Capítulo 10
Melissa havia saído das suas lembranças e estava resolvida a telefonar para Isadora, desejando-lhe boas festas e confessar que sua presença fazia muita falta. No meio do caminho, teve seu caminho bloqueado por um homem, alcoolizado, talvez pelo champanhe, ou pela mistura de bebidas, o fato que ele soube incomodá-la.
-- Oh minha querida como tem passado? - perguntou segurando no braço da morena, deixando-lhe irritada.
-- Muito bem até o momento - olhou com reprovação para mão que lhe segurava.
-- Desculpe. - largou o braço - Soube por seu avô que você foi com minha filha até a casa do fracassado do meu ex-sogro. - bebeu mais um gole da bebida e sorriu - Não perca seu tempo, ali não tem nada interessante para se fazer. Não sei o que minha filha vê naquele lugar.
-- Certamente ela vê coisas que o senhor jamais perceberia. E quanto ao senhor Eliezer ser um fracassado... – revirou a cabeça - quero chegar à idade dele e ter aquela disposição, lucidez e bondade. Dizer a mim mesma que me inspirei em um homem de bem.
-- O que lhe leva a pensar que não sou um homem de bem mocinha?
-- Eu não falei no senhor... - sorriu com malícia e arrematou – Mas diga-me, o senhor ligou para sua filha hoje? Ligou uma vez somente nas últimas semanas? - observou a expressão de espanto do homem - O senhor tem a resposta dentro de si, licença que tenho coisas mais importantes a fazer. - saiu em direção ao escritório.
Melissa entrou no escritório e logo em seguida Ester foi atrás, pretendia descobrir o que aquele homem queria com ela.
-- Minha filha, eu vi como aquele senhor segurou seu braço e não gostei. O que ele queria?
-- Mamãe, aquele lá é mais um dos trilhões de bajuladores que vovô vai me deixar de herança. - respondeu fingindo calma.
-- Ele não é o pai de Isadora?
-- Infelizmente - respondeu pensativa - Ninguém merece um pai assim. Agradeço todos os dias de ter meus pais e meu avô, do jeitinho como vocês são - abraçou a mãe e lhe beijou a face. - Pode ir dona Ester, o doutor Daniel deve estar à procura de sua rainha encantada - brincou com a mãe.
-- Você não vem? - perguntou após retribuir o beijo da filha.
-- Vou fazer uma ligação antes - respondeu um pouco envergonhada - “Por que estou me sentindo assim? Que mal há em uma amiga ligar para outra?” - pensou sentindo o rubor em sua face.
-- Diga a Isadora que eu mandei um beijo e meus votos de saúde e paz para ela e seu avô - disse antes de sair.
-- Quem disse que é para Isadora que vou telefonar?
-- Seu sorriso e a expressão leve do seu rosto. Beijos - saiu deixando a filha mais confusa.
“Ah pequena! – suspirou - O que acontece comigo quando falo em você? Quando penso em você? Eu tenho que lutar contra isso... Eu preciso lutar contra esse amor... Isadora, como eu sinto sua falta minha querida...” – só então percebeu que se referiu a loirinha como amor. – “Amor? Contra esse amor? Será que é mesmo amor?” – sorriu – “Preciso falar para ela, vê-la e confessar meus sentimentos.” – com esse pensamento ela pegou o telefone e logo em seguida um medo se apoderou do seu corpo que reagiu, ela voltou a negar seus sentimentos e, gritou para si mesma que aquele amor era impossível. Com um suspiro concluiu que impossível mesmo era esquecer a sua pequena loirinha.
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-- Cristina... Cristina... – Enrico lhe chamou atrás da porta, despertando a morena das suas antigas lembranças.
-- Pode entrar.
-- Ei destemida morena que carinha é essa? Vamos levantar este astral?
-- Ah Enrico, não quero sair do quarto hoje. Resolvi tudo o que tinha de ser feito ontem, e agora quero a tranquilidade da minha maravilhosa cama. – concluiu.
-- Vem cá Cristina – pegou-a pela mão e a levou até uma chaise. – Quando você vai tomar uma atitude?
-- Que atitude? A que você se refere?
-- Cristina, você pode enganar quem quiser mais eu sou seu amigo desde que começou a andar e a falar... – olhou para o chão e voltou a encarar os lindos olhos azuis - Quando você vai agir? Vai atrás de Isadora? Ou simplesmente se dar ao direito de amar novamente? Saia conheça gente, veja quem vale a pena e viva... Curta a vida. Minha amiga você é nova, linda, rica e disponível, o que está esperando? – permanecia segurando as mãos da morena, na tentativa de lhe transmitir mais apoio.
-- Eu não quero mais Isadora – seus olhos se encheram de água - ela foi a maior decepção da minha vida – estava com uma voz triste, cheia de dor – Ela fez a opção dela, agora eu faço a minha.
-- Então viva... Volte a ser a... – pensou um pouco – A Melissa de antes, e não a Cristina que foi programada para ser a grande empresária no ramo da agropecuária. Volte a ser a Melissa que saía em disparada com Imperador naquela fazenda... A Melissa que oferecia um sorriso tão lindo que chegava a derreter até a mim... Aquela que não se deixava abater, dura na queda e pronta para o ataque.
-- Aquela época era diferente – concluiu com pesar deixando a cabeça baixa. Enrico ergueu seu queixo, e olhando dentro dos seus olhos disse aquilo que ela não tinha coragem de assumir para si mesma.
-- A Melissa de Isadora... – olhou a surpresa de ter seu segredo revelado - Só por isso que esta época era diferente. Lute, vá atrás dela, não existe a Mel sem a sua Isa. – limpou as duas lágrimas que escorreram pelos lindos olhos azuis – Sabia que ela vai receber um prêmio como melhor repórter investigativa internacional? Esse negócio que não sei o que é, mas, equivale a uma premiação de todo o Planeta – a morena voltou a olhar o chão - Imagina aquela baixinha se embrenhando no meio dos buracos para “descobrir todos os podres do Mundo”, você tem um pedaço bom deste mérito – conseguiu fazer a morena oferecer um leve sorriso.
-- Lembra quando eu estava dividida? Não sabia o que pensar de mim mesma? Quis fugir da minha realidade... Eu não entendia que sentimento era aquele, mas precisava dela Enrico, precisava de Isadora como preciso do oxigênio. Naquele dia no supermercado, eu sabia que ela seria a pessoa a quem eu ofereceria meu coração.
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Quinze anos antes
-- Ei Isa, vem comigo fazer minha inscrição no vestibular? – perguntou quase sem fôlego após alcançar a loirinha que já havia saído do colégio.
-- Poxa Mel, parece que foi ontem que você começou aqui e nós nos esbarramos – ambas retornaram no tempo e começaram a sorrir com as lembranças.
-- Verdade – observou à morena, completamente desanimada.
-- O que aconteceu? – perguntou sentindo o tom triste na voz e semblante da amiga.
-- Não sei explicar... – baixou a cabeça – Sabe Isa, habituei-me a lhe ver todos os dias e me acostumei de um jeito com isso... – as palavras pareciam ter dificuldade para saírem – Como vou me acostumar com isso agora? Sem tê-la todos os dias comigo?
-- Não cursará Direito nesta faculdade? – perguntou apreensiva.
-- Meu avô quer que eu vá cursar em São Paulo – respondeu de cabeça baixa achando as pedras da rua mais interessante do que a conversa.
-- Você também quer isso? Pelo que me lembre, você preferia ficar aqui, o que fez mudar? – estava irritada.
-- Meu avô achou melhor... Assim aprendo a me virar sozinha e depois começo a estagiar na sede, junto com o departamento jurídico.
-- Por que Melissa? E a sua vontade não conta?
-- Conta! – afirmou mais alto e depois voltou ao seu tom normal - Lógico que conta – pegou as mãos da amiga - Eu também quis assim.
-- Responde o motivo desta mudança repentina... – não acreditou no que acabava de ouvir - Melissa você tem que pensar por você e...
-- Droga Isa! Eu apenas prefiro isso – soltou as mãos da loirinha – “Como explicar que um dos motivos é o medo que tenho dos meus sentimentos? Pequena, eu não suporto a ideia... quanto mais lhe ver namorando, com... com outras garotas, eu lhe quero só para mim”. – foi interrompida por uma baixinha irritada.
-- Tudo bem – bateu uma mão na outra - Então levante esse ânimo, já que nada foi imposto a você... “Tudo é e será” com seu consentimento. – viu a expressão de desânimo da amiga e não entendia suas atitudes, resolveu apoiá-la, mesmo que isso lhe custasse sua ausência. - Mel será uma experiência nova. – tentou disfarçar sua própria tristeza - Seus pais também irão?
-- Não – fez um sinal negativo com a cabeça - ficarei em um apartamento próximo a universidade. Eles possuem uma casa lá em São Paulo, mas vivem fazendo recepções e coisas do tipo... Mamãe não curte muito, mas papai quase sempre se ver obrigado, por causa dos seus compromissos sociais... – ficou pensativa e olhou para a loirinha com um olho fechado e outro aberto, imitando uma das manias de Isadora - não sou muito de casa cheia, vou morar lá na cidade, mas quero o meu próprio apartamento, combinamos isso, sempre foi meu sonho ter meu lugar sem ninguém para invadir meu espaço ou me importunar ditando regras. – expressou-se de forma zombeteira e maliciosa.
-- Então será uma coisa boa. – ergueu uma sobrancelha, era a sua vez de imitar uma das manias da morena – Posso contar um segredo? – disse baixinho se aproximando mais do corpo maior.
-- O que?
-- Só um ano, apenas um aninho e talvez, nós estaremos juntas, em São Paulo. – sorria e pulava, movimentando as mãos para a morena, que deixou uma lágrima rolar.
-- Seu pai? Ele vai permitir? – arqueou uma das sobrancelhas, olhando fixo naquelas esmeraldas que brilhavam além do normal.
-- Não. Mamãe e vovô prometeram me ajudar a convencê-lo.
-- Eles sabem que você prefere cursar jornalismo a direito? – recebeu um sinal de positivo com a cabeça, seguido de um lindo sorriso – Então você poderia ficar comigo, dividir o apartamento... – sorriu - Fica comigo? – esticou uma das mãos para alisar o braço loiro.
-- Não sei Mel – passou a mão pelo cabelo - Seu padrão de vida é superior ao meu, acho melhor procurar meu próprio local. Ainda tem o lance do seu espaço, eu iria invadi-lo e...
-- Isadora, você é a única pessoa que eu rezaria para invadir meu espaço ou qualquer outra coisa – as duas ficaram ruborizadas e Melissa concluiu – Além do mais serei tão estudante quanto você. – pensou um pouco – Conversarei com sua mãe.
-- Mel, melhor não.
-- Isa, melhor sim.
-- Não – disse sorrindo.
-- Sim – respondeu com olhos cintilantes
-- Ou?
-- A maldição da cosquinha – ameaçou com as duas mãos estendidas e movimentando os dedos.
-- Você não se atreveria Melissa Cristina – disse se afastando
-- Era só uma ameaça, mas, depois desta declaração completa do meu odioso nome, não vejo saída para você pequena. – movimentava-se atrás da amiga.
-- Pequena? Li em uma matéria sobre a média de altura das mulheres brasileiras, e posso garantir que estou dentro dela. – disse uma ofendida loirinha andando de costas, com medo que a morena lhe pegasse.
-- Então devo chamar todas assim?
-- Sua pretenciosa...
-- Acho que lhe peguei!
-- Odiosa...
-- Com todos – “Exceto você pequena” – pensou a morena. Melissa abraçou a amiga lhe enchendo de cócegas, até a conexão entre olhos azuis e verdes acontecer. Aos poucos os sorrisos foram cessando, uma necessidade nascia das duas meninas... Uma necessidade de decifrarem as nuance daqueles olhares, os enigmas que se escondiam atrás de cada um deles. Melissa observou a boca de Isadora a poucos centímetros da sua, uma vontade louca em tomá-la para si e declarar aquele desejo surreal para a amiga. Isadora pensava no quanto a morena estava próxima de si, queria ter coragem para dizer que a amava e sentiria muito sua falta na convivência diária, mas a iniciativa foi mesmo da morena, que aos poucos foi se abaixando, buscando aquele contato mais íntimo, viu os olhos verdes se fecharem, mas ela não conseguia fazer o mesmo com os seus. Pretendia gravar na memória aquele momento. Isadora sentiu o hálito quente da amiga próximo ao seu rosto, imediatamente ela fechou os olhos, desejando cada vez mais o tão esperado beijo, queria senti-lo por inteiro – “Mel, quero experimentar seu gosto...” – Pensava a loirinha. Quando as duas estavam completamente entregues ao momento, Francine surgiu correndo pela praça, chamando o nome de Isadora, interrompendo o tão sonhado momento.
“Melissa, você quase beijou a sua melhor amiga! O que foi isso? Em praça pública... Tenho que me controlar mais.” – pensou a morena sendo arremessada a realidade. Ela saiu esfregando as duas mãos na roupa, enquanto Isadora fingia arrumar o cabelo.
“Droga! Mil vezes droga! O que Francine quer comigo em uma hora como esta? Talvez tenha sido melhor assim... Deus ajude-me a suportar isso, Melissa só gosta de mim como irmã, ela já falou isso mais de uma vez... e agora quase me beija em praça pública... Ai o que eu faço? Isso deve ser apenas curiosidade...” – pensou Isadora.
Francine era a atual namorada de Isadora, elas haviam discutido na noite anterior, e agora a garota pretendia conversar, tentar mais uma vez resolver sua relação com a pequena e meiga loirinha. Ela sabia o quanto Isa era especial, e queria prolongar aquela relação, curtir mais o seu último ano na escola.
-- Isa, eu estou lhe procurando há horas. Precisamos conversar.
-- Tudo bem, amanhã na escola – foi curta e sucinta. Observou a expressão de decepção de Melissa e tentava decifrá-la melhor, interpretar os possíveis pensamentos que passavam por aquela cabeça.
-- Não Isa, vamos agora – chamou puxando a loirinha pela mão.
-- Francine, eu e Mel temos um compromisso.
-- Isa pode ir... Depois nos falamos – disse a morena em um tom de pesar.
-- Não Melissa, nós combinamos e vamos prosseguir com o planejado.
-- Qual é Isa? Sua amiga já lhe liberou, preciso conversar, é sério.
“Sério? Isso foi um dos nossos melhores momentos que você acabou de atrapalhar.” – pensou e constatou uma irritada Isadora.
-- Mel, eu depois vou à sua casa, tudo bem? – fez a pergunta colocando a mão no braço da morena que sentiu o inevitável choque que se fazia presente aos toques entre seu corpo e o de Isadora.
-- Si... Sim – respondeu um pouco trêmula, e logo em seguida saiu, sendo observada por sua pequena.
-- Isa, parece que essa menina gosta de você mais do que imaginei – observou Francine – ainda bem que ela está indo embora...
-- Acha isso? Verdade? – estava empolgada.
-- Parece que você também, não é mesmo?
-- Francine, você nos interrompeu para conversar algo urgente, e aposto que não era nada sobre a Melissa e eu.
-- Sim... Desculpa, mas morro de ciúme de você... – procurava as palavras certas – Isa, eu ainda gosto de você e não queria perder a oportunidade de ficarmos juntas novamente. Não deixe aquela briguinha de ontem virar um abismo...
-- Fran, também gosto muito de você, mas acho que nossa oportunidade passou.
-- Isa, por favor, pensa mais um pouco sobre isso.
-- Não rola mais.
-- Melissa?
-- O que?
-- O nome do impedimento em ficarmos juntas. Pensa que não percebi como vocês se olham? O quanto ela só falta se deitar no chão para você pisar? É ela não é?
-- Não sei do que você está falando – Francine que era mais alta, pouca coisa, segurou Isadora pelos braços, e era muita sorte que naquela hora não havia ninguém na praça, porque, no momento em que viu aquela cena, Melissa voltou em direção as duas, e puxou Francine, arrancando-a de perto da sua pequena.
-- Não sei o que está acontecendo, mas se é para ser violenta, eu sou nota máxima. – advertiu, olhando-a séria.
-- Não Mel, por favor – colocou-se entre as duas – Fran vai embora, outro dia, nós conversamos.
-- Ela quem deveria ir Isadora – Isa sentiu neste momento a morena movimentando seu corpo para cima da outra menina e a segurou com mais firmeza.
-- Facilita Francine, eu não vou segurar a fera por muito tempo – foi até um pouco irônica no tom de voz.
-- Quer saber? Vocês duas se merecem mesmo... Vivem dizendo que são amigas, mas é óbvio que tem algo mais ai... E eu? Eu idiota dizendo a mim mesma que era só impressão – cuspiu as palavras e saiu amaldiçoando até as pedras da calçada. Melissa e Isadora se olharam envergonhadas.
-- Ela acha que nós nos amamos, assim...
-- Tipo... – Isadora movimentou as mãos procurando algo para falar.
-- Assim como você e ela? – Melissa completou com um sorriso amarelo, enquanto Isadora estava vermelha de vergonha.
-- Louca! – gritou - Nós duas? Somos amigas... Essas pessoas interpretam tudo errado... - foi à vez de Isadora se justificar.
-- Somos amigas, apenas isso... – foi à vez de Melissa falar, olhando dentro dos olhos verdes.
-- Amigas inseparáveis – prosseguiu Isadora com os olhos fixos nos azuis.
-- Melhores amiga... – Melissa repetiu se aproximando.
-- Somos sim... – Isadora estava sem jeito e começava a esfregar uma mão na outra, uma mania de Melissa quando estava nervosa. Estavam próximas, e Melissa se aproximava olhando fixo para a boca da loira, como estavam em uma praça, novamente foram interrompidas por um carro que passava e depois mais pessoas. Isadora despertou e interrompeu os planos da morena. - Você queria fazer sua inscrição, por que não vamos agora?
-- Inscrição? Para que? – estava completamente perdida nos olhos verdes e na boca rosada.
-- Melissa, seu vestibular!
-- Ah, lembrei... Vamos sim, o carro ficou na outra rua.
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Os dias passaram voando, mais um ano terminava, e o tão temido dia da separação, tornava-se real. Melissa quis se despedir da amiga, fazendo um delicioso lanche as margens do rio. Cavalgaram até o local, Imperador já permitia que outra pessoa, além da morena, montasse nele. Este privilégio era exclusivo da loirinha. Como sempre faziam: Isadora ficava na frente e Melissa atrás, segurando as rédeas e se deliciando com o cheiro do cabelo loiro que batia em seu rosto. O passeio, antes feito em poucos minutos, prolongou-se em mais de meia hora, as duas não pretendiam sair daquele momento. Imperador parecia sentir que não teria mais sua dona diariamente, e ficava cada vez mais lento. Chegaram ao local escolhido, à morena desmontou e em seguida aguardou que sua amiga saltasse em seus braços, um hábito adquirido pelo medo que ela tinha em descer sozinha do cavalo e cair. Isadora se dirigiu até o rio e sentiu a temperatura da água.
-- Nem gelada demais, nem quente demais, ideal para um banho – disse com malícia.
-- Vamos ficar por aqui então. – observou o local e viu que realmente estava deserto. Deixou Imperador debaixo de uma árvore, com liberdade suficiente para andar um pouco pelos arredores, quando retornou, tomou um susto ao ver Isadora de biquíni. – “Quando ela adquiriu esse corpo e eu não percebi?”.
-- O que foi Mel?
-- Faz muito tempo que não tomamos banho de rio – constatou.
-- Por que essa observação óbvia, agora? – perguntou prestando atenção no biquíni e ajustando-o melhor.
-- Por quê? Você ainda me faz uma pergunta dessas? Isa, quando você adquiriu este corpo?
-- Estou feia? – estava assustada com a expressão de espanto da morena.
-- Claro que não. – respondeu empolgada - Você está linda! Essas coxas... E essas pernas? Você... Você... Está linda! – só depois de perceber o sorriso estampado no rosto da loirinha, Melissa percebeu a sua empolgação.
-- Estou tão bem assim? – perguntou sorrindo franzindo o nariz, uma forma peculiar que encantava a morena – Depois que você e o Enrico insistiram para que eu fizesse musculação e continuasse as aulas de defesa pessoal, não tinha como.
-- Mas você... – estava sem palavras – Com aqueles moletons largos, eu nunca perceberia o corpo que... Tomou.
-- Bom você ter gostado – “Eu não falei isso... Juro que não falei. Fica com a boca fechada Isadora”.
-- Gostei sim... E como! – desabafou quase babando olhando para o corpo menor e só então percebeu o rubor da loirinha – Acho melhor entrarmos na água.
-- Gostei da ideia. . – ficou realmente sem palavras e sem jeito diante daquele comentário.
Aproveitaram o tempo conversando e fazendo planos para o futuro, não demorou, e o estômago de Isadora se manifestou, provando mais uma vez ter vida própria.
-- Desculpa Mel, ele sempre faz isso.
-- Eu acho hilário esse barulho, nem quando estou faminta, meu estômago consegue esta façanha. – estava rindo com a expressão envergonhada de Isadora.
-- Isso continue zombando que não lhe dou um pedaço da minha mais nova receita.
-- Hum... Faz isso porque sabe que aprecio seu tempero – disse com tom de malícia – “E outras coisas mais” – pensou
-- É uma pena que goste só do meu tempero – Isadora pensou alto, e só então percebeu o comentário que tinha feito. Melissa a olhou com um ar de perplexidade, não acreditava no que acabava de ouvir, foi então que aproveitou para fazer seu próprio comentário.
-- E se confessar que existem outras coisas em você as quais aprecio, além do seu tempero? – aproximou-se da amiga.
-- Eu teria de investigar quais seriam essas coisas. – Isadora viu que aquele poderia ser um jogo sem volta, mesmo assim resolveu arriscar. Melissa se aproximou um pouco mais, erguendo-a na água, e olhou bem dentro dos seus olhos, procurando a verdade que aquele jogo revelaria.
-- São tantas que eu não saberia por onde começar – sussurrou no ouvido da loirinha que ao sentir aquele contato fechou os olhos.
-- Melissa... – foi à vez de Isadora sussurrar.
-- Peça, e eu enumero uma a uma – mordeu de leve a ponta da orelha da loirinha, permanecendo com ela em seus braços, que, aproveitando o momento, entrelaçou a cintura da morena com as pernas.
-- Mel... – Isadora não conseguiu dizer mais nada quando sentiu aquela leve mordida, um arrepio tomou todo o seu corpo, e, automaticamente, prendeu mais a morena entre suas pernas.
-- Melissa Cristina! Melissa Cristina! – elas ouviram alguns gritos chamando pela morena, e retornaram a realidade do momento, soltando-se rapidamente e indo uma para cada lado. – Aí estão vocês! – disse um rapaz com pouco mais que dezoito anos.
-- Oi Pedro – a morena respondeu desanimada e sem coragem de olhar para Isadora. Na sua cabeça ela havia violado a amizade entre as duas.
-- Dona Ester nos disse que vocês tinham vindo tomar banho de rio, pensamos que estariam mais próximo e não tão longe assim, quase não a encontramos.
“Não era para encontrar.” – pensou Isadora ainda com o coração a mil e a respiração descompassada.
-- Isa, você já conhece Pedro – respirou fundo, na tentativa de recuperar o fôlego - mas a irmã dele, Mirela, ainda não. – permanecia sem olhar na direção em que Isadora estava.
-- Oi Mirela. – foi simpática. Ela percebeu a forma como Melissa a evitava. – “Será que ela se arrependeu e agora está com vergonha?”.
“Como vou encarar Isadora depois de quase... quase... beijá-la? Não, aquilo não ficaria só em um beijo... eu me conheço... Ela deve ter ficado chateada comigo, fui atrevida demais... não consigo nem olhar para ela. Que vergonha! Melissa você é uma idiota”.
-- Faz tempo que estão na água.
-- Como sabe?
-- Olhem para as suas mãos... – constatou Mirela.
-- Saiam um pouco, fiquem aqui conosco – chamou Pedro. As duas saíram, sem muito ânimo. Melissa sabia que Pedro nutria uma paixão recolhida por ela, mas não gostou nada de ver o olhar lançado ao corpo de Isadora, imediatamente ela jogou sua camisa para a loirinha que entendeu o recado. Ela vestiu sem contestar. A camisa ficou como um vestido, e em seguida, Mirela se aproximou para lhe ajudar a dobrar as mangas, porém, foi impedida pela morena que tomou a tarefa para si, mas, desta vez, olhou fixo para dentro das esmeraldas, tentou amenizar a situação, e, de alguma forma, Isadora entendeu aquele olhar sereno.
-- Podemos continuar depois. – declarou. Isadora acompanhou o olhar do garoto e foi sua vez de falar.
-- Vista sua calça. – Isadora ordenou sorrindo.
-- Melhor conversarmos depois. – disse baixinho terminando de dobrar a última manga.
-- Precisamos, mas agora se vista. – foi à última coisa que Isadora falou naquela manhã. Ela ficou todo o período em silêncio, percebia as indiretas de Pedro para cima de Melissa, ela não correspondia, mas aquilo a irritava cada vez mais. A fome que antes havia sido motivo de brincadeiras tinha sumido. Tudo o que ela queria agora era ir embora dali. Melissa mal prestava atenção no que o garoto e sua irmã falavam, só pensava no que Isadora poderia ter interpretado naquele momento. – “E se isso acabar nossa amizade?” – pensava para logo em seguida se penalizar por tamanha bobagem. – “Ela gostou. Eu sei que ela gostou!”.
A oportunidade de conversarem sobre o ocorrido no rio não surgiu, os irmãos permaneceram com elas até o retorno a fazenda, onde as tias de Melissa estavam esperando por eles. Isadora sentiu que não conseguiria mais ficar sozinha com a amiga, e nem muito menos queria ver alguém a paquerando, assim como Pedro. Ela resolveu ir embora.
-- Fica mais um pouco Isa. – pediu com o coração quase saltando.
-- Não Mel, este momento é seu e da sua família...
-- E meus amigos... – interrompeu. – Com você.
-- Não... Não quero me despedir, combinamos isso e quero levar a sério. – observou a expressão triste da amiga, e alisou seu rosto com o dorso da mão - Vou só trocar sua camisa e vestir minha blusa...
-- Fique com ela. – pediu carinhosamente segurando o braço da loirinha.
-- Já viu que fica um vestido em mim?
-- Serve para dormir, ainda mais você que gosta de roupas folgadas e leves para dormir.
-- Mel, uma camisa dessas para dormir?
-- Talvez tenha razão em não querer... – disse chateada, queria que ela ficasse mais - Vai lá dentro e troca, coloca a sua e pode deixar essa.
-- Ficarei com ela... – olhou a camisa e voltou a olhar a morena - E todas as noites dormirei com ela, assim imagino você mais pertinho de mim. – concluiu ao perceber o tom triste na voz da morena após sua recusa.
As duas se abraçaram forte, nada disseram uma para outra, nem mesmo sobre o que tinha acontecido mais cedo no rio. Isadora diminuía o espaço entre as duas, e Melissa beijava diversas vezes o topo da cabeça loira. Quando estavam se afastando, Melissa não resistiu, a puxou para outro abraço, e beijou o rosto, mas, quando Isadora se virou, os lábios se encontraram. As duas se afastaram como se tivessem levado um choque, e se encararam. Enrico se aproximou chamando Isadora, ela olhou para o moreno e voltou a olhar para Melissa, e sorriu.
-- Adorei! – sorriu e foi em direção a Enrico, que a levou para casa.
Quando Isadora foi embora, Melissa se trancou em seu quarto com a desculpa de tomar banho. Ela deixou a água forte do chuveiro cair em seu corpo, chorou por aquilo que ainda não tinha experimentado.
Fim do capítulo
Chegamos ao décimo capítulo, uma nova fase na vida das duas... Vamos lá meninas, quero comentários. Fiz pequenas mudanças, será que alguém vai perceber?
Beijos e boa chuva, porque aqui só faz cair água.
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ik felix
Em: 31/05/2017
Cara Rafa,
Sei que quando somos adolescentes só temos incerteza, mas as coisas que acontecem com ambas já deviam ter notado que uma ama a outra e não é só como melhor amiga. Mas cara sempre que as coisas estão ficando interessantes e decisivas chega alguém, que chato!
Vamos ver o que essa nova fase da vida de ambas fez para elas não ficarem juntas ainda. Abraço, IK.
Resposta do autor:
Oi Ik felix, olha que quando eu era adolescente era bem pior. Insegurança de perder a amizade, queimar o filme com a outra pessoa, são tantas coisas... Eu me identico nesta situação quando era adolescente, infelizmente!. Beijos e até o próximo capítulo. Bjs
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Mille
Em: 31/05/2017
Sempre alguém boaea atrapalhar as duas.
Gostei da parte que a Melissa diz verdades para o pai da Isa, o ambicioso, cheio de armações para se dar bem.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Oi Mille, acredite, Melissa não ficará só nos alertas verbais com este carinha, ela é fogo! Essas atrapalhadas também me irritam, mas preciso valorizar a história e aguçar a curiosidade de vocês. Beijos e até o próximo capítulo
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joanna costta
Em: 31/05/2017
Esse povo so atrapalha essas duas kkkkk
Bom de mais reler essa maravilhosa história.
meu anjo, não é a primeira vez que leio essa história, sei do cor salteado todos os capítulos...kkkkk
Sou apaixonada por ela.
Resposta do autor:
Oi Joana, tudo bem? Eu pensei que fosse, não lembrava de você do ABC, sorry! Fico muito feliz que esteja repetindo a leitura com gostinho e empolgação de primeira vez. Obrigada pelo carinho. Beijos e te espero no próximo capítulo.
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lay colombo
Em: 31/05/2017
Como pode essa história me deixar tão elétrica e estasiada sendo q já li ela no mínimo 3 vezes no abcles ? Qual foi a magia q vc colocou ?
Resposta do autor:
Eu não coloquei magia nenhuma, pelo contrário, isso é coisa de vocês, leitoras que jogam empolgação e torcida, ai a autora se empolga também e entra no ritmo...kkkkkk.... Por isso é tão bom esses comentários. Beijos e te espero no próximo capítulo. Bjs
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