Capítulo 47
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 47
-- Não lembra-se de mim? Então, vou refrescar sua memória com uma breve e triste história de Natal: Era uma vez uma menininha, que viu seu pai e seu cachorrinho serem assassinados durante a ceia de Natal...
-- Daniela? -- Lauro arregalou os olhos. As veias do pescoço pulsavam aceleradamente -- O que você faz aqui?
-- O que eu faço aqui? -- Daniela levantou-se, caminhou de um lado para o outro da sala e, por fim, disse calmamente: -- Vim acabar com você!
Lauro correu até a mesa e vasculhou as gavetas. Tirou tudo o que havia nelas e jogou no chão, à procura de algo.
-- Está procurando por isso, senhor Lauro?
O homem voltou-se abruptamente para ela e só conseguiu ver o cano da pistola apontada para a sua cabeça.
-- Cheguei primeiro! Lá, lá, lá -- falou com voz de Teletubbies -- Vamos dar uma voltinha, Laurinho?
-- Daniela, por favor. Tente ver as coisas pelo meu lado. Eu era um simples pião. Apenas obedecia as ordens do seu pai.
-- Vamos! -- Daniela não deu a mínima, para as palavras dele -- Vai na frente e me mostra aonde ficam os animais usados em testes de laboratório.
-- Eu não sei do que você está falando -- disse com a maior cara de inocente.
-- Laurinho, Laurinho. Não se faça de bobo. Eu sei o que você fez no verão passado.
-- Hã?
-- Esquece! - disse coçando queixo -- Eu sempre gosto de dizer essa frase. Vamos logo! Já estou perdendo a paciência -- fechou a cara zangada e ameaçou atirar nele.
-- A pistola nem está carregada -- Lauro sacudiu os ombros.
-- Sério? Deixe-me testar...
-- NÃO!!! -- em um movimento de reflexo, e rápido, Lauro encolheu-se todo, e agachou-se com as mãos na cabeça -- Eu vou, eu vou.
-- Então, anda logo! Não quero ver ninguém cagado.
Depois de entrar e sair do mesmo corredor, umas três vezes, Bianca enfim parou diante da plaquinha com o nome de Lauro. Abriu a porta num gesto exagerado e deu um passo para dentro. Olhou ao redor para se certificar de que realmente não havia ninguém lá dentro.
-- Meu Deus, Dani! Aonde você se meteu, criatura? -- em seguida, saiu da sala, resmungando, e bateu a porta.
-- Por favor doutor, Eder! Diga-me agora o que está acontecendo com a minha cunhada! -- Matias perguntou com os olhos se enchendo de água novamente.
-- Calma rapaz! -- o médico enfiou as mãos nos bolsos do jaleco e olhou sério para ele -- No momento, ela está bem.
-- Mas os bebês vão nascer? -- Matias estava em pânico -- Eles são tão novinhos, tadinhos!
O médico não pode evitar o sorriso.
-- Para termos certeza que o trabalho de parto começou, vamos avaliar Yasmin durante 2 a 3 horas porque se não houver dilatação e se as contrações diminuírem com repouso, pode-se dizer que foi um falso trabalho de parto.
-- Ai, minha Nossa Senhora do Bom Parto! -- Matias estava tão nervoso que não parava de rezar.
-- Matias! -- Lavínia berrou da porta da sala de espera.
Concentrado em seus pensamentos religioso, ele deu um pulo ao ouvir o som estridente da voz da amiga.
-- Céus, Lavínia. Você quase me mata de susto...
-- Como ela está? Como estão os bebês? -- perguntou nervosa e angustiada.
-- O doutor Eder pode lhe explicar melhor... Estou uma pilha -- Matias foi até o bebedouro pegar um copo d'água.
-- Então, doutor? É grave?
-- Grave, não. Preocupante, sim. Quanto mais precoce for o nascimento, maiores serão as necessidades de cuidados especiais e maior é o risco de complicações. Gêmeos, trigêmeos e quadrigêmeos, tendem a nascer antes do tempo. Cerca de metade das mulheres grávidas de gêmeos dá à luz antes das 37 semanas. Desses, a grande maioria nasce depois das 32 semanas, e consegue se desenvolver bem. Apenas 10 por cento nascem antes de 32 semanas.
-- Mas doutor... Yasmin está com menos de 32 semanas -- Lavínia começou a chorar.
-- A área neonatal sofreu grandes avanços nos últimos tempos e os recursos melhoraram muito. A injeção de corticoide é bem importante, Yasmin tomou com 27 semanas e ajudou a amadurecer os pulmões dos bebês -- doutor Eder tocou o ombro de Lavínia com delicadeza -- Com cuidados médicos e a ajuda de Deus, tudo dará certo. Confiem.
-- Você ouviu Matias?
-- Ouvi -- Matias abraçou a amiga e choraram juntos.
Assim que Lauro abriu a porta , incentivado pelo cano da pistola em sua nuca, os cachorros começaram a latir. Toda a sala era protegida por um perfeito projeto de isolamento acústico. Por esse motivo é que poucos sabiam da presença dos animais na sala.
Lágrimas rolaram pelo rosto de Daniela. Eram beagles, naturalmente não os mesmos da sua época de infância, mas eram beagles. A raça inteligente, excitada, determinada, amável, gentil. Eram de todas as cores: Limão e branco, tricolor, castanho e branco, vermelho e branco, bronzeado e branco, chocolate tri, Laranja e branco.
-- Seu maldito! -- Daniela segurou Lauro pela gola do paletó e o sacudiu bruscamente -- Seu nojento! Vocês os tratam, como se fossem um objeto qualquer.
A expressão de Daniela era de ódio.
-- Desgraçado, sequer mantinha eles em um lugar aberto para que pudessem correr e brincar. São animais saudáveis e livres! Seu imbecil!
-- As gaiolas são confortáveis.
Daniela arrastou Lauro até ficar bem próximo das gaiolas que serviam como canis.
-- Me solta! Está me machucando - ele grunhiu.
Daniela deu-lhe um forte tapa no rosto, fora tão forte que Lauro chegou a cair sentado no chão.
-- Abra as gaiolas -- gritou.
-- Mas...
-- Abra antes que eu te transforme em uma peneira.
Lauro ficou assustado com o tom de voz de Daniela e obedeceu sem contestar.
Os cachorros após livres, começaram uma corrida desenfreada de um lado para outro da sala. Derrubando tudo o que encontravam pela frente, dominados por uma alegria infantil e incontrolável.
-- É para isso que eles existem. Para serem livres e viverem ao nosso lado. Os cães reconhecem a bondade e a confiança e, inclusive, experimentam emoções como o amor e o apego. Diferente de muitos trastes como você, que se dizem, humanos.
Daniela olhou por alguns segundos para a gaiola, depois apontou a pistola para Lauro.
-- Entra!
-- O que? Está louca?
-- Você não disse que é confortável?
-- Disse... Mas...
-- Entra! -- encostou o cano da arma no meio das pernas dele -- Com o tempo você se acostuma.
Lauro relutou, mas entrou na gaiola.
Daniela fechou o cadeado e guardou a arma no cós da calça.
-- Maldição, Daniela, abra a porta! -- ele se debatia na maior aflição -- Essa gaiola é pequena demais para o meu tamanho.
-- Seu reclamão. Você tem água, ração. O que quer mais? -- Daniela sentou-se na cadeira inclinou-se para trás, com os pés em cima da mesa e as mãos colocadas na nuca com os dedos entrelaçados e os cotovelos totalmente abertos -- Tenho todo o tempo do mundo. Podemos conversar se você quiser.
-- Vá para o inferno! -- berrou raivoso.
-- Não quer conversar? Então vou dar uma volta.
Rindo alto, Daniela foi até a porta, mas antes de sair virou-se para lançar um último olhar para Lauro. Os dois se fitaram em silêncio. Aquele era o homem que havia covardemente assassinado o seu pai.
"Olho por olho e o mundo acabará cego", já previa Mahatma Gandhi, para quem o perdão é uma característica dos fortes.
Lembrou-se do pai carinhoso, do homem de fé infinita. Do companheiro de todas as horas. O Pedra, seu amigão que havia tomado banho naquela tarde e estava limpinho, cheiroso, de gravatinha azul, que ela mesma havia feito, arrumadinho para a noite de Natal. Lembrou-se também da mesa pronta para a ceia, com frango assado, maionese e arroz de forno que a vó Dinda com tanto carinho, havia preparado. Isso era tão importante para ela e, tudo ficou vermelho, manchado com o sangue de inocentes indefesos.
Apesar de todo o sofrimento de perder quem tanto amava por meio da violência, o coração de Daniela aquietou-se. Estava tendo a chance de se vingar, mas optou pelo perdão como forma de seguir em frente. "Quem somos nós para querermos justiça com as próprias mãos? Somos todos imperfeitos", pensou consigo.
-- Vai me deixar trancado aqui? -- perguntou Lauro.
-- Não se preocupe, eu já volto. Enquanto isso, fica aí conversando com os cachorros. Aproveita para pedir perdão a eles.
Daniela saiu, trancou a porta da sala e colocou as chaves no bolso. Lauro poderia gritar como louco lá dentro que ninguém ouviria.
-- Dani!!! Graças a Deus! -- Bianca gritou da porta do elevador.
Ela estava com uma expressão preocupada e tensa. Era evidente a seriedade do assunto.
As suspeitas de que algo muito errado acontecera tomou conta dela. Talvez tivesse acontecido algo com Yasmin. Foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça.
-- Pelo amor de Deus, Bianca! Fale logo, eu sei que está acontecendo algum problema muito grave. É com a Yasmin? Os bebês?
-- Será melhor nos apressarmos -- afirmou, em pé na porta do elevador -- Não houve nada de grave. Venha, teremos tempo para conversarmos com toda a calma. Vem logo! -- resmungou, apertando o botão do elevador.
-- Você só está piorando o meu nervosismo com todo esse mistério. Se aconteceu algo de mal, quero saber agora! -- berrou com Bianca.
-- A Yasmin foi levada para a maternidade com dores na barriga -- disse olhando para os números que indicavam os andares.
-- Por quê você não me avisou antes? -- Daniela estava desesperada.
-- Eu tentei falar com você, mas o seu celular está comigo. Lembra? E aquele segurança imbecil não me deixou entrar.
-- Vamos levar uma eternidade para chegar a São Paulo -- Daniela sentiu que iria desmaiar -- Acho que preciso me sentar -- disse ela, encostando-se a parede.
-- Yasmin precisa de você. Não vai querer dar uma de florzinha, agora. Nesse momento ela tem o Matias, a Lavínia e a Paula ao lado dela, mas é de você que ela realmente precisa.
Daniela ofegou.
-- Uma moça gostosa e simpática, que trabalha na recepção... -- Bianca parou um instante para refletir sobre a recepcionista -- Fico imaginando como seriam aqueles lábios beijando os meus. Seriam suaves e calmos, ou duros e devoradores? Ela é do tipo de mulher saída daqueles romance que costumo ler, comportadinha, mas safadinha.
-- Cala a boca Bianca! -- Daniela saiu do elevador sem saber para que lado correr -- O que faremos?
-- Como estava falando e você gentilmente me pediu para parar... A gostosa disponibilizou o jatinho da empresa para nos levar de volta para São Paulo. Se bobear já deve até, estar estacionado aí na porta.
Daniela olhou em volta e avistou Leonor conversando com um homem alto, vestido com terno preto e uma imaculada camisa branca. Correu até ela puxou-a pelo braço, e a fez recuar alguns passos.
-- Preciso voltar para São Paulo, agora! -- não soou como um pedido, e sim como uma ordem que Leonor cumpriria com prazer.
-- Já está tudo pronto, dona Daniela. Esse é o motorista que as levará até o jatinho.
Daniela deu alguns passos em direção à porta e, em seguida, se virou.
-- Até eu voltar, você assume o cargo do senhor Lauro. Ele foi demitido.
Leonor assentiu com seriedade, segurando a vontade que sentiu de sair correndo e pulando como uma louca pelo saguão.
Rodolfo se aproximou e parou ao lado dela.
-- Você foi esperta. Se deu bem, hein? -- falou desolado -- Deu um tiro no escuro e acertou.
-- Não dei um tiro no escuro, seu bobalhão. Enquanto voltava para a recepção, liguei para a Matriz e confirmei a história dela -- Leonor deu uma gargalhada -- Falando nisso... Lembra do dia que você me chamou de garça do brejo? Pois é...
A contração violenta fez Yasmin ranger os dentes e virar a cabeça para o outro lado.
-- Eu não aguento mais! -- berrou desesperada -- Por que o doutor não avisou que dar à luz era tão horrível?
Doutor Eder ignorou o acesso de fúria, aproximou-se da cama e segurou-lhe a mão.
-- Calma Yasmin. Só mais um pouco de paciência. Estamos preparando a sala para realizarmos a cesárea. As enfermeiras já devem estar vindo lhe buscar.
-- Eu odeio a Daniela! Eu a odeio! -- Mais um espasmo a atingiu.
Os beijinhos do capítulo vão para as comentaristas:
Valeu queridas!
Créditos:
https://brasil.babycenter.com/
https://www.tuasaude.com/parto-prematuro/
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
patty-321
Em: 01/06/2017
Obrigada pelos beijinhos, outros pra vc. Os bebês vai nascer. Tomara q de TD certo Eva Dani chegue logo pra dar forças p Yasmin. E o q Dani fez com o Lauro foi pouco. Precisa ser preso pela justiça esse safado. Oh tadinho dos cachorrinhos, tão fofos Bianca e muito figura e louca. Ansiosa p próximo. Bjs
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Mille
Em: 01/06/2017
Ah ah fiquei feliz com esses beijinhos da Vandinha!!!!
Lauro passara um bom tempo refletindo se a goiala é confortável e ainda terá bom companheiros para ouvir suas lamentações.
Os gemeos querendo vim ao mundo mais cedo, e tenho certeza que tudo vai dar certo e vão aprontar muito quando tiverem maiores.
Bjus e até o próximo
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