-- Sim, estamos namorando. – estava firme em sua decisão, encarou a situação de cabeça erguida.

-- Quanto tempo isso? – Melissa tinha uma expressão indecifrável, nem ela mesma sabia que dor era aquela que sentia.

-- Uns dois meses depois que você começou com o Tiago.

-- Isso tudo? – estava perplexa – “Como isso aconteceu e eu não vi?” – queria perguntar se elas já haviam também chegado “aos finalmente” como Isadora se referiu anteriormente.

-- Sim. – viu a expressão de dúvidas da morena e assimilou a pergunta que deveria se formar na cabeça dela – Quer saber se já trans*mos? Ainda não trans*mos, não fui tão rápida quanto você.

-- Você gosta dela? – estava confusa – A ama? – nem percebeu o comentário tendencioso feito pela loira.

-- Gosto, mas não sei o motivo da pergunta.

-- Nada, só queria entender. – voltou a se jogar no sofá, com os braços abertos. – “Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Que dor é essa? Essa pequena não podia namorar... Melissa deixa de ser idiota, por que ela não pode namorar?” – travava um duelo mental.

-- Mudará alguma coisa entre nós? – perguntou segurando a forma autoritária como conduzia à conversa, deixando a morena completamente acuada.

Melissa pensou por alguns minutos, pretendia descobrir por que aquela revelação estava lhe abalando, não sabia discernir, sua razão estava sendo atormentada. Lembrou-se dos momentos que passaram juntas na fazenda, durante o carnaval, das várias conversas mantidas na escola, ou mesmo durante os finais de semana em que saiam para se divertir. Diante de toda a amizade que existia entre as duas, aquela revelação não era nada, então por que se sentia tão revoltada? Não era uma pessoa preconceituosa, pelo contrário, seu melhor amigo era gay, e ela sempre lhe ofereceu total apoio. Novamente se perguntou mentalmente, por que esta revelação mexia tanto assim? Levantou a cabeça, olhou nos profundos olhos verdes, que aguardava uma resposta:

-- Não. Somos amigas e eu te amo como a uma irmã – foi em direção a mais jovem e lhe abraçou forte. – Só acho que você é muito nova e não quero que ninguém lhe magoe. Eu amo muito você Isadora, apesar do pouco tempo que nos conhecemos.

-- Eu também lhe amo – disse deixando uma lágrima rolar e se envolvendo cada vez mais naquele abraço, pretendia fazê-lo durar para sempre. – “Quero que me ame como mulher Mel, eu sei que posso lhe fazer muito feliz.” – pensava enquanto se entregava cada vez mais aos longos braços.

-- Vamos, conte- me mais sobre seu namoro, assim como me abro com você, quero que confie em se revelar para mim também. – “Por que quero saber sobre isso? Não é problema meu! Virei uma louca que gosta de sofrer? Mas por que estou sofrendo?” – a cabeça de Melissa não parava, ela já se sentia zonza com tantas perguntas.

-- Não se abre tanto assim, como já falei você não esperou muito para se entregar ao Tiago, e nem confiou a mim este segredo.

-- Isa – ponderou um pouco – Realmente eu não sabia como falar... isso, foi de repente, eu pedi ao Tiago para não comentar com ninguém, mas pelo que vejo toda a escola já sabe – “Aquele filho da mãe, amanhã ele vai se ver comigo!” – pensou irritada cerrando os olhos.

-- Não adianta querer quebra-lo em dois ou chutar seu traseiro, agora todos já sabem – disse a loirinha após observar a expressão de irritação da morena.

-- Como sabe que pensei isso? – estava incrédula com a observação da amiga.

-- Apenas lhe conheço, seu olhar diz muito Mel.

-- Então... – ficou envergonhada – Mesmo que eu não...

-- Sim. Eu perceberia Melissa – interrompeu em tom irritado.

-- Desculpa Isa – pediu abraçando o corpo menor. – Sou mesmo uma idiota insensível.

-- Sim, você realmente é uma idiota – “Idiota por não perceber o quanto lhe amo” - Não tenho nada com suas escolhas, assim como você não tem com as minhas.

-- Isa... Eu simplesmente me sinto mal com tudo isso, perdoe a minha... – pediu fazendo um bico difícil de resistir e logo foi interrompida pela amiga.

“Mel como queria lhe beijar” – pensava a loirinha diante daquela cena.

-- Tudo bem, mas espero que não existam mais segredos entre nós duas. – disse com o dedo em riste.

-- Prometo solenemente – respondeu levantando uma das mãos com um ar zombeteiro.

-- Estou falando sério – por pirraça falou o nome completo da morena - Melissa Cristina, entendeu?

-- Juro! – olhos azuis sinceros e serenos se derretiam para loirinha, sem se importar com a pronúncia do seu odioso nome completo.

As duas resolveram ficar conversando mais sobre o namoro da loirinha. Isadora contou sobre o início da paquera, os pequenos flertes involuntários nos corredores da escola. A aproximação, o primeiro encontro, e os seguidos a este até o primeiro beijo, em que ambas desfrutaram como a “uma festa particular com direito a incêndio sem bombeiros”, metáfora usada para exemplificar as reações do seu corpo aquela aproximação. Melissa, a princípio, ouvia a tudo com um ciúme acima dos seus limites e se Bárbara aparecesse ali, naquele momento, certamente corria risco de morte. O ciúme dominava a morena, mas, ao ouvir a explicação sobre a sensação do primeiro beijo, ela voltou à realidade.

-- Eu nunca senti isso com o Tiago! – pensou alto o suficiente deixando a amiga ouvir.

-- Talvez ele não seja o amor da sua vida...

-- Bárbara é o amor da sua vida? – perguntou com espanto e tristeza interrompendo a amiga.

-- NÃO! – pensou o que responder, pois sabia que o amor da sua vida, a mulher que lhe tirava o sono estava ali, diante dos seus olhos, mas não teria coragem em assumir. – Não sei. Acho que não... Estamos nos conhecendo, curtição, assim como você namora o galã das oito, ou você o ama? – disse de forma derrotada.

-- Até pensei em gostar dele, mas, depois de ouvir todas essas coisas sobre seu corpo e as reações que ele teve diante de um beijo ou de algumas carícias, não sei o que pensar. – esticou as pernas que antes estavam cruzadas, jogou a cabeça para trás, e, em um gesto impaciente disse a amiga – Acho que você deve amá-la, ou não sentiria tudo isso.

-- Bem, vocês já... – não sabia como falar – “fizeram amor” – saiu em um tom baixo – Então deve ter sentido algo... alguma coisa, sei lá...

-- Sim, um forte orgasmo, com direito a falta de respiração, seguido por outro – observou a expressão da amiga, e se o queixo dela não estivesse fixo, teria caído com tamanha perplexidade - mas por parte dele. – falou de uma vez e sem pausas, não queria deixar sua pequena pensar em mais bobagens – eu não cheguei a sentir nada, além de dor e ardência.

-- Não me imagino sentindo dor, ou nada além de prazer com a Bárbara. – pensou alto com um sorriso nos lábios. Melissa se irritou com a observação, realmente ela queria esganar a tal Bárbara.

-- Pretendem... – coçou a cabeça de forma displicente até gesticular com a mão – Bem, você sabe o que quero dizer.

-- Lógico que sim! – falou a mais jovem sorrindo e imaginando o dia – Mas quero que seja algo especial – observou a expressão de derrota da morena e se perguntou se era impressão ou realmente Melissa estava com ciúme, resolveu exagerar nas explicações de seus sentimentos por Bárbara, e avaliar melhor as reações de Melissa.

-- Entendo – “por que sinto essa dor em meu estômago?” - pensou Melissa. – Você me conta quando estiver próximo de acontecer?

-- Como?

-- Desculpa! - corrigiu-se da sua colocação – Vai me contar quando acontecer?

-- Sim, mas quero que seja de forma especial, nada planejado... Sabe Mel, gosto do inesperado, ele nos oferece mais prazer. Quero que o dia chegue e nós duas estejamos em um local nosso, porque o momento será mágico. Quero fazer amor e não trans*r. – respondeu sorrindo percebendo o embaraço da amiga. Ela realmente sentia tudo isso que havia falado, mas queria provocar mais um pouco a morena.

-- Mesmo assim amanhã vou distribuir chutes no traseiro de certo rapaz – observou em tom jocoso, encontrando uma forma de encerrar aquele assunto que estava lhe dando enjoo – “Com Bárbara? Droga!”.

-- Melissa! – repreendeu Isadora, para logo em seguidas as duas se abraçarem e sorrirem.

Fim do capítulo