga Débora, acabou caindo na pista. Passava da meia noite quando Débora viu um movimento de pessoas entrando na área, e entre elas uma morena, alta, cabelos soltos em cascata e muito elegante, com um vestido vermelho, decotado. Chamava a atenção de muitos homens, especialmente, um moreno de cavanhaque, mais alto que ela, muito bem vestido... – “Uau! Que belo exemplar de homem!” – pensou quase perdendo o fôlego. Eles realmente formavam um casal muito bonito. A ruiva ficou atenta, observando onde eles ficariam, e para sua surpresa, dirigiram-se a uma mesa que ficava praticamente em frente à que estavam, mas, do outro lado da pista. A morena parecia animada, dançando com seu acompanhante, segurando uma taça de champanhe. Não demorou muito e ele a puxou para o meio da pista. A ruiva que permanecia atenta a tudo, pensou em chamar Isadora, mas achou melhor ela mesma se deparar com a situação e descobrir quem realmente era a tão amada amiga Melissa.

Fim do capítulo