Captar a atenção de ou sentir-se atraído por; absorver(-se), maravilhar(-se); encantar(-se); cativar.
Capítulo VI - Enlevar
O sol entrava pelas frestas da cortina quando Laura abriu os olhos. Sentiu o corpo quente e nu da loira de costas contra o seu, encaixados perfeitamente , dividindo um edredom grosso. Estavam esparramados à sua frente os cabelos loiros e lisos com um odor delicioso. Seu braço esquerdo ao redor da cintura de Mariana indicava que não se mexeram daquela posição de conchinha desde o momento que se deitaram ali.
Repassou em sua mente alguns pontos dos diálogos que tiveram na noite anterior. Refletiu que mesmo querendo que tudo fosse ao seu modo, foi bom ter deixado a emoção aflorar.
Seus pensamentos voltaram-se para o jeito de Mariana. Ela era apaixonante. Falava com uma delicadeza, sem pressa. Os olhos verdes acompanhavam as expressões de seu rosto. O sorriso era encantador. Ainda teve a gentileza de fazê-la reencontrar Pedro, em seu restaurante super aconchegante e romântico. No instante em que pensou que poderia ser abandonada por não terem intimidade suficiente, Mariana foi com ela ao hospital. Ela mal a conhecia e se importou em ficar ao seu lado naquele momento.
Veio em sua mente que fazia muito tempo que não chorava na frente de ninguém. A última vez havia sido no colo de sua mãe, quando ela a disse que não teria muito tempo de vida. Após isso, não esboçava medos, anseios, dores para que não a vissem como fraca.
Entretanto, com Mariana foi diferente. Ela não conseguiu esconder a dor e foi acalentada da forma mais doce possível. A loira permitiu que ela sofresse o tempo necessário, sem falar nada, apenas seu ombro dentro de um abraço para apoiá-la. Sentiu uma paz que há muito tempo não sentia e uma lágrima escorreu por seu rosto. Ficou agradecida por ter deixado se permitir merecer aqueles momentos.
Sua mente logo a trouxe à realidade e quis saber noticias do sobrinho. Lembrou-se que sua bolsa havia ficado na sala.
Laura tirou seu braço da loira devagar, levantou o edredom e foi na sala do jeito que estava: nua. Quando voltou ao quarto a loira ainda dormia na mesma posição e passou para o banheiro, deixando a porta entreaberta.
Era 9h30 quando pegou o celular para falar com a irmã por mensagem que a avisou que a cirurgia seria na segunda-feira e em seguida foi tomar banho para acordar. Fingiu que já estivera ali antes para ter coragem de usufruir dos produtos de higiene da loira sem permissão prévia e da única toalha pendurada ali.
Mariana acordou ao ouvir o chuveiro ligar. Olhou ao redor de olhos cerrados por conta da luminosidade que entrava no quarto. Viu as roupas de Laura em cima da poltrona, ao lado do criado mudo, sorrindo ao relembrar a noite que tiveram e feliz por a morena não ter ido embora enquanto dormia. Esticou-se e, virando-se para o outro lado, agarrando o travesseiro, foi tomada de assalto pelo perfume de Laura que impregnou em sua fronha. Era um mistura de flores e baunilha, levemente amadeirado.
Levantou-se devagar, espreguiçando o corpo alvo e se encaminhou para o banheiro.
- Bom dia, minha linda! – disse a loira abrindo a porta.
- Bom dia, minha loira! – falou Laura passando as mãos nos cabelos debaixo do chuveiro – Olhe, usei algumas coisas suas.
- Sem problemas. Você fez o correto. Vai ficar com meu cheiro no seu corpo pelo resto do dia. – disse a loira dando uma piscadinha.
Mariana abriu o guarda-roupa, pegou uma toalha limpa e entregou à morena.
- Você disse ontem que seu único compromisso é às 18 horas, correto?
- Exatamente. – disse Laura secando os cabelos com a toalha.
A loira olhou o corpo da morena e voltou-se para o guarda-roupa tirando uma calcinha, um short de moletom cinza escuro e uma camisa branca com a estampa do Artic Monkeys.
- Veja se cabem em você. A gente toma um café, conversa um pouquinho e depois você
vai. – disse Mariana sorrindo e olhando nos olhos de Laura.
- Desde ontem que não estou conseguindo negar nada para você e esses seus olhos verdes. – disse agarrando o corpo nu ainda quente da loira pela cintura, dando um beijo em seu pescoço e soltando em seguida.
Mariana prendeu os cabelos e iniciou seu banho observando a morena pôr sua calcinha de microfibra e seu short, que ficou colado no corpo da outra e um pouco curto, enfatizando ainda mais as curvas de seus quadris.
- Nessa gaveta debaixo tem uma escova de dentes nova, se quiser – disse apontando – e o desodorante está ali em cima.
Laura abriu a escova e pôs em cima da pia enquanto aplicava o desodorante.
Vestiu a camiseta, dobrou as mangas e começou a escovar os dentes assim que Mariana desligou o chuveiro.
- Mariana? – ouviram uma voz feminina vindo da sala.
- Mãe? – Mariana respondeu saindo do box e pegando um roupão pendurado, foi a seu encontro vestindo o corpo molhado.
- Está tudo bem, minha filha? – disse Dona Lúcia parando no meio da sala.
A mãe de Mariana assustou-se ao segurar na trinca da porta para inserir a chave. A porta estava destrancada, coisa que sua filha nunca iria esquecer. Ao abri-la, viu as bolas de silicone e o bowl jogados no chão e ordenou aos netos que ficassem quietinhos parados na porta dizendo que iria ver se Mariana estava em casa.
- Tudo bem sim, mãe. – saindo do quarto ao seu encontro, abraçando-a.
- Liguei antes, mas você não atendeu. Tem um carro na outra vaga. – disse soltando a filha.
- Sim, a Laura está aqui. – se dirigindo à porta de entrada entreaberta – Perdão, mamãe, o celular deve estar no modo silencioso.
- As crianças estão aí na porta.
Mariana abriu a porta e se abaixou no momento que as crianças correram dizendo "titia", em coro. Ao mesmo tempo em que Laura escutou seu nome, saiu do quarto e estendendo a mão para Dona Lucia, sorrindo disse:
- Bom dia, Dona Lucia!
- Bom dia, minha filha. – puxando Laura para um abraço apertado e dizendo – Que bom que é você que está aqui.
- Digo o mesmo. – Laura soltou sem querer.
Abraçou a senhora olhando para Mariana com cara de que não entendeu, enquanto Mariana juntava as peças espalhadas no chão.
- Deixe-me apresentar meus netinhos. – disse soltando Laura e chamando as crianças com as mãos – Esse menino levado é o Lucas e essa princesa é a Isabela.
Laura se agachou e estendeu a mão, olhando nos olhos de Isabela e depois para Lucas.
- Olá, tudo bem com vocês? – apertando a mãozinha de ambos, um de cada vez.
- A Laura é amiga da titia e podem chamá-la de tia também, tá?
Laura olhou pra cima e sorriu para Mariana, e em seguida levantou-se olhando para as crianças sorrindo.
Dona Lúcia saiu de seu lugar pegou as sacolas de compras que estavam no chão e disse olhando para a filha:
- Como você estava sem o carro, eu quem trouxe o café-da-manhã. – falou se encaminhando para a cozinha – Venham!
- Vovó comprou aquele pãozinho que a gente gosta, tia! – disse Lucas para Mariana.
- Oba! Estou morrendo de fome e vocês? – disse a Loira olhando para as crianças.
- Sim! – exclamaram os gêmeos ao mesmo tempo.
Na cozinha espaçosa havia uma ilha com 4 bancos altos, onde Mariana sentou as crianças e foi para seu quarto correndo trocar de roupa. Laura havia ficado na cozinha com sua mãe e podia ser que a senhora falasse alguma besteira.
A mãe da loira colocou em cima da ilha: pães, bolo, croissants, frios, queijo do interior, bananas, leite e iogurtes.
- Você toma café puro ou com leite, Laura? – indagou Lúcia.
- Tomo puro, Dona Lúcia, mas pode deixar que faço. Não se preocupe. A senhora também quer? – ofereceu Laura.
- Eu aceito, querida. Pode ser igual ao seu. – disse a senhora apontando – Mas, por favor, me chame apenas de Lúcia.
Laura sorriu e virou-se para preparar o outro café, enquanto Lúcia colocava a louça na ilha.
- Então você é a garota do colégio que causou o acidente com o aparelho de Mariana?
- Sou, eu sim. – disse Laura sem graça – Mas não foi intencional.
- Eu sei, querida. – disse a senhora sorrindo – Nós temos umas contas a acertar.
- Mamãe! – exclamou Mariana entrando na cozinha trajando um short jeans curto e uma regata preta soltinha, mostrando levemente as laterais dos seios.
- Estou brincando, minha filha. – disse a mulher piscando para Laura – Mas acho que foi só por isso você tirou o aparelho. Se não tivéssemos trocado de dentista, você ainda estava com ele em sua boca.
- Verdade, mamãe. Há males que vem para o bem. – disse rindo – Mas mudando de assunto, o que fez você vir aqui em casa e trazer esse belíssimo café da manhã?
- Bem, eu queria fazer uma surpresa. Normalmente não tomamos café com as crianças, queria ter esse momento em família. – disse a senhora se sentando e sendo servida por Laura – Mas se você tivesse atendido o telefone e dito que estava acompanhada, não viria.
- Não, mamãe. Você tem livre acesso aqui. Perguntei porque normalmente você não sai de casa num sábado de manhã.
- Para tudo há uma primeira vez, filha.
Laura e Mariana se olharam discretamente.
Mariana mudou seu olhar oferecendo os alimentos às crianças que escolheram croissant com leite e achocolatado.
- Fique à vontade, Laura. Mas sugiro o croissant que é delicioso.
- Obrigada, Dona Lucia. – disse a morena se servindo do salgado.
- Lúcia, por favor.
- Obrigada, Lúcia. – disse Laura sorrindo.
- Então me digam, na quinta-feira, na conveniência, foi quando se reencontram depois do colégio?
- Mãe...
- Foi sim. – respondeu Laura sem deixar Mariana terminar – Estava vindo de um plantão no interior e esqueci de abastecer na cidade. Que bom que vocês reabriram o posto, caso contrário ficaria no meio da estrada.
- Ah, que bom mesmo. – disse a senhora tomando um gole de café – No caso plantão, que você diz, é em um hospital?
- Sim, sou médica e residente do PS Cardiológico de lá.
- Queria muito que Mariana cursasse Medicina, mas ela preferiu ser outro tipo de doutora.
- Claro, mamãe. Prefiro mexer com papéis do que com as entranhas dos outros.
- O que são “estranhas”, vó? – perguntou a menina Isabela.
- Entranhas são as coisinhas que tem dentro da gente que nos fazem viver. – disse Laura à menina – São as máquinas da barriga que vão trocar esse pãozinho que vocês estão comendo por cocozinho.
As crianças deram uma gargalhada alta e gostosa que fizeram as mulheres os acompanharem.
- Não há melhor explicação possível! –- disse a loira rindo.
- Se eles virem que você sabe responder coisas difíceis, não vão te largar mais. – disse Lúcia.
- Faz parte do conhecimento da criança. Sempre é bom encontrar uma forma de responder fazendo-os entender. Fiz muito com meu sobrinho
- Falando nisso, tem notícias dele? – perguntou a loira.
- Uhum. – disse Laura tomando o último gole de café – Ele está estável e provavelmente a cirurgia será feita na segunda-feira.
- Mamãe, nós estávamos jantando ontem lá no restaurante do Pedro quando o sobrinho de Laura sofreu um acidente que quebrou sua perna. Fomos ao hospital que ele estava e ainda encontrei o Ricardo lá, que disse que ele se recupera rápido por ser novinho.
- Ô, querida. Desejo melhoras ao seu sobrinho. Qual a idade dele?
- 12 anos. Muito obrigada. – disse Laura.
- O bom de ter médico na família é que você sabe quais serão os tratamentos mais adequados.
- Exatamente. Não é muito a minha área, mas terei a ajuda do Ricardo.
- Ah, vocês são amigos? – perguntou a senhora.
- Sim, estudamos e nos formamos juntos.
- Nossa, e em todo esse tempo você não sabia que ele era primo da Mariana.
- Não mesmo. – disse Laura sorrindo.
- Acho interessante essa questão de destino. – disse Lucia sorrindo.
- Uhum. Tudo vem no tempo certo, mamãe.
Laura ficou envergonhada e escondeu o sorriso por trás da xícara de café, fingindo tomar. Não sabia o que dizer. Parecia que a mãe da loira havia simpatizado com ela.
A mãe e a filha mudaram de assunto falando da mãe das crianças que voltaria em breve. Quando começaram a conversar sobre coisas da empresa, todos já haviam terminado de tomar o café da manhã. Laura levantou-se, retirou sua louça junto com a das crianças da ilha e pôs na pia. Pediu licença às mulheres para também retirar suas louças e foi lava-las.
- Não, querida. Pode deixar que lavo. – disse a senhora se levantando.
- Não, Lúcia. Pode deixar. Você já teve o trabalho de trazer tudo isso.
Mariana levou as crianças para a sala, quando Lucia se levantou para por algumas embalagens no lixo, logo ao lado da pia.
- Laura, gostei muito de você. Você passa serenidade e confiança. Coisas que minha filha realmente precisa. – disse a mulher falando baixo próximo à morena – Vejo nos olhos dela que ela está muito feliz.
- Obrigada, Lúcia. Ela está fazendo o mesmo comigo.
- Que bom saber, filha. – disse a mulher alisando as costas de Laura.
Mariana entrou na cozinha e viu a mãe retirando a mão das costas da morena, que disfarçou sentando em um dos bancos quando a viu.
- Mamãe, os papéis que você não levou ontem estão lá no escritório. Vamos logo pegar para não esquecer. – disse a loira se debruçando sobre a ilha
- Vamos, filha.
Laura olhos para trás e seus olhos encontraram o da loira, que piscou e disse que voltavam já.
Ao entrarem no escritório Mariana logo falou:
- Quando entrei na cozinha você estava dizendo o que para a Laura, mamãe?
- Ah, minha filha. Só disse o que eu vejo.
- O que você disse a ela, mãe?
- Disse que via em seus olhos que você estava feliz.
- Mãe...
- Meu amor, você nasceu daqui de dentro. Eu conheço todos os seus olhares. Vai negar isso para mim?
- Não, mamãe. – disse a loira sorrindo.
- Então, filha. A única coisa que desejo neste mundo é que você seja feliz. Você passou por momentos turbulentos e há muito tempo que pedia aos céus para você encontrar alguém que lhe fizesse feliz, mesmo que momentaneamente. Que bom que abriu seu coração. Você é muito nova para se fechar ao amor. E mesmo que não dê certo, a dor só serve para nos ensinar mais sobre a vida. E claro, você tem meu apoio para qualquer decisão que tomar.
- Ai, mamãe, você é maravilhosa, sabia? – disse a loira puxando a mãe para um abraço.
- Maravilhoso foi saber que ela se sente da mesma forma.
- Ela falou? – disse Mariana surpresa, com a voz baixa, se afastando do abraço para olhar para a mãe.
- Sim, que você a está fazendo muito feliz.
- Você não existe, mamãe. – deu um beijo em seu rosto – Obrigada por tudo!
- Quando entrei no apartamento e vi aquelas coisas no chão, imaginei que a Flávia tivesse vindo aqui fazer bagunça. Mas graças ao bom Deus não era ela.
- Nem por nada neste mundo essa mulher pisará neste apartamento.
- Que bom, filha. Agora vamos, me dê os papéis que preciso ir para casa fazer o almoço dos meninos.
- Pode ir no carro. Mais tarde vou de taxi para jantar com vocês.
Ao chegarem à sala do apartamento, se depararam com Laura sentada no chão montando Lego com os gêmeos. Mariana ficou boba com a agilidade da morena em fazer amizade com as crianças que normalmente são tímidas com estranhos.
Dona Lúcia chamou as crianças para irem embora, que relutaram dizendo que queriam brincar mais. Laura disse que eles brincariam de novo outro dia e os ajudou a guardar os brinquedos nas mochilas.
Eles se despediram e Mariana fechou a porta sorrindo para Laura.
- Então, agora que tomamos café, vamos conversar?
Fim do capítulo
Obrigada pela paciência de todxs! rs
Desculpem-me a demora!
Tenham um ótimo final de semana!
_Jessica Sanches_
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Luciana
Em: 03/06/2017
uau!! Estou adorando a sua história.. li tudo de uma vez só..
Parabéns autora por sua escrita maravilhosa!!
Beijos
Resposta do autor:
Oi, Luciana!
Que bom que gostou! Espero que acompanhes essas duas mulheres maravilhosas!
Obrigada pelo feedback!
Beijão!
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ik felix
Em: 02/06/2017
Querida Jessica,
Mais ótimo capítulo. Hum conversar sempre é importante em uama relação. Abraço.
IK.
Resposta do autor:
Querida IK,
Se as pessoas tivessem a maturidade que elas tem de iniciar uma conversa, muita coisa seria evitada nos relacionamento, né?
Muito obrigada pelo seu feedback.
Beijos!
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May Poetisa
Em: 02/06/2017
Olá! Que alegria, sexta já é um dia top e para completar um novo capítulo. Passei a semana checando se já tinha continuidade. Vou ficar torcendo para que você consiga postar mais vezes na semana, pois sou sua fã e gosto muito dos seus escritos. Autora, feliz final de semana e até breve!
Resposta do autor:
Oi, May!
Obrigada pelos carinho! As férias estão chegando e tentarei atualizar mais vezes.
(Mais uma sexta-feira que posto um capítulo e com assuntos de seu interesse kkkk)
Beijos, querida, e um ótimo final de semana!
_Jessica_
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