O tempo fora passando e entramos no oitavo mês de gestação e voltamos para a casa na cidade, não queria correr o risco naquela altura do campeonato... Jessy andava meio inquieta e nervosa nas últimas semanas e eu não estava sabendo lidar com aquilo, minha mãe meio que veio morar conosco aqueles dias e isso tem aliviado um pouco a tensão.

Na segunda semana de Março teve um treinamento na escola e precisei estar presente e nesse treinamento fora feita a lista de matérias e equipamentos que precisavam ser comprados para a turma que iria iniciar nos próximos meses, então Bianca e eu iriamos viajar para comprar o que precisava.

O bebe iria nascer no final de Março começo de Abril, ainda não tínhamos certeza quanto a data, minha mãe me tranquilizou quanto a isso me deixando aliviada para uma viagem bate a volta, até porque não iria dormir em outro lugar senão a minha casa, então resolvemos sair na sexta pela manhã e resolveríamos tudo o que fosse preciso para estarmos a noite em casa.

Na quinta minha mãe precisou ir para o Haras, fiquei nervosa com aquilo, mas ela me tranquilizou que na sexta-feira de manhã estaria em nossa casa... Anna estava enjoadinha e meio febril, demos um banho morno nela e um chá para ela tomar, acabou adormecendo ficamos velando seu sono em nossa cama quando Jessy comentou:

-Precisa dormir amor, você irá viajar amanhã cedo e precisa descansar!

Olhei para ela inspirando fundo e disse:

-Talvez eu não precise ir Jessy, não tem como me concentrar sabendo que vocês estarão precisando de mim aqui!

-Bia, nós estamos bem, sua mãe estará conosco e se você insistir nisso direi a ela que não confia em seus cuidados!

-Não faria isso, faria?

-Quer pagar para ver?

-Você é maldosa meu amor, mas me convenceu!

Ela sorrira me dando um beijo e abraçando a filha, logo adormecemos... Só que não foi tão simples assim, Anna acordara chorando com febre, Jéssica ficou desesperada, mas logo chamou a Dra. Cláudia, Pediatra da pequena para ver o que estava acontecendo.

Quando a doutora chegou, já tínhamos dado outro banho morno, ela a avaliou constatando que a menina estava apenas com a garganta inflamada e consequentemente a febre, medicara a pequena que logo conseguiu dormir.

Depois que agradecemos a Dra., Ana dormiu acordando algumas vezes durante a noite chorando, quando amanheceu contra o meu gosto levantei mesmo porque precisava resolver essa compra dos equipamentos para a escola, não quis acordar Jéssica por isso deixei apenas um bilhete ao lado do travesseiro:

“Amor, fui fazer as compras qualquer novidade me ligue... Amo vocês. Beijos”.

Dei um beijo nas duas e sai do quarto, quando estava saindo de casa encontrei minha mãe chegando, preocupada perguntou:

-Porque está com os olhos tão abatidos filha?

Inspirei fundo explicando o que acontecera durante a noite e minha preocupação de estar saindo assim, ela me tranquilizou e me prometeu que qualquer problema me ligaria, forcei um sorriso e dei-lhe um abraço e um beijo e segui para a casa de Bianca onde a encontrei com uma grande xícara de café à minha espera.

Seguimos viagem, no caminho expliquei a ela o que acontecera e tentamos focar no assunto que precisávamos resolver...

Estava praticamente dormindo em pé quando cheguei em casa, uma viajem de bate-volta acabava com qualquer pessoa, entrei na sala no escuro e aquele silencio denunciava que não tinha ninguém em casa, sorri colocando a chave na mesa indo para a cozinha precisava tomar algo gelado, abri a geladeira pegando a jarra de suco sentando um pouco, Odete estava lá, perguntei:

-Onde está todo mundo Odete?

-Saíram dona Beatriz, foram caminhar no parque!

Fiz careta quando ela mencionara meu nome, sorri comentando:

-Já lhe disse que pode me chamar apenas de Bia e você insiste nesse dona!

-Desculpa, hábitos antigos dona... Bia!

-Assim é bem melhor!

Sentei e fiquei ali sonolenta quase dormindo na mesa, sacudi a cabeça e fui para o quarto, olhei bem para a cama e quase cedi à vontade de deitar e dormir, mas precisava de um banho para tirar um pouco daquele cansaço e fui para o banheiro liguei o chuveiro deixando a água morna cair pelo meu corpo eliminando metade do meu cansaço.

Fiquei um bom tempo em baixo do chuveiro, quando sai me enxuguei colocando uma roupa leve, passava um pouco das 18hs já estava anoitecendo e agradeci por ser sexta-feira e não precisar ter que trabalhar na manhã seguinte, dormiria a noite inteirinha como um anjo, a não ser que surgisse outro imprevisto como na noite passada com a pequena Aninha, segui para a sala deitando no sofá, coloquei um filme e fechei os olhos...

Adormeci imediatamente... Acordei com uma mão pequena e gelada acariciando meu rosto, sorri sentindo cheiro de doce, aquela criança não cansava de comer doces? Ela chamava perto de meu ouvido:

-Acorda tia Bia!

-Oi minha princesinha, estou acordada.

-Então abre o olho.

Sorri, era autoritária como a mãe, abri os olhos e olhei bem para ela, estava comendo chocolate com a boca toda suja, perguntei:

-O que faz sozinha aqui amor, onde está a mamãe?

-A mamãe disse pra não acordar você, desculpa!

Baixou a cabeça triste, toquei o rostinho dela sorrindo sussurrei:

-Tudo bem anjinho, prometo não contar a ela, agora vem aqui e dê-me um abraço estava com saudades de você!

Ela sorriu jogando-se em cima de mim me abraçando gostoso dizendo:

-Nós fomos ao parque, brincamos na areia e depois comemos algodão doce.

-É mesmo? Quantas aventuras hoje, o que mais vocês fizeram?

-Mamãe estava cansada e não quis brincar comigo, mas Priscila brincou, mamãe não gosta de brincar mais comigo, por isso viemos embora.

-Ei, olha pra mim, já conversamos sobre isso amor, porque a mamãe não pode brincar com você?

-Por causa do bebe?

-Exatamente, isso não quer dizer que ela não goste de você, quando o bebe nascer ela vai poder brincar com vocês dois, tudo bem?

-Tudo, mas você pode me levar no Haras amanhã? To com saudades da Branca de Neve!

-Claro doçura, vamos ver como a mamãe amanhecerá amanhã, ok? Porque ela precisa de repouso, mas se não conseguirmos ir, eu ligo para a vovó vir te buscar! Tudo bem?

-Ta bom...

Aquela concordância saiu tão tristinho que cortou meu coração, levantei e a puxei para meus braços abraçando-a forte e sussurrando pra ela:

-Amor, lembra quando você ficou dodói e nós ficamos cuidando de você o tempo todo?

-Sim...

-Então, a mamãe não está dodói, mas precisa do nosso cuidado, meu e seu, entende?

-Eu sei, mas sinto falta de fazer as coisas que fazíamos antes!

-Tenho certeza que quando o bebe nascer voltaremos a fazer tudo aquilo que fazíamos, e coisas novas também.

-Coisas novas? O que?

-Ensinar o bebe quando ele estiver andando a andar a cavalo... Você pode ajudar ele a deixar a marquinha dele na arvore, você poderá ensinar tudo o que eu ensinei a você para ele... Você será a super irmã!

-Sim, eu serei a irmã mais velha!

Ela já estava mais animada, essas conversas eram quase que diária com a pequena, muito ciumenta, apesar de ter adorado a ideia de ter um bebe no começo, depois percebeu que foi perdendo algumas regalias e isso acabou desmotivando ela, mas Jessy e eu estamos torcendo para tudo mudar com a chegada do neném... Me distrair por alguns minutos em meus pensamentos e ela já estava fazendo planos.

Sorri para ela e conversamos mais um pouco sobre o que podia ou não fazer com irmãozinho, depois que ela se animou mais perguntei:

-Onde a mamãe está anjinho?

-Ela está na cozinha com a Priscila e tia Odete.

-Ah é... E o que elas estão fazendo lá?

-Elas tão fazendo boio.

-Tão fazendo o que?

-Boio de chocolate!

Arqueei a sobrancelha tentando imaginar a cena, Jéssica fazendo boio quer dizer bolo, sorri esticando os braços e fazendo cocegas na pequena e depois abraçando-a forte, tinha até esquecido e perguntei:

-Como você está hoje?

-Eu estou bem...

-Você nos deu um susto danado na noite passada pequena.

Ela sorriu e me abraçou, tentando colocar o que sobrou do chocolate em minha boca, fiquei algum tempo olhando a pequena e descobri o quando eu havia amadurecido naqueles três anos de convivências com aquelas garotas, adorando cada momento, cada descoberta, sorri para a pequena e disse: 

-Amor, vamos lá ver o que a mamãe está aprontando?

Ela grudou em meu pescoço concordando sorrindo, seguimos para a cozinha, parei na porta colocando-a no chão que logo correu em volta da mesa gritando que ia para o Haras na amanhã seguinte, no mesmo instante Jéssica olhou para a porta e abriu um sorriso espetacular vindo em minha direção, caminhava lentamente devido ao seu estado avançado na gravidez, abri os braços a recebendo calorosamente dando-lhe um beijo e dizendo:

-Você está maravilhosa hoje!

-Acha mesmo?

-Unhum!

-Anna acordou você?

-Claro que não, eu já estava acordada.

-Vou fingir que acredito.

Apertei-a em meus braços sentindo seu cheirinho e beijando-a logo abaixo de sua orelha perguntando:

-Como foi seu dia amor? Não deveria ficar em pé muito tempo sabe disso? Fiquei sabendo das suas aventuras pelo parque hoje!

-Anna Clara!?

Aninha me olhou fazendo careta enquanto a mãe olhava feio pra ela, tentou justificar:

-Saímos um pouco Bia, estava cansada de ficar em casa.

-O que eu faço com você hein?

-O que queria amor, que eu ficasse trancada em casa novamente? Você está parecendo uma carcereira!

-Não fique nervosa, só estou cuidando de vocês, não posso?

-Claro que pode meu bem, só acho que é muita preocupação.

-Tudo bem! Mas sabe que é mais forte que eu... Mas vou tentar me controlar, ok?

-Promete?

-Sim, onde está minha mãe?

-Muito bem meu amor! Sua mãe foi para o Haras ela ficou o dia todo aqui nos pajeando, e depois que voltamos para casa ela foi embora, mas voltara amanhã!

-Coitada da mamãe fica nesse translado todo, amanhã vou conversar com ela sobre isso... o que vocês estão fazendo reunidas aqui na cozinha?

-Estamos fazendo bolo!

-É mesmo?

-Quero dizer, Odete e Priscila estão fazendo, eu estou aqui ajudando, estava com vontade de comer um bolo da dona Odete.

Ela colocou a mão na barriga fazendo careta, abaixei na altura do seu umbigo perguntando:

-Como está meu garotão? Chutando muito?

-Ele está impossível hoje!

Moveu minha mão até o ponto onde chutava, sorri me deliciando com aqueles momentos, ele reconhecia minha voz, era incrível como ele reagia rápido, depositei um beijo onde ele chutou, ficando em pé novamente dizendo:

-Vamos para a sala sentar um pouco e deixar as especialistas cuidarem do bolo!

Pisquei para Odete que sorria praticamente agradecendo por tirar Jéssica dali.

-Bia?

-Oi amor?

-Faria uma massagem em meus pés?

-O que eu ganho com isso?

-Qualquer coisa, não estou em posição para negociações!

-Fala assim porque sabe que não posso abusar de você!

-Eu te amo!

-Chantagista...

Sorriu acariciando meu rosto, fomos para a sala, havíamos adquiridos um daqueles sofás grande mais parecido com uma cama, para ficarmos mais à vontade, Jéssica se ajeitou entre as almofadas, Anna aparecera correndo na sala, ela sempre fora uma criança muito carinhosa, mas ultimamente estava meio afastada da mãe, brigava quanto ao fato de ter perdido temporariamente o colo dela, por conta disso nos tornamos mais unidas, não foi diferente quando ela se jogou em meu colo perguntando:

-Mamãe, vamos assistir a um filminho?

-Claro amor, pega o controle e escolhe um bom para nós, enquanto massageio os pés de sua mamãe.

-Oba... Oba...

Coloquei uma almofada nas costas de Jéssica e outra abaixo de suas pernas, peguei seus pés beijando-os e sussurrando:

-Estão inchados amor! Você se esforça demais sabia.

-Você me trancou a semana toda em casa, hoje que você não estava resolvi escapar um pouco.

-Sabia que isso iria acontecer assim que sai de casa.

-Como foi a viajem?

-Cansativa, mas resolvemos todos os detalhes e fizemos as compras, agora é só esperar chegar o equipamento e começar a montar a sala.

-Que bom Bia, se tudo der certo podemos inaugurar mais uma sala de aula mês que vem.

-Sim se Deus quiser!

Sorriu para mim, Ana voltou com o controle na mão, se aninhou nos braços da mãe, sentei do lado da pequena aninhando-a as duas em meus braços, Jéssica pegou minha mão e levou até onde o bebe chutava, sorri acariciando sua barriga, Aninha também passava as pequenas mãozinhas na barriga dela, me olhou sorrindo deliciosamente quase me matando de tanto amor com aquele mar verde em seu rosto, sussurrei em seu ouvido:

-Amo vocês!

Ela acariciou meu rosto me beijando suavemente, assistimos o filme e eu mentalmente agradecendo a Deus por aquele presente, porque de todas as minhas conquistas, aquelas duas mulheres foram as mais importantes de minha vida, agora com a chegada de um garotão lindo para completar a família que eu sempre sonhei em ter.

Fim do capítulo