– Meu filho, olha pra mim – segurei seu queixo. – O que você tá fazendo com a sua vida? É isso que você quer pro seu futuro?  Passar anos e anos dentro de uma cela por furto, é isso mesmo?

– Mãe, eu não furtei nada. Eu só estava acompanhando os caras, só queria sentir a adrenalina. Acredita em mim, por favor – ele falava e chorava. – Me ajuda a sair daqui mãe, por favor, não me deixa aqui.

– Eu vou te ajudar a sair daqui, é a minha obrigação como mãe. Mas é minha obrigação também, mostrar pra você que tudo tem um limite na vida. – segurei suas mãos e mantive nosso contato visual. – Eu te amo, mas se você quiser continuar seguindo a vida dessa forma, pode ter certeza que essa será a primeira e única vez que lhe tiro de um ambiente desse tipo. – respirei fundo – Todos merecem uma segunda chance, e essa será a sua. Eu acredito no que você diz, mas se você tivesse me escutado, na verdade escutado só a mim não. Porque eu falei, sua irmã falou, seu tio, a Cléo, a Carla. E o que você respondeu a todos nós? Que não era pra nos intrometermos na sua vida. Daqui a pouco você faz 20 anos Lourenço, e eu não vou ficar passando a mão pela sua cabeça. Ao sair daqui você vai me dizer o que quer fazer da sua vida. Eu preciso ir agora, o delegado só me deixou entrar porque você não tinha antecedentes e eu pedi a ele encarecidamente que me deixasse falar com você nem que fosse por cinco minutos. Eu te amo meu filho, tenta ficar bem – dei um beijo em seu rosto e o abracei.

– Mãe... – tentou enxugar as lágrimas. – Desculpa. Eu não queria atrapalhar sua vida assim. Obrigado por vir ao meu encontro.

Sai da delegacia com o coração na mão, doeu demais ver meu filho daquela forma, algemado e acuado que nem bicho na minha frente.

Eu poderia sair dali com ele ao meu lado, mas o Lourenço precisava de um freio, ele vinha fazendo besteira atrás de besteira, e fingia não me escutar. Onde mais eu ia buscá-lo agora, num necrotério?!

Porque ele quase morreu naquele acidente, hoje está preso. Ele precisava de uma sacudida da vida, e uma noite na cadeia o faria pensar em tudo o que estava fazendo de errado e o rumo que estava dando para sua vida.

Aquela seria a minha última tentativa. Eu não ia desistir do meu filho, eu só ia fazer ele entender que nem tudo na vida vem de forma fácil. E que tudo que fazemos geram consequências.

Eu estou decepcionada com ele, cansada de tentar ensinar e mostrar que o caminho que está trilhando não irá levá-lo a um bom lugar.

Já cortei tudo o que vocês podem imaginar. Dormir na cadeia era a última coisa no mundo que desejei para o meu filho. Mas como disse, vou deixar que isso aconteça. Ele precisa pensar em todas as loucuras que anda fazendo.

Já liguei pro meu advogado e amanhã pela manhã ele será solto, ele foi pego com mais dois colegas dentro de uma joalheria furtando um lindo colar de pérolas acompanhado de um par de brincos de esmeraldas.

O delegado me disse que ele não furtou e nem estava portando nada do que foi furtado, que foi preso apenas por estar na companhia dos outros rapazes, que correram quando viram a viatura, e ele foi pego primeiro. Duas horas depois encontraram os outros dois caras com as joias.

Estou as vésperas do meu casamento, já me desentendi com a Cléo por conta dele, na verdade a culpa foi minha. Ela tentou me dar alguns conselhos do que poderia fazer para ajudá-lo, e eu fui grossa com ela. Disse que as mães dele éramos eu e a Carla e que sabíamos o que fazer.

Fui dormir lá essa noite na esperança de conseguirmos nos reconectar. Mas tudo quanto foi problema resolveu acontecer de uma só vez.

Não tinha mais clima pra ir pra casa da Cléo, liguei pra ela e expliquei o que tinha acontecido. Ela até se ofereceu pra vir dormir aqui em casa. Mas educadamente dispensei a companhia.

Eu precisava pensar, colocar as minhas ideias em ordem. Eu estava com o amor da minha vida, mas em contrapartida a minha família estava desmoronando.

O Lourenço saiu da delegacia no outro dia, chegou em casa todo triste. A Anna conversou com ele, a Carla também, ela disse que estava vindo para cá no final do mês.

Era só o que faltava, a Carla no Brasil na semana do meu casamento. Era muita sorte pra uma pessoa só pra não dizer ao contrário.

A minha vida estava uma loucura, quase não conseguia ver a minha noiva, e ainda tínhamos alguns detalhes para resolver. Coisas do tipo: onde passaríamos nossa lua de mel, onde íamos morar... são muitas coisas gente. E eu já tô cansada, sabe?

Agora pra completar, acho que a minha filha está com um certo “interesse”, se é que me entendem, na Dona Nutella.

Porque estou achando isso? Então, outro dia elas estavam lá em casa na piscina. Cheguei da casa da Cléo com ela e o Ju e subi pra tomar banho.

Quando desci a moça estava na piscina brincando com o Ju, enquanto a Cléo conversava com a minha filha, até ai tudo bem. Mas quando a Dona saiu da piscina os olhos da Anna brilharam de desejo e ela perdeu totalmente o foco da conversa.

No exato momento o Beto chegava a área da piscina acompanhado pelo Lourenço. Ele nos cumprimentou, e beijou a Anna, enquanto meu filho seguiu para cumprimentar a Dona.

A feição da minha filha mudou completamente quando viu o irmão abraçar a amiga. Ela deixou o Beto falando praticamente sozinho, já que ele estava perto de mim e da Cléo, e foi para onde o irmão e a moça estavam.

Ela quase não ficou com o Beto enquanto a moça esteve lá. Depois que ela foi embora, a Anna alegou que estava com dor de cabeça e dispensou o namorado.

Desse dia em diante fiquei observando a mudança de comportamento dela ao lado da Dona. E algo me diz que essa amizade ainda pode gerar problemas. Não sei, mas acho que meus filhos podem estar interessados na mesma garota. Espero estar errada nesse pensamento.

Eu preciso ter pelo menos um dia de paz para terminar de ajustar os detalhes do meu casamento. Hoje decidimos escolher as músicas, na verdade as músicas de entrada de ambas, porque algumas das músicas da cerimônia já tínhamos escolhido.

Aproveitei que o Ju estava numa maratona de vídeo game com meus filhos e ia dormir lá em casa e fugi pra casa da minha noiva. Resolvi fazer essa surpresa pra ela, era bem melhor escolher nossas músicas pessoalmente, que por vídeo chamada.

Cheguei na casa dela com uma garrafa de vinho e umas sacolinhas cheias de besteiras. Sai de casa com tanta pressa que esqueci a chave que tinha da casa dela. Toquei a campainha e quando ela abriu a porta eu pulei em seu pescoço.

– Que saudade meu amor. – dei um beijo estalado em sua bochecha.

– Ei, que surpresa é essa? Entra, e que sacolas são essas hein?

– Então amor, passei no mercado e comprei algumas coisas para nós. – sorri colocando as coisas no balcão da cozinha.

– Me diz uma coisa, por que você comprou batata frita, chocolate, salgadinhos e sorvete... abandonou a dieta foi?

– É só hoje amor, prometo que amanhã volto a comer folhas, ou então não caberei no meu vestido de noiva. – beijei seus lábios.

– Falando em vestido, que tal a senhora me dizer o modelo do seu... – ela falou beijando meu pescoço e fazendo aquela voz sedutora.

– Pode parar, nem vem com essa vozinha doce. Não vou contar nada. Semana que vem você vê, tá.

– Você tá muito ruim, nossa.

– Tô sim – mostrei a língua pra ela. – Agora vem, vamos escolher as músicas que estão faltando.

Passamos umas quatro horas em frente ao computador escolhendo músicas... minha noiva é indecisa. E eu sou bem viciada em músicas, nossa. Deu uma trabalheira, mas conseguimos escolher todas.

Terminamos a noite degustando o vinho enquanto assistíamos "Como se fosse a primeira vez". O filme terminou e ficamos conversando na cama. E em dado momento surgiu o nome da Donatella.

A Cléo como eu tinha percebido que ela e o Lourenço andavam meio "íntimos". Aproveitei que estávamos só nós duas e resolvi falar sobre a minha desconfiança.

– Amor, você já percebeu como a Anna fica quando tá na companhia da Dona?

– Como assim Dengo? – ela perguntou enquanto enchia nossas taças.

– Amor a Anna anda meio estranha, naquele dia que chegamos lá em casa e elas estavam na piscina, lembra?

– Lembro sim.

– Então, eu já tinha reparado alguns olhares da Anna pra ela e dela pra Anna, mas naquele dia eu fiquei observando que a Aninha deixou o Beto literalmente de lado quando viu a aproximação do Lourenço com a moça. E quando a Donatella foi embora, ela alegou que estava com dor de cabeça e dispensou a companhia do Beto. E foi só a moça ligar que ela prontamente se arrumou e saiu. Quando perguntei da dor de cabeça ela se embolou toda pra responder.

– Amor, desculpa não ter dito nada antes, mas eu já tinha percebido que estava rolando alguma coisa entre elas além de uma forte amizade. Mas você tava tão cheia de coisas na cabeça, que não queria colocar mais uma.

– Tudo bem linda. Problema ultimamente parece meu segundo nome quando se trata dos meus filhos.

– As coisas vão se resolver Dengo. Depois da conversa que você teve com o Lourenço ele tá bem melhor, né! Tá fazendo terapia também, tá mais calmo nesses últimos dias.

– Realmente amor. Ele tá bem mais calmo mesmo. Espero que reencontre o caminho dele.

– Vai reencontrar sim, você vai ver. E se Anna sente realmente alguma coisa pela Dona, ela irá procurar uma de nós para conversar. Agora vem, deita aqui – passou a mão sobre o ombro. – Vamos dormir, temos dias bem longos até a semana que vem.

Dormimos abraçadas...nossa, como é bom dormir nos braços da minha amada. Só em pensar que daqui há alguns dias dormirei e acordarei ao lado dela todos os dias, o meu coração bate mais rápido que bateria de escola de samba.

Fim do capítulo