@mor.com por Carla Gentil
Capítulo 30
- Mas o que aconteceu? – Dr Rafael jogou a gravata sobre o sofá, encaminhando-se apressado para o escritório. – Desde quando ela está ai?
- Faz uns quarenta minutos, pai. A Joana disse que a Sam entrou correndo e quando ela foi perguntar se queria alguma coisa, foi empurrada, ai a Sam entrou no escritório e bateu a porta – ao ver o pai tentar abri-la, Cássio informou: – Está trancada, eu já tentei...
- Samantha, abra a porta – pediu dando batidelas no batente, esperou e não obteve resposta. – Abre, filha...
- Deve ter acontecido o que eu avisei que ia acontecer. Deve ter levado o pé...
- Cale-se, Cássio. Obrigado por me avisar, mas agora pode deixar que eu resolvo.
- Mas... – tentou argumentar, o olhar severo do pai bastou para suspirar resignado e sair de perto. – Eu avisei! – falou triunfante à distância.
Rafael suspirou e tentou novamente convencer a filha a abrir a porta. Preocupado com o silêncio, pediu que Joana trouxesse todas as chaves que encontrasse pela casa, talvez uma servisse.
- Sam, é o painho, estou sozinho aqui, filha, por favor, abra esta porta... Samantha Figueiredo! Estou mandando abrir esta porta agora! – falou duro, tentando mudar de tática.
Joana chegou com as chaves e depois de algumas tentativas frustradas, enfim conseguiu achar a reserva do escritório. Antes de abrir a porta, pediu que Joana trouxesse um copo com água. Sem esperar que a empregada voltasse, ele abriu a porta.
Por alguns instantes achou que tinha sido vítima de uma brincadeira de mau gosto do filho mais velho. O escritório estava vazio. Já estava se virando para sair quando ouviu barulhos abafados de soluços vindo do final da sala. Caminhou lentamente para a direção em que vinha o som e percebeu a filha deitada de bruços, encolhida, embaixo da mesa.
Assustado, correu até ela, chamando seu nome. Mas Sam não reagia, apenas continuava soluçando.
- Filhinha... O que aconteceu com você? Fala com painho, amor... – ele se abaixou e a puxou de encontro ao seu corpo. Joana chegou esbaforida com a água. – Toma esta água, querida...
Mas Sam não reagia, apenas soluçava de encontro ao peito do pai. Rafael pediu que Joana ligasse para o Dr Alceu. Quando o médico chegou receitou um remédio que a fez dormir até a noite.
Quando Sam finalmente acordou, notou, muito confusa, que estava com um frasco de soro preso à sua veia. Deixou os olhos semiabertos para que se adaptassem à fraca claridade do ambiente. Reconheceu seu quarto, na casa de seu pai. Virou o rosto e o encontrou cochilando numa poltrona reclinável e que, decididamente, não fazia parte da antiga decoração.
“Mas o que está acontecendo?”, pensou, ainda desnorteada. Com uma velocidade alucinante, as imagens viajaram ao seu encontro: a espera, o balcão de informações, as poltronas do aeroporto, Letícia, Gilberto, o chão... E acima de tudo, a imagem que não estava em sua memória. A ausência. Os cacos... Dormiu novamente.
Rafael acordou assustado quando o livro que estava lendo caiu de suas mãos. Ajeitou-se melhor na poltrona e olhou para a filha. Levantou-se e se aproximou da cama. Dr Alceu tinha dito mesmo que ela acordaria e provavelmente logo dormiria novamente. Limpou uma lágrima que tinha deixado úmido seu percurso. Estava de coração partido em ver sua filha sofrendo tanto sem poder fazer muita coisa para ajudar.
Tinha ligado para os pais de Laura, que contaram o que tinha acontecido. A filha, na última hora, tinha pensado melhor e decidido seguir a profissão e abandonar a namorada. Rafael desligou o telefone com brusquidão. Sentiu uma raiva enorme o dominar, só de se lembrar, já contraia os músculos da mão... “Cafajeste! Nem para ter coragem e dizer na cara! Que decepção! Que decepção”.
Olhou para Sam que tinha um sono perturbado e em seguida para o quadro de Jackie, que ele transferiu para o quarto da filha. A sempre sorridente e doce Jackie, no dia de sua despedida também soluçara daquela forma em seu peito, também tinha o coração partido... “Quem foi que te machucou assim, amor? Era tudo o que eu não queria para nossa filha! Ela se parece tanto com você...”.
***
- Desta vez a Lau pisou feio na bola! – Leandro falou irritado. – Se vocês vissem o estado que ela estava quando eu a levei embora! Puxa! Eu fiquei arrasado!
- A tia é destruidora de corações!
- Mas eu gostava da Sam, ela gostava dos mesmos filmes que a gente.
- E isto não é conversa pra moleque! Vão jogar videogame que vocês ganham mais – com um grito de “oba”, os gêmeos foram para o quarto.
- O pai dela está uma fera! – Gilberto falou assim que ouviu a porta sendo batida. - Liguei lá pra saber como a menina estava e ele bateu o telefone na minha cara.
- Ele é um esnobe! – Letícia falou magoada. – Sempre foi. Será que ele não entende que a Laura tem o direito de fazer as escolhas dela?
- Mas mainha! Não se faz promessas que não se pode cumprir! – Lídia retrucou indignada com a postura da mãe.
- Ela queria vir pra cá! – Letícia falou alto, muito nervosa. - Ela até vendeu o apartamento. A Laura eve ter tido um motivo muito forte pra mudar de ideia.
- Se ela quisesse mesmo, teria vindo – Leandro respondeu, com o apoio da irmã que assentiu com a cabeça.
- Nem sempre dá pra fazer o que se quer. Existem outras responsabilidades, é preciso responder pra todo mundo pelas escolhas que se faz. Já imaginaram o que falariam dela?
- E desde quando a Laura se importa com o que falam dela? – Lídia perguntou.
- Desde quando a decisão dela vai ser realmente importante. Uma coisa é ela fazer uma viagem de última hora pra namorar. Outra é largar tudo pra ficar com esta menina...
- Ela não amava a Sam – Leandro concluiu. – Era mais uma aventura...
- Não era não! – agora Letícia falou realmente alto, levantando-se e dando de dedo no rosto do filho. – Ninguém pode falar que ela não ama só porque não ficou com a Jackie, ela ama e vai amar pra sempre, só fez a escolha certa. Difícil e certa, ela foi é corajosa. Um dia esta menina ainda vai agradecer pelo sacrifício que...
Letícia estava com a voz embargada e por isto parou de falar, dando-se tempo suficiente para perceber que não falava de Laura, ou de Sam. Espantando ainda mais a família, correu para o seu quarto e se trancou ali.
- Mainha endoidou de vez, é não? – Leandro rompeu o silêncio.
- Ela chamou a Sam de Jackie ou foi impressão minha?
- Né! Eu também fiquei na dúvida...
- Eu, hein! Ela perdeu os argumentos pra defender a Lau.
Gilberto só ouvia. E matutava. Antigos fantasmas revisitando sua mente, lembranças de uma época de dúvidas e incertezas, que somente a alegria com o nascimento dos filhos aplacou.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Tatta
Em: 26/05/2017
A autora... para vai! Eu to falando sério... vou morrer de ansiedade desse jeito! Conta logo pra gente o que realmente ta acontecendo!
Resposta do autor:
Vixe, li rápido algo assim "Ah autora vai para..." Ufa, ficou melhor do jeito que vc escreveu
#Assustei
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